Como a Vida É - de Cristina Fagundes
Homem sentado em mesa de bar, toma algo e aguarda ansioso por alguém. Mulher entra no bar o vê e leva um susto, vira de costas para ele. Ele não a vê, entretido em arrumar uma flor margarida que está em seu bolso. Os dois estão com roupas de cor igual, tipo toda verde ou toda vermelha dos pés à cabeça, e ela segura uma margarina da mão, para facilitar o reconhecimento. Ele a vê de costas e a chama:
ELE: Lídia?...
ELA: (ainda de costas) Arthur?
ELE: (sorri, solicito, se levantando e puxando a cadeira)
Oi, você não quer sentar? (ela suspira fundo e se vira de frente pra ele – é a vez dele ficar surpreso).
ELE: Márcia!...
ELA: Bruno...
OS DOIS FALAM AO MESMO TEMPO
ELA: Então era você?
ELE: Caramba!
ELA: Gente...
SE SENTAM EM SILÊNCIO, SE OLHANDO AINDA SOB O CHOQUE. TEMPO.
ELA: Gente....que isso...
ELE: Então na verdade...
ELA: ... era você...
ELA: Gente, essas coisas só acontecem comigo. (lembra) E você ainda me disse que era bonito!
ELE: Ué mas eu sou. Não sou não?
ELA: (observa e nega) hum, hum.
ELE: Não?
ELA: Nunca foi.
ELE: Eu não sou bonito? (brinca penteando o cabelo de outro jeito, faz graça) E agora?
ELA: (ri dele) Ai, Bruno, só você. Aí, a margarida.
ELE: (mostra a dele) quer trocar?
OS DOIS RIEM
ELA: E só eu mesma pra marcar um encontro com meu próprio irmão.
ELE: Eu nunca pensei que você freqüentasse sala de bate-papo. Que engraçado.
ELA: Pois é, pra você vê como tá difícil encontrar alguém legal...
ELE: É, mas você devia tomar mais cuidado, antes de sair marcando um encontro assim, ta cheio de maluco na internet. E seu fosse um maluco? Um psicopata?
ELA: È, mas você não é maluco, você é o meu irmão, professor de física, certinho, casado/(se dá conta). Aliás, a Fernanda sabe que você fica marcando encontro com mulher pela internet?
ELE: Ah, eu não fico marcando encontro...
ELA: Ah, não? E isso aqui é o quê?
ELE: Ah, Márcia...
ELA: Você ia chifrar a Fernanda, Bruno? Com uma mulher linda em casa você fica catando mulher na internet? Pra quê?
ELE: ...
ELA: Eu sempre pensei que você fosse apaixonado pela Fernanda. Mas é tudo mentira então. O seu casamento é um mentira.
ELE: Não, não é mentira. Eu sou apaixonado pela Fernanda.
ELA: Então pra quê esses encontros? Que esse não é o primeiro, Bruno, pelo jeito como você fez as coisas, esse lance das margaridas, vocês já fez isso outras vezes.
ELE: Já fiz sim. Pronto. Você quer mesmo saber? Eu saio com outras mulheres sim. Eu saio, e daí?
ELA: Bruno, não fala isso, pelo amor de deus, que toda vez que alguém me fala que não tem homem fiel, eu digo: mentira, tem sim, tem sim que meu irmão é casado há 10 anos e ainda é apaixonado pela mulher dele. Nunca traiu a Fernanda, nunca traiu.
ELE: Márcia, você não sabe o que é ta casado com a mesma pessoa por 10 anos. As coisas mudam, o desejo diminui.
ELA: Mas não dá pra trabalhar isso? Não dá pra cultivar a relação?
ELE: A gente tenta, todo mundo tenta fazer isso, mas o desejo vai indo embora e aí quando você vê, você tem aquela mulher linda do teu lado, que você ama e que é tua companheira mas você não sente mais tesão por ela. É cruel mas é isso o que acontece.
ELA: Como assim não sente mais tesão? A Fernanda é linda. É um mulherão. Até eu quase sinto tesão por ela.
ELE: A Fernanda é linda sim, Márcia, mas mesmo que ela fosse a mulher mais linda do mundo, depois de 10 anos, ali ó, todo dia, todo dia, com a mesma mulher, não tem santo que agüente. Você começa a bater ponto. E bater ponto em sexo é o fim da linha pra um homem. È a morte.
ELA: Nossa Bruno, que exagero!
ELE: Sabe aquele fogo das primeiras trepadas? Esquece, se você for fiel mesmo, você nunca mais vai saber o que é isso.
ELA: Como não?
ELE: Uma milésima trepada, nunca vai ser igual a uma primeira trepada. È um fato.
ELA: Mas vai ser um puta trepada, você já conhece a pessoa, já sabe do que ela gosta...
ELE: Então, é justamente isso, você já sabe tudo. Então nem precisa mais trepar, você já sabe.
ELA: Mas então me explica como é que as pessoas passam 40, 50 anos casadas?
ELE: Abrindo mão do sexo.
ELA: Mas eles continuam transando.
ELE: Mas não é mais o sexo em tudo o que ele pode dar, sexo pra valer, é uma coisa diferente. Amor, talvez.
ELA: Mas deve ter um jeito de resgatar esse fogo do início.
ELE: Aí é que entram esses encontros pela internet.
ELA: Deve ter outro jeito.
ELE: Tem. Se separar. Conhecer outra pessoa e começar tudo de novo.
ELA: O sexo não pode ser assim incompatível com o casamento.
ELE: Pra começar, o casamento nunca teve associado ao amor ou ao sexo, de uns tempos pra cá é que a gente inventou isso. Ao longo da história o casamento sempre teve uma função muito mais política, de unir reinados, de evitar guerras, de criar sociedades. E era melhor assim, porque antes você não tinha essa obrigação de viver eternamente de pau duro pela mesma mulher.
ELA: que isso Bruno!
ELE: É a ditadura do pau duro!
ELA: Bruno, você virou um homem frio.
ELE: Realista.
ELA: Um iceberg.
ELE: Não dá pra ter o mesmo tesão pela mesma pessoa durante 10 anos, Márcia. Põe isso na tua cabeça.
ELA: Então você não gosta mais da Fernanda.
ELE: Gosto. Gosto sim. Mas sexo é outra coisa. Por isso que eu saio com outras mulheres, eu sinto falta de sexo. É isso. Sexo. Sabe sexo? Agora isso não tem nada a ver com o meu casamento, eu amo a Fernanda. Sou apaixonado por ela.
ELA: (suspira) Ai, Bruno, então o seu casamento é um mentira...
ELE: Se você quer pensar assim...
ELA: Agora já nem sei se eu quero mais conhecer alguém. Depois dessas coisas todas que você me falou, acho que eu não tava preparada pra ouvir/...
ELE: (cortando ela) Mas é bom ficar, é bom ficar, porque isso é a vida, Márcia. Como ela é. Agora deixa eu ir que eu ainda tenho que pegar o bolo e a Fernanda já deve ta me esperando. Taqui minha parte, ó. Tchau! ( se levanta e vai saindo) Você vai passar lá em casa mais tarde?
ELA: Claro, eu vou, Bruno, eu vou sim. Afinal não é todo dia que se comemoram 10 anos de casamento né?
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Mentirosos Compulsivos
Leandro Muniz
Numa sala estão sentados João, Pedro, Artur, Visitante 1 e Visitante 2.
Visitante 2 está o tempo todo quieto, prestando atenção a tudo. Mediador, de pé, dá início à sessão.
MEDIADOR
Boa noite!
TODOS (desanimados e desencontrados)
Boa noite!
MEDIADOR
Bem vindos a mais um encontro dos Mentirosos Compulsivos. Pelo que estou vendo temos novos amigos hoje na reunião.
JOÃO
Não temos não.
MEDIADOR
Temos sim João, você não está vendo?
JOÃO (inexpressivo)
Não consigo enxergar, oh meus olhos! Estou cego.
MEDIADOR
João, pare de agir assim. Todos nós estamos aqui por um único e mesmo objetivo.
PEDRO
Ontem eu transei com uma atriz de televisão na Avenida Rio Branco às 5 da tarde!
JOÃO
Mentiroso!
MEDIADOR
Silêncio! Por favor, rapazes. Hoje é um dia especial. Completamos seis anos de encontros semanais constantes, e nítidos progressos de seus comportamentos.
PEDRO
É verdade.
MEDIADOR
Quero, portanto, que vocês dêem boas vindas a dois novos colegas. É possível?
(Silêncio.)
MEDIADOR
Artur, você não fala nada? Tá tão calado hoje.
ARTUR
Eu faltei.
MEDIADOR
Artur...
ARTUR
Eu faltei hoje, sério, faltei. Eu faltei, faltei hoje, faltei.
MEDIADOR
Mas Artur, você está aqui, não está?
ARTUR
Estou.
MEDIADOR
Então...
ARTUR
Mas eu faltei.
MEDIADOR
Ok. Você faltou.
ARTUR
E eu morri também.
MEDIADOR
O que?
ARTUR
Eu morri. Eu faltei porque eu morri. Eu me matei.
MEDIADOR
Ok.
(Breve momento de silêncio).
MEDIADOR
Entendo o silêncio de vocês. Mas somos como um time certo?
PEDRO
Eu não posso pertencer ao mesmo time do Artur.
MEDIADOR
Por que?
PEDRO
Porque ele é um evangélico desgraçado e a mãe dele é uma vaca!
MEDIADOR
Pedro!
PEDRO
Desculpe senhor, mas eu me tornei tão sincero e verdadeiro com o tratamento que não consigo mais mentir. Odeio esses evangélicos malditos e a vadia da mãe dele!
ARTUR
Eu não sou evangélico!
Artur levanta e ameaça ir pra cima de Pedro, que reage, mas os dois são acalmados por Mediador. João fica imóvel, escondendo o rosto com as mãos e fazendo um som estranho e baixo, como se chorasse.
MEDIADOR
Meninos, por favor. (para Pedro) E você? Eu já não disse milhões de vezes para não falar esse tipo de palavra chula?
PEDRO
Evangélicos?
MEDIADOR
É assim que mostramos aos novos participantes o quanto evoluímos? É esse tipo de conduta que apresentamos numa primeira visita? O que já conversamos sobre a primeira impressão?
JOÃO (tímido, como se falasse em um jogral).
A primeira impressão é a que fica.
MEDIADOR
Muito bem João. A primeira impressão é a que fica. Vamos pedir desculpas a nossos novos parceiros? Sabiam que eles podem desistir de fazer parte de nossas reuniões depois de ver esse comportamento feio e sujo?
PEDRO
Desculpa ae porra.
ARTUR
Desculpa novos amigos.
MEDIADOR
Ótimo. Podemos começar então? Gostaria de pedir que cada um de vocês, novos componentes, se levante e se apresente nos falando seu nome, e o que cada um faz. Você. Pode começar.
VISITANTE 1
Meu nome é Juliana, Gisele, Roberta, Joana, Caetana, Maria, Paula, Bia, Elisa (pausa) Jussara de Oliveira.
MEDIADOR
Nossa, que nome grande.
VISITANTE 1
Tais... Maíra... Silva de Almeida, Alcântara de Andrade, Sousa (pausa) Bergeinstein.
MEDIADOR
Muito prazer... Posso te chamar de Maria?
VISITANTE 1
Bia.
MEDIADOR
Então meninos, vamos dar um alô para a Bia!
TODOS (desanimados e desencontrados)
Alô Bia!
MEDIADOR
Bia,o que você faz?
VISITANTE 1
Eu sou astronauta. O que foi? Não me olhem assim como quem diz “Lá vem mais uma astronauta encher o nosso saco!”, eu sei muito bem os preconceitos que nós astronautas sofremos nessa sociedade infétida e podre!
MEDIADOR
Imagina Bia. Acho muito interessante. Alguém quer comentar?
PEDRO
Uma vez eu transei com uma astronauta atriz de televisão, na Avenida Rio Branco ás 5 horas da tarde.
(Silêncio.)
JOÃO
Você conhece Marte?
VISITANTE 1
Conheço como a palma da minha mão. Mas parei de freqüentar, pois estou sendo perseguida por me dedicar ao sumô.
MEDIADOR
Você disse perseguida Bia?
VISITANTE 1
Sim, me seguiram quando vinha para cá. Eram homens de terno, armados. Eles perseguem astronautas lutadores de sumô.
MEDIADOR
E por que fariam isso?
Visitante 1 faz gesto para que Mediador aproxime-se dela,como se fosse contar um segredo.
VISITANTE 1 (cochicha)
Porque eles fazem parte de uma organização que assassina pessoas que acumulam funções distintas na sociedade.
MEDIADOR
Por exemplo?
VISITANTE 1
Um advogado, que também é dentista.
PEDRO
Entendi, tipo advogados que surfam?
VISITANTE 1
Isso.
JOÃO
Lacrais que viram borboletas?
VISITANTE 1
Pode ser.
PEDRO
Tipo jogadores de futebol pagodeiros, deputados maconheiros, padres pedófilos, atores que querem escrever, dirigir e produzir?
VISITANTE 1 ( anima-se)
Exatamente!
ARTUR ( animado )
Eu faltei hoje! Eu faltei!
MEDIADOR
Bom Bia, muito bom! Mas por que acha que eles agem dessa forma?
VISITANTE 1
Sinceramente? Acho que eles são a favor de uma “cultura de especialistas”. E não compreendem que podemos nos destacar tendo mais de uma habilidade, nessa sociedade infétida e podre!
MEDIADOR
Bia, por que veio aqui?
VISITANTE 1
Isso é fácil de perceber. Não consegue deduzir? Depois de tudo o que falei?
MEDIADOR
Me diga você.
VISITANTE 1
É obvio que eu vim até aqui para fazer essas revelações, porque se eu fosse à polícia, certamente não acreditariam. Dãaa!
MEDIADOR
E por que acha que nós acreditaríamos Bia?
VISITANTE 1 ( responde, perguntando)
Por que vocês não são da policia?
MEDIADOR
Bia, fico muito feliz por você estar aqui, e realmente o que queremos são pessoas falantes para dividir os seus problemas conosco. Mas veja por exemplo: o João. O que disse na primeira reunião que veio?
JOÃO (fala com as mãos no rosto)
Que meu nome era Stephany Klinex, que gostava de queimar anões com ferro de passar, e que era filho de um carnavalesco.
MEDIADOR
Exatamente. Pedro, lembra-se de quando chegou aqui?
PEDRO
Sim. Eu ia ao banheiro nove vezes por sessão e dizia que tinha me masturbado em todas. E nos primeiros 2 anos falava com essa voz aqui. (faz uma voz estranha, meio fanha). “Oi meu nome é Alexandre Frota e eu sou tesudo”.
MEDIADOR
É verdade, eu me lembro da obsessão pelo Frota. E você Artur, lembra-se de quando você chegou?
ARTUR
Eu faltei hoje. Faltei porque eu morri. Mas se eu tivesse vindo, responderia que quando cheguei aqui eu dizia que era japonês e hermafrodita.
MEDIADOR
Obrigado Artur, adoro quando você participa.
ARTUR
Mas eu não vim hoje, tá?
MEDIADOR
Entende agora nossa política Bia? O primeiro passo é você assumir que tem problemas, aceitar que podemos ajudá-la, e com isso o tratamento ganha força. Percebe isso?
VISITANTE 1
Percebo sim.
MEDIADOR
Consegue perceber que tudo o que diz é mentira?
Visitante 1 levanta-se e corre para abraçar Mediador, emocionada.
VISITANTE ( emocionada)
Claro que percebo. Eu minto o tempo todo! Na verdade eles não me seguiram de terno, e sim com roupas de orixás de umbanda.
MEDIADOR
Ótimo Bia, ótimo! É esse o espírito. (Visitante volta a se sentar) Partindo desse princípio...
PEDRO (grita)
Eu odeio os evangélicos e a vadia da mãe do João!
MEDIADOR
Pedro!
PEDRO
Desculpe, precisava desabafar umas verdades.
MEDIADOR
Tudo bem, isso às vezes é libertador. Devemos fazer isso quando sentimos vontade. Todos entenderam? As verdades são como antibióticos para o nosso tratamento! Os especialistas dizem que temos...
TODOS ( completando a frase, meio decorados, animados e desencontrados, menos VISITANTE 1 e 2)
Mais massa branca no cérebro do que o normal!
MEDIADOR
Exato! Mas sabemos que é apenas uma questão de consciência e...
TODOS (juntos e felizes menos VISITANTE 1 e 2)
Auto estima!
TODOS aplaudem inexpressivos. Visitante 2 levanta-se, como se fosse embora.
MEDIADOR
Dito isto, e já que nos entendemos, vamos prosseguir. Ei, você? Vai embora sem falar nada?
VISITANTE 2 ( enquanto fala, gesticula sutilmente com as palmas das mãos viradas pra frente, como se rezasse um pai nosso)
Nossa, confesso que tava aqui nervoso, muita informação estranha, muita confusão! Desculpe, mas eu só me senti ofendido até agora. Alguns comentários são como ataques pessoais e sinceramente jamais acreditaria em 99% do que foi dito! Mentir tudo bem, mas nesse nível realmente eu nunca tinha visto. (muda o tom) No fundo, acho que preciso de vocês e vocês precisam muito de mim também. Vou ficar. Acho que posso mudar tudo.
MEDIADOR
Claro, claro! Esse é o nosso objetivo. Lidar com nossas dificuldades. Seu nome?
VISITANTE 2
Meu nome é Cristo. Jesus Cristo.
Fim.
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LEI SECA
De Claudio Torres Gonzaga
DOIS CARAS VEM DIRIGINDO UM CARRO. ELES AVISTAM UM BLITZ DA LEI SECA. Leandro está dirigindo. Marcos fala pouco até eles serem parados.
LEANDRO
O que é aquilo? Ih Caralho.
MARCOS
Que foi?
LEANDRO
Uma blitz da Lei seca: fudeu! Tomei 3 chopes. Sem pararem a gente fudeu.
MARCOS
Deixa comigo.
LEANDRO
Como deixa com você? Você nem dirigi. Eles não podem parar a gente. Faz uma cara foda aí.
MARCOS
Calma. Vai na minha.
LEANDRO
Estão mandando parar. Agora já era. Perdi a carteira. Eu não posso ficar sem carteira.
O carro vai parando e um policial se aproxima.
POLICIAL
Boa noite. Os senhores podiam descer do carro?
Eles descem do carro
LEANDRO
Sabe que é seu guarda...
MARCOS
(COMPLETAMENTE BÊBADO DAQUI EM DIANTE) Fala o da farda! Tudo firmeza?
POLICIAL
Parece que o seu amigo está um pouco alterado.
MARCOS
Bsolutamente. Eu não estou alterado. Eu estou bêbado.
LEANDRO
Marcos! Tu tá maluco? Agora fudeu geral!
POLICIAL
Como senhor?
LEANDRO
Nada.
POLICIAL
Olha, não tem nenhuma lei que proíba dar carona para um individuo alcoolizado. Mas como os senhores estão juntos tudo indica que o senhor também ingeriu álcool.
MARCOS
General!
POLICIAL
Eu não sou general.
MARCOS
Mas deveria. General, o meu amigo não está bebu, quem está bebu sou eu.
POLICIAL
Isso eu já entendi, mas de qualquer jeito, o seu amigo vai fazer o teste do bafômetro.
LEANDRO
Eu não tenho nenhum problema em fazer o teste, mas eu lembrei que comi um bombom com licor, um inocente, bombom com licor e isso pode aparecer. O senhor há de convir que não é justo perder a carteira por causa de um bombom.
MARCOS
Injustíssimo!
POLICIAL
Mas se foi só um bombom, não vai aparecer. Pode soprar.
LEANDRO
Na verdade foi mais de um. Foram uns...
MARCOS
Quinze. General, foram 15!
POLICIAL
Mas com 15 bombons o senhor está alcoolizado.
LEANDRO
Ele não sabe o que está falando. Foram 3.
Policial
Três também não vai aparecer. Pode soprar.
MARCOS
(CANTA) É na boquinha da garrafa.
LEANDRO
Cala a boca Marcos! É o seguinte, seu guarda, eu comi só três bombons, mas aí eu fiquei com os dentes todos pretos do chocolate.
POLICIAL
Espero que isso tenha alguma relevância.
MARCOS
Agora o general falou bonito.
POLICIAL
(IMPACIENTE) Eu não sou general!
LEANDRO
Como eu estava dizendo... onde eu estava mesmo.
MARCOS
Com a boca na coisa preta.
LEANDRO
Cala essa sua boca! O que deu em você? (T) Como ia dizendo eu estava com os dentes sujos e resolvi escovar e pra dar aquele trato esperto usei o Listerine, sabe aquela parada?
POLICIAL
Ainda não encontrei a relevância.
MARCOS
Issa! Esculacho! Da-lhe Genera!
LEANDRO
Essa parada do Listerine acusa geral no bafômetro. Agora o senhor veja bem, não tem sentido um cidadão cumpridor dos seus deveres ser prejudicado só porque quis fazer a higiene bucal completa.
MARCOS
Vai que rola de pagar um boquete? O Leandro gosta de estar preparado.
LEANDRO
Quer parar?
MARCOS
Vai que o General queira que você caia de boca no canudo dele.
LEANDRO
Marcos!
POLICIAL
Eu vou desconsiderar isso para não prende-lo por desacato a autoridade.
LEANDRO
Seu guarda, chega de mentirada. Na verdade eu tomei um chope. Mas eu estou sem nem alteração, eu posso fazer qualquer coisa que o senhor pedir...
MARCOS
Boquete...
LEANDRO
Fica quieto! Qualquer no sentido que prove que eu não estou bêbado.
POLICIAL
Olha, a única coisa que prova que o senhor não está bêbado é o teste. Se foi só um chope não vai aparecer.
LEANDRO
Dois.
POLICIAL
Pouca chance.
LENDRO
Três...
POLICIAL
Por favor. Pode soprar.
LEANDRO
Nossa senhora protetora dos tomadores de 3 chopes me proteja.(sopra)
POLICIAL
(CONFERE) Infelizmente a quantidade de álcool no seu sangue está acima dos limites. O senhor vai ter a carteira apreendida e o seu carro vai ser rebocado.
MARCOS
Isso é uma injustiça. Ele não bebeu quase nada. Essa máquina está doida. Eu como bebum convicto, não aceito que esse chopista de quinta seja classificado como bêbado! Isso é uma desonra para os bêbados de verdade. Fora Sarney!
POLICIAL
O senhor não está em condições de protestar nada!
MARCOS
Esse bafômetro é uma fraude!
LEANDRO
Eu posso pelo menos pedir pra alguém pegar o meu carro?
POLICIAL
A pessoa vai ter que fazer o teste do bafômetro.
MARCOS
Eu quero fazer o teste.
POLICIAL
O senhor não está em condições.
MARCOS
Quem decide isso é o bafômetro! Eu tenho o meu direito.
LEANDRO
Deixa pra lá.
MARCOS
Eu não saio daqui sem fazer o teste. Se eu não fizer o teste, eu vou cantar (canta) E na boquina da garrafa... e é na boquinha do bafômetro...
POLICIAL
Está bem. Pode parar. Se eu deixar o senhor fazer o teste, o senhor vai embora?
MARCOS
Perfeitamente general.
policial
Pode soprar.
MARCOS
Eu vou provar esse bafômetro é uma fraude. (SOPRA)
POLICIAL
(CONFERINDO) Zero! O quantidade de álcool no seu sangue é zero.
MARCOS
Então eu posso dirigir! Onde que é a primeira?
LEANDRO
O senhor tem que concordar comigo, que esse aparelho não está muito bem regulado.
POLICIAL
O senhor desculpe o transtorno, eu vou levar esse para o departamento técnico. É melhor o senhor dirigir do que esse bêbado.
MARCOS
Convicto. Bêbado convicto! Valeu general.
LEANDRO
Dessa vez, tudo bem mas numa próxima é melhor conferir o aparelho antes. Até logo.
Eles entram no carro e saem.
MARCOS
(completamente sóbrio) Eu não falei pra deixar comigo.
LEANDRO
Você estava muito bem. Até eu fiquei na dúvida.
MARCOS
Na próxima é melhor não beber.
LEANDRO
Valeu General!