quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quarta semana do Clube da Cena no Teatro das Artes

Mais um dia de Clube da Cena no Teatro das Artes.

Abaixo, imagens das cenas que foram apresentadas na segunda, dia 22/11. Fotos Bárbara Campos.

As Generosas. Texto de Cristina Fagundes
Com Mariana Costa Pinto e Cristina Fagundes
Participações: Bia Junqueira e Pia Manfroni
Direção: Luís Carlos Nem


Encontro Feliz. Texto de Renata Mizrahi
Com Cláudio Amado e Mariana Santos
Participação: Ivan Fernandes
Direção: Wendell Bendelack

As Cegonhas. Texto de Jô Bilac
Com Bia Guedes, Ana Carolina Sauwen e participações especiais
Direção Cacau Berredo

Fantasias. Texto de Larissa Câmara
Com Zé Guilherme Guimarães e Pia Manfroni
Direção Michel Bercovitch

Partido do Tesão Proibido. Texto de Diego Molina
Com Alexandre Barros, João Rodrigo Ostrower e participações especiais
Direção do grupo

Saindo do Armário. Texto de Ivan Fernandes
Com  Alex Nader, Marcelo Gonçalves e participações especiais
Direção Luiz Otávio Talu

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Abaixo os textos e vídeos das cenas que foram mais votadas pelo público

AS GENEROSAS                                                                                        
de Cristina Fagundes 

Duas mulheres conversam, uma mulher mais velha está jogando paciência num lugar mais distante do palco.
SABRINA –  Cinco anos fora!  Nem dá pra acreditar que você tá voltando pro Brasil!
BETINA – Que maravilha né? Tava morrendo de saudade! E o Pierre  tá super feliz com a idéia também. 
SABRINA – Quando é que ele chega?
BETINA -  Terça-feira.  Ele teve que ficar lá pra terminar de organizar a nossa mudança porque agora a gente tá vindo de vez né?  É coisa pra caramba!
SABRINA -  Que bom minha irmã. Que bom!
BETINA – Mas e você, o que que você andou aprontando neste tempo que eu fiquei fora?  Algum namorado?
SABRINA  – Que nada, você não sabe como tá difícil conseguir homem aqui no Rio de Janeiro.  E quem arruma namorado segura com unhas e dentes.
BETINA – Jura?
SABRINA – Tranca em casa e tudo!
BETINA: Mas que coisa? Então você continua sozinha?
SABRINA – Quase sempre.
BETINA -  Vou te emprestar o meu marido então.
SABRINA – Me emprestar o Pierre?
BETINA -  Que que tem?  Você não tá sozinha?
SABRINA -  Tô mas...
BETINA – Então? Fica com o Pierre.
SABRINA -  É muita generosidade sua minha irmã, mas... eu não  posso aceitar o seu marido.
BETINA: Por que não? 
SABRINA: (chama a mulher que tá jogando paciência do outro lado do palco) Mamãe!   Mamãe!
MÃE: Que é menina?
SABRINA – Mamãe, a Betina tá me oferecendo o marido dela de novo.
MÃE: (LAMENTA) Ai, logo agora que eu tava ganhando (ta falando do jogo de paciência – vai até as duas). É verdade isso Betina?
BETINA: É sim mamãe. 
MÃE: Por que que você insiste nisso Betina? Não vê que sua irmã não gosta do Pierre?
BETINA: Ah é? E eu posso saber por quê?
SABRINA: Ele é francês e francês não toma banho.
BETINA: Isso não é verdade. O Pierre é limpinho!
SABRINA: Duvido.  
BETINA: Te juro!
SABRINA: O Pierre fede a cebola!
BETINA: De onde você tirou isso Sabrina? Você já cheirou meu marido pra saber?
SABRINA: Não.
BETINA: Pois devia.
SABRINA: Mas eu já andei de metrô na  França e eu sei como os franceses fedem.
BETINA: Há franceses e franceses.  E o Pierre é um ótimo amante, você precisa ver!
SABRINA: Mas que coisa! Já falei que não quero.  
BETINA: (pra mãe) Viu como ela é? Eu aqui oferecendo meu marido na maior boa vontade e ela recusa. 
MÃE: É verdade Sabrina, isso é uma desfeita com a sua irmã. Uma desfeita!
BETINA: Isso não tá certo.
MÃE: Eu fico com o Pierre então.
BETINA: Você mamãe?
MÃE: È. Eu fico com ele.
BETINA: Mas...
MÃE: Eu acho o Pierre gostoso.
BETINA: Mas por que você não me falou isso mamãe?  Se eu soubesse eu já tinha teria te  oferecido ele antes.
MÃE: Ah, Betina, eu preferi dar a vez à sua irmã, afinal eu já sou casada.
SABRINA: Mas e o papai?
MÃE: Então. Tá com a vizinha. Ah, a Lourdes anda tão estressada com o marido dela, achei melhor emprestar seu pai pra ela por uns tempos sabe?
BETINA: Muito justo, mamãe, mas e você? Ficou sozinha?
MÃE: Não, de jeito nenhum, eu to passando uns dias com o marido da tia Lalinha.
BETINHA: o Rui?
MÃE: É.  Ela me emprestou ele durante a semana.
SABRINA: Nos finais de semana a Tia lalinha  manda ele pra vovó.
MÃE: Sua avó tá adorando o Rui.  Você precisa ver.
BETINA: E o vovô?
SABRINA: Tá com a Carmem. A empregada nova da vovó.    
MÃE: A Carmen tava muito triste porque perdeu o marido recentemente, daí sua avó cedeu o seu avô para Carmen por uns tempos. 
SABRINA: Vovó tem um coração de ouro.
MÃE: Todas na família são assim. Faça chuva ou faça sol, as Alcântara Machado  sempre são...
AS TRÊS: Generosas!
SABRINA: É de família!  
MÃE: É tradição!
BETINA: Ai, que bom mamãe, que bom que tá tudo bem... então eu acho que vou te emprestar o Pierre nos finais de semana tá? Pra senhora não ficar sozinha.
MÃE: Não, já sei!  Manda ele pra sua prima Mirtes, ela adora um gringo. Lembra quando ela e a irmã diviam aquele Tailandês?  Gente o homem era tão pequeninho!
SABRINA: Parecia um pigmeu!
MÃE: Mas bem que dava conta direitinho delas  duas.  Uma relação tão bonita... Nunca houve uma rixa entre elas!
BETINA: Mas como haveria? Elas também são Alcântara Machado mamãe.
Mãe: É verdade.
SABRINA:  Então Betina?  Por que você não empresta  o Pierre pra Mirtes?  Ela vai ficar feliz!  
BETINA: Boa idéia! O Pierre vai cair como uma luva pra Mirtes. Pronto! Acho que agora tá tudo organizado né? Ai que saudade de vocês, tão bom ter uma família bacana, tem gente que tem família tão desestruturada né? 
SABRINA: Você não vai mostrar pra gente os presentes que você trouxe?
BETINA: Ah, claro! Que cabeça a minha! Tem  cada coisa linda! Vem ver! (elas vão saindo)  Tem um vestido incrível do Marrocos! Eu acho que eu vou dá ele pra Mirtes, assim ela fica bem bonita pra quando eu apresentar o Pierre pra ela né?...  ( a música vai subindo – é como se elas fossem continuar conversando).
MÃE: Isso, minha filha! Bem pensado! Mas é curtinho? Ela tem que mostrar as pernas. A Mirtes tem as pernas lindas..  O Pierre vai adorar!
Fim

Clique no link para ver o resultado da cena!


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SAINDO DO ARMÁRIO

De Ivan Fernandes

Dentro de um armário. Um padre está pacientemente sentado, ouvindo gemidos difusos de uma trepada que se desenrola fora do armário, ou seja, fora de cena. De repente, uma campainha. Silêncio. O padre aguça o ouvido. Um homem só de toalha é arremessado pra dentro do armário. Os dois se olham, surpresos, por um momento.

H – Padre... o que o senhor está fazendo aqui?

PA – Ah, meu filho, estou aqui desde de manhã... vim pedir uma contribuição pra quermesse da paróquia, deu nisso.

H – Ué, e agora o padre tá procurando fundos pra quermesse no fundo do armário dos outros, é? Isso é natural?

PA - Perfeitamente natural. Os lugares menos recomendados são os que mais necessitam da presença da religião. Sempre há ovelhas desgarradas...O que não é natural é o senhor se escondendo aqui nesses trajes.

H – Bom, é que eu tava... tava...

PA – Homem, o que você tava fazendo eu ouvi, só não entendo porque correu pra cá.

H – É que o marido chegou.

PA – Você não é o marido não?

H – Eu não. Sou o amigo, vim procurar por ele, deu nisso.

PA – Vixe.

(os gemidos recomeçam.)

PA – Pelo jeito vai demorar. É melhor o senhor arranjar lugar.

(se acomodam. Ficam ouvindo. Campainha. Os gemidos param de repente. Eles aguçam o ouvido. Um entregador, com capacete e embalagem de pizza, é arremessado pra dentro do armário. Da cintura pra baixo, está só de toalha.)

PA – E você, quem é, meu filho?

E – Só vim entregar uma família meio calabresa meio portuguesa. Não tinha troco. Deu nisso.

H – Ah, foi por isso então que ela fez tanta questão de ligar pra essa pizzaria.

E – Eu não sei de nada, moço, é o meu primeiro dia nesse emprego, juro. Meu pai vivia insistindo pra eu trabalhar. Se eu soubesse que era assim, já tinha começado criança.

PA – O trabalho dignifica o homem, meu filho.

(recomeçam os gemidos)

E – O negócio aí parece que vai longe. Dá pra abrir um espacinho pra mim? Tô com as pernas doendo.

(senta-se em meio aos dois. tenta acomodar o capacete e a embalagem de pizza.)

H – Não dava pra deixar essas coisas lá fora, não?

E – E eu sou besta? Meu kit de sobrevivência. Pode vir a terceira guerra mundial que eu não tomo na cabeça nem passo fome. (abre a embalagem) Alguém quer um pedaço? Já tá fatiadinha. E tem guaraná.

H – Pô, eu vou aceitar... bom pra forrar o estômago... sabe como é... exercício físico...

PA – Nem só de pão vive o homem... uma pizzazinha cai muito melhor.

(comem, bebem. Campainha. Os gemidos param. Eles aguçam o ouvido. Um policial fardado é jogado pra dentro do armário. Da cintura pra baixo está só de toalha. pausa)

PO – Muito bem, pessoal, estou só cumprindo a minha ronda...

E – Espero que o senhor não diga que veio dar uma dura...

PO – Na verdade, eu vim atender um chamado da vizinhança... ocorrência de barulho sexual em volume excessivo... deu nisso. (voltam os gemidos de fora do armário) Vocês estão aqui há muito tempo?

 PA – Desde de manhã.

H – A tarde inteira.

E – Acabei de chegar.

PO – Então são vocês que estão causando os barulhos!

H – Olha, seu guarda, com todo respeito, mas quem tava fazendo barulho era ela.

PA – Essa mulher está possuída, seu guarda.

E – Com ela a gente bota e leva chifre ao mesmo tempo.

PO – Mas não é possível. Isso não é humano. Alguma hora ela vai ter que parar. (pausa. Ficam ouvindo os gemidos) Felizmente eu sou um policial e fui treinado pra ocasiões como esta. (tira um baralho do bolso) Quem topa um buraquinho?

PA – Fechado ou tranca?

H – Eu embaralho.

PA - Duplas por ordem de chegada: eu e o amigo contra o guarda e o entregador.

PO – Valendo quanto?

H – O perdedor sai do armário. Alguém tem que resolver essa situação.

E – A mesa pode ser a caixa da pizza.

(se organizam com grande dificuldade no pequeno espaço. Começam a jogar. Campainha. Os gemidos param. Eles escutam, apreensivos. Um jogador de futebol com uniforme e bola é arremessado pra dentro do armário. Da cintura pra baixo está só de toalha. pausa)

PA – (virando-se) Desisti de acompanhar.

J – Eu só tava jogando na quadra aqui do lado, aí a bola caiu aqui, vim buscar, deu nisso.

PO – Pô, meu amigo, pede a ela pra te botar em outro armário. Esse aqui tá parecendo uma van da central às seis da tarde .

J – Agora é tarde. Acho que o marido chegou.

PA – Deus te ouça.

(os gemidos recomeçam. Eles ficam ouvindo)

J – Será que eles vão demorar muito? Eu tenho claustrofobia.

E – O tempo de entrega da pizza já estourou.

H – A gente não pode ficar aqui pra sempre.

PO – Vamos retomar o jogo. O perdedor sai do armário.

H – Não tem mais espaço pra jogar.

PO – Vamo no zerinho ou um.

(tiram zerinho ou um, quase sem mover os braços por falta de espaço. Jogam uma vez, duas, três.)

H – Ninguém perde, ninguém ganha. Não é possível!

PO – Isso não pode ficar assim! Alguém vai ter que sair e resolver essa situação.

PA – Mas e o marido?

PO – Que se dane! Uma coisa é certa: a gente tá em maior número.

E – Então quem vai primeiro?

(silêncio)

J – Vamos fazer uni-duni-tê passando a bola de um em um. Aquele que terrminar com a bola na mão, sai.

(começam a rodar a bola de um em um, fazendo uni-duni-tê, de forma lenta e nervosa, como se estivessem fazendo roleta russa. Quando o resultado está pra sair, toca a campainha. Param os gemidos. Eles se olham apreensivos. Um palhaço cheio de balões de aniversário é arremessado pra dentro do armário. Da cintura pra baixo, está só de toalha.)

H - O que é isso? A ilha de Lost?

(todos os celulares tocam ao mesmo tempo. pausa. Eles se olham. atendem)

VOZ EM OFF - Bem-vindos à corrida.

H – Que corrida?

VOZ EM OFF – A corrida pelo direito de nascer.

E – Que porra é essa? A mesma voz está falando com todo mundo ao mesmo tempo?

(o padre se benze)

VOZ EM OFF – Este armário é um portal de outra dimensão. Para aqui vem aqueles que estão prestes a retornar ao mundo.

PO – É isso que a gente quer, xará! Voltar pra nossa vida normal.

VOZ EM OFF – Mas só um de vocês poderá voltar.

(pausa nervosa)

PA – Mas como assim? E a minha paróquia?

E – E a pizzaria?

J – E o futebol?

PO – A minha cervejinha?

VOZ EM OFF – A vida de vocês não existe. É apenas uma ilusão criada para distraí-los. É tipo Matrix. Quer saber o que vocês realmente são? Olhem seus bolsos.

(devagar, eles olham nos bolsos. Os gemidos aumentam. Tiram e vestem máscaras de meias brancas que cobrem o rosto deixando olhos e boca de fora.)

PA – Nós somos...

H - ... espermatozóides?

J – Caralho!

PA – E você... o Criador...

VOZ EM OFF – Exatamente! O momento está chegando! Daqui a 20 segundos, vocês serão arremessados dentro de um túnel vaginal. Tratem de nadar o mais depressa possível. É comum nessa hora passar um filme do que será toda a sua vida na terra. Não se distraiam com ele, depois ninguém vai lembrar de nada mesmo. Nadem pela própria vida, pois só um de vocês conquistará... o direito de nascer! Iniciando a contagem... 10...9...

(os gemidos aumentam. Eles se preparam)

E – Peraí, gente, vocês tão levando isso a sério? Isso não faz o menor sentido!

VOZ EM OFF – E juntar todos vocês dentro do armário de uma igreja, faz sentido? 8... 7...

J – Mas se for verdade, como vai ser essa nova vida?

VOZ EM OFF – Parecida com a antiga: com um pouco de som é fúria, um pouco de mel e drama, e com um monte de mistérios que não se resolvem. Daqui pra frente é com vocês. 6... 5...

H – A minha vida antiga era uma merda mesmo...

PA – Na minha próxima vida não vou ser padre nem fodendo.

PO – Quem quiser que fique. E abra espaço pra quem sabe nadar.

VOZ EM OFF – 4... 3...

 (o palhaço distribui os balões de aniversário para cada um)

VOZ EM OFF – 2... 1... Comportas abertas! Faça-se a luz!

(Uma luz intensa começa a brilhar por cima deles. Eles soltam os balões de gás, que sobem devagar em direção à luz, enquanto os gemidos chegam ao clímax e as luzes vão morrendo.)  

Clique no link e veja o resultado da cena


2 comentários:

  1. Olá.. fiquei sabendo que a temporada de vocês no Teatro das Artes encerrou segunda feira (13). Vocês tem previsão de uma temporada para o ano que vem?

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  2. devemos ter outra temporada em junho de 2011. Siga nosso bloger que postaremos notícias fresquinhas!

    abraços, Raul Franco

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