sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Primeira noite do Clube da Cena Redes Sociais

O Clube da Cena Redes Sociais estreou no Teatro Ipanema dia 15/10.

Resumo da primeira noite.

CENAS



A VIDA TE VIRA DO AVESSO, de Ivan Fernandes – Post A vida te vira do Avesso
Com Bia Guedes e Marcello Gonçalves – direção Leo Castro


                                     


A CENOURA, de Diego Molina – Post Finjo que sou uma cenoura
Com Rita Fischer e Jorge Neves – direção Bruno Bacelar




QUEM É KELLY, de Paula Rocha – Post Traição não é Acidente
Com Marcelo Lima e Marcella Leal – direção Fernando Melvin




FALSIDADE, de Cristina Fagundes – Post Falso reclamando de Falsidade
Com Mariana Costa Pinto, João Velho e Cristina Fagundes – direção João Rodrigo Ostrower




BARRADA NA DISNEYLANDIA, de César Amorim – Post Vá a algum lugar onde nunca esteve antes
Com Ana Paula Novellino, Bruno Bacelar e José Guilherme Guimarães – direção Carmen Frenzel




ENCONTRO DEFINIDO, de Bruno Bacelar – Minha barriga não é definida
Com Alex Nader e Mariana Consoli – direção Andy Gercker


E a noite sempre conta com nossos músicos-compositores
Aldo Medeiros e Maria Thalita de Paula


E como de costume, o público votou nas cenas. E as duas mais votadas foram parar no youtube.

A cena mais votada da noite foi Falsidade, de Cristina Fagundes.

Com Cristina Fagundes, João Velho e Mariana Costa Pinto.

Direção: João Rodrigo Ostrower.

Clique e veja Falsidade



Falsidade, de Cristina Fagundes

Um homem, uma mulher e uma senhora sentados à mesa.

Homem – Tá. As férias de julho e o meu aniversário a gente já definiu.  Então o que que tá faltando agora?
Mulher – O Natal.
Homem – O Natal é mesmo. Vamos resolver.
Senhora -  Mas o Natal, já, meu filho?
Homem  – Já mamãe. É melhor.
Senhora – É que o Natal envolve tanta coisa. E eu não pensei em nada ainda.
Mulher – (pra sogra) Até parece. (pro homem) Viu só?
Homem – (repreendendo a mulher) Ana... o que que a gente combinou?
Mulher – (pra ele) Desculpa.
Homem – Tá bom.  Pensa agora mamãe.   Você também amor.  Vamos resolver logo isso.
Tempo. As suas se observam sem silêncio.
Mulher – Ah, já sei.
Homem –  Fala, amor.  
Mulher –  (para a sogra) Eu com certeza vou falar mal da sua roupa.
Senhora – Da minha roupa? De novo?
Mulher – É, vou falar que tá cafona.
Senhora – E eu... vou falar que seu decote tá mostrando os peitos.
Homem (anotando) – Mostrando os peitos.  Que mais?
Mulher – Eu vou falar que você tem cara de pobre.
Senhora – E eu vou falar que você se senta de perna aberta.
Homem (anotando)... perna aberta.  É mesmo.
Mulher – É mesmo o quê?
Homem – Nada. To anotando.
Mulher – Eu vou falar que a senhora tá uma baranga.
Senhora – Uma baranga?  Como assim?
Homem – Mamãe não contesta.  Qual foi o combinado?
Senhora – Eu vou te chamar de periguete.
Mulher – E eu vou falar que a seu perú tá bom pra dar pro cachorro.
Senhora – E eu vou falar que você é uma desocupada.
Mulher – Mas que o cachorro não vai querer.
Senhora – Que deu o golpe no meu filho.
Mulher –  Que você come com a mão.
Senhora – Vou falar que você é atriz.
Mulher – E mastiga de boca aberta.
Senhora – E que atriz é tudo puta.
Homem – (anotando) tudo puta...
Senhora – E ainda palita os dentes na mesa.
Senhora – Tudo puta, piranha.
Mulher – E eu vou falar que a sua rabanada tá seca e ruim. Que nem a senhora.
Senhora –  Tudo puta, não salva uma.
Mulher –  Que se jogar a rabanada pela janela mata um.
Senhora – São umas putas! Umas putas!! (se levanta na intensidade da fala)
Homem – Tá bom mamãe.  Já anotei. Agora senta.
Mulher – Que a senhora tem cara de empregada doméstica.
Homem – (Anotando) olha o preconceito.
Senhora – Tudo puta.
Homem – Mamãe, isso também é preconceito.
Silêncio, as duas se estudam.
Mulher – E eu vou falar que a senhora é uma feirante preconceituosa de terceira que acha que atriz é tudo puta.
Senhora – E eu vou falar que comprei uma colônia bem fedida pra te dar no amigo oculto só pra ver a tua cara.
Mulher – Eu vou falar que aposto que você vai me dar uma colônia bem fedida só para ver a minha cara.
Homem – (anotando) ih... fedida é?  Hum...
Senhora – Eu vou falar que a sua mãe é uma puta também. Que mãe de puta também é puta.
Mulher – Eu vou falar que a minha vontade é mandar a senhora enfiar essa colônia fedida no cú.
Senhora – Tudo puta!! São umas putas!!! (se levanta na intensidade da fala)
Homem – Mamãe, senta.
Mulher –  Enfiar no cú e rodar.
Senhora – Que a sua mãe é uma chacrete velha.
Mulher – Dar 3 voltas.
Senhora – Dessas que faz aquela dança no pau.
Homem – Pole dance. Mamãe. Se chama pole dance.
Senhora –Vou falar que a sua mãe é uma chacrete velha que se pendura no pau.
Mulher –  E eu vou falar que se eu pudesse eu te dava uns 10 tabefes e um bufete nessa tua caroça agora e te quebrava os dentes.
Senhora – Eu vou falar que você tem cara de boqueteira.
Homem (anotando) Quem me dera...
Mulher – (pra ele) Quê?
Senhora – De boqueteira gorda de fim de festa.
Mulher – Mas eu não sou gorda.
Homem – Ana não contesta. Olha o trato.
Mulher – E que eu pudesse eu cuspia na tua fuça.
Senhora –  De boqueteira do mangue.
Mulher -  Um cuspe verde e preguento.  E te pegava pelos cabelos e batia com a tua cabeça nessa parede aqui.
Senhora – Dessas que cobram 5 reais na zona.
Mulher – Pá pá pá, batia assim até derrubar.
Senhora – 5 reais frente e verso.
Homem (anotando) só?
Mulher – Pá pá pá!
Senhora – Frente e verso!
Mulher – Pá pá pá!
Senhora – Tudo puta!
Mulher – Pabaf! Pabaf! até quebrar o côco. Ia sangue pra todo o lado, ia misturar com a calda de ameixa do perú.  Cháaaaá! Até jorrar! Cháaaá! Até o teto!
Senhora – Puta! Puta! Puta!
Mulher - Não ia sobrar nada da senhora!  Nada!!
Senhora – Puta! Puta! Puta!!
Silêncio, as duas ofegantes, se observando.
Homem – E então? Mais alguma coisa?
Silêncio. Tempo.
Mulher – E eu ia te enfiar uma rabanada na boca e ia segurar até você sufocar.
Senhora – Não. Aliás, sim.   Eu ia falar que não vejo a hora do meu filho enjoar de você e te dar um pé na bunda. E você ficar sem dinheiro e começar a mendigar e calhar deu passar um dia e te ver mendigando e cheia de piolho e você me pedir um trocado e eu ia gargalhar e fechar o vidro na sua cara remelenta de atriz mendiga e imprensar o seus dedos no vidro ZUMMMM e aí uma lágrima vai escorrer dos seus olhos e eu vou baixar o vidro e dizer: Frente e Verso.
Homem: Acabou?
Tempo.
Senhora: Piranha.
Mulher: Vaca.
Tempo.
Homem – Bom, agora que tudo foi dito, que a gente já sabe o que cada uma vai falar por trás da outra até o fim do ano, eu não quero ouvir nenhuma reclamação de falsidade nem de uma nem da outra. Tá bem?  Então não quero saber de: Ah que a sua mãe é uma falsa. Falsa é ela. Não.  Que agora a gente já sabe de tudo.  Tá tudo preto no branco. Então, nem mais um pio tá bem?
Silêncio.
Homem – ótimo.   Então passa o bolo mamãe.
Mulher –  Nossa, ficou delicioso Dona Lourdes.
Senhora – Obrigada querida.  A sua canjica também tá divina Aninha!                            

Fim


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A segunda cena mais votada foi Encontro Definido, de Bruno Bacelar. 

Com Mariana Consoli, Alex Nader e convidado. 

Direção Andy Gercker

Clique e veja Encontro Definido

Encontro Definido, de Bruno Bacelar

(Quarto. Rapaz com copo na mão passa em frente laptop. Põe copo ao lado lap, lê algo nele.
Chama)

Irmão – Irmã. Mensagem para você. (Sai esquecendo copo. Mulher saindo banho corre para laptop.
Ah sim... ela é gorda.)
Gorda – (teclando) Combinado então Urso sarado RJ! Daqui a uma hora estarei lá! (Lê resposta.
Tecla) Estarei num tubinho vermelho bem sensual... Você vai saber na hora quem sou eu.
(Lê resposta. Ri excitada. Vê copo e bebe ansiosa. Tecla e fecha laptop.Sai cena e volta com
tubinho vermelho visivelmente menor que ela. Ela vai centro da cena em foco fechado, olha para
tubinho em tom de desafio, respira fundo e com coragem começa a luta para entrar no mesmo.
Tenta por um tempo sem sucesso. Ela cansa e senta cadeira próxima. Exausta. Por trás dela
aparecem duas mãos a massageá-la. Ela gosta mas depois estranha. Vira-se lentamente enquanto
foco abre. Vislumbra homem sarado de sunga, chifre e rabo: é o diabo!)
Gorda – Aiiiiii! O que é isso?
Diabo – “O que é isso” não! Olha o bullying hein...
G – Quem é você?
Di – Quem sou eu? Não sabe ler os códigos? (mostrando) Chifre, rabo, (lembra e pega) ah sim:
tridente! (mostra feliz)
(meio catatônica)
Diabo – Nada ainda? Caraca! Ok, vamos lá! (gestos ilustrativos adivinhação) Uma palavra: Duas
partes! (gestos relativos a palavra dia: sol, acordar...)
G – (choque) Dia?
D – Boa! Segunda parte! (gestos relativos a dar sustos em alguém)
G – Susto? (ele continua) Assustar? (ele continua) “-Boo”?
(acena positivamente)
G – (juntando) Dia-boo... (passada) Você é o diabo...
D – Isso aí.
G – Mas o que você...
D – O que estou fazendo aqui? Bem, digamos que estava passando, meio de bobeira, carente, e
resolvi bater um papo contigo...
G – Ah...
D – Então você está numa de entrar nesse vestidinho?
G – Tubinho...
D – Complicado, não acha?
G – Um pouco...
D – Um pouco?!?! Querida! (rindo discretamente) Desculpe a minha franqueza politicamente
incorreta, mas... você está muuuuito gorda!
G – Isso não pode estar acontecendo...
D – Mas está acontecendo sim, fofinha! O que você quer? Come igual uma draga o dia todo, não
quer subir nem um lance de escada; e vive de chopinho... Aí minha filha, fica difícil, né?
G – Mas também não é assim! Todas as manhãs eu tomo chá verde, suco de clorofila...
D – e um cheseeburguer, um refri “zero”, farofa, maionese, empanado, batata frita, um café “ com
adoçante”, frango a passarinho, provolone a milanesa, litros de chopp... e chá de carqueja para
desgastar... Ridícula!
G – Olha, você me respeita, tá?
D – Gorducha cara de pau...
G – Isso é bullying! Não faça com os outros...
D – Besteira...
G – Isso não é justo...
D – Já viu diabo justo? (diverte-se)
G– Mas afinal de contas, você não tem nada melhor prá fazer não? Vai trabalhar! Levar alguém pro
inferno...
D – Você.
G – Oi?
D – Eu ia te preparar melhor, mas já que você tocou no assunto...
G – Eu vou morrer?
D – (peninha cínica) – É isso, gata.
G – Por que eu?
D – “Por que eu”?!? Fofucha! Você passou seus últimos vinte anos enchendo a cara de gordura,
açúcar, álcool, sem um exerciciozinho, uma dietinha, um médico... Esse desfecho é inevitável!
G – Mas por que o inferno?
D – Digamos que é por... questões de gravidade.
G – Questões de gravidade?
D – Você é lenta, né? (explica) Acompanha: você, desse tamanho, lá pro alto, como? Nem de
foguete...
G – Absurdo! (desesperada) Na bíblia, Nossa Senhora subiu em corpo e alma levada pelos anjos...
D – (gargalha) Agora você apelou... Nossa Senhora é Nossa Senhora... E é magra! (Ri) Você
levada por anjos... Ía precisar de todos os anjos da guarda do planeta... E assim mesmo...
(G vai prá cima dele e ele a repele magicamente)
D – Sem violência! Você desse tamanho me amassa todo...
G – Já sei o que vou fazer! Eu vi isso num filme! (de joelhos reza) Valei-me Nossa Senhora!
(Efeitos. Surge uma senhorinha)
G – (reconhecendo) Vovó?! Desculpa vó, mas eu estava esperando um santo, um anjo...
V – Seu anjo está de folga. Você dá muito trabalho com essa comilança toda...
G – Vovó!!!
V – Minha netinha, o negócio é o seguinte: (olha uma carta) o que consegui prá você é uma
segunda chance, um retorno de experiência. Mas vai ter que entrar numa dieta! Acabou a farra
calórica! Você vai fazer uma reeducação alimentar: a partir de agora é só arrozinho integral,
suquinho de melão, muita água, sopinha, acelga, aipo, alface, brócolis, peixinho grelhado... e muito
exercício. Para sempre... É o que tem para hoje!
G – Mas que inferno...
D – Opa! Chamou?
V – É isso mesmo minha doce netinha, ou dieta ou... ele!
G – Vocês parecem que estão do mesmo lado...
V – Jamais.
D –Imagina...
G – Mas isso não é justo...E o livre arbítrio, gente?
D – Dando uma de kardecista, agora...
G – Eu sou gorda, sim! Posso até cuidar mais da saúde...
V – Uma ginástica...
G – Cala boca vó, que a senhora fumava horrores...
D – Ah, é mesmo...
G – Eu posso entrar numa dança, posso até pegar leve nos chopinhos...
V – Não é bonito moça que bebe... (Neta olha em tom ameaçador)
G – Mas eu estou bem assim! Gosto de ser como eu sou!
D – Uma gorda por ideologia? Que novidade.
G - Que mundo injusto, meu Deus!(Efeitos, surge um anjo de sunga, asas e aureola. Ela para a
avó) Meu anjo num estava de folga?
V = Estagiário.(Anjo entrega carta prá gorda. Sai. Ela lê em silêncio. Olha os dois maliciosamente)
G – Então meu diabinho é tão sarado, magrinho, gostoso... porque fez uma redução de estômago e
duas plásticas, né?
D – Mas faz tempo...
G – Mentira, diabo obeso. Está tudo neste dossiê. Você pesava mais de 140 kg...
D - Problema de glândula...
G – Você não tem moral para apitar nada na minha vida ou na minha morte! Muito menos para
criticar minha... fofura.
D – Mas eu sou o Diabo! E além do mais eu malhei muito! Fiz spinning! Trabalhei glúteo...
G – (tom sacro) – Volte pro inferno Satanás! (efeitos. Diabo grita e desaparece. Prá avó) Own,
vovozinha querida! (vovó aproxima feliz. Gorda estala dedo e aponta, foco acende, tema“Ghost”)
Vá para luz vovó! Eles estão esperando!
V – Mas minha netinha...
G – (irritadamente enfática) Vá para luz vovó! Eles estão esperando! (efeitos. Vovó desaparece.
Luz volta. Ela está com vestido vermelho nas mãos agora do tamanho dela)
G – É isso aí! Se o tubinho não entra, eu visto uma manilha! (veste-se rapidamente, se ajeita, pega
bolsa e sai. Entra irmão atrás do copo. O encontra vazio)
Irmão – Poxa, sacanagem! Ela bebeu o meu santo dyme todo! Acabou com o meu barato!

FIM.

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