Um velho do lado esquerdo do palco e uma velha do lado direito, falam com a platéia. È tudo muito suave, num tom de intimidade.
VELHO: A primeira vez que eu vi a Maria Flor foi numa festa, na casa do Ernesto,. (música de bossa nova), ela tava dançando... Ela tava linda! Tava com os cabelos soltos, como ela usava naquela época.
VELHA: Eu estava com as sandálias francesas da mamãe...
VELHO: Eu fiquei hipnotizado por ela.
VELHA: Eu nem notei o Otávio.
VELHO: Fiquei observando-a de longe a noite inteira.
VELHA: Fiquei conversando com os meus amigos a noite inteira.
VELHO: Ela era o centro da roda. Sempre. Acho que era o sorriso dela. Seu sorriso era a luz e nós éramos as moscas.
VELHA: Eu tava tão feliz! Eu tinha acabado de dirigir minha primeira peça e tinha saído uma crítica maravilhosa justamente naquele dia.
VELHO: Tinha muita gente importante na festa, artistas, intelectuais... E todos os homens de olho nela. Chamavam-na pra dançar, traziam drinks, paqueravam.
VELHA: Mas eu só queria me divertir, eu tava leve.
VELHO: Eu queria me aproximar mas não tinha coragem. Na verdade eu não achava que nada em mim pudesse interessá-la. Eu era muito duro naquela época e se a grana era pouca, a auto-estima então, era menor ainda.
VELHA: A noite foi passando e os rapazes foram ficando mais insistentes e mais entediantes também.
VELHO: Lá pelas tantas eu desisti de vez de me aproximar e resolvi descontar a minha covardia na bebida. A bebida é a melhor amiga dos covardes. Bebi todas.
VELHA: Finalmente chegou a hora do violão. Sempre rolava uma rodinha de violão nas madrugadas do Ernesto. Ah, era tão bom! (seria legal a atriz cantar Chico ou algo de bossa nova)
VELHO: Meu Deus, ela ainda cantava! Puta merda e agora? Num impulso ébrio eu resolvi que ia pegá-la nos braços e levá-la comigo pra casa, cantando.
VELHA: O Otávio surgiu no meio da roda, me puxou pela mão e...
VELHO: Eu vomitei, vomitei toda a minha covardia misturada com cuba libre em cima dela. A roda parou, a festa parou, o violão calou e eu queria morrer.
VELHA: Ele ficou tão envergonhado, coitado. Pediu desculpas. Disse que só queria me conhecer e que...
VELHO: ... (pra ela ) eu não devia ter bebido tanto, mas você, você é linda demais, poxa, assim até ofende! E eu... e eu sou um Zé ninguém. Eu sou a mosca, compreende? A mosca! (volta ao presente) Falei pra ela o que me roía a alma.
VELHA: Ele enrolava a língua, guaguejava, tão frágil... e eu me apaixonei. Pela primeira vez na minha vida eu me apaixonei.
VELHO: Ela ficou ali me olhando e eu só queria sumir dali.
VELHA: Peguei o Otávio pela mão e o levei para o banheiro. Limpei-o com um cuidado apaixonado. Dei-lhe água para beber e dei-lhe também nosso primeiro beijo. Na boca. Naquela mesma noite começamos a namorar.
VELHO: Namorar a Maria Flor era o sonho de qualquer rapaz. E eu tinha sido o escolhido. Mas eu não conseguia entender o que ela tinha visto em mim.
Às vezes eu me pegava de boca aberta, olhando pra ela.
VELHA: Passado um mês eu descobri: Otávio era o homem da minha vida. Fui ter uma conversa franca com Otávio. (para ele) Eu quero me casar com você Otávio. Quero passar a vida ao seu lado.
VELHO: Mas por quê?
VELHA: Não sei. Eu simplesmente quero.
VELHO: E então eu compreendi. Não podia ficar com Maria Flor nem mais um dia. Ela era perfeita, perfeita demais pra mim. Ela era a luz e eu era a mosca. E sempre seria assim. Acabei tudo ali mesmo e me afastei.
VELHA: Emagreci a olhos vistos, não conseguia mais viver sem ele. O amor vicia.
VELHO: Me mudei para Belo Horizonte, queria ficar distante de qualquer notícia dela. De qualquer traço do seu perfume.
VELHA: Eu chorei, chorei meses, anos. E fiz o que todo mundo faz quando é abandonado. Pensei no que eu ia fazer no dia em que ficasse cara a cara com ele. Me imaginei linda, bem-casada, com filhos, eu ia sorrir e dizer que era a mulher mais feliz do mundo sem ele. Otávio me olharia triste, como um cão abandonado e me diria que tinha se arrependido. Mas agora era tarde.
VELHO: Todas as noites, antes de dormir eu me perguntava como ela estaria. Mais linda ainda, certamente, a cada dia mais linda, mais cheia de vida, mais cheia de admiradores. A esta altura já devia estar casada com algum doutor e talvez até com filhos.
VELHA: Planejei vinganças. Passaria direto por ele, nem o cumprimentaria. Canalha, como é que ele me deixava assim, como quem joga fora um lápis?
VELHO: Os anos foram passando...
VELHA: E eu vivi a minha vida...
VELHO: sem grandes alegrias nem tristezas...
VELHA: uma vida morna.
VELHO: Mas um dia, 40 anos depois daquela festa, eu fui ao Rio resolver um assunto de herança e na volta, ao me sentar no avião, um choque, quem estava na poltrona vizinha? Maria Flor. Ela dormia, dormia profundamente, na poltrona vizinha à minha.
VELHA: Eu tava muito cansada, tava voltando com toda a minha mudança de São Paulo. Assim que entrei no avião, adormeci.
VELHO: Passei a viagem toda olhando para ela. Ouvia sua respiração. Sentia seu perfume. O mesmo perfume de tantos anos atrás. Tantas vezes pensei em como seria encontrá-la novamente, imaginava-a ao lado de seu marido ou com amigos rindo ou cantando, como na festa. Nunca assim, dormindo, nunca assim desamparada. Tão abatida, tão frágil.
VELHA: Eu estava me separando de um marido que nunca amei.
VELHO: Maria Flor sempre foi para mim uma força da natureza, uma fortaleza, inexpugnável. Nunca imaginei, nem por um segundo, que pudesse vê-la assim indefesa, vulnerável. Nesse momento, o avião teve uma pequena turbulência e sua cabeça pousou suavemente em meu ombro, adormecida. Então, depois de todos esses anos, eu finalmente compreendi. Maria Flor precisava de mim.
(opcional) VELHA: E desse dia em diante, minha cabeça nunca mais saiu daqui.
(Um casal extremamente simpático aguarda atendimento numa clínica. Ele insinua-se para ela e ela o corresponde timidamente. Percebem-se quase que sem querer que um ou outro note que se observam . Ficam nisso durante um tempo até que ele deixe escapar a primeira frase.)
Norberto
Sabia que você é interessante?
Dagmar
Interessante?
Norberto
É, interessante!
Dagmar
Interessante como?
Norberto
Ah, Interessante, ué...
Dagmar (cheia de si)
Ah! Você também é... Interessante!
Norberto
Ah! Obrigado!
(Silêncio)
Norberto
Estranha a demora, não é?
Dagmar
Clínica barata!
Norberto
É... Tem razão. Você é de onde, mesmo?
Dagmar
Sou do Rio e você?
Norberto
Sou de Sampa.
Dagmar
Olha...
Norberto
Longe, né?
Dagmar
Que nada! De avião é um pulo! Metrópoles vizinhas!
Norberto
É.
Dagmar
São Paulo! Interessante! (pausa)São Paulo é tudo!
Norberto (rindo)
É sim... É bem bacana... Mas eu adoro o Rio.
Dagmar
Mesmo?
Norberto
Adoro. Pra mim, o Rio que é tudo!
Dagmar
E por que?
Norberto
As mulheres são mais bonitas!
Dagmar (totalmente sem graça)
Ah...
(Silêncio. Ambos ficam meio constrangidos)
Norberto
Desculpa te perguntar, mas... Você veio se consultar aqui por quê?
Dagmar
Falta de dinheiro.
Norberto
Mas você tem o que? Assim... Fisicamente?
Dagmar
De doença, você fala?
Norberto
É.
Dagmar
Nada! Exame de rotina... Colesterol, glicose, hemograma... Besteira minha! Cuidados... Sabe como é...
Norberto
Ah... Que bom então, né?
Dagmar
É.
(Pausa)
Norberto
Cara, eu queria te falar uma coisa desde que você chegou, mas... eu não tive coragem! Mas agora que começamos um assunto, acho que fico mais à vontade...
Dagmar
Então fala, ué...
Norberto
Sabia que seus olhos são lindos?
Dagmar
Ah! Obrigada.
Norberto
São mesmo! Bem bonitos! São verdes, né?
Dagmar
É são assim meio Furta-cor, sabe?! Eles mudam. No verão ficam meio que azul.
Norberto
Sei... (pausa) Chega aí... (Fazendo sinal para que ela chegue mais perto. Ela chega.) É... Já te aconteceu de você estar num lugar diferente assim, tipo uma clínica e... desejar uma outra pessoa?
Dagmar
Não. Por que a pergunta?
Norberto
É por que está acontecendo comigo agora, entendeu?
Dagmar (Gostando, mas totalmente sem graça)
Está falando sério?
Norberto
Estou.
Dagmar
Olha! Interessante! Diferente, né? Numa clínica!
Norberto
É... é sim... é... Bem louco isso!
(Pausa)
Dagmar (chamando-o também. Ele se aproxima.)
Ai... Posso te confessar uma coisa?
Norberto
Pode, claro!
Dagmar
Eu menti pra você!
Norberto
O que... Você não é do Rio?
Dagmar
Não!
Norberto
Você usa lente!
Dagmar
Não! É que... Está acontecendo isso comigo agora também, entendeu?
Norberto
Ah, Olha... Interessante! E o que a gente faz com isso?
Dagmar
Não sei...
(Silêncio. Pausa longa... Eles se olham... riem um para o outro e desviando o olhar...)
Norberto
Acho que vai demorar até sermos atendidos!
Dagmar
Vai.
Norberto
A gente bem que poderia dar uma saidinha, né? O que você acha?
Dagmar
Ah, eu acho que não há mal... Pode ser interessante!
Norberto
Também acho! Vamos?
Dagmar
Mas aonde?
Norberto
Ali, no telhado!
Dagmar
No telhado?
Norberto
É.
Dagmar
Não é perigoso?
Norberto
Bom, aí Depende, né?!
Dagmar
Depende de que?
Norberto
Se a gente se segura... Né?
Dagmar
Hum... Entendi...
Norberto
Então? Vamos?
(Esquecendo a tímida e apostando na ousada:)
Dagmar
Vamos sim. Vamos.
Norberto (Em tom de segredo e terminando quase que com mais gestos que fala)
Tá bom, então... Olha só: Eu acho que tem muita gente aqui, reparando no nosso papo sabe? Então... Eu vou primeiro... depois você vai, tá??!
Dagmar
Tá bom, eu vou... Pode deixar! Tchau!
Norberto
Tchau!
(Ela disfarça um pouco com a pessoa mais próxima da platéia. Fala do Clima, ou de algo que aconteceu no dia a dia da cidade... Depois dá uma desculpa qualquer, se despede e ao som de uma música faz o percurso até o telhado. No telhado, eles se olham, se abraçam, ajudam-se no equilíbrio e procuram o sexo em lugar poético e incomum. Ao fim disto, deitam-se no chão, um de frente ao outro.)
Dagmar (eufórica)
Ai, essa foi a coisa mais louca que eu já fiz na vida!
Norberto
Eu também.
Dagmar
Tão bom fazer essas coisas no telhado! Nunca fiz.
Norberto
Nem eu.
Dagmar
Assim à luz do dia... No começo fiquei receosa. Mas depois não... Você me segurou muito! Nem tive medo de cair.
Norberto
Se caísse não teria problema!
Dagmar
Como assim?
Norberto
Não dá pra morrer.
Dagmar
É, mas eu me machucaria! Eu Acho. Ai, mas foi tão bom... Eu estava de olho em você desde a sua chegada!
Norberto
Verdade?
Dagmar
Verdade! Eu acredito em amor à primeira vista, e você?
Norberto
Eu não.
(Extremamente Delicada)
Dagmar
E se eu te disser que estou apaixonada?
Norberto
Apaixonada...
Dagmar
É sim, apaixonada! (Sentando-se)Quer casar comigo?
Norberto (Sentando-se)
Não.
Dagmar
Por quê?
Norberto
Porque você é burra!
Dagmar
Burra?
Norberto
Burra!
Dagmar
Eu não sou burra!
Norberto
É sim.
Dagmar
Não, eu não sou!
Norberto (quase fora de si)
É sim! É! É...
Dagmar
Mas por quê?
Norberto
Porque nós vamos morrer.
Dagmar
Como assim? Um dia todo mundo morre, meu filho! Está querendo me matar?
Na semana que vem, o Clube da Cena apresentará 7 cenas diferentes sobre o tema FESTA.
Para isso, o elenco MAR foi dividido, através de sorteio, em 7 duplas. E cada dupla ficará responsável por transformar em cena cada um dos 7 textos escritos.
Veja abaixo o resultado do sorteio.
Autor - Atores
Cristina fagundes - Marcelo Dias e Cecília Hoeltz
Leandro Muniz - Eber Inácio e Cacau Berredo
Ivan Fernandes - Alexandre Barros e Renata Tobelem
Fábio Porchat - Thaís Lopes e Cristina Fagundes
Cláudio Torres - Jorge Neves e Luis Lobianco
Renata Mizrahi - Fernanda Baronne e Marino Rocha Jô Bilac - Mariana Consoli e Flávia Espírito Santo
O Clube da Cena mais uma vez está abrindo oportunidade de participação para dramaturgos de todo o Brasil.
Para participar, basta enviar um texto de até 7 minutos de duração sobre o tema Rio 2016 até segunda, dia 26/10, mencionando o nome da cidade e Estado.
Os textos selecionados serão encenados e os seus autores receberão 1,5 % do bruto da bilheteria do dia.
Um casal de atores. Eles estão juntinhos. Ela tenta encontrar a melhor hora para começar uma convesa Lu: Rob, a gente tá precisando conversar sério. Rob: Isso. Continua. Lu: Continua o quê? Rob: Você tá indo muito bem. Lu: É mesmo? Rob: Vai. Continua. Lu: Então, Rob, eu acho melhor a gente parar por aqui. Rob: Assim você vai arrasar. Lu: Arrasar? Rob: Genial, continua. Lu: Rob, Rob, você tá ouvindo o que eu tô falando? Rob: Esse é o tom. Esse é o tom. Lu: Que tom, Rob? Do que você tá falando? Rob: Meu amor, você vai arrasar. Lu: Arrasar o quê, meu Deus? Rob: Você é a melhor atriz que eu conheço. Lu: Ah! Me escuta, por favor. Eu quero terminar com você. Eu não tô atuando. Você acha que eu não tô falando sério? EU TÔ FALANDO SÉRIO! (silêncio) Rob: É sério? (silêncio) Lu: Ah, brincadeira! Não!! É serio. Rob: É sério ou não é serio? Lu: É serio. É serio, é que foi no timing, eu não podia perder o timing. Rob (exagerado): Não se separa de mim, não se separa de mim. E os nossos filhos, a nossa casa? Minha mãe que te adora? Lu: Filhos, casa, da onde você tirou isso? Rob: Gostou, né? Gostou. Vou gravar essa cena amanhã. Tá muito bom, né? Sinto que o meu personagem vai crescer muito. Depois que for ar, vai chover convites para comercial, você vai ver! Lu: Não, Rob. Vamos parar com isso. Será que a gente não consegue não atuar pelo menos uma vez na nossa relação? (silêncio.) Rob: Essa pausa foi bem dramática. Lu: É. Foi. Rob: Se fosse ensaiado não ia ficar tão bom, né? Lu: É. Rob: Se soubesse que ia ficar tão bom, tinha até filmado pra gente colocar no you tube. Lu: Vamos tentar retomar, Rob. Vamos tentar retomar. Rob: Por que você quer tanto falar desse assunto? Você sabe do sentimento que eu tenho por você. Lu: Rob pára de atuar, eu tô falando sério. Rob: Mas eu não atuei, eu falei sério. Lu (debochando): Tá, falou. E sabia que eu consegui o papel de estrela da próxima novela do Gilberto Braga? Rob: Eu disse que você ia conseguir. Lu: Rob, eu tô brincando. Rob: Tá brincando por quê? Você tem mania de falar tudo brincando. Lu: É você, Rob, é você que nunca fala sério. Rob: Mas eu tô falando sério. Lu: Caramba, Rob, fala sério. Rob: O que você quer, Lu? Quer terminar é isso? Lu: É Rob, eu quero terminar. Rob: Então! Eu tô dizendo para gente não terminar, para gente tentar... Lu: Rob, esse é o texto da sua próxima cena. Rob: Finalmente eu consegui decorar. (ela chora) Rob: Não chora. Lu: A gente não consegue ter um relacionamento de verdade. Rob: Calma, amor, eu te amo de verdade. (ela pára de chorar subitamente) Lu: Consegui! Consegui! Rob: O quê? Lu: Consegui, Rob, consegui a técnica da lágrima. Viu como saiu lágrima de mim? Eu entendi a técnica, eu entendi! (Ela o abraça) Rob: Então não vamos mais terminar. (ela o afasta) Lu: Não, Rob, não confunde as coisas. Rob: Mas quem tá me confundido agora é você. Lu: A gente tem que terminar. Desse jeito é impossível. Rob: Não é impossível. Por que é impossível? Lu: Rob, quando a gente tá na cama, eu nunca sei se quando você me diz aquelas coisas, é de verdade ou não. Rob: É você que tá colocando coisas onde não tem. Lu: É? Então diz que me ama de verdade. Sem atuar. Rob: Eu te amo de verdade. Lu: Tá vendo? Você não consegue. Rob: Mas eu falei de verdade! Lu: Mas eu não acredito mais em você. Vamos parar por aqui. Vamos acabar de vez com isso. Eu sabia que não ia dar certo namorar ator. Ainda mais que trabalha comigo na novela! Rob: Deixa pelo o menos eu te abraçar. Lu: De verdade? Rob: De verdade. (ele se abraçam) Rob: E agora o que a gente faz? Lu: Seria perfeito se a gente começasse a dançar como naquele filme “O último tango em Paris.” (eles começam a dançar) Rob: Tá vendo? Você também não consegue. Lu: Isso não é vida, Rob. Rob: Por que não? Por que não? Lu: Eu admito, eu também tô presa nesse vício, mas eu quero dar um basta nisso. Rob: O que podemos fazer? (continuam dançando) Lu: Rob, vamos nos proibir de atuar um com o outro. É a única coisa que podemos fazer. Rob: Tudo bem. Eu não atuo mais com você. Nem você comigo. Lu: Isso. Não podemos deixar que a nossa profissão seja mais forte que as nossas vidas, meu amor. Rob: Você tem toda a razão. Lu: Só assim poderemos realmente ser felizes e nos amar de verdade. Naturalmente. Rob: Fala de novo, de novo. Lu: O quê? Rob: Repete o que acabou de falar, vai, por favor. Lu: Mas a gente acabou de combinar! Rob: Imagine que a câmara tá naquela direção. Repete o texto pra aquela direção, ok? Lu: Rob, eu não acredito... Rob: Por favor, please! (ela faz na direção que ele pediu) Lu: Assim poderemos realmente ser felizes e nos amar de verdade. Naturalmente. Rob: Meu amor, você é tão boa atriz... Lu: Você acha mesmo? Rob: Sempre achei. Lu: Não, não, não, não! Chega, chega! É tão insuportável.A gente não consegue, chega! Acabou. Adeus, Rob. Não dá! Adeus! (ela sai correndo. Ele fica) Rob: Ó minha amada, não me deixa assim na escuridão, já que é a sua luz que alimenta minha alma. Como ficarei agora sem você, perdido num mar de desilusões? Meu corpo é como o fogo e você água que o apaga. Volte para mim, ó brisa serena, lua alva que me guia na noite sem fim. Sou eu, seu amor clamando desesperado. Não me abandones assim. (ele percebe o que acabou de falar) Rob: Caramba. Me superei. Mandei muito. Uau. Essa nem eu esperava. Vou mostrar pro autor. Quem sabe ele aumenta o meu papel e eu passe a ser o protagonista. (Ele começa repetir o que acabou de fazer, pensando em várias formas de mostrar ao autor, animado com a possibilidade de seu personagem crescer. Esquece que foi deixado.)
R – Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? (entra Julieta) Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que és mais formosa do que ela.
(ouvimos um plim plim)
R - Pô Julieta, tá o maior sol! Vamos pegar uma praia? (tira a camisa, revelando uma barriga-tanquinho, de plástico ou papelão, colada sobre a barriga do ator)
J - Ih, qual é, Romeu? Tu é do núcleo pobre da novela! Nunca que os meus pais vão deixar a nossa relação acontecer.
R - Mas se a gente der ibope, eu garanto que eles deixam. É só o público torcer pela gente. Afinal, eu sou o galã e você é a...
J - Olha...
R -...Galoa. Mas você tá com muita roupa pro horário, Juju; assim não dá ibope.
J - Você acha? Exagerei?
R - Você não vê a novela da concorrência? Se passa numa praia. O que é que se usa numa praia?
J - Ah, é por isso que passaram nossa cena pra luz do dia? Mas isso não faz sentido. Você não entra aqui escondido pelas trevas da noite? Como é que ninguém te viu, então, com esse baita sol?
R - Não faz pergunta difícil. O importante é que a gente vai à praia. Praia dá ibope.
J - Dá ibope pra você que só precisa tirar a camisa. Mas você acha que alguma mulher acorda com esse cabelo? Calcula a hora que eu tenho que chegar na sala de maquiagem.
(batidas de Moliére)
J – Ai de mim!
R – Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante!
J – Romeu, Romeu! Meu inimigo é apenas o teu nome. Mas o que é um Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob outro nome teria o mesmo perfume.
(plim plim)
R - Pô, mas tu fala muito, garota. Bora se beijar logo.
J - Você acha que eu quero compromisso com pobre? Eu visto de Prada pra cima, meu amor. Sente as jóias. Vai bancar? Acha que eu vou topar ser garçonete? Balconista? Operadora de telemarketing? Olha essa mansão. Consegue ver onde ela termina? Pra eu sair da casa do papai só pra ir pra uma igual.
R - Pô, mas tu é muito exigente. E cadê o amor?
J - Amor é o caralho. Quero vida de princesa.
R - Pô, assim pegou pesado. Ficou forte. Pra esse horário não vai passar esse diálogo não.
J - É fácil. A gente põe um funk. (entra uma base funk. Canta) Amor é o caralho / quero vida de princesa (dançam funk até o chão, etc. depois de um tempo, julieta sinaliza para o fim da música ) Pronto. Agora virou cultura popular.
(batidas de Moliére)
R – Senhora, juro pela santa lua que acairela de prata as belas frondes de todas essas árvores frutíferas...
J – Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, pra que não pareça que teu amor, também, é assim mutável.
R – Pelo quê devo jurar?
(Plim plim)
J - Jure pelo novo cartão de crédito do banco Rosemberg! (tira do vestido e mostra) Só ele dá 60 dias pra pagar. Com ele, você pode me dar uma vida de princesa, amor.
R - Puxa, mas será que um cara pobre como eu poderá ter um cartão de crédito do banco Rosemberg?
J - Mas é claro! O cartão de crédito do banco Rosemberg é aberto a todos os tipos de deficientes. Adquira já o seu! (joga o cartão para ele)
(batidas de Moliére)
VOZ DAS COXIAS – Julieta!
J – Romeu querido, só mais 3 palavrinhas, e boa noite. Se esse amoroso pendor for honesto, amanhã cedo me envie uma palavra pela pessoa que eu te mandar, dizendo quando e onde pretende realizar o casamento, que a teus pés depositarei minha ventura, para seguir-te pelo mundo todo como senhor e esposo.
(Plim plim)
R - Mas casamento é só no último capítulo!
J - Não, idiota. No último capítulo a gente morre.
R - O quê??
J – Você não leu o script não?
R – Mas eles não podem nos matar! Nós somos o casal de maior apelo! Quero falar com meu agente agora! (pega um celular e liga) Alô, Pontes! Que história é essa? (ouve) Ah... (ouve) Ah... (ouve) Então tá. (desliga. para Julieta) Viu? Nós vamos gravar um final alternativo passando a lua de mel em São Lourenço.
J – São Lourenço?! Que coisa mais ultrapassada! Eu quero Miami.
R – Miami não cabe no meu bolso, nem. E as pesquisas mostram que o público quer ver você no núcleo pobre.
J – Ah, não. Dançar funk foi a minha última concessão.
(batidas de Moliére)
VOZ NAS COXIAS – Julieta!
J – A que horas devo mandar alguém para falar-te?
R – Às nove horas.
J – Sem falta. Só parece que até lá são vinte anos. Esqueci-me do que tinha a dizer.
R – Deixe que eu fique parado aqui, até que te recordes.
J – Então eu continuaria esquecendo, só pra que ficasses aí parado, me lembrando de como adoro tua companhia.
R – E eu ficaria, pra que esquecesses sempre...
(plim plim)
J – Eles ficam esticando muito a história, dá nisso. A gente não tem mais nada pra dizer. Tremenda barriga!
R – Quê isso, gata! Barriga aqui só a minha! (estufa)
J – Como é que a gente encerra o bloco? Já tá quase na hora do comercial.
R – Fácil. Chega de papo. Põe aquele teu biquininho e desce.
Na semana que vem, o Clube da Cena apresentará 7 cenas diferentes sobre o tema VIZINHO.
Para isso, o elenco TERRA foi dividido, através de sorteio, em 7 duplas. E cada dupla ficará responsável por transformar em cena cada um dos 7 textos escritos.
Veja abaixo o resultado do sorteio.
Autor - Atores
Cristina fagundes - Renato Albuquerque e Mariana Santos
TEXTO É QUE NEM FILHO. PRIMEIRO A GENTE FAZ, DEPOIS A GENTE DÁ O NOME
Leandro Muniz
Padre Flávio Alberto está em sua sacristia. Entra uma jovem mulher, Joana.
Padre é muito sério, principalmente de início, e embora fale barbaridades, não é afeminado.
JOANA
Padre?
PADRE
Joana.
JOANA
Desculpe padre, entrar assim desse jeito.
PADRE
Você podia ter entrado dando uma cambalhota, seria mais criativo. Mas não faz mal.
JOANA
O que padre?
PADRE
Brincadeirinha. Fiz piada, entendeu?
JOANA
Entendi.
PADRE
Sou padre, mas também sou filho de Deus.
JOANA
Sim
PADRE
Tá vendo como eu sou engraçado?
JOANA
Claro, o senhor tem ótimo senso de humor.
PADRE
Senhor está no céu. Aliás, ele ( aponta pra cima) também tem senso de humor.
JOANA
Acha mesmo padre?
PADRE
Claro, não acha muito engraçado por exemplo, quando a igreja católica propõe que o amor conjugal tenha uma fidelidade inviolável! Não é patético Joana?
JOANA (espanta-se)
Mas padre...
PADRE
Ahá! Piadinha de novo!
JOANA ( ri desconcertada)
Nossa, que susto! O senhor é mesmo muito espirituoso.
PADRE
Me chame de Flávio, apenas Flávio Alberto. Flávio Alberto de Almeida. Flávia Alberto de Almeida, o cantor apenas. Diga.
JOANA
Flávio Alberto.
PADRE
De Almeida, o cantor...
JOANA
De Almeida, o cantor.
PADRE
Adoro isso.
JOANA
Padre, vim lhe falar...
PADRE
Adoro ser chamado de “O cantor”, ou “Aquele padre que canta”, ou somente “ Padre Flávio”, ou ainda “O da canção: Levanta essa batina e vem pra festa”. Desculpe, você falava...
JOANA
Ah, sim padre, venho lhe falar de algo que tem acontecido entre mim e meu noivo.
PADRE
Sim Joana, seu noivo, me lembro. Otávio não é?
JOANA
Isso padre.
PADRE
Uma delícia.
JOANA
Como?
PADRE
Como. Uma delícia de companhia, um rapaz do bem, mas você falava...
JOANA
Sim, padre Flávio (pausa, e depois fala entediada) Alberto de Almeida, o cantor. Tenho vivido conflitos que estão tirando o meu sono. É difícil resolver, pois minha família mudou-se recentemente, todos sabem, estou só e sinto falta de minha prima, com quem eu dividia minhas questões...
PADRE
A Margareth?
JOANA
Sim
PADRE (como se lembrasse com leve tesão)
Hum...
JOANA ( nervosa)
Ela sempre me dava conselhos quando os rapazes iam longe demais. Essa cidade tem paredes que têm ouvidos, todos se conhecem, não sei mais em quem confiar!
PADRE
Entendo perfeitamente devotada Joana, mas acalma teu coração. Não sabes que estou sempre aqui, se você quiser, e vier, pro que der e vier contigo Joana? Jesus disse em voz alta diante do túmulo de Lázaro: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês e terei que suportá-los? Traga-me aqui o seu filho”. Lucas, capítulo nove, do versículo trinta e sete ao quarenta e um.
JOANA
E o que quer dizer padre?
PADRE
Não sei. Mas é uma passagem que gosto bastante.
JOANA
Entendi.
PADRE
Gosta bastante do seu namorado Joana?
JOANA
Noivo. Claro padre.
PADRE
Otávio né?
JOANA
Sim
PADRE
Uma “coisa” aquele menino... Mas você falava...
JOANA
Sim padre, dizia que tenho dúvidas quanto a conduta de Otávio. Ele anda estranho, extremamente carinhoso, mas apressado, querendo tirar de mim a todo custo... O senhor sabe...
PADRE
A roupa?
JOANA
Eu ia dizer inocência.
PADRE
Que seja. Joana. Joana, responda com sinceridade : Acredita mesmo que ele...
Entra Sacristão.
SACRISTÃO
Desculpe padre, não sabia que estava ocupado.
PADRE
Não se preocupe. Conhece Joana?
SACRISTÃO
Não sei.
PADRE
Namorada de Otávio.
JOANA
Noiva.
SACRISTÃO
Ah sim, Otávio? Hum...
PADRE
Rapaz galante, Joana tem bom gosto.
SACRISTÃO
Quer que eu volte outra hora?
PADRE
Não. Joana se importa que ele fique? Não vai demorar.
JOANA
Não, de forma alguma.
PADRE
Ótimo. Você falava... Ah sim, que ele tirou sua roupa.
Sacristão começa a massagear Padre.
JOANA
Não padre! Você disse isso.
PADRE
Prossiga, prossiga.
JOANA
Acho que Otávio tem uma pressa em acelerar as coisas, e a igreja católica é clara quanto ao sexo fora do casamento.
PADRE
Ai, mais pra baixo...
JOANA
Perdão?
PADRE
Falei com ele. Prossiga, prossiga, que delicia esse dedão! Mais pra baixo. Aí, pára aí, ai que dor na lombar... Continue Joana.
JOANA
A verdade é que não sei se o amo, entende?
PADRE
Mas sente tesão?
JOANA
O que padre?!
PADRE
Devota Joana, acalma seu coração. Afinal, o rapaz é um gostoso, não é Almeida?
SACRISTÃO
É sim senhor.
PADRE
Pode ir Almeida. Você já contribuiu bastante.
SACRISTÃO
Te espero lá em casa as onze?
PADRE
Não vou poder. Hoje tenho ensaio. Farei participação no show da banda Chocolate Sensual. Mas mande um beijo pros rapazes, em especial pro Fabão.
SACRISTÃO
Benção padre.
PADRE
Deus te abençoe Almeida.
Sacristão sai.
PADRE
Essa minha lombar, sei não. Os shows têm sido muito cansativos.
JOANA
Aliás parabéns, padre. Suas missas estão cada vez mais criativas.
PADRE
Obrigado.
JOANA
O senhor não tem medo de ficar pendurado no Santo Antônio?
PADRE
Já estou acostumado.
JOANA
O uísque em vez do vinho também foi uma novidade.
PADRE
Esse povo precisa experimentar coisas novas.
JOANA
Mas confesso que fiquei um pouco agoniada hoje quando o senhor usou aqueles malabares com fogo.
PADRE
Gosta de fogo Joana?
JOANA
Acho bonito padre.
PADRE
Joana, então se gosta, deixe o fogo se espalhar Joana!
JOANA
O que?
PADRE
Espalhar por esse corpo, que arde, que pulsa, quando o Otávio enfia as mãos nessas tuas coxas...
JOANA
Padre o que é isso?
PADRE (aproximando-se de Joana)
Quando ele toca nesses mamilos, lambe seu pescoço, e acaricia essa pele sedenta!Admita! Você está doida para ser possuída por esse desejo, Joana! Não lute contra ele! Viva, Joana! Viva esse amor! Mesmo que seja só sexo! Goze Joana!
JOANA
O senhor está louco! Afaste-se de mim!
PADRE ( sacode- a, segurando pelos braços)
Você precisa regozijar! Regozijar! E deixe o rapaz regozijar em você também!
JOANA
Socorro!
PADRE
Joana, eu me lembro como se fosse hoje. Eu e meus primos, correndo suados pelas ruelas da cidade. Aquela noite fria, num trecho escuro, saltitava extasiado... De repente tropecei numa pedra, e quando dei por mim, já tinha dado. A vida Joana, é pra ser vivida!
JOANA
Me larga!
PADRE
Quem nunca fez uma “meinha”?
JOANA
Larga!
PADRE
Uma suruba, uma pegação numa sauna...
JOANA
Socorro!
PADRE
Um botox, um boquete numa devota! Você gosta do meu botox, Joana?
JOANA
Padre nojento, me larga!
PADRE ( deitando Joana e fazendo movimentos pélvicos em cima dela, cantarola)
Levanta essa batina e vem pra festa! Levanta essa batina e vem pra festa!
JOANA (desvencilhando-se de Padre)
Seu tarado miserável! Eu nunca mais volto aqui! Desgraçado!
Joana sai chorando.
PADRE (ajoelha-se choro, no centro do palco)
Senhor! Perdoa esse pobre homem, que não sabe o que faz! Quase, quase essa mulher foi minha! Mas eu ainda tenho fé! E aquele noivo! Me perdoa senhor, mas é incontrolável! Eu quero senhor, eu quero! Eu também sou filho de Deus!
Joana volta. Padre levanta.
JOANA
Padre... Eu pensei melhor, e quero repensar sobre aquela questão de me regozijar inteirinha...
PADRE
Claro devota Joana, claro. Ajoelhe.
Joana ajoelha próxima de Padre
PADRE
Em nome do pai, do filho, e do espírito santo. Agora relaxe. Deus sabe o que faz. Amém!
típico ambiente de uma vidente, meio macumbeira, meio cigana. a cliente está na mesa e a mãe vidente chega.
CLIENTE
A Senhora é a Mãe Vidente?
mãe
Não precisa falar mais nada. Eu já sei tudo. Você quer saber mais sobre você, esclarecer coisas do seu passado e ver o seu futuro.
cliente
Nossa! Você e realmente ótima!
mãe
Mãe Vidente vê o passado, o presente e o futuro em 4 vezes no cartão.
cliente
(um pouco confusa) Você está dizendo que eu posso pagar a consulta no cartão?
mãe
Isso também. Eu vou ler a sua sorte num cartão.
cliente
Cartão que a senhora diz é uma carta grande?
mãe
Não. Cartão é o cartão de crédito mesmo. Vamos, me passa agora os seus cartões.
cliente, ainda meio confusa, vai entregando os seus cartões. mãe pega os cartões e começa a embaralhar. coloca eles empilhados em cima da mesa.
mãe
Corta.
cliente vai cortar como se fosse um baralho.
mãe
Não! (pega o primeiro da pilha) Corta despesas. Esse cartão aqui já está no limite!
cliente
(confere o cartão) É verdade.
CARTOMANTE
Estou vendo aqui que a senhora vai ter um futuro apertado.
cliente.
Por quê?
CARTOMANTE
A senhora num comprou uma calça jeans?
cliente
Comprei. Essa calça vai me levar a falência?
CARTOMANTE
A senhora comprou e comeu uma torta de chocolate inteira. A calça vai ficar apertada.
cliente
Obrigada, pelo aviso vou tomar cuidado.
mãe
(pegando outro cartão) Estou vendo aqui que você está com medo de perder o seu marido para uma mulher mais nova. Você gastou uma fortuna em cremes e roupas novas.
cliente
É verdade. O que mais?
mãe
O seu marido trabalha em Brasília.
cliente
Exatamente! Como a senhora sabe?
mãe
E que esse aqui é um cartão corporativo. (sente o peso) Esse tá carregado.
cliente
De energia ruim?
mãe
Carregado de despesa mesmo. (pega outro cartão) Estou vendo uma bela compensação...
cliente
Vou ser recompensada pelas minhas atitudes?
mãe
Estou vendo uma bela compensação, uma bela ficha de compensação. Mais de três folhas de despesas. (outro cartão) Esse aqui... (se concentra é usa o tom misterioso) eu quero que você se afaste dele e nunca mais traga ele aqui. Você tem que se livrar dele!
cliente
Mas por quê?
mãe
Ele está com a data de validade vencida. Quando a validade vence, você perde. (outro cartão) Estou vendo aqui que você não perdeu tempo. Tem se divertido bastante. Você é uma safadinha.
cliente
Agora a senhora errou. Eu não tenho me divertido nada.
mãe
Como não? Estou vendo aqui: comida cara, champanhe... motel...
cliente
Motel!? Me dá esse cartão aqui. (confere o cartão) Esse cartão é do marido. Aquele safado. Ele me paga. Obrigado Mãe Vidente, a senhora me ajudou muito (sai)
mãe
Por isso que eu digo: diga-me com que gastas que eu te direi quem é!