quarta-feira, 21 de abril de 2010

Palhinha da semana passada - dia 16/04/2010

“É o jeito”
De Jô Bilac
Personagens:
Mulher
Flanelinha
Funcionário
(Bossa nova no fundo. Tudo lindo. Dona de casa com um neném no colo. Ela está no supermercado, fazendo compras. Empurra um carrinho de compras, tem uma caixa de cereal na mão, confere o preço.)
Flanelinha: (aparece do nada) Esquerda, esquerda... Isso, vem vindo, manobra, manobra!
( A mulher sem entender)
Flanelinha: Pode dar ré, dá ré. Isso! Contorna pela esquerda! Isso! Vem que dá, vem que dá! Isso. (estende a mão) Três pratas.
Mulher: (sem entender) Oi?
Flanelinha: Três pratas.
Mulher: Do que você está falando?
Flanelinha: Estou falando de Dindin, aqué, mango, faz me rir, bufunfa, moeda, gaita, merréis, ducados, dólares, euros, reais! Três!
Mulher: Eu não vou te pagar.
Flanelinha: Qual é tia?
Mulher: Eu não te pedi pra fazer nada.
Flanelinha: Na moral tia...
Mulher: Eu não sou sua tia!
Flanelinha: Ajuda o trabalhador.
Mulher: Trabalhador...?
Flanelinha: Trabalhador sim, claro! (muito malandro) Essa é a minha área. Eu fico aqui olhando o carrinho da senhora, enquanto a senhora vai buscar o peitipoá, o leite em pó, a sardinha em lata, as paradas todas... Então: não deixo ninguém mexer nas compras da senhora, não deixo ninguém roubar nada, não deixo os funcionários rebocarem seu carrinho, e ainda por cima, se ficar pesado: eu dou uma ajuda pra empurrar! E tudo isso só por três pratas!
Mulher: Não, obrigada. Realmente eu não quero.
Flanelinha: (com cara de pena) Três pratas, moça. A senhora não vai ficar mais rica nem mais pobre por causa de três pratas.
Mulher: Não quero. Obrigada.
Flanelinha: Três pratas, moça! Não custa nem esse creme aí que a senhora compra! Deixa de ser canguinha.
Mulher: Eu já disse que não. Por favor.
Flanelinha: Eu não estou pedindo esmola não, viu? Eu só estou pedindo uma colaboração para um trabalhador independente, que assim como a senhora tem seu direitos e merece respeito!
Mulher: Meu querido, sito muito, eu também sou trabalhadora e valorizo o meu dinheiro, não sou obrigada a pagar por um serviço que eu não pedi! Tenho esse direito. Posso?
Flanelinha: Poder pode, né... Poder pode. (de canto de boca) Mas depois a gente faz besteira, aí não vai reclamar...
Mulher: O que?
Flanelinha: O que o que?
Mulher: O que foi que você disse?
Flanelinha: oi?
Mulher: Isso que você acabou de dizer... Repete.
Flanelinha: Eu não disse nada!
Mulher: Disse sim.
Flanelinha: Não disse.
Mulher: Disse: “depois a gente faz besteira, aí não vai reclamar...” Eu ouvi!
Flanelinha: Então se ouviu por que perguntou?
Mulher: Eu quis ter certeza.
Flanelinha: De que?
Mulher: De que você está me ameaçando!
Flanelinha: (cínico) Eu não estou ameaçando a senhora!
Mulher: Está sim!
Flanelinha: Eu te amecei?!
Mulher: Me coagiu ! Disse que vai fazer besteira e isso significa que você vai se vingar de mim só porque não te dei três pratas!
Flanelinha: (mais cínico) Eu não disse nada...
Mulher: Disse sim!
Flanelinha: A senhora é que está colocando palavras na minha boca.
Mulher: (exaltada) Disse sim! Vai se vingar de mim porque “não colaborei” com o “trabalhador independente”.
Flanelinha: Eu falei essas palavras “ se vingar”?
Mulher: Você não vai me intimidar! Não pode!
Flanelinha: Eu disse que ia me vingar?
Mulher: Você disse que vai fazer besteira! Eu ouvi!
Flanelinha: Não coloque palavras na minha boca!
Mulher: Não estou colocando palavras na sua boca! Eu ouvi! Vai fazer besteira e eu não vou poder reclamar!
Flanelinha: A senhora entenda como quiser!
Mulher: Então eu posso entender tudo isso como uma ameaça?
Flanelinha: Se assim preferir!
Mulher: Vai zonear as minhas compras, sumir com o meu carrinho!
Flanelinha: (perigoso) Pode ser que ele suma mesmo, aqui nesse supermercado vive sumindo carrinhos... Assim, do nada! Quando menos se espera: eles somem! Mas é como mandei a letra: se a senhora me pagar três pratas, evita a dor de cabeça! Eu fico aqui vigiando o carrinho da senhora e não deixo nenhum malandro se aproveitar... Mas se não pagar, não vou poder garantir nada...
Mulher: Está me chantageando...
Flanelinha: Entenda como quiser.
Mulher: Eu entendo isso como uma intimidação baixa e cruel para uma mulher que paga os seus impostos em dia.
Flanelinha: Mas é isso mesmo... Essa é a minha área e se a senhora não colaborar comigo eu não me responsabilizo por suas compras nesse carrinho!!!!
Mulher: (satisfeita) Era exatamente o que eu queria ouvir!
Flanelinha: Oi?
Mulher: O senhor está preso por uma cidadã! (a mulher saca um apito e toca alto, surgem policiais por todos os lados cercando o homem)
Flanelinha: O que isso?
Mulher: (firme) Cana, cadeia, xadrez, prisão, xilindró, sol quadrado, cela, buraco, pavilhão, pai de todos, fura bolo, mata piolho! Fim da linha, meu chapa. Você rodou malandro! Se meteu com a cidadã errada!
Flanelinha: (sendo algemado pelos policiais) Eu sou trabalhador! Eu sou trabalhador!!!
Mulher: Levem esse patife daqui! Ele agora vai manobrar pano de chão dentro do vaso!!
Flanelinha: (sai arrastado) Não! Eu só quero trabalhar! Não!!!!!!
Mulher: Obrigada rapazes! Bom contar com a eficácia da segurança pública. (sorri. Com a caixa de cereal na mão, recuperando a tranqüilidade, beijando a testa do seu neném. Volta a bossa nova.)
(entra um funcionário do supermercado)
Funcionário: Senhora...
Mulher: Sim?
Funcionário: Aqui está a sua guia para estacionar o carrinho da senhora no corredor.
Mulher: O que?
Funcionário: São cinco pratas, deverão ser pagas diretas no caixa.
Mulher: Guia? Mas o corredor do supermercado não é livre? Eu não posso simplesmente parar o meu carrinho sem precisar pagar nada a ninguém?
Funcionário: Não. (sorri)
Mulher: Mas não é possível! Agora tudo é pago?
Funcionário: Sim. (sorrindo com águia estendida)
Mulher: Isso é um serviço independente de um trabalhador autônomo?
Funcionário: Não. Isso é um trabalho regulamentado com carteira assinada promovido por grandes estatais. (estende a guia num gesto mais impositivo)
Mulher: E se eu não pagar? O que vai fazer?
Funcionário: (sorrindo) Irei contar com a eficácia da segurança pública.
(entram os mesmo policiais olhando para ela, ameaçadores)
Mulher: ( pega a guia constrangida) Cinco pratas, né...
Funcionário: Por quatro horas, se ultrapassar o limite do tempo, sobe para oito.
Mulher: Oito??? Poxa, isso não pode ser assim e... (policiais avançam) Aceita cartão? (sorri)
Funcionários: Sim senhora. Alguma dúvida mais?
Mulher: (sorri amarelo) Não obrigada.
Funcionário: Por nada. Tenha um bom dia. (sai)
Mulher: (olha para o cereal e olha para a guia. Desiste do cereal e o devolve para a prateleira. Sai de fininho)
Fim.

Vídeo da cena

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REAÇÕES IMPROVÁVEIS AO GANHAR A MEGA SENA
Leandro Muniz


Mãe e Homem fazem todos os diversos pequenos diálogos a seguir. Ao final de cada encontro, voltam para uma posição inicial, configurando que aquela micro cena terminou, e começará uma nova. O objetivo é que a emenda entre cada ceninha seja muito rápida, clipada, para que a repetição do mesmo encontro e a velocidade, sejam a graça de tudo.

1.

HOMEM
Mãe, eu preciso falar com a senhora.
MÃE
Já sei. É dinheiro?
HOMEM (explode)
É!  Ganhei na Mega Sena porra!
MÃE
Tá bom meu filho, então vai dar um jeito no seu banheiro antes de dormir, que tá um nojo.

2.

HOMEM
Mãe, eu preciso te falar uma coisa.
MÃE
Fala meu filho.
HOMEM
Senta.
MÃE
Filho, não precisa dizer nada. Eu vi as revistas no seu quarto. Por mim tudo bem você ser homossexual, aquele moço dos Menudos por exemplo...
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena.
MÃE (anima-se)
Pô, tu é mó sortudo hein viado?

3.
HOMEM
Mãe, ganhei na mega sena!
MÃE (como quem perdeu a memória)
Quem é você?
HOMEM
Mãe, pára de brincadeira!
MÃE
Mãe?
HOMEM
Ganhei mãe, a mega sena!

MÃE
Eu sou mãe?
HOMEM (desesperado)
Alguém ajuda!

4.
HOMEM
Mãe, eu preciso te contar uma coisa muito séria!
MÃE
O que meu filho?
HOMEM
Eu estou com câncer.
MÃE (chocada)
O que?
 HOMEM
Sacanagem, eu ganhei na mega sena!

Mãe fica puta.

5.

HOMEM
Mãe, eu ganhei! Ganhei na mega sena!
MÃE ( saca um revólver)
Cala a boca, perdeu perdeu, passa esse bilhete agora porra! Quer morrer?

6.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena!
MULHER
Sei, e a faculdade? Nada né?

7.
HOMEM (pulando de alegria)
Mãe? Eu ganhei na mega sena porra!

Mãe cai morta.

8.
HOMEM (eufórico e feliz pulando)
Ganhei na Mega sena!
MULHER (eufórica e feliz, pulando junto)
E eu tenho um tumor nos ovários!

9.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena!
MÃE ( olhando a tv atentamente)
Peraí, só um segundo que o Dodô vai bater um pênalti. Putz, na trave!

10.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na mega sena...

MÃE vira-se e enforca o filho até ele cair no chão e morrer.


HOMEM (agonizando)
Socorro!
MÃE
Eu vou pra Grécia sozinha Otávio, sozinha!

11.
HOMEM
Mãe, eu ganhei na Mega Sena!
MÃE
Que bom filho, joga na loteria agora.

12.

HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE (chora)
Eu não acredito! E o projeto BBB 11, você vai jogar todo no ralo! Seu inútil!

13.
HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE
Ótimo filho, agora investe no Clube da Cena.

14.
HOMEM
Mãe, ganhei na Mega sena!
MÃE
Filho! Não acredito! Estamos ricos! Toma, come essa maça aqui.

Homem morde a maça.

MÃE (falando com voz de neném)
Mas me conta, cadê o bilhete premiado di mamãe?
HOMEM (mostra o bilhete)
Ta aqui mãe
MÃE
Meu Deus, que orgulho, de você...

Homem começa a passar mal e morre com a maça envenenada. Mãe dá uma risada maquiavélica. A luz vai baixando lentamente, enquanto entra uma voz gravada, em off.


OFF ( já com o palco apagado)
E atenção para os números sorteados da Mega Sena, concurso número 1167.
Os números são 4, 9, 24, 37, 48, 57.

A luz acende. HOMEM e MÃE estão de mãos dadas, torcendo, com um bilhete em mãos. Desanimam.


HOMEM
É... Não foi dessa vez...
MÃE
Poxa, nem um numerozinho acertamos.
HOMEM ( choroso)
Saco...
MÃE
Filho, não fica assim. Dinheiro não é tudo.
HOMEM
É, não trás felicidade.
MÃE
Exatamente. Sabe o que trás felicidade?
HOMEM
O que?
MÃE
Você dá um jeito naquele seu banheiro Otávio, ta um nojo, vai lá vai!
HOMEM
Ah, mãe...
MÃE (beija-lhe a testa)
Vai filho, anda.

Homem vai saindo.

MÃE
Esse menino é o meu tesouro!


Fim

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