quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Semana 5 do Clube da Cena no Teatro das Artes

Mais uma semana de ótimas cenas no Teatro das Artes (Shopping da Gávea - RJ)

Abaixo as cenas apresentadas na noite de 29/11

Hollywood não existe - de César Amorim
Com Cristina Fagundes e Marcella Figueira
Direção: Wendell Bendelack


Quem ama Confina, de Cristina Fagundes 
Com Cecília Hoeltz e paticipação
Direção Susanna Kruger 


Isso foi apenas uma cena curta ou Tudo, menos gratificante, de Renata Mizrahi 
Com Bia Guedes e Marcelo Assumpção
Direção: Fernando Melvin


Família, de Larissa Câmara 
Com Marcelo Dias e Zé Auro Travassos 
Participação: Wendell Bendelack
Direção Breno Sanches


Mundo Cão, de Leandro Muniz 
Com Luís Lobianco, Alex Nader, Juliana Guimarães e Maria Thalita de Paula
Direção Leandro Muniz


Não identificado, de Jô Bilac 
Com Maíra Kesten e Renato Albuquerque 
Direção Alexandre Bordallo

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E as cenas favoritas escolhidas pelo público, através de votação, foram:

Hollywood não existe, de César Amorim, e Família, de Larissa Câmara.

Acompanhe os textos e clique nos links para ver as cenas no youtube:


FOLHA ONLINE – 12 DE NOVEMBRO  

HOLLYWOOD NÃO EXISTE!
De César Amorim

UMA MULHER LINDA, A ATRIZ, ENTRA NUMA RECEPÇÃO.  A ATENDENTE ESTÁ AO TELEFONE. O IDEAL SERIA SE A ATRIZ NÃO FIZESSE MUITAS EXPRESSÕES FACIAIS, QUE COLOCASSE TODO O SENTIMENTO NA VOZ. ELA ESTÁ MUITO BOTOXADA, COM OS MÚSCULOS DA FACE PARALISADOS.
ATRIZ – Com licença...
ATENDENTE – Só um minuto, linda. Muito linda você. (Para o telefone): Alô? Pode falar, linda. Desculpe, é que chegou outra linda... Quer marcar pra quando? Olha, a gente só vai ter para... deixa ver... ih... só encaixe, pode ser? Só no segundo semestre de 2012. Ah, qualquer dia, não sei te falar... Começa a vir aqui a partir do dia primeiro de agosto e vai ficando...  Assim que rolar uma vaga, a gente te encaixa. Tá ótimo, querida. Beijos.
ELA DESLIGA E FALA COM A ATRIZ.
ATRIZ – Ele está aí?
ATENDENTE – Depende. Quem é você, linda?
ATRIZ – Eu sou...
ATENDENTE – Ah, lembrei! Eu sei quem é você. Você é a Silvia Stevens Sommers, a atriz. Gente, você tá demais, sabia? Não te reconheci assim tão linda. Já ri muito com você.
TOCA O INTERFONE.
ATENDENTE – Só um minuto. (Para o telefone). Sim, doutor. Pois não. Sim, senhor. (Desliga). Sra. Nicole Kidman! Por favor, pode entrar. (Para a Atriz). Adorava quando você fazia aquela mulher macaca... Gente, de onde você tirava aquelas caras? Faz aí pra eu ver de novo, vai. 
ATRIZ – Eu não consigo! Não consigo mais! É por isso que estou aqui. Por favor, eu preciso falar com ele agora!
ATENDENTE – Impossível, minha linda. Por mais que você seja hilária, eu não posso fazer nada. A agenda dele...
ATRIZ – Está lotada. Abarrotada. E daí? Caguei pra agenda dele. Ca-guei! Tudo que eu quero é ser ouvida por ele. É ser vista por ele. Olhe pra mim. O que você vê?
ATENDENTE – Uma mulher linda, perfeita, absoluta...
ATRIZ – Exatamente.
ATENDENTE – Então, qual é o problema?
ATRIZ – Você acabou de falar todo o meu problema, meu bem. Eu estou linda, perfeita, absoluta.
ATENDENTE – Que maravilha! Que bom pra você.
ATRIZ – Maravilha coisa nenhuma. Maravilha nada. Maravilha é o caralho! Eu não quero ser linda, perfeita, absoluta. Eu quero ser eu! Eu não sei mais quem sou eu. Eu me perdi em meio a tanta beleza. Eu me quero de volta! Por favor, me deixa falar com ele agora!
ATENDENTE – Mas, meu amor, você, com todo o respeito, era um horror! Um atropelamento, um acidente ferroviário, uma desgraça completa. Você era a filha do satanás com a mula sem cabeça de tão feia. E agora...
ATRIZ – Mas eu era feliz! Eu trabalhava! Eu era diferente! A minha feiúra era o meu ganha-pão. E agora? Tou igual a todas as outras. Quem vai contratar um clone da Angelina Jolie se já tem a verdadeira? Eu não queria isso, não queria. Só vim aqui pra tirar uma verruga que apareceu na ponta do meu nariz e saí assim. Eu vou abrir um processo contra esse homem! Quem ele pensa que é?
ATENDENTE – Querida, ele é apenas o Dr. Hollywood. E todos sabem que ele não perdoa as feias. E não perdoou você.  Ele é implacável! Aqui é assim. Você entra feia, triste, sai linda e feliz.
ATRIZ – Ele é responsável pela minha infelicidade! Ele destruiu minha vida. Nunca mais fiz um filme de terror.  Fiz teste para uma porrada de filme de zumbi e nada. Dizem que eu não tenho mais o perfil. Como assim? Eu tinha o perfil! E ainda era ótima pra produção. Eles não gastavam nada de maquiagem. E agora? Nem comercial eu faço mais. Era sempre o ANTES.
ATENDENTE – Agora você é o DEPOIS. Muito melhor.
ATRIZ – Melhor pra quem? Melhor pra quem faz o DEPOIS, porque você não tem noção da concorrência. Quando se é linda, não basta ser linda, tem que ser muito linda. A mais linda. Nesses testes só tem DEPOIS, não tem ANTES. Ninguém quer ser o ANTES, querida. Quem vai se expor? Era aí que eu ganhava de todas! Ser linda é injusto comigo. Eu era uma feia mega bem resolvida. E sempre era escolhida. Sempre. Era alvo de chacota, mas tinha dinheiro. Passei anos na análise para me assumir como feia e quando me assumo e conquisto meu espaço, vem esse doutorzinho Hollywood aí e me deixa deslumbrante! Eu odeio ele! Odeio!
ATENDENTE – Mas você ainda pode ser engraçada. Tem várias atrizes que fazem graça mesmo sendo lindas.
ATRIZ – Eu não posso mais mexer a minha testa! Olha pra isso! Eu estou fazendo uma força tremenda e nada. Ele destruiu minhas expressões faciais com tanto botox! Tem mais botox aqui na minha testa do que na bunda desse Dr. Ray.
A ATRIZ COMEÇA A GEMER.
ATENDENTE – Ai, meu Deus! Você tá bem, linda? Tá sentindo alguma coisa? Por que tá gemendo?
ATRIZ – Eu não tou gemendo! Eu tou chorando! Mas eu não consigo mais dar a ordem para o meu rosto se contrair. Ele não se contrai! Eu não posso mais chorar!!
ATENDENTE – Pega esse lencinho... Gente, como o ser humano é estranho... Nunca tá satisfeito.
A ATRIZ TIRA UM REVÓLVER DA BOLSA.
ATRIZ – Eu quero falar com o Dr. Hollywood agora, mocinha. E não vou aceitar um não como resposta.
ATENDENTE – É, você tem razão. Você não tá mais engraçada.  Abaixa isso, tá?
ATRIZ – Então, me deixa falar...
ATENDENTE – (caindo no choro) Eu não posso!! Eu não posso!! Por favor, não me mate. Eu tenho dois filhos! Você não pode falar com ele.
ATRIZ – Eu posso sim! (Mostra a arma). E aqui está a minha senha.
ATENDENTE – Acredite em mim, você não pode.
ATRIZ – Me dê uma boa razão.
ATENDENTE – Você não pode por que... por que o Dr. Hollywood não existe!
ATRIZ – O quê? Não seja ridícula! Ele me examinou, me operou, eu falei com ele.
ATENDENTE – Não, querida. Não sei como lhe dizer isso, mas você não falou com ele. Você falou com a imagem dele na televisão.
ATRIZ – Claro, ele estava fazendo uma vídeo consulta... Você mesma me disse que ele fazia isso sempre, que viajava muito, que estava gravando sempre o programa...
ATENDENTE – Eu menti! Menti! Eu não trabalho para ele! Eu trabalho para a empresa que criou ele. Uma organização poderosíssima, uma multinacional dos cosméticos. Eles precisavam criar um médico perfeito para vender os produtos da empresa. Um médico lindo, bem humorado, casado com uma mulher linda, pais de filhos lindos, que morasse numa casa linda... e que ainda fosse campeão de artes marciais. E que apesar de todo o estresse diário ainda transasse com a mulher. Em suma, o homem perfeito. E cá pra nós, sabemos que isso não existe. Ele nunca atendeu uma só paciente.
ATRIZ – Mas ele atende às pacientes dele no programa...
ATENDENTE – Não atende. Aquelas mulheres contracenam com o espaço vazio. A imagem do Dr. Ray é colocada depois, por computador. Ele é um programa de computador, querida. Dr. Hollywood é uma farsa! E aquelas mulheres operadas por ele são muito bem pagas para não revelarem nada. Você nunca percebeu? O que é aquele cabelo dele? Aquilo não existe!
ATRIZ – Então, quem opera elas? Quem me operou?
ATENDENTE – Eu.
ATRIZ – Você?
ATENDENTE – Eu sou a verdadeira cirurgiã. Antes de vocês entrarem para falar com ele, já respondem a um questionário, lembra? Nele tem tudo o que preciso saber. Enfim, é isso. Desculpe pela sua mudança. Mas sempre fui sua fã e achava que você seria mais feliz se fosse bonita.
ATRIZ – Meu Deus... Você tem talento! Por que não assume que é você e começa a operar abertamente?
ATENDENTE – Porque eles mantêm meus filhos reféns. Aquelas crianças do programa dele, os filhos dele, são meus filhos!! Eu estou presa a essa organização para sempre. E, desculpe dizer, você também.
ATRIZ – Eu?
ATENDENTE – Claro. Ou você acha que vai conseguir sair daqui assim, depois de saber de tudo?
ATRIZ – Você não pode...
ATENDENTE – Posso sim. Me perdoe, mas é a vida dos meus filhos. No final das contas, tudo acabou bem. Eles finalmente me liberaram para passar um período com minhas crianças. Estarei na próxima temporada do programa como a babá dos meus próprios filhos. E preciso de alguém no meu lugar aqui. E você é perfeita. Vende bem a imagem da organização. Parabéns, você começa hoje. Bem-vinda a Hollywood!
FIM.



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FAMÍLIA!
LARISSA  CÂMARA

MANCHETE: Cresce nº de casamentos de mulheres mais velhas com homem mais novo FOLHA ONLINE – PAULOFERNANDO DE NOVEMBRO  

Obs: Dois irmãos negociam a firma, herança do pai durante o café. Os dois se tratam com uma falsa cortesia, mas na verdade se odeiam. A cena é uma homenagem a cena da novela guerra dos sexos. http://www.youtube.com/watch?v=GXe650EiqFY

PAULO: Meu amado irmão, obrigado por ter vindo.

FERNANDO: Ah, meu irmão querido. (tom) Eu disse que viria. Sempre fui uma pessoa de palavra.

PAULO: (sorri e diz entre dentes) De palavras falsas.

FERNANDO: Muito agradável a sua casa. (entre dentes) Um contraste visto que você é intragável.

PAULO: O quê?

FERNANDO: (eleva o tom da voz) A sua casa é Muito agradável!

PAULO: Obrigado! Eu mesmo decorei!

FERNANDO: (debocha) Humm, infelizmente eu não gostei da decoração.

PAULO: (ri achando que é uma piada). Tão espirituoso! (tom) Vamos sentar para tomar café e conversar sobre a herança do nosso querido, inteligente e idolatrado papai.

FERNANDO: Você dobre a língua antes de falar do papai.

PAULO: Ele estava decrépito.

FERNANDO: Papai não estava tão decrépito quanto a sua esposa.

PAULO: Mas ao menos ela me reconhece ainda! (gargalha debochada)

FERNANDO: Nada mal para uma jovem com 80 anos.

PAULO: 78.

FERNANDO: Que conservada!

PAULO: Eu te proíbo de falar mal da minha esposa.

FERNANDO: A víbora da sua esposa está torrando o seu dinheiro sujo no bingo.

PAULO: Não! Minha esposa é uma atleta, no momento ela está na hidroginástica. Mas isso não é da sua conta.

FERNANDO: Vamos falar sobre negócios. (tom) Você quer quebrar a firma? Você não pode impedir a minha negociação com os japoneses.

PAULO: A sua negociação com os japoneses está proibida. Nossa empresa não negocia com homens de pensamento pequeno. (faz gesto sugerindo que o membro dos japoneses é pequeno)

FERNANDO: Engraçado! Sempre considerei seu pensamento oriental. (faz gesto sugerindo que o membro do irmão é pequeno)

PAULO: Sempre considerei a sua cabeça sem cérebro.

FERNANDO: E você que casou com uma mulher de 90 anos é o que?

PAULO: Não fale da minha mulher. Eu não admito ouviu bem? A Hebe é uma santa!

FERNANDO: Sim ela já possui idade para ser canonizada.

PAULO: Chega! Você não vai negociar com os japoneses e ponto final!

FERNANDO: Você não suporta o meu sucesso nos negócios. Você prefere ter prejuízo na sua própria firma.

PAULO: Somente meia firma a outra metade é sua, está escrito nos papéis que papai deixou e que não me deixam mentir.

FERNANDO: Ah, como você é infantil.

PAULO: Infantil é quem me chama. (faz uma manha e uma careta)

FERNANDO: Você me envergonha. Eu acho que você é adotado!

PAULO: Ridículo. (tom) Você não vai negociar nada com os japoneses. Ouviu bem. Nada! (tom) Seu bobo!

FERNANDO: Você é um animal! Um burro. A vontade que eu tenho é pegar esse café e jogar na sua cara.

PAULO: Você não teria coragem.

FERNANDO: Não?

PAULO: Porque se você jogar esse café na minha cara, eu demito a equipe incompetente que trabalha com você.

FERNANDO: Minha equipe Incompetente?

PAULO: Incompetente igual a você.

FERNANDO: Muito bem (joga café na cara dele) Eu espero que isso sirva de lição.

PAULO: Meu irmão, querido! Você não espera que eu fique com esse café na cara sem tomar uma atitude. Não é?

FERNANDO: Sim. Você disse que iria demitir a minha equipe de funcionários.

PAULO: Claro, mas isso vai ser depois.

FERNANDO: Depois do que?

PAULO: Que eu atirar essa xícara de café na sua cara.

FERNANDO: Não, você não teria coragem.

PAULO: Não? (joga o café na cara dele)

FERNANDO: Infelizmente eu tenho que revidar.

PAULO: Você não tem coragem!

FERNANDO: Não? (joga suco na cara dele)

PAULO: Que sensação refrescante!

FERNANDO: Agradabilíssima!

PAULO: Meu querido irmão, com sua licença. (joga suco no irmão)

FERNANDO: Bom é evidente que eu tenho que fazer alguma coisa.

PAULO: Você não é um homem de atitude.

(FERNANDO  joga comida no irmão)

PAULO: Com licença. (joga comida no irmão)

FERNANDO: Isso não vai ficar assim. (joga comida no irmão)

PAULO: (sorri) Você não vai negociar nada. (joga geléia no irmão)

FERNANDO: Eu vou negociar com os japoneses e você não vai me impedir!

PAULO: Só por cima do meu cadáver!

(Jogam muitas comidas e líquidos uns nos outros)

(Entra empregada)

EMPREGADA: Ah, meu Deus!

PAULO: Maria Adelaide, tenha a bondade de  tirar a mesa.

EMPREGADA: Sim, senhor. (sai)

PAULO: Meu irmão querido, você esqueceu a sobremesa. (bate torta de creme na cara dele)

FERNANDO: (pega um revólver) Assine os papéis passando 100% da empresa pra mim. Sinto informar que a bala desse revólver não é de açúcar.

PAULO: Como você desejar, Meu querido, irmão. (Assina os papéis e Pega uma arma) Por essa você não esperava.

FERNANDO: Confesso que não é uma surpresa das mais agradáveis.

(luz apaga som de tiro)

EMPREGADA: (em off)Ah, meu Deus! Como é que eu vou tirar essa mancha do tapete da sala?

FIM



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