quarta-feira, 28 de abril de 2010

Palhinha da semana passada - dia 23/042010

SEM SAÍDA - de Moisés Bittencourt

Começamos com um trovão. De repente, uma chuva caótica soa no ambiente. É o Rio de Janeiro inundando. Logo vemos o primeiro personagem. Silvinha Araújo. Famosa atriz que tenta se esconder com um elegante guarda chuva debaixo de um viaduto.

SILVINHA
(NO CEL) Beta! Beta ! Ta me ouvindo?! Beta! Pois é menina, temporal. Larguei meu carro na pista porque eu estava sendo levada, acredita nisso? Eu to aqui perto da Rocinha. Toda molhada. O caos. Pelo visto vai adiar a gravação né? ( RELAMPAGO SOA ) Alô. Alô, Beta.


Surge um novo personagem também correndo da chuva. Seu Zezim. Camelô que fica por ali mesmo. Protege-se debaixo do viaduto.

ZEZIM
( NO CEL AOS BERROS) Alô, Iracema! Ôh Iracema. Ta me ouvindo? (DESISTE E DESLIGA) Sinal acabou aqui. Vê se pode ! A gente coloca cartão pra nada!(OBSERVA A MOÇA E LOGO A RECONHECE) Vem cá , tu não é aquela atora?

SILVINHA
Oi?

ZEZIM
Aquela atora da televisão, é tu né?

SILVINHA
(SEM JEITO) Sim, sou eu sim.

ZEZIM
Agora veja! Minha esposa te adora. Tu ta fazendo qual novela na grobo mesmo?

SILVINHA
Não, não é na Globo, senhor, é na Record. (CEL TOCA) Alô. Oi, Beta, caiu a ligação. Sinceramente, eu não sei o que fazer. Avisa aí a produção. Ta uma tempestade. Eu to parada debaixo de um viaduto, ilhada. O quê?

Surge mais um personagem. Dona Ivonete. Madame de São Conrado, cujo carro também ficou atolado.
IVONETE
Que horror ! Ai, nossa! Eu atolei! Absurdo! Basta chover pra esse Rio fica assim. Na Grécia é totalmente diferente.

SILVINHA
(CEL) Ta, ta. Ta bom, me liga qualquer coisa. ( DESLIGA)

ZEZIM
(APONTANDO) Óia ali moça. Aquela atriz da Grobo. Ali.

IVONETE
(DEPOIS DE OBSERVAR) Desculpa, eu não vejo televisão. Que chuva é essa?!

ZEZIM
E tá aumentando.

IVONETE
(CHAMANDO UM TAXI) Táxi!! Táxi!!

ZEZIM
Dianta não senhora. Os taxi nem tão fazendo . Tão parando tudo.

IVONETE
Meu carro ficou preso ali perto do Fashion Mall. Um horror.

SILVINHA
O meu também.

IVONETE
Tá todo atolado.

ZEZIM
Minha bicicleta também. Ficou toda descascada quando eu tava descendo lá de cima. Larguei nos camelô ali.

IVONETE
Vou ligar pro reboque né. É o jeito.


ZEZIM
Chi! Dianta não senhora. Reboque nem ta vindo porque parou todo o túnel de lá pra cá e daqui pra lá.

SILVINHA
Sério moço?

ZEZIM
To dizendo. Inundou todo o Jardim Botânico, ninguém passa, e os carro tão preso num engarrafamento de lá pra cá e daqui pra lá. Assim de carro oh. Até trem parou , Até os metrô também.

IVONETE
Ah é? Como é que o senhor sabe de tudo isso?

ZEZIM
É que eu vejo televisão né dona. Vi agorinha ali na barraca do seu Antônio. Jornal ta noticiando aí que a coisa ta feia na cidade. Parou geral. E oh! Ta ouvindo? Ta aumentando!

Surge mais um personagem para completar a cena. Betinho.

BETINHO
Eita! Chuvão hen!

SILVINHA
E pior que já ta vindo água aqui.

BETINHO
To falando. Ta aumentando.

SILVINHA
Uma hora vai ter que parar né.

BETINHO
(RECONHECENDO-A) Vem cá!

ZEZIM
Já até sei o que o senhor vai perguntar pra ela.

BETINHO
Você é aquela atriz né? Silvinha Araújo, né isso?

ZEZIM
(EMOCIONADO) É ela mermo. Falei pra dona aqui que era ela.

SILVINHA
(SEM DAR OUVIDOS ) E agora gente?! O que eu vou fazer? Eu tenho gravação ainda hoje.

ZEZIM
Chi!

BETINHO
Ce acredita que eu tava indo pra Record agorinha mesmo levar material pra um teste? To cansado de fazer figuração na Globo.

IVONETE
(NOC EL) Alô Maria. Oduvaldo já chegou do golfe? Não?

BETINHO
Aí, bem que você podia me ajudar. Me indicando alguém lá, sei lá.

SILVINHA
(SEM PACIENCIA) Moço, eu não sei nem como eu vou sair daqui, que dirá te ajudar.

ZEZIM
Tu num fazia uma babá naquela novela das sete?

Relâmpago soa forte. Todos se assustam.

IVONETE
Maria pede pro Oduvaldo me ligar. Tchau. ( DESLIGA) Moço quanto é que o senhor quer pra desatolar o meu carro, eu preciso ir pra casa.

ZEZIM
Madame, nem pensar. Chuva doida essa aí. Tem que esperar.

IVONETE
Moço, o senhor não está entendendo, eu não posso esperar.

ZEZIM
Mas eu posso.

BETINHO
Você ta em que novela mesmo?


SILVINHA
(IRRITADA) Por favor, eu não quero falar de novela agora.

ZEZIM
Nem agora e nem nunca,né. Óia o aguaceiro que ta vindo em cima da gente!

Todos olham pra frente e gritam simultaneamente. B.O.


OFF RÁDIO- Morrem mais de 200 pessoas por conta da forte chuva que alagou a cidade maravilhosa. Entre os mortos estão à atriz Silvinha Araújo e a socialite Ivonete Perdura que boiava ao lado do corpo do camelô Zeliano Gomes da Silva.

BETINHO
(DANDO ENTREVISTA) Então, quando a chuva começou, eu tava ali em São Conrado. Graças a Deus eu consegui me salvar.

OFF- O senhor estava voltando pra casa?

BETINHO
Não, eu tava indo fazer um teste na Record pra elenco fixo numa novela porque antes eu fazia figuração na Globo. (SEM GRAÇA) Ih, meu Deus, será que eu falei demais?


FIM

vídeo da cena

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AXÉ TALIBÃ
Leandro Muniz



Um homem vestido com roupas do movimento talibã, estilo “Bin Laden, barba grande, turbante branco e vestes brancas, está sentado em um lugar, ao lado de Mulher. Ele está com uma maleta no chão, ao seu lado.
Silêncio. Ela ameaça falar alguma coisa, mas desiste. Está tímida, sem ser medrosa, apenas tímida, querendo se “enturmar”. Ele está sério, e não se mexe. Ela começa a estranhar o fato de que ele está muito parado, olhando para o nada.


MULHER
Então, falta de assunto? Pois é, eu acho um absurdo o que fizeram com você, sabe? Puro preconceito. Quem eles pensam que são? Você me parece uma pessoa íntegra, inteligente... Simpática né... É nítida a sua simpatia, essa maneira cativante de agir, esse jeito tímido, calado, mas que diz tanto. Todos do seu país devem ser assim, imagino.

Homem não responde.

MULHER
Devem ter estilo. Sim, porque o que não podem falar é que você não tem estilo. Essas roupas são bem... Bem... Diferentes né? Você já foi a Bahia? Não sei, mas eu tô percebendo em você uma semelhança com alguma pessoa, talvez... Ah já sei! Aquele compositor negro, que também é percussionista, um que usa umas tranças sabe? (silêncio. Ela se exalta tentando lembrar) Um que canta umas músicas com umas letras estranhas? Uns sons meio tribais, meio loucos? (silêncio) Não conhece né? Poxa, se tivesse um google aqui agora eu lembrava. Escapuliu o nome, ai odeio quando isso acontece! (silêncio) Tu curte axé? (silêncio) Sei lá, eu já curti muito numa época, ia pra essas micaretas todas fora de época sabe? CarnaBelô, CarnaSampa, CarnaJuizdeFora, CarnaGuaratatinguetananópolis (pausa) do Sul. Hoje em dia eu curto mais trance. (silêncio). Desculpe, eu sou uma insensível né? Você aí preocupado com tantas coisas, o vôo que você perdeu, e eu aqui falando de carnaval, de música. Eu não queria te chatear, desculpe, nem te causar esse tipo de constrangimento...


Homem coloca sua mala no colo.

MULHER
... Mas sei lá, eu imagino como deve ser solitário a pessoa chegar num lugar, não conhecer ninguém, ser tratado com preconceito, e não ser amparado, não ter alguém pra oferecer um ombro amigo. Pô cara, sério (Ela pega no ombro dele) pode contar comigo. Pro que der e vier cara, força. (silêncio) Te pediram pra ficar aqui esperando não é? Ta com fome? Tu quer que eu compre uma coisa pra você? Um lanche, uma coca cola? Tem um Mc Donalds ali. Quer? ( Ela ri) Caraca cara, tu é muito tímido né não? Pô, to aqui igual uma louca, falando falando e você nada.


Homem coloca sua mala numa mesa próxima, e a abre.


MULHER
Entendi. Isso é um jogo né? Você aí todo cheio de charme, vendendo o tipo tímido misterioso, não fala nada, as circunstâncias já te favorecem né? Essa situação “o rapaz abandonado do aeroporto”. Tô entendendo teu jogo. Olha, ta funcionando viu? Achei você muito...( faz manha e ri envergonhada) Ai, sei lá, fiquei tímida agora. Você quer  que eu compre um lanche pra você? Lembrei de um filme agora. Cara, um filme que tem tudo a ver com a situação desse momento. Com o fato de você se sentir estranho e deslocado, num lugar desconhecido, onde as pessoas não te aceitam como você é verdadeiramente. Onde a guerra nos consome, e não conseguimos mais ter uma clareza sobre as nossas relações com o próximo, o amor e a natureza. Onde o preconceito de raça é evidente, e deve ser abolido. Avatar. Já assistiu?


Homem tira uma bomba-relógio (Uma engenhoca, com fios coloridos. Pode ser feita com várias velas grandes, vermelhas, enroladas por “silver tape”. E grudado um relógio de ponteiros) de dentro da mala. Fica com ela em mãos. Bem lentamente, olha a bomba e confere os fios.


MULHER
...Pô brother, tu tem que assistir! Vai se sentir mais leve. Mas tem que ser em 3D, se não é perda de tempo. Em 3D que é o bicho. Esses oficiais estão demorando né? Sabia que você não ia agüentar ficar sem fazer nada, já arrumou uma distração né? Quando eu era criança eu tinha aquele joguinho, que era uma pessoa deitada e cheia de buracos, e tinha os órgãos pra gente colocar com uma pinça? Sabe? Quando a gente esbarrava no boneco, tinha um alarme. Péen!( faz o alarme) do paciente reclamando.(ri) Conhece, é do teu tempo? Acho que esse brinquedo era da Estrela. O que é isso que você ta mexendo, posso ver?


Mulher aproxima-se de Homem, e ameaça pegar da mão dele. Homem, com cara de reprovação,  puxa pra perto de si a bomba, para que Mulher não pegue.

MULHER
Ih, que foi? Se irritou? Quer brincar sozinho, né? Eu te entendo. (silêncio) Cara, quando eu tô com meu iphone eu fico completamente hipnotizada, no mundo da lua mesmo, que nem você tá agora, todo compenetradinho. Pô, muito louco essa coisa da tecnologia né brother? Bizarro, a globalização, a internet, pô, o silicone! O mundo tá muito doido, essas enchentes terríveis, os jogadores de futebol metidos com traficantes, tu curte o Adriano? E o Rick Martin gente, os terremotos, e essa polêmica toda do stand up comedy ser ou não ser teatro, e as pegadas que acharam do abominável homem das cavernas, você soube? Será que isso existe mesmo, porque nos ETs eu acredito, ah acredito sim, com certeza cara, de onde você acha que tiram tanta ideia pra filme de ficção? E o Lula, você acha que ele é o cara? (Mulher cansa, vai ficando tristinha) Poxa...Então tá... Pô... Tá bom seu moço boboca, metido, não quer papo comigo é? Tá certo, eu vou embora. Vou parar de falar, é isso que você quer né? Adeus.


Mulher sai de cena. Homem faz cara de aliviado, e volta a olhar para a bomba. Segundos depois, Mulher volta correndo sorrateiramente e pega a bomba da mão de Homem. Ele fica desesperado. Ela começa a correr, e brincar com a bomba.

MULHER (animada e infantil)
Peguei! Ah se ferrou, você não me pega! Não me pega! Lá lá lá! Tenta me pegar, tenta!


Homem tenta pegar a bomba de Mulher, que corre em círculos e o desnorteia. Ela fica trocando a bomba de mão, com os braços levantados, como se fosse uma bola. Homem começa a ficar irritado.

MULHER
Peraí, deixa eu ver uma coisa aqui. Esse relógio. (estranha o relógio de ponteiro) Ué (confere a hora no seu relógio de pulso). Esse relógio tá atrasado 1 hora esse relógio. (repetição da palavra relógio nessa última frase, é proposital) Rapidinho.

Mulher mexe no ponteiro do relógio.

HOMEM
Nãooooooooooooooooooooooooo!


Black Out. Som de explosão. 


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Palhinha da semana passada - dia 16/04/2010

“É o jeito”
De Jô Bilac
Personagens:
Mulher
Flanelinha
Funcionário
(Bossa nova no fundo. Tudo lindo. Dona de casa com um neném no colo. Ela está no supermercado, fazendo compras. Empurra um carrinho de compras, tem uma caixa de cereal na mão, confere o preço.)
Flanelinha: (aparece do nada) Esquerda, esquerda... Isso, vem vindo, manobra, manobra!
( A mulher sem entender)
Flanelinha: Pode dar ré, dá ré. Isso! Contorna pela esquerda! Isso! Vem que dá, vem que dá! Isso. (estende a mão) Três pratas.
Mulher: (sem entender) Oi?
Flanelinha: Três pratas.
Mulher: Do que você está falando?
Flanelinha: Estou falando de Dindin, aqué, mango, faz me rir, bufunfa, moeda, gaita, merréis, ducados, dólares, euros, reais! Três!
Mulher: Eu não vou te pagar.
Flanelinha: Qual é tia?
Mulher: Eu não te pedi pra fazer nada.
Flanelinha: Na moral tia...
Mulher: Eu não sou sua tia!
Flanelinha: Ajuda o trabalhador.
Mulher: Trabalhador...?
Flanelinha: Trabalhador sim, claro! (muito malandro) Essa é a minha área. Eu fico aqui olhando o carrinho da senhora, enquanto a senhora vai buscar o peitipoá, o leite em pó, a sardinha em lata, as paradas todas... Então: não deixo ninguém mexer nas compras da senhora, não deixo ninguém roubar nada, não deixo os funcionários rebocarem seu carrinho, e ainda por cima, se ficar pesado: eu dou uma ajuda pra empurrar! E tudo isso só por três pratas!
Mulher: Não, obrigada. Realmente eu não quero.
Flanelinha: (com cara de pena) Três pratas, moça. A senhora não vai ficar mais rica nem mais pobre por causa de três pratas.
Mulher: Não quero. Obrigada.
Flanelinha: Três pratas, moça! Não custa nem esse creme aí que a senhora compra! Deixa de ser canguinha.
Mulher: Eu já disse que não. Por favor.
Flanelinha: Eu não estou pedindo esmola não, viu? Eu só estou pedindo uma colaboração para um trabalhador independente, que assim como a senhora tem seu direitos e merece respeito!
Mulher: Meu querido, sito muito, eu também sou trabalhadora e valorizo o meu dinheiro, não sou obrigada a pagar por um serviço que eu não pedi! Tenho esse direito. Posso?
Flanelinha: Poder pode, né... Poder pode. (de canto de boca) Mas depois a gente faz besteira, aí não vai reclamar...
Mulher: O que?
Flanelinha: O que o que?
Mulher: O que foi que você disse?
Flanelinha: oi?
Mulher: Isso que você acabou de dizer... Repete.
Flanelinha: Eu não disse nada!
Mulher: Disse sim.
Flanelinha: Não disse.
Mulher: Disse: “depois a gente faz besteira, aí não vai reclamar...” Eu ouvi!
Flanelinha: Então se ouviu por que perguntou?
Mulher: Eu quis ter certeza.
Flanelinha: De que?
Mulher: De que você está me ameaçando!
Flanelinha: (cínico) Eu não estou ameaçando a senhora!
Mulher: Está sim!
Flanelinha: Eu te amecei?!
Mulher: Me coagiu ! Disse que vai fazer besteira e isso significa que você vai se vingar de mim só porque não te dei três pratas!
Flanelinha: (mais cínico) Eu não disse nada...
Mulher: Disse sim!
Flanelinha: A senhora é que está colocando palavras na minha boca.
Mulher: (exaltada) Disse sim! Vai se vingar de mim porque “não colaborei” com o “trabalhador independente”.
Flanelinha: Eu falei essas palavras “ se vingar”?
Mulher: Você não vai me intimidar! Não pode!
Flanelinha: Eu disse que ia me vingar?
Mulher: Você disse que vai fazer besteira! Eu ouvi!
Flanelinha: Não coloque palavras na minha boca!
Mulher: Não estou colocando palavras na sua boca! Eu ouvi! Vai fazer besteira e eu não vou poder reclamar!
Flanelinha: A senhora entenda como quiser!
Mulher: Então eu posso entender tudo isso como uma ameaça?
Flanelinha: Se assim preferir!
Mulher: Vai zonear as minhas compras, sumir com o meu carrinho!
Flanelinha: (perigoso) Pode ser que ele suma mesmo, aqui nesse supermercado vive sumindo carrinhos... Assim, do nada! Quando menos se espera: eles somem! Mas é como mandei a letra: se a senhora me pagar três pratas, evita a dor de cabeça! Eu fico aqui vigiando o carrinho da senhora e não deixo nenhum malandro se aproveitar... Mas se não pagar, não vou poder garantir nada...
Mulher: Está me chantageando...
Flanelinha: Entenda como quiser.
Mulher: Eu entendo isso como uma intimidação baixa e cruel para uma mulher que paga os seus impostos em dia.
Flanelinha: Mas é isso mesmo... Essa é a minha área e se a senhora não colaborar comigo eu não me responsabilizo por suas compras nesse carrinho!!!!
Mulher: (satisfeita) Era exatamente o que eu queria ouvir!
Flanelinha: Oi?
Mulher: O senhor está preso por uma cidadã! (a mulher saca um apito e toca alto, surgem policiais por todos os lados cercando o homem)
Flanelinha: O que isso?
Mulher: (firme) Cana, cadeia, xadrez, prisão, xilindró, sol quadrado, cela, buraco, pavilhão, pai de todos, fura bolo, mata piolho! Fim da linha, meu chapa. Você rodou malandro! Se meteu com a cidadã errada!
Flanelinha: (sendo algemado pelos policiais) Eu sou trabalhador! Eu sou trabalhador!!!
Mulher: Levem esse patife daqui! Ele agora vai manobrar pano de chão dentro do vaso!!
Flanelinha: (sai arrastado) Não! Eu só quero trabalhar! Não!!!!!!
Mulher: Obrigada rapazes! Bom contar com a eficácia da segurança pública. (sorri. Com a caixa de cereal na mão, recuperando a tranqüilidade, beijando a testa do seu neném. Volta a bossa nova.)
(entra um funcionário do supermercado)
Funcionário: Senhora...
Mulher: Sim?
Funcionário: Aqui está a sua guia para estacionar o carrinho da senhora no corredor.
Mulher: O que?
Funcionário: São cinco pratas, deverão ser pagas diretas no caixa.
Mulher: Guia? Mas o corredor do supermercado não é livre? Eu não posso simplesmente parar o meu carrinho sem precisar pagar nada a ninguém?
Funcionário: Não. (sorri)
Mulher: Mas não é possível! Agora tudo é pago?
Funcionário: Sim. (sorrindo com águia estendida)
Mulher: Isso é um serviço independente de um trabalhador autônomo?
Funcionário: Não. Isso é um trabalho regulamentado com carteira assinada promovido por grandes estatais. (estende a guia num gesto mais impositivo)
Mulher: E se eu não pagar? O que vai fazer?
Funcionário: (sorrindo) Irei contar com a eficácia da segurança pública.
(entram os mesmo policiais olhando para ela, ameaçadores)
Mulher: ( pega a guia constrangida) Cinco pratas, né...
Funcionário: Por quatro horas, se ultrapassar o limite do tempo, sobe para oito.
Mulher: Oito??? Poxa, isso não pode ser assim e... (policiais avançam) Aceita cartão? (sorri)
Funcionários: Sim senhora. Alguma dúvida mais?
Mulher: (sorri amarelo) Não obrigada.
Funcionário: Por nada. Tenha um bom dia. (sai)
Mulher: (olha para o cereal e olha para a guia. Desiste do cereal e o devolve para a prateleira. Sai de fininho)
Fim.

Vídeo da cena

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REAÇÕES IMPROVÁVEIS AO GANHAR A MEGA SENA
Leandro Muniz


Mãe e Homem fazem todos os diversos pequenos diálogos a seguir. Ao final de cada encontro, voltam para uma posição inicial, configurando que aquela micro cena terminou, e começará uma nova. O objetivo é que a emenda entre cada ceninha seja muito rápida, clipada, para que a repetição do mesmo encontro e a velocidade, sejam a graça de tudo.

1.

HOMEM
Mãe, eu preciso falar com a senhora.
MÃE
Já sei. É dinheiro?
HOMEM (explode)
É!  Ganhei na Mega Sena porra!
MÃE
Tá bom meu filho, então vai dar um jeito no seu banheiro antes de dormir, que tá um nojo.

2.

HOMEM
Mãe, eu preciso te falar uma coisa.
MÃE
Fala meu filho.
HOMEM
Senta.
MÃE
Filho, não precisa dizer nada. Eu vi as revistas no seu quarto. Por mim tudo bem você ser homossexual, aquele moço dos Menudos por exemplo...
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena.
MÃE (anima-se)
Pô, tu é mó sortudo hein viado?

3.
HOMEM
Mãe, ganhei na mega sena!
MÃE (como quem perdeu a memória)
Quem é você?
HOMEM
Mãe, pára de brincadeira!
MÃE
Mãe?
HOMEM
Ganhei mãe, a mega sena!

MÃE
Eu sou mãe?
HOMEM (desesperado)
Alguém ajuda!

4.
HOMEM
Mãe, eu preciso te contar uma coisa muito séria!
MÃE
O que meu filho?
HOMEM
Eu estou com câncer.
MÃE (chocada)
O que?
 HOMEM
Sacanagem, eu ganhei na mega sena!

Mãe fica puta.

5.

HOMEM
Mãe, eu ganhei! Ganhei na mega sena!
MÃE ( saca um revólver)
Cala a boca, perdeu perdeu, passa esse bilhete agora porra! Quer morrer?

6.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena!
MULHER
Sei, e a faculdade? Nada né?

7.
HOMEM (pulando de alegria)
Mãe? Eu ganhei na mega sena porra!

Mãe cai morta.

8.
HOMEM (eufórico e feliz pulando)
Ganhei na Mega sena!
MULHER (eufórica e feliz, pulando junto)
E eu tenho um tumor nos ovários!

9.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena!
MÃE ( olhando a tv atentamente)
Peraí, só um segundo que o Dodô vai bater um pênalti. Putz, na trave!

10.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena...

MÃE vira-se e enforca o filho até ele cair no chão e morrer.


HOMEM (agonizando)
Socorro!
MÃE
Eu vou pra Grécia sozinha Otávio, sozinha!

11.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na Mega Sena!
MÃE
Que bom filho, joga na loteria agora.

12.

HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE (chora)
Eu não acredito! E o projeto BBB 11, você vai jogar todo no ralo! Seu inútil!

13.
HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE
Ótimo filho, agora investe no Clube da Cena.

14.
HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE
Filho! Não acredito! Estamos ricos! Toma, come essa maça aqui.

Homem morde a maça.

MÃE (falando com voz de neném)
Mas me conta, cadê o bilhete premiado di mamãe?
HOMEM (mostra o bilhete)
Ta aqui mãe
MÃE
Meu Deus, que orgulho, de você...

Homem começa a passar mal e morre com a maça envenenada. Mãe dá uma risada maquiavélica. A luz vai baixando lentamente, enquanto entra uma voz gravada, em off.


OFF ( já com o palco apagado)
E atenção para os números sorteados da Mega Sena, concurso número 1167.
Os números são 4, 9, 24, 37, 48, 57.

A luz acende. HOMEM e MÃE estão de mãos dadas, torcendo, com um bilhete em mãos. Desanimam.


HOMEM
É... Não foi dessa vez...
MÃE
Poxa, nem um numerozinho acertamos.
HOMEM ( choroso)
Saco...
MÃE
Filho, não fica assim. Dinheiro não é tudo.
HOMEM
É, não trás felicidade.
MÃE
Exatamente. Sabe o que trás felicidade?
HOMEM
O que?
MÃE
Você dá um jeito naquele seu banheiro Otávio, ta um nojo, vai lá vai!
HOMEM
Ah, mãe...
MÃE (beija-lhe a testa)
Vai filho, anda.

Homem vai saindo.

MÃE
Esse menino é o meu tesouro!


Fim

terça-feira, 13 de abril de 2010

Palhinha da sexta passada - dia 09/04/2010

“NÃO SABIA QUE NÃO PODIA MAIS VENDER DROGAS NO MORRO”

A declaração é de Darlan Barbosa, preso no Pavão-Pavãozinho, onde funciona uma UPP. Ele disse que não sabia porque saiu da cadeia há cinco dias.

Rio – O GLOBO – quinta-feira, 18 de março de 2010

SE VIRA MALANDRO de Cristina Fagundes

3 homens jogam cartas, são 3 bandidos, roupa velha, short, chinelo. Estão muito entediados. Passa senhora com roupa de piscina toda animada.
SENHORA: Fui! (cruza o palco e sai para a coxia do camarim).
HOMEM 1: Perái mãe, pronde é que tu vai?
SENHORA: Pra hidroginástica.
HOMEM1: Pra onde?
SENHORA: Pra hidroginástica.
HOMEM1: Que porra é essa agora?
SENHORA: è a UPP.
HOMEM1: Que que tem?
SENHORA: A Policia Pacificadora agora ta oferecendo hidroginástica pra gente aqui no morro meu filho.
HOMEM1: ah é? Onde?
SENHORA: Na praça central, olha aqui. (mostra um panfleto). E não é só isso não, tem um monte de atividade, olha só, tem futebol de salão, danças folclóricas, alemão...
HOMEM1: (Sobressaltado com a palavra alemão que significa policia ) Alemão?!
SENHORA: É e balé também olha aqui, se vc quiser se matricular vc...
HOMEM1: Que porra é essa? Isso é polícia ou é clube?
SENHORA: E eles são tão preparados, olha aqui (mostra um panfleto) quem dá a aula de hidroginástica é o cabo Vasconcelos, formado em educação física na UFRJ com pós-graduação em percussão afro-cubana, gente que policia né?
HOMEM1: Ai, mãe, tu num ia visitar o Darlan lá na cadeia?
SENHORA: Eu não.
HOMEM1: Que isso mãe, o Darlan é teu filho. Sangue do teu sangue.
SENHORA: Ah, tenha dó, jaceilton.
HOMEM1: Tu num vai visitar ele pq mãe? Posso saber?
SENHORA1: Ah,meu filho, mó mico né? (Imita debochando o filho preso): Ai, eu num sabia que num pudia mais vender droga... eu não sabia... porra fala sério!
HOMEM1: Po mãe, mas como é que ele ia saber? O Darlan tava preso.
SENHORA1: Ah, é? Mas vc num tava. Vc não avisou a ele por que?
HOMEM1: Po mãe, eu nem sabia que a upp tinha chegado lá no Pavão.
SENHORA1: Vcs tem que ser mais ligados pô, o morro mudou. Sacou? O bagulho agora é outro. Agora vcs ficam aí dando mole pra cojaque... Eu é que não vou lá. Filho meu não é Mané não. Vou na hidro, Fui. (cantarola) Cabo Vasconcelos, já to innnnndo...!! (sai)
HOMEM1: Peraí! Mamãe. (mas ela já saiu – fala pros comparsas) Caramba agora até a minha mãe.
HOMEM3: Aí patrão, eu não queria falar não mas... eu bem vi a Dona Jurema outro dia dedurando o Ratazana no disque denúncia.
HOMEM1: Ai, rapaziada, pra mim chega valeu? Esses UPP aí bundão tão pensando o quê? Aqui não é a casa da mãe Joana não meu irmão. Aqui é a favela! Vamos lá nessa porra e vamos dar um exculacho nesse cabo Vasconcelos e vai ser agora. Vambora cambada. (NINGUÉM SE MEXE). Simbora porra! (NINGUÉM SE MEXE) Ih, qual foi?
HOMEM2: Ai, Chinelão, tu sabe que nós é irmão que nós ta junto contigo pro que for...
HOMEM3: Podes crer nos é parcero mermo e tamo contigo nessa luta mas é que esse cabo aí...
HOMEM1: Que que tem?
HOMEM2:... esse é o cabo é o da aula de caratê...
HOMEM1: Foda-se, mermão, eu sou sujeito homem, tem medo de cabo não. Que que há?
HOMEM3: Diz que o cara é faixa preta ta ligado?
HOMEM1: Po mesmo assim.
HOMEM3: Quarto Dan e o caralho.
HOMEM1: (cada vez menos convicto) mesmo assim.
HOMEM2: O cara é ninja meu irmão.
HOMEM1: (pensa melhor- tosse) a gente chama reforço então. Cadê aquele avião forte, que faz as entrega pra gente, o Bigorna?
HOMEM2: Então, isso que eu to querendo dizer, o Bigorna e o Machadão tão sendo os monitor dele nas aulas de caratê.
HOMEM1: Porra essa UPP ta sufocando geral! ta foda mermão, o políça chata! Tomá no cú! (fica andando agitado) Temo que fazer alguma coisa. Me dá uma branquinha aí o Chulé.
HOMEM3: Tem mais não patrão.
HOMEM1: Num to falando pra entrega não to falando pra consumo porra, vamo cheirar uma branquinha e vamos resolver essa parada é agora.
HOMEM3: Tem não chefia, acabou.
HOMEM1: Então vamos fumar um pra ver se a gente tem umas idéia.
HOMEM3: Num tem não patrão, acabou o bagulho geral.
HOMEM1: Então me dá um cigarro.
HOMEM3: Tem não. Tamo na lona.
HOMEM1: (tem uma idéia) Já sei! Vamos ser malandro, a gente não tem, mas a gente finge que tem. Vamos soltar fogos e fingir que chegou carregamento!
HOMEM2: Tá proibido. Fogos agora só no São João.
HOMEM1: Então vamos dar tiro pro alto, me dá um fuzil aí.
HOMEM2: Só sobrou essa faca. (dá uma faca de manteiga). (decepção)
HOMEM1: Os caras do governo pensaram em tudo, botaram uma polícia que mora no morro,sufocaro as droga, acabaro com os crime, eles pensaram em tudo mermo... Mas num pensaram na gente não? E a gente que é traficante a gente faz o quê? A gente faz o quÊ agora com essa pôrra de UPP? Fica jogando carta? Eu sou sujeito homem, porra, nascido e criado no morro, ralei pra caralho para chegar até aqui, pensa que foi fácil, maluco tudo quereno a minha cabeça, querendo ta no meu lugar. 20 anos no crime e agora querem me deixar sem emprego? Essa gente num tem coração não? Eu tenho talento pô. E eu só sei fazer isso. E agora? Como é que vai ser? Eu tenho 5 mulher para sustentar põxa... (eles ficam chateados pensando nessa “injustiça” – tempo).
HOMEM3: E se a gente chamasse a Comandante lá da UPP pra conversar?
HOMEM1: Ainda por cima botaram mulher no comando dessa porra, que é para humilhar mermo.
HOMEM2: Já sei, vamos dar uma prova de força pra mostrar que quem manda no morro ainda é a gente!
HOMEM1: Boa, Formiga! É isso que a gente precisa. É o seguinte. Vamos pegar aquele maluco magrinho que dedurou o meu irmão e vamos mandar ele pro microondas.
HOMEM3: Ai, chefia, ta ruim.
HOMEM1: Qual foi, o magrinho ta com proteção da UPP?
HOMEM3: não, é que o microondas virou uma padaria. Ordem da UPP.
HOMEM1: Como é que tu sabe?
HOMEM3: (sem graça) É... ah, eu fiquei sabendo...
HOMEM2: (dedura) Aí patrão, o Picadinho ta usando o bagulho da INTERNET sem fio lá na UPP.
HOMEM1: Qual foi Picadinho, tu ta virando Alemão também, ta se bandeando?
HOMEM3: Né não patrão. É que como a gente num ta podendo descer, daí eu achei que podia ser bom pra gente ispioná melhor os cara.
HOMEM1: Fica ligado hein Picadinho. (muda de assunto) Aí, vou lançar a parada. Nós vamos fazer uma letra de funk contando os podre todo da UPP...
HOMEM2: Mas eles não num fazem nada errado chefia.
HOMEM1: Foda-se vamo inventar então, vamos dizer que eles tão comendo criancinha, que tão roubando dentadura sei lá, vamo pixar os cara geral, daí a gente paga um MC pra tocar isso no baile no sábado. Sacou?
HOMEM3: Dá não. O cabo Djavan é que promove os bailes agora. Agora só toca se o cabo Djavan gostar.
HOMEM1: Isso é censura caralho!
HOMEM3: E ele só gosta de música educativa.
HOMEM1: Agora ele se fudeu que a rapaziada do funk vai detonar ele!
HOMEM2: (discorda)Ts Ts! A rapaziada aprovou as letra educativa geral. Tem gente passando no vestibular só por causa das letra educativa do cabo Djavan. (Canta trecho em ritmo de funk) : “2 mais 2 são 4, 3 mais 3 são 6 acertar a tabuada é tarefa de vocês!”
HOMEM1: Já to ficando puto com essa poliça Poliana! UPP – Puliça Poliana! Puta que o pariu!
HOMEM2: Calma Chefia.
HOMEM1: Calma é o Caralho. Chama a tua irmã aí pra me fazer uns cafuné.
HOMEM2: Então...(cheio de dedos) A Jucilene mandou te avisar que não pode mais fazer cafuné no patrão porque ela agora ta fazendo cafuné num outro aí.
HOMEM1: Como assim? Quem é esse cara?
HOMEM2: Então... A Jucilene entrou na hidroginástica também... e aí né...
SILÊNCIO CONSTRANGEDOR – ELA ESTÁ COM O CABO VASCONCELOS
HOMEM1: (tempo – muito puto) Até quando vai durar essa merda dessa UPP?
HOMEM3: Ah, pelo menos até 2016. Eles tão abrindo vaga na Academia de Policia chefia. Eles disseram que querem mais 3.500 policiais nas UPP até o final do ano.
HOMEM1: Tu viu isso quando?
HOMEM3: Hoje de manhã, lá na internet. As inscrições começam hoje.
HOMEM1: Hum. 3.500 policias só pras UPPS?
HOMEM2: (achando muita gente) Porra...!
HOMEM1: Vambora Cambada, borá! Chegou a hora de agir!
HOMEM2: Qual foi patrão?
HOMEM3: Vamos fazer o quê?
HOMEM1: Vamos se inscrever nessa porra dessa Academia de POliça e vai ser agora! Vamos ser UPP geral mermão! UPP desde criancinha! Bora! Bora!
(musica de morro – eles saem – fim)

Vídeo da cena

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LIG LIG CHINA LÁ! Larissa Câmara


MANCHETE: MENDIGO CHIQUE
Sem-teto é eleito o homem mais cool da China.  O homem mais chique da China é um mendigo.  Brother Sharp em quatro, momentos: peças coordenadas e, entre as preferências roupas femininas.
ELA – O GLOBO – sábado, 20 de março de 2010

PERSONAGENS

Fátima Bernardes E William Bonner um pouco mais velhos e sedutores.
Brother Sharp – o homem mais cool da China.


A ação acontece no estúdio do jornal nacional.

Antes do jornal começar.  Fátima Bernardes E William Bonner estão no estúdio e o que eles falam pode ser ouvido.

FÁTIMA: (num suspiro) Ah, estou tão feliz hoje!

WILLIAM: Que bom, Fátima!

FÁTIMA: Sabe por que eu estou feliz, William?

WILLIAM: Porque hoje é sexta-feira, Fátima.

FÁTIMA: Não, William. Eu não estou feliz porque hoje é sexta-feira.

WILLIAM: Então você prefere as 5as? Você é uma mulher de 5ª., Fátima? (faz um gesto tentando ser engraçado)

FÁTIMA: Você é um homem de 2ª., William. (pausa) Você sabe que dia é hoje?
                                                                                                                       
WILLIAM: É Claro que eu sei, Fátima!

FÁTIMA: Então me diga que dia é hoje, William?!

WILLIAM: (Olhando para o relógio) 9 de abril de 2025, Fátima.

FÁTIMA: William, você esqueceu nosso aniversário de casamento!

(Fátima vai chorar William tenta consolá-la. Entra vinheta do Jornal Nacional. O jornal começa)

WILLIAM: Boa noite!

FÁTIMA: (quase não consegue falar) Boa noite. (coloca as mãos nos olhos para conter as lágrimas)

WILLIAM: Luciana Gimenez,

FÁTIMA: Uma mulher que deu certo!

WILLIAM: Casa com mais novo dono de emissora. E após a cerimônia fez a seguinte declaração para imprensa.

FÁTIMA: Sou super pop. Estou muito feliz. Plim-plim – Satisfaction!

WILLIAM: Ana Maria Braga comenta o fato:

FÁTIMA: Sei cozinhar já posso casar. (pausa) E o Louro José replica a declaração:

WILLIAM: Não é porque você sabe cozinhar que alguém vai querer comer... VOCÊ.

Fátima chuta William debaixo da mesa. William vai para frente.

FÁTIMA: Cientistas pesquisam remédio que pode curar Alzheimer.

WILLIAM: As pesquisas apontam um medicamento eficaz no combate à perda de memória.

FÁTIMA: (entre dentes) Que interessante, William, você devia experimentar.

Riso nervoso de William

WILLIAM: Ronaldo ex-jogador de futebol confunde Júnior da dupla Sandy e Júnior com travesti.

FÁTIMA: A ex-apresentadora do SBT Maysa é presa por roubar playstation de loja de departamento e foi detida por portar drogas pesadas.

WILLIAM: Salgadinhos elma-chips, ki-suco e fanta uva.

Pausa

FÁTIMA: Uma história de superação.

WILLIAM: Brother Sharp, ex-mendigo nas ruas de Ningbo, na China. Se transformou no último grito do stylist.

Brother Sharp aparece lindo e fashion no estúdio. Fátima Bernardes fica enlouquecida com ele. Brother Sharp desfila enquanto eles falam.

FÁTIMA: Uau! Brother Sharp realizou o sonho da casa própria morando em caixas de papelão.

WILLIAM: O criador do homeless style. É um dos homens mais ricos do mundo. Sua última coleção Recria acessórios em sacos de lixo. Peças especiais vêm com manchas de gordura da própria cozinha do artista.

FÁTIMA: Ai, que vontade de comer um pastel Chinês.

WILLIAM: Fátima?

FÁTIMA: (levantando do local onde apresenta e caminhando na direção do ex-mendigo. Enfeitiçada pela beleza do chinês) Fui a China lá, ver o quer era China lá e todos eram china lá. Lig Lig China lá...

WILLIAM: Fátima?

FÁTIMA: Eu preciso dizer uma coisa para você. Eu sempre odiei essa mechinha do seu cabelo!

Fátima caminha em câmera lenta como num sonho e se aproxima do ex-mendigo.

FÁTIMA: Eu pensava que os chineses eram todos iguais. Você é tão diferente. (pausa) Parece até... japonês.

Brother Sharp olha para ela e fala em fonemol chinês

FÁTIMA: (seduzida) Sobá, Yakisoba, (sensual) Yakimeshi.

OS dois olham se ternamente. Seguram as mãos e saem. Leves e felizes como num comercial de Molico.

WILLIAM: Apresentador é desmoralizado em rede nacional (piada sem graça com a palavra sobrei)  “Soborei”. Boa noite!

Vinheta jornal nacional.

FIM




domingo, 4 de abril de 2010

Palhinha da sexta passada - dia 02/04/2010

EU VOU CHAMAR O SÍNDICO
Leandro Muniz


Início de uma espécie de reunião. Síndico está de pé. Cerca de 8 pessoas estão sentadas esperando Síndico falar (Figurantes moradores). Síndico é um homem tosco, mal vestido, feio, sujo, sempre suando embaixo do braço e na testa, que enxuga constantemente com um lenço. Jussara e Juliana são mulheres bonitas, elegantes, arrumadas.

SÍNDICO
Boa noite a todos. Bem, o albatroz-errante ou albatroz-gigante é uma ave da família Diomedeidae, que habita a maior parte do oceano austral, nas margens do gelo que circundam a Antártica e, ocasionalmente até mais ao norte, com alguns registros fora da Califórnia e no Atlântico Norte. Durante o inverno, a maior parte das aves se concentra ao norte da Convergência Antártica. (pequena pausa) Bem, essa reunião não tem nada a ver com isso. Podemos começar?

UM DOS FIGURANTES
Com licença. Vai ter algum lanche hoje?

SÍNDICO
Não.

6 figurantes levantam- se e saem de cena. Juliana, Jussara e Síndico, olham para eles, e acompanham suas saídas em silêncio.

SÍNDICO( fala pra si)
Esse albatroz me intriga...
JULIANA
É bom mesmo que essa reunião seja para poucos, visto que temos muitas coisas para resolver, não concorda seu Vitório?
SÍNDICO (gagueja)
Bom... Eu...
JUSSARA
Concordo inteiramente com essa desclassificada, inclusive já estou no meu limite, e quero uma posição sua seu Vitório.


JULIANA
Meu Deus, mas será que não bastou o que essa infeliz escreveu a meu respeito no livro dos condôminos seu Vitório?
JUSSARA
Seu Vitório, fala pra essa mulher que se ela me ofender novamente eu não respondo pelos meus atos seu Vitório?
JULIANA
Seu Vitório, diz pra essa “esculhambada porteira dos infernos” que se ela cruzar o meu caminho novamente vai ter agressão seu Vitório?
JUSSARA (rindo)
Ah, seu Vitório, por favor, responda a essa “pilantra salafrária vigarista”, que aquele maridinho cafajeste dela, só não quer comer o senhor seu Vitório!
JULIANA
Seu Vitório, como é chato a inveja de uma mulher enlouquecida pelas falcatruas da mãe, e o divórcio traumático com o marido alcoólatra, né não seu Vitório?
SÍNDICO
Olha... Eu...
JUSSARA
Melhor um ex- marido alcoólatra e uma mãe ladra, a ser enganada!
JULIANA
Melhor ser enganada do que ser abandonada!
JUSSARA
Melhor calar essa matraca antes que eu cuspa na sua caroça!
JULIANA
Melhor receber uma cusparada do que ter os olhos rasgados pelas minhas unhas!
JUSSARA
Melhor ser cega a ter que conviver com uma vizinha que tem um zoológico em casa!
JULIANA
Idiota!
JUSSARA
Inútil!
JULIANA
Vaca!
JUSSARA
Calhorda!
JULIANA
Vadia, estelionatária, maconheira, piriguete criminosa!
JUSSARA
Piranha de esgoto!
JULIANA
Piranha de esgoto?
SÍNDICO
Eu...Olha...
JUSSARA
Seu Vitório, não responda a essa mulher demente, que não sabe o que fazer com tantos cachorros, sem contarmos as crianças demoníacas que ela pariu, seu Vitório seu Vitório...


JULIANA (faz-se de santa)
Seu Vitório, não... Eu não vou entrar no jogo desta senhora. Acredito que podemos resolver as coisas com mais elegância.
JUSSARA ( faz a santa também)
Seu Vitório, o senhor me conhece, eu jamais me meti em qualquer confusão e já moro aqui há 9 anos seu...
JULIANA
Vitório, não dê ouvidos a essa mulher suja que se insinua como uma rampeira!
JUSSARA
Seu Vitório, se eu fosse o senhor, já tinha dado na cara dessa mulher, ela está te provocando seu Vitório!
SÍNDICO
Mas...
JULIANA (alegremente cínica, como se fosse contar algo muito curioso)
Seu Vitório, você não sabe o que aconteceu hoje. Entrei com uma ação na justiça contra essa mulher por calúnia, difamação e danos morais...
JUSSARA
Seu Vitório, você não sabe o que aconteceu hoje. Adivinha com o marido de quem eu transei duas vezes num motel sujo e barato, e foi uma delícia seu Vitório?
JULIANA ( ameaçando)
Seu Vitório, adivinha o que eu trouxe na bolsa, sabendo que podia ter um barraco aqui?
JUSSARA
Seu Vitório, te contei que tenho uns contatos fortes na Vila Cruzeiro?
JULIANA
Te contei que tenho porte de armas?
JUSSARA
Te contei que meu primo já estuprou uma menor?


Silêncio.


SÍNDICO
Bem, não sei o que dizer depois de tantas informações. Mal consigo imaginar como essa história vai acabar. Os albatrozes costumam se isolar, e só voltam a freqüentar lugares ocupados por outros da espécie quando as geleiras...

Juliana tira uma arma da bolsa e ameaça Síndico, que se cala.

SÍNDICO
Eu estou te chateando?

JULIANA (mãos trêmulas segurando a arma, fala manso, mas bastante alterada)
Seu Vitório, fala pra essa mulher que se ela não sair do prédio hoje, pode se considerar... Pode não se considerar mais... Seu Vitório...
SÍNDICO (para Jussara)
Ela disse que...


JUSSARA (com medo, emocionada, quase chora)
Sim, eu não sou surda seu Vitório. Pergunte pra essa senhora, se ela sabe que se eu for embora agora, vou levá-lo comigo, seu Vitório...
SÍNDICO ( para Juliana)
Ela tá perguntando se...
JULIANA
Eu ouvi. Eu ouvi muito bem. Diga a ela, que sei de tudo... E que se apresse, antes que eu mude de idéia e mate os dois, sua piranha...Desculpe, seu Vitório...
JUSSARA
Obrigada.


Jussara corre, e sai de cena.

JULIANA (chorosa, perdendo a força, quase ofegante)
Hoje de manhã seu Vitório... Ele já estava, seu Vitório... Com as malas prontas...


Juliana larga a arma e começa a chorar, soluçante. Abraça o Síndico.


Fim.

Vídeo da cena

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“Vip” - de Jô Bilac
Mendigo
Marielle Moom
(Marielle Moom  saindo de uma festa badaladíssima)
Marielle: ( taça de prosecco na mão,  casaco de luxo. Acorda o mendigo que dorme no chão. ) Oi querido. Olá. Oi. Querido. (insiste, mas o mendigo ainda dorme e não quer papo) Oi. Meu anjo. Queridinho. Oi. Acorda. Meu anjo. Acorda, querido. Oi. Ei. Olá. Opa. Acorda.
Mendigo: (levanta sonolento) Desculpa madame, eu dormi na vaga do carro da senhora, né? Já to saindo, é que a marquise estava cheia e...
Marielle: (simpática)  Não, não, não... Não se incomode, imagina!
Mendigo: Eu saio, madame, não tem problema. A senhora pode estacionar o carro aqui, eu vou pra ali debaixo do viaduto e...
Marielle: Não, que viaduto, o que? O senhor pode dormir tranquilamente na vaga do meu carro. Por favor.
Mendigo: Eu não quero causar incômodos...
Marielle: Eu faço questão! Não é incomodo algum, fica a vontade. 
(Marielle, débil, parada, sorrindo para o mendigo)
Mendigo: Então...?
Marielle: O que?
Mendigo: A madame vai ficar aí parada rindo pra mim?
Marielle: Madame? Não! Vamos evitar formalidades! Marielle Moom.
Mendigo: Como..? Marie...O que?
Marielle: (como se tivesse falando com um retardado)  Ma-ri-e-lle...
Mendigo: Ma-ri-e-lle...
Marielle: Moom...
Mendigo: Muuu.
Marielle: Moom.
Mendigo: Muuu.
Marielle: (desiste) Enfim. Qual é o seu nome, querido?
Mendigo: Mendigo mesmo.
Marielle: Prazer, Mendigo Mesmo. Bom. Eu vou direto ao assunto, sem mais rodeios. Eu acabo de voltar de uma festa badaladérrima, creme de La creme, papa finérrima, coisa que você nunca vai ver! Enfim. Daí, quando vou estacionar o meu porche, vejo você aqui, dormindo ao relento, sem a mínima dignidade, mas em profunda paz e isso me tocou. De verdade. Fiquei comovida. Pensei nesse mundo louco que  gente vive, sabe? Essa coisa louca, de muitos que não tem nada e poucos que tem tudo. E daí fiquei pensando na Madre Teresa, no Mandela. Mandela é um cara que me emociona até hoje. Um cara fora de série. A história de vida do Mandela. Eu não posso nem falar no Mandela que eu fico com olho cheio d’água, emocionada mesmo. E daí fiquei pensando: caramba, Marielle! O que você está fazendo da sua vida? Cara, o Mandela na sua idade já...
Mendigo: Desculpa interromper, madame, é que eu...realmente, estou muito cansado, amanhã pego logo cedo no lixão e...
Marielle: No lixão! Que coisa linda! Lixão! O chorume do lixão! É o povo brasileiro que não se cansa e nem desiste, dessa gente que balança e que...
Mendigo: Madame, desculpa mesmo, mas realmente.
Marielle: Ai, perdão! Eu aqui falando feito matraca. Louca! (ri)
Mendigo: Então?
Marielle: Então que eu queria te dar uma esmola.
Mendigo: Uma esmola.
Marielle: É. Uma esmola. Algo simbólico. (abrindo a bolsa, assinando um cheque) Nada demais, um mimo! 3 mil, está bom?
Mendigo:  Não.
Marielle: Não está bom? Quer mais? Tudo bem, 4 mil.
Mendigo: (digno) Não, obrigado. Eu não quero.
Marielle: Como assim?
Mendigo: Não me leve a mal, mas eu não estou precisando. Obrigado.
Marielle: O que foi? Achou 4 mil pouco?
Mendigo: Imagina, madame. Eu é que não quero mesmo. Obrigado, viu.
Marielle: Você sabe meso jogar, rapaz. Tudo bem, 5 mil.
Mendigo: Não madame. Obrigado.  Muito mesmo. Boa noite.
Marielle: O que há? Você não é mendigo? Não passa fome? Não passa frio? Então, esse dinheiro vai te ajudar. É de coração, eu sou rica, eu posso te dar, não vai me fazer falta.
Mendigo:  Eu gosto de passar fome, de passar frio. Eu gosto.
Marielle: E o velho barreiro? E a cola de sapateiro? E o crac? Como é que vai comprar? Hein? Aceita, vai! Não custa nada! Aceita!
Mendigo: Não quero.
Marielle: Já sei. Dinheiro não te interessa, não é? Você é ambicioso rapaz! Gostei de você!  Você tem fibra! Quer jóia, não é? Eu te dou as minhas jóias! (tirando os brincos, relógio, etc e jogando pro mendigo) Leva as minhas jóias! Toma! É ouro! Tem brilhante! Tudo seu!
Mendigo: Não quero... Eu só quero dormir, madame!      
Marielle: Meu dinheiro não é bom o bastante pra você? As minhas jóias? Eu não sou digna o suficiente? É isso? Não estou a sua altura?
Mendigo: (tranqüilo) Não,  não é nada disso. Olha, você é ótima, eu é que estou noutra fase. Eu quero dar um tempo, repensar meus valores, saber se é realmente isso que eu quero. Me entende?
Marielle:  Você tem outra? É isso? Pode falar. É outra madame que te dá esmolas melhores, não é? Fala!
Mendigo: Não tem outra madame...
Marielle: Então é o que? O meu porche! Você quer o meu porche, não é ?   É isso que você quer, desde o inicio. Faz parte do seu jogo!
Mendigo: Jogo?
 Marielle: Sim! Isso é um jogo !
Mendigo: Não tem jogo algum, madame.
Marielle: Se pensa que pode me jogar pra escanteio está muito enganado! (saca um revólver da bolsa)
Mendigo: (apavorado) O que é isso, madame?
Marielle: Um assalto ao contrê!
Mendigo:  Um assalto o que?
Marielle: Ao estilo francês, ao contrê!
Mendigo: Calma, a madame está alterada...
Marielle:  (falando como marginal) Perdeu, maluco! Perdeu! Pega a minha bolsa, bora! Pega ! Bora! Quer levar pipoco? Então, meu irmão, pega a bolsa!  Bora!
Mendigo: (pegando a bolsa, amedrontado)
Marielle: Isso... Agora o bracelete! Bora! Pega o bracelete, isso, coloca no bolso, no bolso! Os brincos, agora! Bora! Não banque o engraçadinho ou eu estouro os seus miolos!
Mendigo: Calma, madame...calma!
Marielle: Bora! Bora! A chave! (joga a chave) Pega a chave!
Mendigo: Peguei, pronto, calma.
Marielle: Agora vai lá e pega o porche e sai varado! Bora, rapá! Bora!
Mendigo: Mas eu nem sei dirigir, madame!
Marielle: Se adianta, meu irmão! Se adianta! Bora! Pega o carro! Bora!
Mendigo: To indo, to indo! (saindo com a chave)
Marielle: (feliz, satisfeita) Mandela... Tá vendo? Se cada um fizer a sua parte, esse país vai pra frente!
Fim.