A cada sexta-feira, o Teatro Maria Clara Machado abre suas cortinas para um novo espetáculo, inspirado nas músicas de grandes compositores da música popular brasileira.
O Clube da Cena, coletivo de atores, autores e diretores se reúne novamente para criar um novo espetáculo a cada semana, desta vez, a partir das letras de alguns dos principais compositores da música brasileira, é o Clube da Cena Unplugged.
A cada sete dias será produzida uma nova peça, homenageando toda noite um grande nome da música popular brasileira. O Clube da Cena Unplugged começa dia 15 de julho, às 21h no Teatro Municipal Maria Clara Machado, onde fica em cartaz até 02 de setembro, sempre às sextas-feiras.
Compositores Homenageados:
Dia 15 de julho – Roberto Carlos
Dia 22 de julho – Caetano Veloso
Dia 29 de julho – Raul Seixas
Dia 05 de agosto – Rita Lee
Dia 12 de agosto – Cazuza
Dia 19 de agosto – Noel Rosa
Dia 26 de agosto – Chico Buarque
Dia 02 de setembro – Tim Maia
O projeto reunirá oito autores, dez diretores, 26 atores, um músico e convidados especiais para escrever, dirigir e encenar uma peça inteiramente nova a cada semana, inspiradas em músicas. Tudo funcionará através de sorteio. Seis músicas emblemáticas de um grande compositor serão selecionadas e distribuídas, a cada semana, por meio de sorteio, a seis autores. Cada dramaturgo terá apenas uma semana para criar uma cena a partir da música recebida. Depois disso, um novo sorteio definirá dois atores e um diretor para encenar os seis textos escritos, também em apenas uma semana. Passados sete dias, as equipes se reúnem para um ensaio técnico de som e de luz e o espetáculo começa. O público vota nas 2 melhores cenas da noite e elas são postadas no youtube e no blog do projeto clubedacena.blogspot.com na mesma semana.
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Abaixo uma palhinha da noite de estreia.
FELIZ ANIVERSÁRIO – de Renata Mizrahi – música Quero que Tudo Mais Vá para o Inferno. Com Cacau Berredo e Mariana Santos. Direção Cico Caseira
SHEILA CURTIU ISSO – de Diego Molina – música Minha Fama de Mau. Com Maíra Kesten e Marcelo Dias. Direção Márcio Libar
SIM – de César Amorim – música Namoradinha de Um Amigo Meu. Com Jorge Neves e Pia Manfroni. Direção Lincoln Vargas
DETALHES – de Leandro Muniz – música Detalhes. Com Luis Lobianco e Bia Guedes. Direção Wendell Bendelack
O PLANETA DOS BONS PRINCÍPIOS – de Ivan Fernandes – música Ilegal, Imoral ou Engorda. Com Zé Auro Travassos e Alexandre Barros. Direção Alexandre Bordallo
O AMOR QUANDO ACONTECE É ASSIM – de Cristina Fagundes. música Cama e Mesa. Com Thaís Lopes e Cristina Fagundes. Direção Susanna Kruger
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E como é comum nas noites do Clube da Cena, a plateia vota nas melhores cenas da noite. E as cenas vão para o youtube.
E as escolhidas da noite de estreia estão abaixo:
Acesse a cena no youtube, clicando aqui . E leia abaixo o texto na íntegra.
O AMOR QUANDO ACONTECE É ASSIM
De Cristina Fagundes
Música destas de festa de casamento tipo: this is my last chance to... Mulher toma um drink numa festa. Está tímida, num canto, olha em volta, desconfiada. Outra mulher a avista e caminha até ela. Nota da autora: A cena toda deve ser feita de forma muito verdadeira, sincera e desarmada para funcionar pois o texto já é muito cara de pau.
AMANDA – Cíntia, então você ta aí! Já tava achando que você não vinha!
CÍNTIA – Imagina, é que eu tava.../ (a outra corta)
AMANDA – Cabelo novo! Deixa eu ver... (gira a outra) Você não foi na Igreja por que?
CÍNTIA – Não deu pra eu...
AMANDA – Você já viu a Dani de noiva?
CÍNTIA – Não, é que eu cheguei agora e.../ a outra corta
AMANDA - Ela tá tão feliz! Toda noiva é feliz mas a Dani tá numa alegria que. (puxa a outra como uma Irmã mais velha que aconselha a mais nova, fala baixo) Amiga, você não pode mais ficar faltando aos casamentos só porque não se casou. Fica feio.
CÍNTIA: (tenta se explicar) Mas eu não.../
AMANDA: No casamento da Laurinha foi a mesma coisa. As pessoas já tão comentando... hum? (frívola) Escuta, o Otávio trouxe um amigo, um amigo pra te apresentar.
CÍNTIA – Outro? Quem é?
AMANDA – O Amaral.
CÍNTIA – Mas eu já conheço o Amaral.
AMANDA – E daí?
CÍNTIA – O Amaral é careca.
AMANDA – E?...
CÍNTIA – Tem a sobrancelha cabeluda.
AMANDA – E?
CÍNTIA – É que eu acho que isso não combina, entende? Não combina. E ele palita, (com nojo) ele palita os dentes na mesa.
AMANDA – (definitiva) E você já fez 39 anos.
CÍNTIA – (suspira – essa calou fundo).
SILÊNCIO entre as duas.
CÍNTIA – Acorda amiga, o tempo passou, agora só tem Amaral (NO SENTIDO DE SÓ TEM HOMEM RUIM POR AÍ) por aí, fazer o quê? Se você tivesse se casado com o Afonsinho como eu te falei...
AMANDA – Mas eu não gostava do Afonsinho.
CÍNTIA – E você acha que eu gostava do Otávio quando eu me casei? Eu hein, Cíntia, você tem umas idéias que. Ou você acha que eu ia ficar esperando um príncipe encantado que me desse um beijo de novela a cada cinco minutos? Só se fosse pra acabar ficando sozinha nas festas que nem você, olha aí no que deu...
(Chega um homem LINDO dá um beijo de novela em Cíntia. Amanda olha surpresa).
CÍNTIA: Amanda esse é o Vinicius.
VINICIUS: (sempre charmoso, é um cara interessante e viril ao mesmo tempo – sabe que tem poder sobre as mulheres mas não é canastra, tem que ser natural, sincero ao extremo senão não tem graça – isso é que vai desconcertar) BEIJANDO A MÃO DE AMANDA: Prazer Amanda. (olha pra Cíntia) Cortou o cabelo? Deixa eu ver... você tá linda! (novo beijo em Cíntia, percebemos que há fogo entre eles, algo caliente) Desculpa, desculpa o atraso vai, de verdade, mas é que a reunião não acabava nunca, ah!! Fechamos com os árabes!!Fechamos com os árabes! A concessão agora é nossa até 2020!
CÍNTIA: Ai que bom meu amor! Não acredito! (novo beijo) (Cíntia, sempre tímida, situa a amiga) O Vinicius trabalha com petróleo!
VINI: Vem cá, vamos comemorar!! (dá novo beijo nela)
CÍNTIA: (sem graça) Amor...
VINI: (PRA AMANDA COMENTA SOBRE CÍNTIA) Ela fica linda sem graça. (pra CÍNTIA) Mas espera, espera que tem mais. (tira uma folha de papel e coloca na mão dela).
CÍNTIA: Que isso?
VINI: As reservas pra Cuba, a gente parte amanhã.
CÍNTIA – Não acredito! (beija ele) (explica pra Amanda) O Vini também é músico e ele conhece o pessoal do Buena Vista. A gente vai acompanhar a gravação do novo cd do Buena Vista lá em Cuba, não é incrível?
AMANDA (PASMA) Buena Vista...o filme?
CÍNTIA – É. Você viu?
AMANDA – Não, eu até queria, mas você sabe, o Otávio não gosta de cinema.
CÍNTIA – (explica pra rafa) O Otávio é o marido dela. Ele detesta cinema, ele nunca foi com ela no cinema, você acredita?
VINI – Poxa, que pena, mas você pode ir com as suas amigas né?
AMANDA – ah, fica difícil, as minhas amigas são todas casadas, quer dizer, tirando a Cíntia né? Que ainda num...
VINI – Ah, mas isso vai ser por pouco tempo né amor? (outro beijo – alisa a barriga de Cintia com carinho) E se prepara que eu vou querer 5, 5 filhos hein? Pra gente encher aquela nossa casa tem que ser pelo menos 5! (ri)
CINTIA – (rindo também) é mesmo.
VINI (vê que o drink dela acabou) Olha aí, acabou amor. Eu pego outro pra você. (pega a taça - novo beijo dele nela – Amanda constrangida de vela)
AMANDA- Por que você não me disse que tava namorando?
CÍNTIA – O Vinícius mora num lugar enorme, é um sitio.
AMANDA – Um sitio? Ué, mas então ele mora fora do Rio?
CÍNTIA – Não. Em Ipanema.
AMANDA – Gente, mas eu nem sabia que tinha sítio em Ipanema...
CÍNTIA – (simples sempre, sem afetação) Pois é, nem eu. (amiga, compartilhando descoberta) Amiga, tem todo um mundo dessa gente muito rica que a gente não conhece, são coisas inacessíveis pra gente. Você acha que é uma rua sem saída mas é um sítio em Ipanema e por aí vai. O Rio é outra cidade pra quem tem dinheiro, sabia?
SILÊNCIO DAS DUAS.
CÍNTIA – Mas eu não sei...
AMANDA – Não sabe o quê?
CÍNTIA – Não sei se ele é a pessoa certa pra mim.
AMANDA – Como assim?!
CÍNTIA – A gente se conhece há tão pouco tempo...
AMANDA – E?
CÍNTIA – E ele é tão incrível.
AMANDA – É, ele é incrível.
CÍNTIA – Que ás vezes parece mentira de tão bom.
AMANDA – (consigo) parece mesmo...
CÍNTIA – Mas eu investiguei amiga. Você não vai acreditar, eu botei um detetive atrás dele.
AMANDA – Um detetive?! E aí? Ele é gay?
CINTIA – Não.
AMANDA – É drogado?
CÍNTIA – Não. Mas...
AMANDA – Mas...?
CÍNTIA – Eu descobri que o Vini vem de uma família de intelectuais que ganharam na loteria.
AMANDA – (sobe o tom) Na loteria?!
CÍNTIA – Shhhh... Primeiro foi o pai dele, depois a mãe, a mãe dele também ganhou na loteria, você acredita? Daí que ele é culto mas tem dinheiro. O que eu acho ótimo, mas é que tem umas coisas nele que... ele é diferente dos outros sabe?
AMANDA – (ficando puta) como assim?
CÍNTIA – é que ele... ele faz umas coisas na cama que eu...
AMANDA – (feliz) Ele é gay!
CÍNTIA – Não, mas ele faz umas coisas que... não é normal entende? Ai meu deus.
AMANDA – (preocupada) o que que tá acontecendo Cíntia, me conta. Olha, se ele é tão especial assim, não tem problema se o sexo não for tão perfeito, fazer o quê? Olha, o Otávio, eu nem devia te contar isso, mas você é minha amiga e eu vou te contar. Entre amigas não deve haver segredos. Pois bem: o meu marido, depois que perdeu o emprego ele...
CÍNTIA – Ele perdeu o emprego?
AMANDA – Perdeu. Foi demitido. Mas, se deus quiser ele.... Bem, o fato é que o Otavio não tem conseguindo mais entende?
CINTIA – O que?
AMANDA – Ele... ele... o Ótavio tá incapaz Cíntia. Incapaz.
CÍNTIA (tentando entender) Incapaz...?
AMANDA: È como seu eu dormisse com uma mulher, pior, como seu eu dormisse com uma irmã entende?
CÍNTIA – Então o Otávio não...
AMANDA – Mas escuta, o que eu quero dizer é que se esse homem te faz feliz... bem, se ele te, um homem não pode ter tudo entende?
CÍNTIA – Mas o problema não é esse, Amanda, é só que o Vini, o Vini faz umas coisas que.
AMANDA – Conta, pode me contar. O que ele que ele te faz?
CÍNTIA: Ele me faz ter orgasmos múltiplos.
AMANDA – o que?
CINTIA – (confidencia pra amiga) or-gas-mos mul-ti-los.
AMANDA – (impressionada/pasma) Então isso existe mesmo?...
CÍNTIA – Claro! Claro que sim... amiga, é um negócio que vai subindo, um prazer... E eu tenho tanto medo que isso acabe que.... ai, eu nem saberia o que fazer se um dia...
VINI VOLTA COM A BEBIDA E BEIJA BEM A BOCA DE CÍNTIA, ALISA SEU CABELO, OLHOS NOS OLHOS CANTA, INTENSO, ENTREGUE, Trecho da música tema de Roberto Carlos, enquanto os carinhos se tornam mais calientes, incomodando a ainda estupefata AMANDA.
VINI canta: Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom, me esfregar na sua boca ser o seu baton, o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro, a toalha que desliza no seu corpo inteiro... (NESSE PONTO AMANDA NÃO AGUENTA MAIS E SOLTA UM CHORO - eles param, se dão conta dela).
CÍNTIA – Amanda? O que foi?
AMANDA – Minha vida é uma merda!
CÍNTIA – Mas o que houve?
AMANDA - Você arrumou esse homem perfeito aí só pra me afrontar!
VINI – Você tá bem?
AMANDA – (pra Vini) Vai tomar no cú!
CÍNTIA – Mas que isso Amanda?
AMANDA – Esse homem lindo, lindo! Olha aí! Isso não se faz! Não se faz! (bate no peito do vini,patética) Eu te odeio!
CÍNTIA: Mas amiga, você tem o Otávio...
AMANDA – (sai de cena gritando, possuída em sua dor) O Otávio é um brocha! Um brocha! Meu marido é um brocha!!! Eu me casei com um brocha! Um brocha! (sai)
SILÊNCIO. tempo
CÍNTIA – Parabéns. Você foi ótimo.
VINI – É o meu trabalho.
CÍNTIA - Eu já imaginava que você fosse bom até porque você foi caro. Eu tenho mania de achar que tudo que é caro é bom. (sorri) (tira discretamente o dinheiro da bolsa e conta) Tá aqui, ó, certinho. Toma. (ele olha, conta e devolve na mão dela)
VINI – Não quero.
CÍNTIA – Como assim?
VINI – Não paga.
CÍNTIA – que foi? Achou pouco? Mas foi o combinado.
VINI –Trabalho para mim é sagrado. Eu sou profissional compreende?
CÍNTIA – Eu sei, mas esse foi o valor combinado.
VINI – São mais de 200 mulheres que eu ajudei...
CÍNTIA – Duzentas?
VINI – Que eu beijei, amei, dei atenção... mais de duzentas.
CÍNTIA – Eu sei que você tem muita experiência mas...
VINI – Mas nenhuma tinha o seu cheiro. Nem o seu gosto. Toda mulher tem um gosto, mas o seu é diferente. É um gosto de anis.
CÍNTIA – De que?
VINI – É doce e amargo ao mesmo tempo. Compreende?
CÍNTIA – Doce?
VINI – E amargo. E tem outra. Eu gosto do seu jeito.
CÍNTIA – Que jeito?
VINI – Desajeitada. É que você é desajeitada.
CÍNTIA - ...
VINI - Você roi a unha.
SILÊNCIO, ELA, INSCOSCIENTEMENTE, ESCONDE AS MÃOS.
VINI – Então com você vai ser de graça.
CÍNTIA – Vai ser... Oi?
(tempo, os dois se olhando) VINI - Vem aqui.
CÍNTIA – (se aproxima hesitante).
VINI – Com você eu posso ser quem eu sou, porque no fundo no fundo você é igual a mim. (TEMPO) Vem cá, assim. (fala, homem, no ouvido dela) Você agora vai ser a minha mulher, tá me ouvindo? E sabe por que? Por que você me quer, porque você sabe que eu não sou esses bananas que você encontra por aí. Você não gosta quando eu te pego assim? (pegando no cabelo dela viril mas também carinhoso).
CÍNTIA – Ai, meu cabelo.
VINI – Você não gosta?
CÍNTIA – Se você não soltar meu cabelo agora eu vou gritar. Hein? Olha que eu grito.
VINI – Hum? Gosta ou não gosta? Fala.
CÍNTIA – Gosto.
VINI – Não ouvi.
CÍNTIA – Gosto. Gosto sim. Eu gosto. Mas a gente é diferente.
VINI – (cheira o pescoço dela) Você tem cheiro de alecrim... (volta ao assunto) E daí?
CÍNTIA – E eu não me apaixono. Tá me ouvindo? Nunca me apaixonei por ninguém.
VINI – Nem eu. Mas o amor quando acontece é assim. (se olham – enquanto entra a música do Roberto Carlos no trecho: eu quero ser a coisa boa, liberada e proibida, tudo em sua vida. SE BEIJAM e a música vai para: todo homem que sabe o que quer... sabe dar e querer da mulher, o melhor é fazer deste amor, o que come, o que bebe, o que dá e recebe... a temperatura entre eles vai subindo, enquanto a luz vai cai.)
FIM
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A segunda cena mais votada da noite também está no youtube. Acesse o link, clicando aqui . E leia abaixo o texto na íntegra.
Detalhes
Leandro Muniz
HOMEM E MULHER NUMA ESPÉCIE DE AGÊNCIA DE PUBLICIDADE. MAS NÃO É OBRIGATÓRIO, PODE SER NUMA SALA QUALQUER. O IMPORTANTE É QUE ELES NÃO ESTEJAM EM CASA.
Mulher - Tem que ser com a música do Roberto Carlos?
Homem - Tem.
Pausa. Ficam pensando.
Mulher – Já sei. Um homem tocando violão na rua, ele vai andando, cantando “Detalhes”. Aí o trânsito para, as pessoas sorriem pra ele, até que vemos o carro.
Homem - Já não fizeram isso? Um cara tocando violão e andando pela rua? E se fosse um trio elétrico?
Mulher (ri) - Trio elétrico?
Homem - É. Passa um trio elétrico tocando um axé qualquer, multidão em volta. De repente, silêncio total. Surge um cara no carro com um phone de ouvido grande (mexe a cabeça, com as mãos no ouvido, simulando) cantando “Não adianta nem tentar me esquecer...”
Mulher - Acho brega. Meio desconexo. Por que a gente não bota umas imagens aéreas da estrada, a música rolando e uma família sorridente e feliz, meio “olha como somos um casal fofo que tem um carro incrível e viajamos com as crianças nas férias”.
Homem - Pode ser. (t) Não sei, parece meio ideia fácil, já vi em algum lugar...
Mulher - Se a gente ficar tentando ser cem por cento original, vamos ficar aqui até amanhã.
Homem - Ótimo, então a gente fica! Porque eu não vou colocar família “felizinha” viajando. Meu trabalho não é ser óbvio, Juliana!
Mulher - Mas o que você quer fazer? Acha tudo chato!
Homem - Eu acho que falta humor.
Mulher -. Mas a música não é engraçada.
Homem - Caguei, tem que ser fofo, legal e ter humor! Senão vai ser frustrante.
Mulher - Por que?
Homem - Porque a música é ótima, vão pensar: estragaram a música linda.
Mulher – Humor? Então faz assim. Põe um casal de anões namorando, se alisando carinhosamente. Um diz pro outro: detalhes tão pequenos de nós dois.
Homem - Juliana...
Mulher - Perdi a paciência, você é muito intolerante!
Homem - Seu sarcasmo não ajuda.
Mulher - Nenhuma ideia te agrada, mas você também não resolve. Assim é fácil ser chefe.
Homem - É assim que você me vê?
Mulher - Agora você já sabe!
Homem - É o fim ter intimidade.
Mulher - Poderia ser bom. Bastava você ser educado ao invés de estúpido, quando achasse uma ideia ruim.
Homem - Eu fui educado agora.
Mulher - Mas mais cedo quando eu disse que podia ser uma viagem de cruzeiro, com show do próprio Roberto Carlos rolando, e daí um homem via a foto do carrão e dizia: “preferia estar nesse carro ouvindo a música pelo rádio”. Você disse que a ideia era ridícula, que se eu não fosse sua esposa, você me demitia.
Homem – Era péssimo, mas eu tava brincando.
Mulher - Brincando o cacete.
Homem - Eu gosto quando você franze a testa quando tá nervosa.
Mulher - Eu gostava quando você era mais gentil. (suspira, sem paciência)
Homem - Gosto quando você dá esse suspiro como quem diz: “ai, Gabriel, Gabriel...”. Adoro.
Mulher - Eu quero me separar.
Homem - Gosto quando você tenta... O que?
Mulher - Me separar de você. Acabar com tudo, não quero mais viver junto, muito menos trabalhar com você.
Homem – O que que você tá dizendo?
Mulher – Que eu cansei de ser sua empregadinha em casa e sua secretariazinha aqui. Acabou! Eu quero romance, um homem que morra por mim, que não ache ridículo tudo o que eu falo, que trepe comigo quatro vezes na semana pelo menos, que me paparique, que seja suave, gentil, mas que tenha um tesão descontrolado quando necessário, que abra a porta do carro, que me dê presentes criativos, que tenha atenção voltada para as pequenas coisas, que torne cada minuto da nossa convivência inesquecível, que me elogie, que pergunte como tá a minha mãe, porque somos um casal fofo, com um carro incrível que viaja com os filhos nas férias. ( pausa) É, acho que é isso que eu quero.
Homem – Juliana...
Mulher – Mas você acha que isso parece meio ideia fácil, né? Que você já viu em algum lugar. Onde você viu?
JULIANA PEGA A BOLSA PRA IR EMBORA.
Homem - Você tá se demitindo?
Mulher - Sim, da agência e da vida conjugal.
Homem - É piada isso?
Mulher - Não tava faltando humor?
JULIANA VAI SAINDO.
Homem – Gosto quando você quer ir embora, mas não consegue. Gosto quando você percebe que não vai me encontrar em outro rapaz, por mais parecido comigo que ele seja. Gosto quando você desisti de ir, porque ama minhas grosserias tanto quanto minhas delicadezas.
ALDO COMEÇA A CANTAR AO FUNDO (“Não adianta nem tentar, me esquecer...”)
Homem – A música entra. A moça desiste de ir embora. Se vira para ele. (mulher se vira para Homem), larga a sua bolsa (mulher larga a bolsa no chão), ele diz que o que mais quer dessa vida é ter quarenta e sete filhos com ela (eles caminham um em direção ao outro), envelhecer paparicando essa mulher.
Mulher – Ela finge que acredita e começa a caminhar em sua direção, meio irresponsável.
Homem – Ele para com um carro em frente a ela, com os quarenta e sete filhos loiros e fofos no banco de trás. Ouvimos o ronco do calhambeque.
Mulher – Nós vamos pra São Pedro da Aldeia de novo? Ela pergunta.
Homem – Ele diz que não. Que eles vão até o aeroporto no carrão. E vão viajar pelo mundo inteiro.
Mulher – Com as quarenta e sete crianças?
Homem – Licença poética.
Mulher – Ela aceita e entra no carro.
Homem – Música aumenta. Locutor fala: Blader. O novo carro da Fox. Para quem ama de verdade.
Mulher – Meio óbvio.
Homem – Era isso que eu queria.
HOMEM SE APROXIMA DE MULHER. OS DOIS SE BEIJAM.
ALDO, CANTANDO, ANDA E PASSA POR ELES DURANTE A CENA. ELES PARAM DE SE BEIJAR E SORRIEM PRA ALDO. VOLTAM A SE BEIJAR, E PERMANECEM ATÉ QUE ELE ENCERRE A CANÇÃO.
BLACK OUT.
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