domingo, 30 de novembro de 2014

Sétima noite do Clube da Cena Redes Sociais

E esta foram as cenas da sétima noite do Clube da Cena Redes Sociais.



BONITINHO MAS ORDINÁRIO – Post “Se alguém precisa de religião para ser bom...”. Com Zé Auro Travassos e  Marcelo Lima – direção Carmen Frenzel




AMIGAS, de Rodrigo Nogueira  – Post “Mãe solteira com marido.”Com Cristina Fagundes e Marcella Leal – direção Andy Gercker.





TEM CURA?, de César Amorim  – Post “Falo Sozinho. Pior: falo como se tivesse alguém do meu lado.”. Com Bruno Bacelar e Cacau Berredo – direção Leo Castro.





   LEMBRA?, de Cristina Fagundes   – Post “Eu trabalhando e neguinho achando que to de fervo. Sinceramente”.Com Mariana Consoli, Ana Paula Novellino e Marcelo Gonçalves – direção Vini Messias.



NÃO PASSARÃO, de Ivan Fernandes  – Post “Eu apoio vizinhos que transam.” Com Mariana Costa Pinto e Alex Nader  – direção Fernando Melvin.

        

ENTERRASCO, de Bruno Bacelar  – Post “Enterro de suspeitos de assalto termina em confronto com a polícia.” Com Zé Guilherme Guimarães, Bia Guedes  – direção Ana Paula Lopes.

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Nossos músicos queridos: Maria Thalita de Paula e Aldo Medeiros 




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E as cenas mais votas pelo público foram:

Primeiro LugarENTERRASCO, de Bruno Bacelar  – Post “Enterro de suspeitos de assalto termina em confronto com a polícia.”. Com Zé Guilherme Guimarães, Bia Guedes. Participação Marta Laureano  – direção Ana Paula Lopes.


Segundo Lugar AMIGAS, de Rodrigo Nogueira  – Post “Mãe solteira com marido.”
Com Cristina Fagundes e Marcella Leal – direção Andy Gercker



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Textos das cenas escolhidas

ENTERRASCO

De Bruno Bacelar

Locução – Deu entrada no IML um dos traficantes mais procurados da cidade: 

Mário Cláudio da Silva, mais conhecido como: O Sombra! Ele foi alvejado 

em uma troca de tiros entre bandidos e policiais. A família pede pressa na 

autópsia, pois o meliante em questão se dizia muito religioso, veja você! 

E que havia deixado diversas instruções para o seu sepultamento. (Novas 

informações a qualquer momento) 

(Cozinha pobre. Senhora corre de um lado para o outro em preparativos 

culinários. Um homem de aparência rústica a observa apreensivo).

Cara – Calma minha tia! A senhora tá muito agitada...

Mãe – Em primeiro lugar rapaz, eu não sou sua tia! Não sou irmã da tua mãe, 

não sou irmã do teu pai... Outra coisa: nem sei se você era amigo do meu filho, 

mesmo. Nunca te vi mais gordo, nunca vi meu filho andando contigo... Aí você 

me aparece de repente dando essa notícia... (lembra morte) Ai meu filho! Meu 

filho não merecia isso! Ai meu Deus! (chora desesperada)

Cara – Olha só, tremenda falta de consideração hein? Vim aqui na boa porque 

era parceiro do Sombra...

Mãe – Mário Cláudio! Meu filho se chamava Mário Cláudio...

Cara – Então, era parceiro do... desse aí, e não quis que a senhora soubesse 

das coisas pela boca dos outros, ou pela TV... Vim aqui de coração... E a 

senhora nunca me viu com Sombra...

Mãe – Mário Cláudio...

Cara – a senhora nunca me viu com ele porque já tinha uma porrada de tempo 

que ele num vinha pra essas bandas nem visitava a senhora...

Mãe – Meu filho viajava a trabalho, num tinha tempo... Mas me mandava carta, 

e nos últimos anos me mandava torpedo pelo celular... Ai meu filho! Meu filho 

não merecia isso! Ai meu Deus! (chora)

Cara – E esse negócio que a senhora falou aí de me ver mais gordo, a senhora 

não me leve a mal, mas é sacanagem da senhora, até porque já tem mais de 

ano que emagreci: tô malhando e tô sarado. Aqui ó! (pega a mão dela e passa 

na barriga “tanquinho” dele)

Mãe – Mas o que é isso? Eu hein! Você tá é me atrapalhando, sabe? Meu filho 

Mário Cláudio sempre me disse que quando morresse queria festa no enterro 

dele, e com churrasco completo! Eu já preparei tudo! Mesmo sem dinheiro, 

já fiz o arroz, a maionese, o molho à campanha, as vizinhas vão me ajudar 

com uma bacia de salpicão e uns salgadinhos, e o seu Raul aí da quitanda me 

deixou penduras as bebidas. Agora o principal num consegui: a carne! 

Cara – Aí fodeu!

Mãe – Aqui não se fala palavrão rapaz! Entendeu? Num gosto de palavrão, 

nem de pornografia! Entendeu? Pouca vergonha... Ai meu filho! Meu filho não 

merecia isso! Ai meu Deus! (chora)

Cara – Ô tia... quer dizer... dona Sombra, desculpa... Ô mãe do... falecido, vou 

ver o que posso resolver! Vazei! (sai)

Vizinha – (entrando) Ô abençoada, como tá esse coraçãozinho?

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Vizinha – Olha abençoada! Já acendi a churrasqueira. Cadê a carne?

Mãe – Tô providenciando...

Viz – Melhor num demorar viu abençoada! O povo já tá de prato na mão... 

Senão vai parecer aquele pagode: “Fui no pagode na casa do Gago, e o rango 

demorou a sair...” (gargalha estridente. Sem graça.) Vou lá ver o movimento... 

(saindo, volta) Ah, tem pra base de umas cinco donas aí na porta se dizendo 

esposa do finado... Como é que faz, abençoada?

Mãe – Meu filho era viúvo, vizinha! Você sabe disso! Ai meu filho! Meu filho 

não merecia isso! Ai meu Deus! 

Viz – Mas tem uma aqui que se diz a “de fé”, e elas já estão criando tumulto.

Mãe – Fala para elas sossegarem, senão ponho todo mundo pra correr!

(vizinha vai até porta da cozinha e grita o recado da mãe para elas. Vizinha faz 

sinal positivo c dedo p mãe e sai.).

Cara – Dona Sombra (mãe olha com ódio) a boa notícia é que o corpo já tá 

chegando pro velório começar...

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Cara – E a má notícia é que nada de carne! Fui aqui no açougueiro, desenrolei 

a situação, dei até tiro no pé dele, mas ele ficou dizendo que não tinha carne... 

Vê se pode!

Mãe – Ai, coitado do seu Guilherme...

Vizinha – Abençoada! Confusão armada! Chegou aí uma dona Carmem mãe 

de santo do finado e começou botar um monte de comida aí na sala! Tem mais 

comida que aqui na sua cozinha: pipoca, farofa, cachaça... Mas aí aparece 

uma tal de pastora Cecília que diz que finado tinha se entregue pra Jesus e 

sentou e bíblia na macumbeira... Por sua vez a macumbeira sentou a vasilha 

de farofa na pastora... Enfim: porrada estancando...

Mãe – Olha o palavrão!

Cara – Porrada não é palavrão...

Mãe – É sim senhor! É sim senhor! Palavrão e pornografia ao mesmo tempo...

Viz – Olha abençoada, e o povo tá com fome, hein! Comeram as macumbas da 

dona Carmem, mas eles querem mais! Vão invadir aqui já-já! Cadê a carne?

Mãe – O que eu vou fazer?

Voz de fora – O corpo chegou!!!!!

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Cara – Espera aí dona Sombra! Eu vou dar um jeito nisso... (sai e vizinha atrás)

(Mãe apreensiva ouve som de grito do Cara, tiros, gritos. Silêncio. Ela 

estranha. Ele volta com avental de açougueiro todo sujo de sangue).

Mãe – Mas o que é isso, rapaz?

Cara – Resolvido o problema! Carne na brasa, pagode comendo, cerveja 

rolando! Tudo sob controle!

Mãe – Mas onde você arrumou carne? (pensa) Você matou o açougueiro, 

menino?

Cara – Que é isso dona... Num matei ninguém não... No caso já estava morto!

Mãe – Já estava morto? (pensa. Entende.) Ai meu filho! Meu filho não merecia 

isso! Ai meu Deus! (chora desesperada)

Cara – Calma dona! Ele já tá morto mesmo. Não tinha outro jeito! Senão era 

esse povo que ia matar a senhora... Questão de sobrevivência... Além do mais, 

só retirei as carnes nobres! Pelo vidro do caixão nem se nota...

Mãe – Criei esse menino com tanta luta! Sozinha... Fiquei viúva muito nova!

Cara – Muito nova, é?

Mãe – Só me dediquei para ele e para a casa...

Cara – Que dureza...

Mãe – Nunca mais casei...

Cara – Nunca é? 

Mãe – Nunca mais...

Cara – Bom dona, lá fora tá todo mundo matando a fome. E a senhora? Quer 

comer (se insinua)

Mãe – (brava) Olha aqui rapaz... (pensa bem) Quer saber, também sou filha de 

Deus, mereço comer um filet mignon de vez em quando! (sai se agarrando com 

rapaz)

FIM

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Amigas, de Rodrigo Nogueira

Uma mulher sentada sozinha numa mesa de restaurante. Um carrinho de bebê do 

lado. Duas cadeiras vazias à mesa (fazendo um triângulo). Dois copos de bebida 

sobre a mesa. Um outra mulher passa.

AMIGA: Amiga?

MULHER: Amiga!

AMIGA: Quanto tempo, amiga!

MULHER: Demais, amiga!

AMIGA: Nossa, amiga!

MULHER: Né, amiga?

AMIGA: Demais, amiga!

MULHER: Muito, amiga!

Ela aponta pro carrinho de bebê.

AMIGA: Amiga, você, amiga?

MULHER: Eu, amiga!

AMIGA: Amiga!

MULHER: Amiga!

AMIGA: Deixa eu te abraçar, amiga.

MULHER: Por favor, amiga.

AMIGA: Parabéns, amiga.

MULHER: Obrigado, amiga.

AMIGA: Ai, amiga.

MULHER: Você não quer sentar, amiga?

AMIGA: Claro, amiga.

MULHER: Que bom amiga.

AMIGA: Amiga.

MULHER: Amiga.

AMIGA: Amiga, amiga.

MULHER: Amiga, amiga.

AMIGA: Amiga, amiga, amiga.

MULHER: Chega, ninguém mais aguenta ouvir a gente falar amiga.

AMIGA: Ta bom.

A amiga se senta. Na cadeira diante dela. Ainda temos uma cadeira vazia no 

vértice. Virada pra plateia, talvez. As duas de lado.

AMIGA: Mas me fala dessa coisa mais linda do mundo. Tá com quanto tempo?

MULHER: Dois aninhos

AMIGA: Dois aninhos!

MULHER: Pois é, menina.

AMIGA: E o Fortes?

MULHER: Tá muito feliz.

AMIGA: Eu imagino.

MULHER: Mas a gente se separou.

AMIGA: Mentira?

MULHER: Ai, tudo bem. Separação hoje em dia é normal. Filho de casal feliz sofre 

bullying na escola, minha filha. A coisa inverteu. 

AMIGA: É mesmo, né?

MULHER: Total.

AMIGA: Mas quando é que você e o Fortes se...

MULHER: Se o quê?

AMIGA: Quando é que vocês se...

MULHER: Se conheceram? Se olharam? Se esbarraram de propósito na fila 

do banco? Se pediram desculpas? Se perguntaram as horas? Se falaram sobre 

o tempo? Se conversaram mais um pouco? Se convidaram pra almoçar? Se 

almoçaram? Se riram bebendo vinho? Se beijaram? Se apaixonaram? Se 

convidaram pra ir ao cinema, jantar à luz de velas e voltar pra casa juntos? Se 

tiraram a roupa e transaram loucamente pela primeira vez? Se acordaram no dia 

seguinte e transaram de novo? E de novo? E de novo? E de novo? Se namoraram? 

Se divertiram passando um domingo em paquetá? Se curtiram pagando de ricos 

durante um fim de semana em Buenos Aires mesmo tendo comprado passagem 

na promoção e dividido o hotel em dez vezes? Se decidiram por morar juntos? 

Se casaram? Se ficaram em casa no fim de semana vendo televisão juntinhos? Se 

ficaram em casa no fim de semana seguinte vendo televisão não tão juntinhos? Se 

engravidaram? Se pararam de transar? Se começaram a mal se falar? Se tiveram 

um filho? Se tiveram um filho e mesmo assim aquele filho da puta não mudou 

uma vírgula na atitude babaca, escrota e inacreditável pra um homem de 40 

anos? Ou se separaram?

AMIGA: A última opção.

MULHER: Faz dois meses.

AMIGA: Entendi.

MULHER: Mas eu tô ótima.

AMIGA: Eu tô vendo.

MULHER: E feliz.

AMIGA: Não que eu queira polemizar o assunto, mas qual exatamente foi a 

atitude dele que te levou à separação?

MULHER: Ele me colocou numa categoria de estado civil mais inaceitável e todas.

AMIGA: Qual?

MULHER: A de mãe solteira com marido.

AMIGA: Oi?

MULHER: Existem várias. É só observar. Elas viajam sozinhas. Frequentam os 

parquinhos sozinhas. Estão pelas festinhas correndo atrás dos filhos e trocando 

fraldas so-zi-nhas! No teatrinho infantil o pai nunca deu as caras. À creche, 

ele nunca foi! O consultório do pediatra e a Estônia pra ele são praticamente o 

mesmo lugar. Então, eu resolvi me separar.

AMIGA: Poxa. Que barra, né?

MULHER: Como eu disse, é normal. Seria pior, claro, se eu estivesse sozinha.

AMIGA: Mas você não tá?

MULHER: Não, menina! Essa é a melhor parte. Eu voltei com o Prestes!

AMIGA: O Prestes?????

MULHER: Eu sei que você e ele nunca se deram bem.

AMIGA: O Prestes????

MULHER: Tinham lá suas diferenças, ele falava mal de você. Você falava mal dele.

AMIGA: O Prestes???

MULHER: Na verdade eu nunca entendi porque é que o meu marido e a minha 

melhor amiga se odiavam tanto. Acho que foi por isso que a gente se afastou.

AMIGA: O Prestes???

MULHER: É isso. Quer você queria quer não, eu voltei com o Prestes.

AMIGA: Mas o Prestes morreu! Há cinco anos!

MULHER: Eu sei, meu amor. Mas o Fortes era tão ausente que mesmo morto, o 

Prestes consegue ser mais presente do que ele. Nós estamos muito felizes, né 

amor?

Ela olha pra cadeira vazia.

AMIGA: Com quem você tá falando?

MULHER: Com o Prestes!

AMIGA: Ele tá aqui?

MULHER: Claro! Você acha que depois do Fortes eu vou sair pra um jantar 

sozinha que seja? O Prestes me acompanha a todos os lugares. Não me deixa 

sozinha nunca! (Pausa. Ela olha pra cima ou fixamente, não para a cadeira) Que é 

amor? (Ri). Claro que não, né? Essa hora eu sei que você me deixa sozinha. (para 

a amiga) Mas todas as outras ele tá lá comigo. Até no banho. Que foi, amor? (P) 

Ai, Prestes. Seu safadinho! Não fala assim que eu fico sem jeito.

AMIGA: Você ouve ele?

MULHER: Ouvir não é bem a palavra. Mas a gente se comunica.

AMIGA: Se comunica como?

MULHER: Eu fiz um curso maravilhoso de mesa branca.

AMIGA: Mesa branca?

MULHER: Espiritismo aplicado. Tem lá toda parte bonitinha “nosso lar”, mas o 

foco mesmo é na manifestação do espírito.

AMIGA: Na manifestação.

MULHER: Quando baixa o santo. No caso, o Prestes.

AMIGA: O Prestes... baixa?

MULHER: É, não o tempo todo, né? A gente se relaciona de duas formas. A 

primeira é na presença.

AMIGA: Claro a presença.

MULHER: Tipo agora. Eu não vejo ele, mas eu sinto a presença dele. E não ouço 

ele, mas eu sinto o que ele diz. Eu não sei que ele foi embora, mas eu...

AMIGA: Você sente a ausência dele.

MULHER: Isso. (P) O que é, amor? 

AMIGA: Ele tá falando com você agora?

MULHER: SHhhhhhhhh, (P) Agora não amor!

AMIGA: O quê? O que é que ele quer?

MULHER: Nem te conto!

AMIGA: Meu deus.

MULHER: É o casamento perfeito, depois da minha experiência com o Fortes. 

Porque aos olhos do mundo, eu continuo viajando sozinha, frequentando parque 

sozinha, correndo atrás da minha filha na festinha infantil sozinha, trocando 

fralda sozinha, indo ao teatrinho e ao pediatra sozinha. Fisicamente também. O 

Prestes não tem mais o corpo físico pra me ajudar, né? Esse já tá a sete palmos 

da terra no Caju e não tá no melhor dos estados. (RI). Mas, pra mim, eu continuo 

fazendo todas essas coisas só que com o Prestes. (P) O quê? Para, Prestes, eu já 

disse que não!

AMIGA: O que é que ele tá falando?

MULHER: Ele quer a segunda parte da coisa?

AMIGA: Segunda parte?

MULHER: Então. Como eu te disse, a nossa relação se baseia em duas formas da 

mesa branca. Uma é a presença. Ele tá querendo a outra.

AMIGA: Que outra?

MULHER: A incorporação?

AMIGA: O quê?

MULHER: Quando baixa o santo.

AMIGA: Ai, meu pai.

MULHER: E quando o Fortes baixa, minha filha, ele vem muito Fortes.

AMIGA: Você tá falando de/

MULHER: Do que mais eu estaria falando? Eu não vou ficar casada com um morto 

que me dá apoio e apor se não tiver piroca.

AMIGA: Que isso?

MULHER: Desculpa, fui muito vulgar. Mas você sabe que sexo é extremamente 

importante numa relação.

AMIGA: Você e ele fazem...

MULHER: Várias, muitas, diversas vezes ao dia. Como ele não precisa de corpo 

físico, o homem é insaciável.

AMIGA: Eu não tô acreditando nisso!

MULHER: Eu sei que a história é um pouquinho estranha...

AMIGA: Você voltou com o Prestes depois de morto.

MULHER: E que vocês nunca se deram bem.

AMIGA: Meu Deus!

MULHER: Mas desapega!

AMIGA: O Prestes!

MULHER: Perdoa!

AMIGA: O Prestes!

MULHER: Entende que eu e ele somos felizes!

Nisso, o Prestes baixa na mulher. Encenação aqui. Quando termina, a amiga o 

examina calmamente.

AMIGA: Prestes.

A mulher faz o Prestes.

MULHER: Maria Luiza.

AMIGA: É você mesmo??

MULHER: Maria Luiza!

AMIGA: Prestes!

MULHER: Maria Luiza!

Ele pega na mão da amiga. Eles começam a se abraçar e se pegar lentamente.

MULHER: Que saudade de você!

AMIGA: Para! Eu nunca vou te perdoar por ter morrido sem largar essa 

vagabunda.

MULHER: Eu ia, Maria Luiza. O acidente aconteceu quando eu tava indo pra casa 

pedir a separação.

AMIGA: Meu Deus, como eu sofri!

MULHER: Eu também! Eu estava contando os dias até ela encontrar com você. 

AMIGA: Eu tô sentindo você de novo.

MULHER: Eu também, Maria Luiza.

AMIGA: Que loucura.

MULHER: Foi ela que me trouxe do além, mas é com você que eu quero ficar.

As duas se beijam. 

AMIGA: Ai, Prestes. Que loucura.

MULHER: Vamos embora daqui. 

AMIGA: Mas como?

MULHER: Eu não sei. Mas eu quero ficar com você. Eu quero ficar com você o 

tempo todo.

Prestes sai do corpo da mulher. A amiga enelvada.

MULHER: Nossa! Tive que tirar o Prestes à força. Prestes, aqui não é lugar. Em 

casa a gente fica incorporado o tempo que você quiser. Safado.

AMIGA: Você não lembra o que aconteceu.

MULHER: Não. Eu sou médium inconsciente.

AMIGA: Sei. 

MULHER: Bom, eu amei te encontra, mas eu preciso ir. Já tá ficando tarde eu 

quero botar a menina pra dormir.

AMIGA: Eu posso ir com você!

MULHER: O quê?

AMIGA: Sabe o quê que é? A gente ficou tanto tempo afastada que eu acho que a 

gente devia retomar a nossa amizade.

MULHER: Você acha?

AMIGA: Total. Botar a conversa em dia, ajudar uma a outra e passar mais tempo 

juntas. Muito mais tempo.

MULHER: Nossa! Que lindo.

AMIGA: Inclusive, se você quiser, eu vou agora com você pra casa e ajudo você 

a botar a sua filha pra dormir. De repente eu até durmo por lá. O que você diz, 

amiga?

MULHER: Nossa, amiga. Você é realmente uma grande amiga.

AMIGA: Imagina, amiga.

MULHER: Obrigado, amiga.

AMIGA: De nada amiga. Amiga, amiga.


As duas saem de cena de mãos dadas.




domingo, 23 de novembro de 2014

Sexta noite do Clube da Cena Redes Sociais

E a sexta semana do Clube da Cena Redes Sociais foi assim:



BEM VIVIDO, de Paula Rocha  – Post “Se for falar mal de mim, me chama. Sei coisas terríveis a meu respeito". Com Ana Csauwen e Maíra Kesten  – direção Ana Paula Lopes



DOS ALTOS E BAIXOS DA VIDA,  de Cristina Fagundes   – Post “Meu filho, não espere um coringa. Vai jogando com as cartas que aparecem”. Com Marcelo Dias e Cecilia Hoeltz – direção Breno Sanches




UM ÔNIBUS CHAMADO DESTINO, de Audemir Leuzinger – Post “O amor é uma força que transforma o destino” . Com Renato Albuquerque, Bia Guedes e Marcelo Cavalcanti  – direção Alexandre Bordallo  



O REI DOS CORAÇÕES SOLITÁRIOS, de Ivan Fernandes  – Post “Sou aquele vinho caro que você não sabe degustar porque só está acostumado com pinga barata”.  Com Kakau Berredo e Karen Liberman – direção Lincoln Vargas        



INSTANTES, de César Amorim  – Post “Como é que a gente faz pra viver de verdade?” Com José Auro Travassos e Flávia Espírito Santo  – direção Cadú Favero   




DEBATE, de Leandro Muniz  – Post com Imagem mostrando pessoa que poderia ajudar mas não ajuda a outra. Com Bruno Bruno Bacelar e Priscila Assum  – direção João Rodrigo Ostrower

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E as duas cenas mais votadas da noite foram:

Primeiro Lugar: O Rei dos Corações Solitários, de Ivan Fernandes


Segundo Lugar: Debate, de Leandro Muniz



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A seguir os textos das duas cenas mais votadas.

O REI DOS CORAÇÕES SOLITÁRIOS
De Ivan Fernandes

Música.
Jefferson – Radio Noturna, o último farol da madrugada.  Vem aí o programa mais sensível do rádio brasileiro, com apresentação do Rei dos Corações Solitários, JEFFERSON CARLOS!!
Entra vinheta e o locutor agora canta em falsete: 
J - “Je-ffer-son- Car-los!!”
Locutor volta a falar com sua voz normal.
J - Boa noite, eu sou Jefferson Carlos, o seu ombro amigo da madrugada. Tá na fossa? Tá carente? Liga pra cá. Vamos conversar. Jefferson Carlos entende o que se passa em seu coração. Eu sou o apoio quando ninguém mais te suporta, o ouvido compreensivo quando ninguém mais te escuta. Liga pra cá. Pede uma música. Uma música que te fez sorrir um dia, pode te fazer sorrir de novo.
Sobem os primeiros acordes de “Are you lonesome tonight?”, de Elvis Presley.
(toca o telefone)
J -Mas parece que já temos uma chamada, uma primeira alma solitária.  
ROSE - Boa noite, Jefferson Carlos!
J – Mas você de novo, Rose! Eu não te pedi pra dar um tempo?  Você tá ocupando o espaço de algum ouvinte novo. 
R - Ninguém ouve esse programa, você só coloca essas velharias pra tocar. Depois reclama. Você tem que tocar Ivete, Anitta, já te disse mil vezes.
J - E o dono da rádio disse duas mil. Vocês não entendem que eu sou como um pajé. Eu sou um médico de almas. E remédio não tem gosto bom. O que eu toco aqui é pra salvar vidas. 
R – Então, Jefferson, você precisa salvar a minha vida.
J – Mas toda noite! Todo fora que você leva, liga pra cá.
 R – Mas eu preciso desabafar! Mais uma vez fui iludida por um canalha! 
J -- (suspira) Haverá outro alguém nessa madrugada sem fim, outro alguém nesse vasto mundo, que ainda precise de mim? Ô produção, me encaminha outra chamada, por favor!
R - Que produção? Vai dizer que esse seu programa tem produção?
J - Não temos, é verdade. Aliás, se você tiver algum contato pra indicar...
R – Sabe que eu tenho? Conheci um cara que trabalhava com produção e... não, deixa pra lá. Esse também era canalha. Por que é que todo homem é canalha, Jefferson? Não tem um que preste! 
J – Rose, não aguento mais essa ladainha! Quer parar de se fazer de vitima? Você tem que entender o verdadeiro motivo pelo qual você não dá certo com os homens! 
R – Mas eu descobri, Jefferson. O verdadeiro motivo é que eu sou um vinho caro, que os homens não sabem degustar, porque tão acostumados com pinga barata. Os homens não tão preparados pra uma mulher assim independente, madura, resolvida.
J – Mas quem disse que você é vinho caro?
R - Como assim? Eu me acho um vinho caríssimo!
J - E eu me acho o Jo soares! Mas eu, com todo meu talento, to conversando aqui com você nessa rádio escrota, enquanto aquele gordo apresenta um talk show pro Brasil inteiro. A gente acha que é vinho caro, mas não passa de pinga barata, meu bem. A verdade sobre nós está fora de nós. Você quer saber a verdade sobre você, do ponto de vista de um homem? Quer?
R – Quero!
J – Você tá sozinha porque é chata.
R – Jefferson! 
J - Você é chata. Desculpa. Alguém precisa te dizer. Seria melhor uma amiga, mas normalmente amiga de mulher chata também é chata, então não percebe. Rose, homem não tem esse negócio de mulher perfeita. Aceitamos todo tipo de mulher. Independente, moderna, conservadora, evangélica, burra, pobre, feia, cafona, acima do peso, sem depilação, com celulite, velha. Menos a chata. A chatice é a única coisa que o homem não consegue lidar. Esse aviso é um serviço de utilidade pública. Você tá sozinha porque é chata.
R – Eu tô sozinha porque homem tá em falta no mercado!
J - Como tá em falta? Em todo lugar tem homem disponível.  Pode não ser o nosso melhor. Temos muitas áreas pra cobrir. Mas algum representante nosso terá. Até no vagão das mulheres do metrô, temos gente trabalhando a situação. Agora mesmo, alguém do seu tipo deve estar ouvindo o programa. Qual é o seu tipo?  
R – Ah, nada demais. Inteligente. Que fuja do óbvio e esteja sempre me surpreendendo. Antenado, que me atualize do que vale a pena. Bem sucedido profssionalmente. Não precisa ser rico, mas tem que viver com conforto, com viagens, plano de saúde, parto na perinatal, escola particular pras crianças, essas coisas. Que saiba martelar, furar, abrir pote, cozinhar, faxinar e passar roupa. Que seja fodão em tudo, seguro em tudo, sempre. E muito bom de cama, que me coma durante horas seguidas todas as noites. Ciumento sem ser machista. Que saiba quando eu quero que ele me prenda, e quando eu quero que ele me deixe solta. Que entenda sempre tudo que eu quero sem eu precisar falar. Que segure todas as minhas barras. Corpo em forma, sem barriga. Que não beba, não fume, tenha uma alimentação saudável, de preferencia vegetariano. E fiel até em pensamento.
J – Se tiver algum homem com todas essas características, entre em contato com a produção que até eu vou querer! Mas o que você oferece em troca, Rose?
R – Como assim?
J – Vamos sair do vinho e falar de carro, que homem gosta mais. Uma Ferrari exige um investimento muito grande, mas não dá nenhum problema na manutenção. A chatice na manutenção é o único defeito do carro que faz o homem perder a vontade de dirigir. Você reclama de tudo? Vive de mau humor? Nunca tá satisfeita? Implica com as manias dele, implica com os amigos dele, tenta acabar com o futebol pós-expediente da quarta-feira? 
R – O futebol é a desculpa dos canalhas.  Sei bem como são essas peladas.
J – Rose, se os homens são canalhas, é por uma questão de sobrevivência. 
R – Você tá é defendendo a classe. 
J – Vocês só valorizam os canalhas. Só os canalhas se dão bem. Sabe quem é o homem sincero e apaixonado? Aquele gordinho tímido que senta na última mesa do escritório e perde o ar quando você passa. 
R – O Weverton??
J - Esse gosta de você. Mas você valoriza esse? 
R – Não! Ele não tem os pré-requisitos.
J - Claro que não! Você quer o chefe, o macho alfa, que todas as outras meninas querem. Só que esse é o canalha. E quanto mais ele descarta vocês, mais vocês correm atrás dele. De tanto assistir os canalhas se darem bem, o romântico acaba aprendendo que mulher só respeita o canalha, só se apaixona pelo canalha, só chora pelo canalha. E aí, ou ele se joga do viaduto, ou aprende a ser canalha pra sobreviver.  
R – Não é qualquer tipo de canalha! O cara pode ser canalha com todas as outras mulheres, mas eu tenho que ser a mulher que transformou ele. 
J -  Transformar? Criar um novo homem? Você não viu Frankestein? O Frankestein foge do cativeiro no final. E você termina sozinha, com suas bolsas caras, com suas amigas descoladas, reclamando da morte da bezerra, destilando veneno contra os homens porque nenhum tem o grau de perfeição exigido na manutenção do seu vinho caro. Tá sozinha porque é chata!
R – Nunca mais eu vou ouvir o seu programa! 
J - Não é o fim do mundo, Rose. É só aprender a relaxar, se divertir, divertir o seu homem. E parar de encher o saco. Cai na real. Ok, Rose? A Rose desligou, a linha liberou, liga pra cá, vocÊ também! Eu sei que tem mais alguém aí ouvindo. Agora uma musiquinha pra machucar os corações!
(musica final)

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Debate, de Leandro Muniz


Debate político televisivo. Em cada ponta do palco, um púlpito com um candidato. No centro, mais pro fundo, o púlpito do Apresentador. A cena começa do meio. Quando a luz acende, Ele já está falando.


Ele - ….propostas candidatas,  eu quero propostas! É isso que o país quer ouvir. O seu partido afundou o Brasil, os seus aliados já não sabem o que fazer pra administrar tamanha falta de gestão, a senhora está sendo leviana, candidata, leviana!

Apresentador - Tempo esgotado.  Vamos prosseguir agora com a pergunta…

Ela - Bom, eu quero direito de resposta…

Apresentador - Não, candidata, essa já era a tréplica…

Ela – Desculpe, ele me ofendeu, eu exijo ter mais tempo…

Apresentador - A produção vai avaliar…(ouve o ponto eletrônico).  Bom, infelizmente avaliamos que não há necessidade de direito de resposta. Vamos prosseguir, agora com a pergunta do tema sorteado…. (sorteia numa urna) Astrologia. Candidata é a sua vez.


Ela - Candidato, aproveito o tema pra ratificar que o senhor foi extremamente agressivo na pergunta anterior. Postura típica de um homem com signo escorpião, ascendente gêmeos e mercúrio em Aquário. Que mapa tumultuado, candidato… O senhor não tem astral pra ser presidente. Com tanto ar nesse mapa astrológico e tão pouca água candidato, como o senhor vai aprimorar os projetos sociais que nós fizemos, nesse momento de trânsito em Áries do país?

Ele – Candidata, nós vamos aprimorar os projetos sociais porque temos vontade política e afinidades com o signo do Brasil.  Todos sabemos que o Brasil é virginiano, candidata, mas tem ascendente Aquário! Signo que rege o futuro, o alternativo , a revolução... Por isso estou preparado para ser o candidato da mudança. O candidato que vai diminuir a inflação nos meses de trânsitos dolorosos como são os de Saturno, quando se opõe a sua posição natal.

Ela – Candidato, o senhor só fala em aquário. O seu partido fala mais do signo ascendente do que do signo solar! Ordem e progresso, candidato! Ordem: signo de virgem, progresso: signo de aquário.  Vamos falar mais de Virgem, que é realmente o signo do Brasil. Que rege organização, método, sindicatos e a agricultura. Eu como virginiana sou a cara desse país que prima pelo trabalho, o senhor não. Escorpião não é um mau signo candidato, sei reconhecer qualidades. Péssimo mesmo é o seu mapa astrológico inteiro e a constelação do seu partido.

Ele – Candidata, a senhora mais uma vez mostra desconhecimento sobre o Brasil. O meio do céu, candidata, considerado pelos especialistas como uma espécie de quarto signo, o meio do céu do Brasil é Escorpião! O Brasil sempre procurou por governantes escorpianos, independência ou morte! Independência:  signo de aquário, morte ou uma transformação que se inicia: signo de escorpião, candidata! Meu signo!

Apresentador: Tempo esgotado. Vamos a mais um tema . (sorteia) E o tema agora é  Friedrich Nietzsche. Candidato, sua vez. 

Ele -  Candidata, descreva um pouco a visão de Nietzsche sobre o niilismo.

Ela – Ótima pergunta, candidato. No que se refere ao niilismo, essa doutrina filosófica que indica um pessimismo extremo perante qualquer realidade, para Nietzsche o niilismo pressupõe a morte da divindade cristã e seus princípios. O homem se despede dos valores morais. E dos valores morais o senhor já se despediu faz tempo, né candidato? Essa pergunta tem tudo a ver com seu partido.  No niilismo ativo tudo fica no vazio, ou seja suas propostas e o absurdo ganha espaço,  como seus governos.

Ele – A senhora insiste em baixar o nível, candidata…. O niilismo político tem como fundamento a destruição de todas as forças políticas para um futuro melhor! Esqueça os partidos! Falemos do niilismo passivo, de Schopenhauer, em que para o ser humano nada faz sentido e a vida é uma batalha sofrida!

Ela – Candidato, o homem é mais forte sabendo que o mundo não tem sentido. O senhor prefere privatizar mentes...

Apresentador – Ok, tempo esgotado. O tema agora (sorteia) é fisiculturismo.

Ela – Candidato, numa final de culturismo categoria clássica masculina, quais seriam seus principais movimentos?

Ele – (faz movimentos) Esse. Esse. Esse aqui. E esse outro.

Ela – Eu faria esses. (Ela faz movimentos). Esse emendando nesse, nesse, e depois esse.

Apresentador- Tempo esgotado. (sorteia) Futebol.

Ele – Candidata, explique a regra de impedimento.

Ela – O atleta atrás do último marcador do time adversário na hora do passe está impedido. Passe de lateral pode.

Apresentador –Ok, agora (sorteia) Cocaína.

Ela – Candidato, o senhor é usuário de cocaína?

Ele – Sou.

Apresentador – Próximo(sorteia) Integrantes dos Menudos.

Ela – Roy, Ray, Rick, Charlie e Robi.

Apresentador – (sorteia) Saúde.

Ele –Passo.

Ela – Passo.

Apresentador – (sorteia) Poetas brasileiros.

Ele – Candidata, cite Leminski.

Ela – “Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem,
que faço parte dessa gente, que pensa que a rua é a parte principal da cidade”. 

Apresentador – (sorteia) Amor Líquido.

Ela – Candidato, fale um pouco sobre o conceito de amor líquido de Zigmunt Bauman.

Ela – Candidata, adoro esse polonês. Porque ele analisa as relações amorosas da modernidade líquida.  Vivemos tempos líquidos, onde os relacionamentos escorrem das nossas mãos, nada é feito para durar. Há dificuldade de comunicação afetiva. Seja por medo ou insegurança. 

Ela – (corta) E foi isso que aconteceu com a gente, candidato?

Apresentador-  É a vez dele… 

Ela –Agora eu quero saber. Foi isso que aconteceu entre nós? O exemplo do vaso de cristal, que na primeira queda, quebra? 

Ele – Candidata, os seres humanos tem relacionamentos instáveis e na modernidade líquida o romantismo está fora de moda! O amor de verdade foi banalizado, diminuído…

Ela – Ah então foi por isso que  você não retornou minhas ligações… Eu achei que com a gente, candidato, ia ser diferente! Não sou um produto, que o senhor vê um defeito e troca por uma versão atualizada! Uma noite descompromissada não é fazer amor, candidato!

Ele – Não foi uma noite descompromissada! E sim, existe uma grande afinidade entre nós, o que é raro, candidata!  (se aproxima)

Ela – Você disse que não devemos dar peixes ao povo e sim ensinar a pescar. Mas e quando nós tiramos deles até o mar? O senhor fingiu estender a mão para eu não me afogar mas tinha o tempo todo um bote salva vidas e não usou. O senhor quis matar esse amor. 

Ele - Calma, meu bem, também não é assim (tenta abraçá-la). 

Ela – (chorosa) Tira as mãos de mim. O senhor mudou muito, candidato! 

Ele – Anjo… Me lembro de nós dois juntos, sentados na cama,  felizes discordando… E você dizia: há duas coisas essenciais pra felicidade, segurança e liberdade…

Ela - Segurança sem liberdade é escravidão. 

Ele – E eu dizia: liberdade sem segurança é caos.

Ela - Quero ser amparada e amada, candidato…

Ele -  Ou seja.. sempre quando ganhamos algo, perdemos algo.

Ela – Prefiro perder as eleições…

Ele – Eu também, candidata…

Apresentador - Tempo esgotado, considerações finais…

Ele - Não, o tema agora é amizade, amor, cumplicidade…

Ela -  Afinidades, tesão, liberdade…

Ele - 35 maneiras de enlouquecer um homem na cama…

Ela - Vem me fazer oposição…

Ele -Vou te dar uma delação premiada bem gostosa.