quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

última semana do Clube da Cena no Teatro das Artes

Última semana do Clube da Cena no Teatro das Artes.

Mais uma vez, foi uma belíssima temporada, com cenas interessantes e o talento das pessoas envolvidas no projeto!

Abaixo, uma pequena amostra do que foi a noite de segunda-feira, 13/12.

 Megalo Family de CRISTINA FAGUNDES 
Com Bia Guedes e Cecília Hoeltz 
Direção Michel Bercovitch
 

 E mande a Mídia à merda de LEANDRO MUNIZ 
Com Cristina Fagundes e Luis Lobianco 
Direção Breno Sanches


 O Velho Bill de IVAN FERNANDES 
Com Alex Nader e João Rodrigo Ostrower 
Direção Vini Messias


Nas alturas de RENATA MIZRAHI 
Com Marcelo Dias e Mariana Costa Pinto 
Direção Wendell Bendelack


 A Mulher que equilibrava um cubo de metal na cabeça de JÔ BILAC 
Com Mariana Santos e Marcelo Assumpção 
Direção Alexandre Bordallo


 A Odisséia de CÉSAR AMORIM 
Com Zé Auro Travassos e Priscila Assum 
Direção Lincoln Vargas

***

E abaixo as cenas que o público escolheu para ir para o youtube!

Clique no link e veja o resultado da cena.


A MULHER QUE EQUILIBRAVA UM CUBO DE METAL NA CABEÇA de Jô Bilac
Júlio: cara de quem não gosta de tomar banho, jovem, interessante.
Kid: Cabelos escovados, mais charmosa que bonita.

(Lanchonete barata da rodoviária Novo Rio, numa mesinha no canto Júlio, chupando distraidamente o restinho de refrigerante na sua garrafa. Tudo o que têm coube em sua mochila jeans manchada. Surge, Kid, vai até ele.)

Kid: (seca) Antes que você diga alguma coisa, eu queria deixar bem claro que está tudo acabado entre nós. Que não há mais nada a ser feito e que nossa história não passou de um rabisco descuidado que demorou a ser apagado. Não, por favor, não diga nada. Isso só faria piorar as coisas. Suas palavras pra mim, agora seriam a conclusão do fracasso da nossa incapacidade de aceitação do que é feito da vida. Tem certas coisas que devemos simplesmente fingir que nunca aconteceram, é melhor assim. No futuro, quando eu lembrar de você, será como buscar em mim uma sombra trêmula que no primeiro feixe de luz, se desfez, assim como tudo o que havia entre nós. Ontem cedo, quando eu voltava da sua casa, o sinal fechou. Do ônibus, vi uma mulher equilibrando um cubo de metal, distraindo os motoristas com sua performance quase que hipnótica. Eu Pensei em nós dois. Eu sou essa mulher e você é o meu cubo de metal que até agora eu exibia, numa tentativa inútil de equilíbrio. Foi tão triste, que tive vontade de chorar, daí eu achei lindo. Lindo demais. Eu, chorando. Muito poético. Foi quando eu percebi que em mim havia algo de belo e nobre, que por mais que eu quisesse tentar, jamais seria abafado: A minha capacidade de amar. Isso é mais que suficiente para aceitar um novo amanhecer, repleto de possibilidades. Percebi que você, assim como os outros, não me ama de fato, fica impressionado _ encantado... _ com a minha intensidade em amar e com isso vaidoso, aceita o meu amor. O amor está em mim, e por isso não se esgota. Acredito na força do amor, sendo assim me vejo forte e concreta. Acredito na vontade de mudar as coisas. Na intensidade de uma paixão. Na tristeza de uma desilusão. Contudo, não acredito no que possa derivar do nosso encontro. Amor de aceitação é amor bolorento, paralítico, é desamor. Amor que resseca, racha a boca de frio, amor desprovido de amor. Amor de aceitação não tem gosto, não tem dente pra morder, nem língua pra chupar. Amor de aceitação é amor envenenado, cancerígeno. Eu te liberto do meu desamor. Júlio: você não foi um erro. Mas Por favor, não me procure mais. Júlio: esqueça de mim, uma vez por todas. Júlio... Adeus. (sai)

(Tempo)

(Kid volta. Senta-se na mesa com Júlio)

(Os dois se encaram)

(Júlio sem nenhuma reação. Como se a alma tivesse escapado pelo ouvido)

Kid: (pegando uma carteira de cigarro na bolsa) Você tá legal, cara?

(sem resposta)

Kid: ? (oferece o maço)

(sem resposta)

Kid: (natural) Quer um copo dágua com açúcar? Não sei... Uma dose... Eu posso pedir pra você.

(sem resposta)

Kid: Não? Nada? Ok. (acende seu cigarro) Posso fazer sua garrafinha de cinzeiro?

(sem resposta)

Kid: (tirando da bolsa uma revistinha de palavras cruzadas. Rabisca algumas coisas nela. )

(tempo)

Kid: (retida numa palavra) Epizeuxe... O que é (numa careta) Epizeuxe?

(sem resposta)

Kid: (repara no rapaz) Olha, não fica assim: não ia dar certo. Vai por mim, não é o fim do mundo. Não esquenta a cabeça com isso. Eu sei que fui um pouco fria e direta, mas espero que você compreenda as circunstâncias... (traga violenta) Você vai pra serra, né? Tá levando casaco? Ta uma friagem de congelar diabo. Eu gosto da serra... Acho a serra tranqüila, longe dessa selvageria toda, essa matança de leão diária... Às vezes eu fico Exausta... Dá vontade de largar tudo e ir pra um lugar longe, sabe? Mas paciência! Eu não tenho tempo nem pra trocar essa porcaria de sapato! (ri sem entusiasmo) Comprei semana passada, uma fortuna!, mas me aperta até a alma, ta dando calo lá! Mania, né. Meu número é 37, mas têm uns 36 que dão certinhos, depende da fôrma. Mas é um inferno, se eu pudesse ficava o dia todo de molho, só na maré mansa, mas daí to lascada, ainda mais se...

Júlio: (corta, num fiapo de voz) Por que você tá fazendo isso comigo?

(silêncio)

Kid: (tragada reflexiva, pra organizar o pensamento) Olha Júlio... Eu já estou bem descolada nesse enredo, levei muitos chutes na bunda, mas também já dei tantos... Nunca é gostoso, muito menos quando é a nossa bunda que está em jogo... Mas que remédio? Coloca gelo em cima e parte pra outra. É espinhoso e nem quero diminuir o que você está sentindo. Mas se existe alguém que quer ser feliz e que percebeu que o lance desandou, não tem como evitar.

Júlio: (quase infantil) Mas por que assim? Desse jeito? Agora... Estava tudo certo pra viagem, tudo tranqüilo, organizado, tudo bem...

Kid: Aí é que tá. Você pensava que estava tudo bem. Mas você não teve a sensibilidade de perceber o que de fato estava acontecendo. Poxa, Júlio. Faz um esforço.

Júlio: Mas eu não queria que isso acontecesse, juro.

Kid: Sabe qual é o problema, é que vocês homens nunca verbalizam o que sentem, não dá pra adivinhar o que o outro está pensando, certo?

Júlio: Certo, mas eu também não podia adivinhar a proporção disso...

Kid: (discando novamente o telefone) Pára Júlio. É claro que você sabia. Você só não queria admitir pra você mesmo...

Júlio: Não é verdade...

Kid: É verdade sim. Sua tristeza tem mais haver com vaidade, orgulho ferido do que outra coisa.

Júlio: Você me acha um poço de frieza.

Kid: Eu só acho que você perdeu algumas oportunidades pra demonstrar o contrário.

Júlio: E você é a dona da verdade, capaz de adivinhar pelo brilho do olhar do outro o que realmente está sentindo! Incrível! Olha, eu realmente estou muito surpreso! Você é fantástica! O que vê nos meus olhos agora, héin?

Kid: Ironia gratuita como forma de defesa. Natural, estamos avançando na escala dos rejeitados!

Júlio: Você se acha muito esperta, né... Mas eu olho pra você e vejo uma mulher que não sabe nada a respeito de amor e que tem um discurso muito do chinfrim à respeito de tudo! Porque se...

Kid: Se meu pai fosse mulher eu teria duas mães! Agora fecha o bico, porque pra mim isso também não está sendo nada fácil!

(tempo)

Kid: (disca violenta o telefone. Atendem. ) Boa tarde, aqui é Kid Bauhaus do “Falamos por você”, com quem eu falo? (__ ) Oi Camila... O seu pedido foi concluído com sucesso e aguardamos o depósito do restante do pagamento. (__) Sim... (__) Não. (__) Evidentemente... Ok. Pra confirmar: Agencia 033, número da conta 145 3367 830. Repetindo: Agencia 033, número da conta 145 3367 830. Assim que o depósito for efetuado, a devolução dos bens será concluída imediatamente.(__) Imagina, “Falamos por você” é que agradece a preferência e lhe deseja uma boa tarde. (desliga)

Júlio: (com um brilho no olhar) Era a Camila?

Kid: (seca) Sim.

Júlio: Ela perguntou por mim?

Kid: (contundente) Não.

Júlio: ( murcho) Por que ela não quer falar comigo? Por que ela não veio aqui me ver...

Kid: (cruel) Porque ela NÃO QUER! Por isso contratou os serviços do “Falamos por você”. Ela não quer te ver nem pintado de ouro!

Júlio: Vocês retêm os bens dela?

Kid: Não é da sua conta.

Júlio: (puxa violento o braço de Kid) Escuta aqui moça, não tira farinha com aminha cara! Respeito é bom e eu gosto.

Kid: Vai fazer o que? Me agredir?Estou sendo agredida! Estou sendo agredida! (

(ele solta o braço dela)

Kid: Pro seu governo, os bens são dela sim, mas foram dados por você. Assim que ela nos pagar, estaremos enviando para o seu endereço. Se ela não pagar, ficamos com tudo, aí você processa a Camila, manda prender e etc.

Júlio: (tomando-se de uma agitação violenta) Estou me lixando pra essa porcaria!

Kid: Tá nervosinho, tira as calças pela cabeça, mas não vem com grosseria pro meu lado.

Júlio: Escuta aqui...

Kid: Escuta aqui você, meu camarada. Eu estou fazendo o meu serviço e não tenho nada haver com o que você pensa ou deixa de pensar. NÃO ESTOU INTERESSADA!

(silêncio)
(silêncio)
(silêncio)

Júlio: Desculpa...

Kid: (ignora) Sabe se por aqui tem ônibus pra Pavuna?

Júlio: Não.

Kid: Nào tem ou você não sabe?

Júlio: Não sei...

(tempo)

Kid: To com  medo... Esse lance  de colocarem fogo em ônibus...Sei não... Pavuna... É chão... O Prefeito falou pra gente não ter medo...mas ele não pega ônibus pra Pavuna... O povo é que paga o pa...

Júlio: (corta) Quanto ela pagou...?

Kid: Não discuto isso com terceiros.

Júlio: 350 pratas. Com sinal de 100. Eu já vi o anuncio de vocês nos jornais.

Kid: (seca) Pois é. Verbalizar o que se está sentindo pode custar caro.

Júlio: Mas esse preço é porque se trata de um rompimento. Declarações de amor são mais baratas. Não são?

Kid: Se sabe por que tá perguntando?

Júlio: Quase ninguém mais faz declarações de amor hoje em dia, ou se faz fala na lata, não precisa de ninguém pra falar por elas _ neguinho não está disposto a torrar grana com declaração de amor_ então vocês baixam o preço, faz promoção...

Kid: É mais simples: fazendo esse papel me arrisco em levar um soco na fuça. Daí cobro mais caro.

Júlio: Não é só isso... Não é fácil romper. Seja lá qual for a natureza desse rompimento. É preciso ser profissional pra fazer sem sofrer. (muda o tom) Você sabe o que exatamente ela está devolvendo...?

Kid: (ainda arredia, tira a contragosto um a lista de sua bolsa) Um disco do Paul Simon, quatro ursos de pelúcia, uma camiseta azul marinho com estampa de veleiro, dois shorts de algodão, um casaco verde musgo com zíper, (Júlio vai se encolhendo, e ä medida em que a lista avança , minguando ainda mais. Tudo muito triste.) uma camisa de manga comprida preta, um colar prateado com pingente de golfinho, um chinelo de dedos de borracha, cinco livros da coleção “Grandes Filósofos”, a biografia do John Lennon, o mapa de Londres, dois óculos : sendo um escuro e outro de grau, com a lente esquerda quebrada, um tênis branco encardido, uma máscara de carnaval, uma lata de achocolatado, uma miniatura do Chaplin, duas calças jeans puídas na barra, uma jaqueta jeans faltando dois botões, o carregador do seu celular, dezenove fotografias suas_ variando entre férias, datas festivas e uma da infância_ uma caneca de cerâmica da cor bordô, uma Polaroid quebrada , uma calça de moletom cinza, um batom ameixa, seis anjinhos de porcelana, uma escova de dentes com cerdas macias e um isqueiro pequeno vermelho .

Júlio: (perdido) O que é que eu vou fazer agora...?

Kid: Vai pra serra. Vai passar... Se não passar, aqui está o meu cartão, pedidos de “Volta pra mim” sempre rola um desconto... Não me olhe assim, ganho por comissão. (faz que vai sair, ele a interpela)

Júlio: Espera.

(ela volta-se)

Júlio: (tira do bolso umas notas de dinheiro) Eu compro.

Kid: O que?

Júlio: Uma declaração de amor. Eu compro.

Kid: Não é assim, você tem que ligar pra agência, marcar hora, deixar seus dados...

Júlio: Não! Eu quero agora... Eu preciso agora. Eu pago. Por favor.

Kid: (suspira) É pra Camila? Porque se for, eu acho...

Júlio: Pra mim. Eu quero comprar uma declaração de amor pra mim mesmo.

Kid: Acho que não vai dar...

Júlio: Não pode comprar uma declaração de amor pra si mesmo? (tempo) Por favor... Faz isso por mim...

Kid: ( pensa. Por fim se decide. Respira fundo. Pega o dinheiro. Olha nos olhos do rapaz)
Não quero amar desesperadamente, contudo, desesperadamente já te amo. O amor caiu como uma rocha gigantesca em minha cabeça. Esmagadoramente : Já te amo. Te amo por imaginar no que você possa me dizer, te amo por reconhecer seu cheiro mesmo sem nunca ter te cheirado, te amo por saborear seu gosto em minha boca mesmo sem nunca em ti ter provado, te amo por questionar o que deve estar se passando por sua cabeça agora, se gosta de café, se já foi a Buenos Aires, se tem alergia a camarão, se prefere frio ou calor... Te amo por imaginar a série de coisas que possa me ensinar, te amo pela lindeza do que sinto por você, pois só você foi capaz de despertar em mim essa força tamanha que desconheço, que me orgulha e que me entristece...........muito. Me entristece por perceber que te amar em sonho é por enquanto tudo o que posso fazer.
Amo à queima roupa. Amo assim, loucamente, ansiosamente, já com saudade de amar. Amo você por toda a sinceridade que existe em nosso amor, amo você por te querer tanto, por aguardar silenciosamente o seu sorriso pra mim. Amo você, amo você, amo você....

(ele vai até ela e de supetão lasca um beijo )

(ela o empurra e o esbofeteia. Os dois se encaram)

(desejo incontrolável, ela o agarra e vem um beijo cinematográfico.)

(Ficam por ali se beijando deliciosamente......... Em poucos instantes já não é mais possível vê-los no meio da multidão)

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LEANDRO MUNIZ
SITE TERRA.COM – 26 DE NOVEMBRO


E mande a mídia à merda
Leandro Muniz



HOMEM e MULHER estão sentados em um bar.

HOMEM
Então Michele... Eu te trouxe até aqui, porque eu preciso falar uma coisa muito séria.

MULHER
Fala.


Pausa.

MULHER
Tá sem coragem, né? Foi a manchete de jornal que você leu, não foi? Fala! Ficou impressionado com a manchete e tá mudado comigo!

HOMEM
Você tá enganada. Não tem a ver com aquela notícia que acabou de apareceu no telão. Mas sim com esta.


Homem mostra um jornal para MULHER.


MULHER (lendo)
Mulheres com “ch” no nome são mais infiéis, diz pesquisa?

HOMEM
Eu não confio mais em você Michele.

MULHER
Pelo amor de Deus, Washington! Você não pode se deixar influenciar por tudo que você lê e ouve por aí.

HOMEM
É uma pesquisa embasada...

MULHER
Desde que começamos a namorar você deixa as pessoas se meterem na nossa vida.

HOMEM
Uma pesquisa séria, minuciosa...

MULHER (meiga)
Você muda de opinião como quem espirra meu amor. Para de se preocupar desse jeito com as opiniões alheias. Olha pra mim (o pega pelo braço) Não vamos deixar a mídia controlar as nossas vidas. Promete?

HOMEM
Eu não sei se consigo Michele. Olha aqui.

HOMEM pega uma pasta, começa a tirar jornais e revistas de dentro dela e a lê-las.

HOMEM (lendo)

MULHER
O que você está insinuando?

HOMEM
Olha essa outra Michele: “Mulheres que tem o nome começado com a letra ‘m’, seguida de ‘i’, costumam roubar namorados quando eles estão dormindo”.

MULHER
Mas isso é um absurdo! Isso é um tablóide sensacionalista!

HOMEM
E essa aqui? “Mulheres que têm a letra ‘m’ seguida de ‘i’, mais ‘ch’ e não tem ‘a’ no final, estão propensas a assassinar pessoas no trânsito em dias de chuva”.

MULHER
Isso não prova nada! Você não vê que isso é mais um exagero da mídia, uma fantasia? E nem é tão específico assim, como você pode acreditar?

HOMEM
Ah, tem essa: “Mulheres que chamam Michele, que namoram homens de nome Washington, (que tem  cabelo liso curto, de roupa azul...etc...Descrever fisicamente a atriz da cena...) e que tentam com veemência mudar a opinião do namorado por ele acreditar demais em manchetes de jornais que  a comprometem e revelam sua personalidade, não são confiáveis e devem ser evitadas”.

MULHER ( chocada, pega o jornal das mãos dele)
Quem escreveu isso? Olha, Washington. Eu sinceramente, não sei mais o que fazer. Você está impressionado com a imprensa brasileira, é só isso.

HOMEM
Desculpe Michele. Mas eles estão apenas fazendo o trabalho deles.

MULHER
Então é isso? É assim que vai acabar tudo? Já se decidiu?

Mulher começa a chorar.


HOMEM
Peraí, Michele. Calma.

MULHER
Não, não fico calma não! Quando o Elerson veio fazer fofoca sua, dizendo que você tinha pegado a Mirtes, eu acreditei? Hein Washington? Não, eu não acreditei porque confio em você.

HOMEM
Fez bem, eu não tenho nada com a Mirtes.

MULHER
Pois bem. No dia que seu tio, insinuou que tinha te pego no flagra... Aquela história de você pelado com seu primo na piscina dançando música lenta, eu acreditei? Não Washington, eu não acreditei.

HOMEM
Fez bem, porque eu não sou homossexual.

MULHER
O dia em que eu te vi mexendo nas minhas coisas, no dia seguinte que tinha sumido cinquenta reais da minha carteira e logo depois reapareceu do nada na minha bolsa, e você me disse que não tinha sido você, eu acreditei não foi?

HOMEM
É, você acreditou. Mas fez bem, eu tava só procurando um trident.

MULHER
Tá certo Washington. E no dia que você tava arrastando aquele corpo dentro de um saco plástico, deixando um rastro de sangue na sala da sua casa, e disse que era apenas pra ajudar sua irmã na aula de anatomia dela, que era só um corpo usado nas aulas da faculdade, mesmo ele tendo gemido e eu escutei Washington! Eu acreditei em você, não acreditei?

HOMEM
Acreditou Michele, mas...

MULHER
Eu sou companheira, apoio você em tudo, tudo! E você me retribui como? Me jogando essas manchetes de jornal na cara?

HOMEM
Não, Michele...

MULHER
É isso mesmo! Você é um ingrato safado, bissexual, assassino e ladrão, é isso que você é!

HOMEM
Michele, por favor, não se descontrole.

MULHER
Quem tá descontrolada aqui seu cretino, estelionatário, bicha louca enrustida, matador de aluguel?

HOMEM
Michele, pare com isso. Você não tem provas!

MULHER
E você tem alguma? Só porque saiu no jornal não prova nada Washington! Nada! Nada! Prova nada!

MULHER pega as revistas de Washington e começa a jogar tudo pra cima, rasgar algumas, jogar nele...etc...

HOMEM
Para com isso Michele.

MULHER
Eu te amo Washington, diz que não vai me largar!

HOMEM
Eu acho melhor você se acalmar e conversamos outra hora.

MULHER
Eu quero resolver isso agora!

MULHER pega um arma da bolsa e aponta para HOMEM.

HOMEM
Que isso Michele?

MULHER
Uma arma cenográfica. ( ps: isso é só uma piada, é bom que a arma pareça de verdade)

HOMEM
Você não faria isso, faria?

MULHER
Você não vai me largar Washington, vai?

HOMEM
Abaixa essa arma!

MULHER
Eu te amo Washington!

HOMEM
Então larga a arma e vamos conversar.

MULHER
Não. Você já se decidiu e eu já me decidi!

HOMEM
Larga a arma Michele!

MULHER
Eu odeio a mídia!

MULHER atira em HOMEM que cai. MULHER se arrepende e corre em direção ao corpo.

MULHER (chorando)
Washington? Washington? A arma funcionou?Não!  Washington?


Passagem de tempo ( pode ser um Black out)
Entram dois homens, um deles está lendo o jornal.

HOMEM 1
Jair?
HOMEM 2
Oi.
HOMEM 1
Escuta essa aqui: “Mulher mata namorado por causa de fim de namoro. Michele de Oliveira atirou no namorado com uma arma cenográfica achando que ele não morreria. Testemunhas afirmam que ela gritou ‘eu odeio a mídia’ e se arrependeu depois de ter dado três tiros no sujeito. Presa, ela o acusou de roubá-la, sumir com um cadáver e manter pederastias com os primos.

HOMEM 2
Esse pessoal não sabe mais o que inventar pra vender jornal.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais uma noite do Clube da Cena

Eis que chegamos a sexta semana do Clube da Cena no Teatro das Artes no Shopping da Gávea.

Abaixo imagens das cenas que foram apresentadas na segunda, 6/12.

Amiga boa é lá do Acre, de Renata Mizrahi


 Mulher Gorila, de Jô Bilac


 Eu te amo, de Diego Molina, de Diego Molina


 Família Unida, de Leandro Muniz


 Ai, que crazy! , de Larissa Câmara


Ajudando você a se dar bem, de Ivan Fernandes

***

E a noite ainda contou com a participação especialíssima de Narcisa Tamborindegui 



***

Abaixo as cenas que o público escolheu, por votação, como as melhores da noite! Acessem os vídeos clicando no link!

AI, QUE CRAZY!
LARISSA  CÂMARA

MANCHETE: UM EM CADA CINCO AMERICANOS SOFRE DE DOENÇA MENTAL, DIZ ESTUDO. SITE G1- 19 DE NOVEMBRO
Personagens:
Tarcisa Sculacheby – uma personalidade da noite carioca. Entra levemente ébria e vai bebendo muito ao longo da entrevista até ficar bem bêbada. Extremamente afetada e alegre. Com uma larga gargalhada.

Clô Vilares – entrevistador cult respeitado. Que trata a entrevistadora com paciência e cavalheirismo até certo ponto.

(A cena é a de entrevista Tarcisa Sculacheby no programa do grande Clô Vilares. Tarcisa bebe e se exalta durante a entrevista)


Clô Vilares: Boa noite! Sejam bem-vindos a mais um programa do Clô. Hoje, eu Clô Vilares tenho a honra de entrevistar ela, que é uma rainha, um talento brilhante, uma estrela encantada da noite: Tarcisa Sculacheby. (tom) Aplausos.  (entra Tarcisa levemente trôpega os dois se cumprimentam)

Clô Vilares: Olá querida!

Tarcisa Sculacheby: Boa noite, Brasil! É uma alegria e uma honra estar aqui hoje. Clô eu trouxe um presente pra você.

Clô Vilares: Ai, que fofa! Um presente pra mim. Jura?

Tarcisa Sculacheby: Juro e também prometo. Está aqui o meu livro: Ai, que Crazy! (entrega o livro e bebe um gole de uma garrafa de bebida)

Clô Vilares: Obrigado! O nome do Livro é Ai, que Crazy!?

Tarcisa Sculacheby: Exatamente porque UMA COISA QUE ME DEIXOU. (grita) Ahhhhhhhh! (fala) Chocada. (tom. anuncia) UM EM CADA CINCO AMERICANOS SOFRE DE DOENÇA MENTAL, (para si) eu li na sala de espera do meu médico. (tom) Enfim... minha vida é super Crazy. Minha filha inclusive acha que eu devia andar com camisa de força.

Clô Vilares: Conta pra mim, Tarcisa. Quanto tempo você demorou pra escrever o livro?

Tarcisa Sculacheby: Aaaaaaaa...Uns 8 anos recolhendo histórias, eu reflito muito antes de escrever.... Sabe Clô, fico horas na frente do espelho... refletindo. (bebe um gole)

Clô Vilares: Nossa, que reflexiva! E o livro fala...

Tarcisa Sculacheby: O livro fala sobre essas loucuras do dia a dia: esses homens com cueca, quer dizer com dinheiro na cueca, e violência, Capitão Nascimento, Moisés que dividiu o mar em dois, super crazy, e passa pela roubalheira - corrupção que acaba em pizza... na pizzaria Guanabara, no Leblon.

Clô Vilares: O livro é bastante abrangente. São muitas as questões.

Tarcisa Sculacheby: Nossa muitas! Muitas amigas minhas que sofreram pequenos furtos no Leblon. Gente, Vocês não vão acreditar!? Mas não se pode mais andar com um colar de pérolas na orla. É um absurdo!

Clô Vilares: Realmente!

Tarcisa Sculacheby: E não é só isso... o trânsito que está um horror. Aquelas crianças sujas no sinal, credo! Por isso eu só ando de helicóptero. (ri muito) Dia desses fui dar um rasante com o helicóptero e por acidente cortei a franja da minha amiga... Nossa! Loyola ficou puta! Mas falei pra ela que o cabelo ficou ótimo, super style! (bebe um gole)

Clô Vilares: Então agora você também corta cabelo?

Tarcisa Sculacheby: Ai, eu corto um dobrado. (tom) Eu tive uma infância muito difícil.... eu fui criada na piscina do Copacabana Palace...

Clô Vilares: Oh, querida fala, bota pra fora!

Tarcisa Sculacheby: Sabe Clô, quando eu lembro do meu passado, eu lembro do que minha amiga Lady Di sempre dizia: Entrou no túnel não olhe pra trás! (bebe um gole)

Clô Vilares: Que bonito! Mas conta uma coisa só pra mim... Isso que você está bebendo é água?

Tarcisa Sculacheby: Não, meu amor é champagne... porque eu tenho condição. (bebe um gole)  Quer um golinho? É Veuve Clicquot. Porque eu tenho pavor de produto nacional de espumante a shampoo de Babosa. Credo!

Clô Vilares: Ai, Tarcisa você é uma figura!  Mas fale mais sobre o livro...

Tarcisa Sculacheby: Eu tenho pavor de produto nacional, quando eu vejo essas pobres passando creme de cupuaçu na cara me dá uma pena. O produto começa com cu... Não pode prestar, não é verdade? (bebe um gole. Segura o livro) Meu livro: Ai, que crazy! (tom) O nome é internacional!

Clô Vilares: Então, eu tive o prazer de conversar com a Tarcisa...

Tarcisa Sculacheby: Peraí! Eu ainda quero contar uma história linda e de transformação...

Clô Vilares: Pode contar!

Tarcisa Sculacheby: Clô, é uma história hilária: o dia em que minha casa pegou fogo! Gente, foi muito engraçado. Eu vi aquelas labaredas! Uma cor linda! E de repente aqueles bombeiros deliciosos. Aquela sirene! Aqueles homens correndo na minha direção.

Clô Vilares: E eu conversei com Tarcisa Sculacheby...

Tarcisa Sculacheby: Querido, eu não acabei de contar a história isso é falta de educação, tá?

Clô Vilares: A entrevista acabou!

Tarcisa Sculacheby: Acabou nada, seu viadinho babaca! Que meu pai pagou uma nota pra eu estar aqui. E eu quero contar do dia em que minha casa pegou fogo. (entra um homem vestido de segurança e retira ela do palco) Uns homens lindos e fortes correndo e me agarrando, aquela sirene, ai que delícia! Foi um dos dias mais felizes e tristes da minha vida. Foi uma loucura! (comercial) E o meu livro eu vou lançar no mundo todo: em Paris, Roma, na Índia, na África, Um beijo por pessoal do Congo! Meu carinho pra Tonga da Mironga do Cabuleté! Comprem o meu livro: Ai, que Crazy!

FIM


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MÚSICA AJUDA NA HORA DA PAQUERA, DIZ ESTUDO


AJUDANDO VOCÊ A SE DAR BEM

 De Ivan Fernandes

ANOS 50

Ele e ela no carro do drive-in.

ELA - Nossa, Ricardo. Nunca vim num drive-in. Muito romântico.

ELE - Você merece o especial. Eu roubei até um vinho lá da despensa do meu pai.

(brindam)

ELA - Eu não posso beber, quando bebo eu faço loucuras. (mesmo assim bebe. Ele atravessa o braço pelo banco, disfarçando, e tenta pegar nos peitos dela. Ela repele) Deixa começar o filme. Assim todo mundo repara. (pausa) Esse carro do seu pai, hein? Cheirinho de carro novo.

ELE - O velho é uma brasa.

ELA - Me dá mais um copo.

(vinheta de filme começando, tipo o leão da metro ou a da fox. Começa a tocar JAILHOUSE ROCK, de ELVIS PRESLEY)

ELA - Não acredito! Você me trouxe pra ver filme do Elvis??

ELE - Não gosta?

ELA - Se eu gosto? Eu amo! Eu sou fanática pro ele! (grita para a tela) ELVIS!

ELE - Menos, coração, assim a gente chama muita atenção. Olha, tanto faz o filme, compreendeu? O importante é que a gente tá aqui, com esse vinho, essa lua... você... eu...

ELA - E eu lá quero saber de você? Se enxerga, meu filho. Você não chega nem aos pés do Elvis!

ELE - Você também não é nenhuma Marilyn. Vem, abaixa a blusa.

ELA - Desiste! Em mim só quem toca é o Elvis! Eu fiz um juramento, entendeu? Eu amo o Elvis e jurei que seria só dele! (sai do carro gritando)
 EEELLLLVIIISS! Vem, eu sou sua! (ameaça tirar a roupa)

ELE (constrangido) – Eu nem conheço ela, hein, gente?


ANOS 60

ELA - Eu to meio assustada.

ELE - Não se preocupa. O lugar é barra pesada mas tudo tem um código, tudo depende de com quem você está. E você tá comigo.

ELA - Mas pra que a gente veio aqui?

ELE - Pra ouvir a melhor música da cidade. Só nos guetos que se encontra a grande música, entendeu, broto? A musica não combina com lugar certinho, careta, não!

Começa a tocar JAMES BROWN, PAPA’S GOT A BRAND NEW BAG

ELA - Nossa, a música é boa mesmo.

ELE – Isso aí é James Brown, o cara é dinamite, nitroglicerina, já foi preso um monte de vezes, dá porrada em todo mundo. Um careta nunca ia fazer uma música dessas.

Dançam um pouco. Entra um negão enorme e mal-encarado. Repara na menina e se aproxima sem ligar pro namorado.

ELA - Ricardo, acho que esse cara tá olhando pra mim.

ELE - É só você agir naturalmente. Como se você sempre viesse aqui. Esse é o segredo. Aí eles não incomodam.

(O negão começa a dançar também e vai se metendo no meio deles, tentando dançar com ela)

ELA - Ricardo, ele tá agindo naturalmente demais. Eu acho bom você falar com ele.

ELE - (hesitante) É... fala brother... black brother...

NEGÃO - (ameaçador) Posso dançar com a sua menina, “brother”?

ELE - É... sabe o que é... black brother... não é costume no meu povo...

NEGÃO – ( pega na camisa de Ricardo de forma intimidatória) Te devolvo ela em 15 minutos.

ELE- Bom, se você tá pedindo com tanto carinho...

ELA - Ricardo!

ELE - É o costume daqui, Elisa.

(o negão pega e dança com ela de forma totalmente sensual)

ELA - Nossa, essa música é boa mesmo.

ELE - Não se empolga, Elisa...

(O negão abraça Elisa e fala algo no ouvido dela. Ela ri)

ELA - Sabe o que é, Ricardo? O Michael – o nome dele é Michael – está nos convidando – aliás, me convidando – pra ver a vista lá no Bronx.

ELE - Mas que loucura é essa, Elisa? Lá é perigoso!

ELA - Quê que tem? Não é você que detesta lugar certinho e careta?

NEGÃO - Te devolvo ela em... duas horas.

ELE - Se você tá pedindo com carinho...

(saem. Ricardo recobra a valentia)

ELE - Vê lá, hein? Duas horas e nem um minuto a mais!



ANOS 70

ELA - Nossa! Então essa é a famosa Dancin’ Days!

ELE - Garçom! Duas cuba libre com vodka importada!

ELA - Ricardo! Importado é muito caro!

ELE - Você merece o especial. Essa noite a gente vai dançar até se esbaldar!

ELA - Esbaldar nada! Temos que voltar cedo!

ELE - Por que?

ELA - O ônibus acaba às onze!

ELE - A gente volta de táxi!

ELA - Sabe quanto é que dá um táxi daqui até o Lins, Ricardo? Depois das onze é bandeira 2! Aliás acho que os taxistas daqui nem devem saber onde fica o Lins.

(música: STAYNG ALIVE, dos BEE GEES)

ELE - Esquece isso, amor, vem dançar.

ELA - Você também não presta né, Ricardo, sabe que eu adoro essa música... essa música me dá vontade de... de...

ELE - De que, coração?

ELA - De fazer loucuras...

(dançam. Ele não sabe dançar, nota-se. Entra o mesmo ator da cena anterior, vestido de John Travolta em embalos de sábado à noite, e arrasa na dança)

ELA - Amor, olha, o John Travolta!

ELE - Só se for o John Travolta depois da malária.

ELA - Deixa de ser maldoso. Ele dança igualzinho ao John Travolta. E olhando bem... ele até parece um pouco o John Travolta.

(o “Travolta”, dançando, faz sinal pra ela)

ELA - Ele tá me chamando, Ricardo.

ELE - Fica quieta, Elisa. Esse negócio de dar pinta no salão é um fracasso, logo vão ver que gente é do Lins.

ELA - Ai, que custa, Ricardo, a gente nunca vem aqui, eu adoro embalos de sábado à noite.

ELE - Mas o embalo era comigo!

ELA - Ah, você não sabe dançar. Não igual ao John Travolta.

(vai dançar com o “Travolta”, de forma sensual)

ELE - Elisa... eu estou aqui...

ELA - Ai, Ricardo, obrigada por me apresentar o lado bom da vida... nunca mais quero saber do Lins... não me espera pra voltar.

(sai dançando com o Travolta)

ELE - Pelo menos economizei o táxi...


ANOS 80

Música: B’52’s LEGAL TENDER

ELE - Passei dois dias dormindo na fila pra pegar ingresso pro Rock’n’Rio. Valeu a pena. A Elisa é a maior fã de new wave! E pra ir ao show do B-52’s vai ter que sair comigo. (toca a campainha da casa dela. Elisa abre) Eu não prometi que conseguia os ingressos? Toda a cidade quer ir ao show. Passei maior perrengue, mas você merece.

ELA - Não precisava, Ricardo.

ELE - Quê isso, Elisa. Você merece o especial.

ELA - Eu sei. Mas é que new wave já saiu de moda! A moda agora é uma coisa raiz.

ELE - Raiz? Tipo assim, aipim frito?

ELA - A moda agora é lambada.

(entra: “CHORANDO SE FOI”, KAOMA.  )

ELE - De onde vêm essa música?

ELA - É que eu tô tendo aula particular de lambada pra não fazer feio na pista. Sabe dançar?

ELE - Só sei dançar new wave.

ELA - Nerd.  

ELE - Mas e o ingresso do show?

ELA - Troca por uma aula de lambada. Aí quem sabe um dia eu saio com você.

o instrutor de lambada (o mesmo das cenas anteriores) aparece e enlaça Elisa por trás.

ELA - Agora dá licença que você tá atrapalhando minha aula.

(dançam lambada e vão saindo)

ELE – Acho que eu prefiro aipim frito...


ANOS 90
Música: “SMELLS LIKE TEEN SPIRIT”, NIRVANA

ELE - Esse Kurt Cobain é fodão.

ELA - Só!

ELE - Olha como o cara tá doidão, veio. Cuspindo no palco.

ELA - Massa!

ELE - Rock’n’roll é isso. Sangue na veia.

ELA - Só.

ELE - Sabe, esse é um momento especial. Pode ser a última vez que a gente vê o Cobain vivo.

ELA - Massa.

ELE - Eu te trouxe aqui no show por um motivo.

ELA - Só.

ELE – Eu... gosto de você.

ela vomita nele.


ANOS 2000

Música BABY DE JUSTIN BIEBER

ELE - Cabelo de Justin Bieber, maquiagem de Justin Bieber, roupa de Justin Bieber; eu estou pronto pra me dar bem com a Elisa. (ela entra)
Oi Elisa, sabia que eu acabei de fundar um cover do Justin Bieber? E aprendi todas as coreografias! (dança) Vou me apresentar hoje depois da aula no auditório.

ELA - Justin Bieber é coisa de criança. Eu já amadureci, Ricardo. Vê se cresce.

ELE - Mas toda garota do colégio quer namorar o Justin.

ELA - Toda garota virgem, você quer dizer. O Justin não passa de um viadinho. Inofensivo. A propósito, deixa eu te apresentar minha namorada, Sheila.
(entra Sheila, tatuada e com  casaco de couro) Ela não é A CARA da Pitty?

VOZ LOCUTOR: - Rock’n’roll. Há mais de 60 anos ajudando você a se dar bem.




quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Semana 5 do Clube da Cena no Teatro das Artes

Mais uma semana de ótimas cenas no Teatro das Artes (Shopping da Gávea - RJ)

Abaixo as cenas apresentadas na noite de 29/11

Hollywood não existe - de César Amorim
Com Cristina Fagundes e Marcella Figueira
Direção: Wendell Bendelack


Quem ama Confina, de Cristina Fagundes 
Com Cecília Hoeltz e paticipação
Direção Susanna Kruger 


Isso foi apenas uma cena curta ou Tudo, menos gratificante, de Renata Mizrahi 
Com Bia Guedes e Marcelo Assumpção
Direção: Fernando Melvin


Família, de Larissa Câmara 
Com Marcelo Dias e Zé Auro Travassos 
Participação: Wendell Bendelack
Direção Breno Sanches


Mundo Cão, de Leandro Muniz 
Com Luís Lobianco, Alex Nader, Juliana Guimarães e Maria Thalita de Paula
Direção Leandro Muniz


Não identificado, de Jô Bilac 
Com Maíra Kesten e Renato Albuquerque 
Direção Alexandre Bordallo

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E as cenas favoritas escolhidas pelo público, através de votação, foram:

Hollywood não existe, de César Amorim, e Família, de Larissa Câmara.

Acompanhe os textos e clique nos links para ver as cenas no youtube:


FOLHA ONLINE – 12 DE NOVEMBRO  

HOLLYWOOD NÃO EXISTE!
De César Amorim

UMA MULHER LINDA, A ATRIZ, ENTRA NUMA RECEPÇÃO.  A ATENDENTE ESTÁ AO TELEFONE. O IDEAL SERIA SE A ATRIZ NÃO FIZESSE MUITAS EXPRESSÕES FACIAIS, QUE COLOCASSE TODO O SENTIMENTO NA VOZ. ELA ESTÁ MUITO BOTOXADA, COM OS MÚSCULOS DA FACE PARALISADOS.
ATRIZ – Com licença...
ATENDENTE – Só um minuto, linda. Muito linda você. (Para o telefone): Alô? Pode falar, linda. Desculpe, é que chegou outra linda... Quer marcar pra quando? Olha, a gente só vai ter para... deixa ver... ih... só encaixe, pode ser? Só no segundo semestre de 2012. Ah, qualquer dia, não sei te falar... Começa a vir aqui a partir do dia primeiro de agosto e vai ficando...  Assim que rolar uma vaga, a gente te encaixa. Tá ótimo, querida. Beijos.
ELA DESLIGA E FALA COM A ATRIZ.
ATRIZ – Ele está aí?
ATENDENTE – Depende. Quem é você, linda?
ATRIZ – Eu sou...
ATENDENTE – Ah, lembrei! Eu sei quem é você. Você é a Silvia Stevens Sommers, a atriz. Gente, você tá demais, sabia? Não te reconheci assim tão linda. Já ri muito com você.
TOCA O INTERFONE.
ATENDENTE – Só um minuto. (Para o telefone). Sim, doutor. Pois não. Sim, senhor. (Desliga). Sra. Nicole Kidman! Por favor, pode entrar. (Para a Atriz). Adorava quando você fazia aquela mulher macaca... Gente, de onde você tirava aquelas caras? Faz aí pra eu ver de novo, vai. 
ATRIZ – Eu não consigo! Não consigo mais! É por isso que estou aqui. Por favor, eu preciso falar com ele agora!
ATENDENTE – Impossível, minha linda. Por mais que você seja hilária, eu não posso fazer nada. A agenda dele...
ATRIZ – Está lotada. Abarrotada. E daí? Caguei pra agenda dele. Ca-guei! Tudo que eu quero é ser ouvida por ele. É ser vista por ele. Olhe pra mim. O que você vê?
ATENDENTE – Uma mulher linda, perfeita, absoluta...
ATRIZ – Exatamente.
ATENDENTE – Então, qual é o problema?
ATRIZ – Você acabou de falar todo o meu problema, meu bem. Eu estou linda, perfeita, absoluta.
ATENDENTE – Que maravilha! Que bom pra você.
ATRIZ – Maravilha coisa nenhuma. Maravilha nada. Maravilha é o caralho! Eu não quero ser linda, perfeita, absoluta. Eu quero ser eu! Eu não sei mais quem sou eu. Eu me perdi em meio a tanta beleza. Eu me quero de volta! Por favor, me deixa falar com ele agora!
ATENDENTE – Mas, meu amor, você, com todo o respeito, era um horror! Um atropelamento, um acidente ferroviário, uma desgraça completa. Você era a filha do satanás com a mula sem cabeça de tão feia. E agora...
ATRIZ – Mas eu era feliz! Eu trabalhava! Eu era diferente! A minha feiúra era o meu ganha-pão. E agora? Tou igual a todas as outras. Quem vai contratar um clone da Angelina Jolie se já tem a verdadeira? Eu não queria isso, não queria. Só vim aqui pra tirar uma verruga que apareceu na ponta do meu nariz e saí assim. Eu vou abrir um processo contra esse homem! Quem ele pensa que é?
ATENDENTE – Querida, ele é apenas o Dr. Hollywood. E todos sabem que ele não perdoa as feias. E não perdoou você.  Ele é implacável! Aqui é assim. Você entra feia, triste, sai linda e feliz.
ATRIZ – Ele é responsável pela minha infelicidade! Ele destruiu minha vida. Nunca mais fiz um filme de terror.  Fiz teste para uma porrada de filme de zumbi e nada. Dizem que eu não tenho mais o perfil. Como assim? Eu tinha o perfil! E ainda era ótima pra produção. Eles não gastavam nada de maquiagem. E agora? Nem comercial eu faço mais. Era sempre o ANTES.
ATENDENTE – Agora você é o DEPOIS. Muito melhor.
ATRIZ – Melhor pra quem? Melhor pra quem faz o DEPOIS, porque você não tem noção da concorrência. Quando se é linda, não basta ser linda, tem que ser muito linda. A mais linda. Nesses testes só tem DEPOIS, não tem ANTES. Ninguém quer ser o ANTES, querida. Quem vai se expor? Era aí que eu ganhava de todas! Ser linda é injusto comigo. Eu era uma feia mega bem resolvida. E sempre era escolhida. Sempre. Era alvo de chacota, mas tinha dinheiro. Passei anos na análise para me assumir como feia e quando me assumo e conquisto meu espaço, vem esse doutorzinho Hollywood aí e me deixa deslumbrante! Eu odeio ele! Odeio!
ATENDENTE – Mas você ainda pode ser engraçada. Tem várias atrizes que fazem graça mesmo sendo lindas.
ATRIZ – Eu não posso mais mexer a minha testa! Olha pra isso! Eu estou fazendo uma força tremenda e nada. Ele destruiu minhas expressões faciais com tanto botox! Tem mais botox aqui na minha testa do que na bunda desse Dr. Ray.
A ATRIZ COMEÇA A GEMER.
ATENDENTE – Ai, meu Deus! Você tá bem, linda? Tá sentindo alguma coisa? Por que tá gemendo?
ATRIZ – Eu não tou gemendo! Eu tou chorando! Mas eu não consigo mais dar a ordem para o meu rosto se contrair. Ele não se contrai! Eu não posso mais chorar!!
ATENDENTE – Pega esse lencinho... Gente, como o ser humano é estranho... Nunca tá satisfeito.
A ATRIZ TIRA UM REVÓLVER DA BOLSA.
ATRIZ – Eu quero falar com o Dr. Hollywood agora, mocinha. E não vou aceitar um não como resposta.
ATENDENTE – É, você tem razão. Você não tá mais engraçada.  Abaixa isso, tá?
ATRIZ – Então, me deixa falar...
ATENDENTE – (caindo no choro) Eu não posso!! Eu não posso!! Por favor, não me mate. Eu tenho dois filhos! Você não pode falar com ele.
ATRIZ – Eu posso sim! (Mostra a arma). E aqui está a minha senha.
ATENDENTE – Acredite em mim, você não pode.
ATRIZ – Me dê uma boa razão.
ATENDENTE – Você não pode por que... por que o Dr. Hollywood não existe!
ATRIZ – O quê? Não seja ridícula! Ele me examinou, me operou, eu falei com ele.
ATENDENTE – Não, querida. Não sei como lhe dizer isso, mas você não falou com ele. Você falou com a imagem dele na televisão.
ATRIZ – Claro, ele estava fazendo uma vídeo consulta... Você mesma me disse que ele fazia isso sempre, que viajava muito, que estava gravando sempre o programa...
ATENDENTE – Eu menti! Menti! Eu não trabalho para ele! Eu trabalho para a empresa que criou ele. Uma organização poderosíssima, uma multinacional dos cosméticos. Eles precisavam criar um médico perfeito para vender os produtos da empresa. Um médico lindo, bem humorado, casado com uma mulher linda, pais de filhos lindos, que morasse numa casa linda... e que ainda fosse campeão de artes marciais. E que apesar de todo o estresse diário ainda transasse com a mulher. Em suma, o homem perfeito. E cá pra nós, sabemos que isso não existe. Ele nunca atendeu uma só paciente.
ATRIZ – Mas ele atende às pacientes dele no programa...
ATENDENTE – Não atende. Aquelas mulheres contracenam com o espaço vazio. A imagem do Dr. Ray é colocada depois, por computador. Ele é um programa de computador, querida. Dr. Hollywood é uma farsa! E aquelas mulheres operadas por ele são muito bem pagas para não revelarem nada. Você nunca percebeu? O que é aquele cabelo dele? Aquilo não existe!
ATRIZ – Então, quem opera elas? Quem me operou?
ATENDENTE – Eu.
ATRIZ – Você?
ATENDENTE – Eu sou a verdadeira cirurgiã. Antes de vocês entrarem para falar com ele, já respondem a um questionário, lembra? Nele tem tudo o que preciso saber. Enfim, é isso. Desculpe pela sua mudança. Mas sempre fui sua fã e achava que você seria mais feliz se fosse bonita.
ATRIZ – Meu Deus... Você tem talento! Por que não assume que é você e começa a operar abertamente?
ATENDENTE – Porque eles mantêm meus filhos reféns. Aquelas crianças do programa dele, os filhos dele, são meus filhos!! Eu estou presa a essa organização para sempre. E, desculpe dizer, você também.
ATRIZ – Eu?
ATENDENTE – Claro. Ou você acha que vai conseguir sair daqui assim, depois de saber de tudo?
ATRIZ – Você não pode...
ATENDENTE – Posso sim. Me perdoe, mas é a vida dos meus filhos. No final das contas, tudo acabou bem. Eles finalmente me liberaram para passar um período com minhas crianças. Estarei na próxima temporada do programa como a babá dos meus próprios filhos. E preciso de alguém no meu lugar aqui. E você é perfeita. Vende bem a imagem da organização. Parabéns, você começa hoje. Bem-vinda a Hollywood!
FIM.



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FAMÍLIA!
LARISSA  CÂMARA

MANCHETE: Cresce nº de casamentos de mulheres mais velhas com homem mais novo FOLHA ONLINE – PAULOFERNANDO DE NOVEMBRO  

Obs: Dois irmãos negociam a firma, herança do pai durante o café. Os dois se tratam com uma falsa cortesia, mas na verdade se odeiam. A cena é uma homenagem a cena da novela guerra dos sexos. http://www.youtube.com/watch?v=GXe650EiqFY

PAULO: Meu amado irmão, obrigado por ter vindo.

FERNANDO: Ah, meu irmão querido. (tom) Eu disse que viria. Sempre fui uma pessoa de palavra.

PAULO: (sorri e diz entre dentes) De palavras falsas.

FERNANDO: Muito agradável a sua casa. (entre dentes) Um contraste visto que você é intragável.

PAULO: O quê?

FERNANDO: (eleva o tom da voz) A sua casa é Muito agradável!

PAULO: Obrigado! Eu mesmo decorei!

FERNANDO: (debocha) Humm, infelizmente eu não gostei da decoração.

PAULO: (ri achando que é uma piada). Tão espirituoso! (tom) Vamos sentar para tomar café e conversar sobre a herança do nosso querido, inteligente e idolatrado papai.

FERNANDO: Você dobre a língua antes de falar do papai.

PAULO: Ele estava decrépito.

FERNANDO: Papai não estava tão decrépito quanto a sua esposa.

PAULO: Mas ao menos ela me reconhece ainda! (gargalha debochada)

FERNANDO: Nada mal para uma jovem com 80 anos.

PAULO: 78.

FERNANDO: Que conservada!

PAULO: Eu te proíbo de falar mal da minha esposa.

FERNANDO: A víbora da sua esposa está torrando o seu dinheiro sujo no bingo.

PAULO: Não! Minha esposa é uma atleta, no momento ela está na hidroginástica. Mas isso não é da sua conta.

FERNANDO: Vamos falar sobre negócios. (tom) Você quer quebrar a firma? Você não pode impedir a minha negociação com os japoneses.

PAULO: A sua negociação com os japoneses está proibida. Nossa empresa não negocia com homens de pensamento pequeno. (faz gesto sugerindo que o membro dos japoneses é pequeno)

FERNANDO: Engraçado! Sempre considerei seu pensamento oriental. (faz gesto sugerindo que o membro do irmão é pequeno)

PAULO: Sempre considerei a sua cabeça sem cérebro.

FERNANDO: E você que casou com uma mulher de 90 anos é o que?

PAULO: Não fale da minha mulher. Eu não admito ouviu bem? A Hebe é uma santa!

FERNANDO: Sim ela já possui idade para ser canonizada.

PAULO: Chega! Você não vai negociar com os japoneses e ponto final!

FERNANDO: Você não suporta o meu sucesso nos negócios. Você prefere ter prejuízo na sua própria firma.

PAULO: Somente meia firma a outra metade é sua, está escrito nos papéis que papai deixou e que não me deixam mentir.

FERNANDO: Ah, como você é infantil.

PAULO: Infantil é quem me chama. (faz uma manha e uma careta)

FERNANDO: Você me envergonha. Eu acho que você é adotado!

PAULO: Ridículo. (tom) Você não vai negociar nada com os japoneses. Ouviu bem. Nada! (tom) Seu bobo!

FERNANDO: Você é um animal! Um burro. A vontade que eu tenho é pegar esse café e jogar na sua cara.

PAULO: Você não teria coragem.

FERNANDO: Não?

PAULO: Porque se você jogar esse café na minha cara, eu demito a equipe incompetente que trabalha com você.

FERNANDO: Minha equipe Incompetente?

PAULO: Incompetente igual a você.

FERNANDO: Muito bem (joga café na cara dele) Eu espero que isso sirva de lição.

PAULO: Meu irmão, querido! Você não espera que eu fique com esse café na cara sem tomar uma atitude. Não é?

FERNANDO: Sim. Você disse que iria demitir a minha equipe de funcionários.

PAULO: Claro, mas isso vai ser depois.

FERNANDO: Depois do que?

PAULO: Que eu atirar essa xícara de café na sua cara.

FERNANDO: Não, você não teria coragem.

PAULO: Não? (joga o café na cara dele)

FERNANDO: Infelizmente eu tenho que revidar.

PAULO: Você não tem coragem!

FERNANDO: Não? (joga suco na cara dele)

PAULO: Que sensação refrescante!

FERNANDO: Agradabilíssima!

PAULO: Meu querido irmão, com sua licença. (joga suco no irmão)

FERNANDO: Bom é evidente que eu tenho que fazer alguma coisa.

PAULO: Você não é um homem de atitude.

(FERNANDO  joga comida no irmão)

PAULO: Com licença. (joga comida no irmão)

FERNANDO: Isso não vai ficar assim. (joga comida no irmão)

PAULO: (sorri) Você não vai negociar nada. (joga geléia no irmão)

FERNANDO: Eu vou negociar com os japoneses e você não vai me impedir!

PAULO: Só por cima do meu cadáver!

(Jogam muitas comidas e líquidos uns nos outros)

(Entra empregada)

EMPREGADA: Ah, meu Deus!

PAULO: Maria Adelaide, tenha a bondade de  tirar a mesa.

EMPREGADA: Sim, senhor. (sai)

PAULO: Meu irmão querido, você esqueceu a sobremesa. (bate torta de creme na cara dele)

FERNANDO: (pega um revólver) Assine os papéis passando 100% da empresa pra mim. Sinto informar que a bala desse revólver não é de açúcar.

PAULO: Como você desejar, Meu querido, irmão. (Assina os papéis e Pega uma arma) Por essa você não esperava.

FERNANDO: Confesso que não é uma surpresa das mais agradáveis.

(luz apaga som de tiro)

EMPREGADA: (em off)Ah, meu Deus! Como é que eu vou tirar essa mancha do tapete da sala?

FIM