domingo, 18 de outubro de 2009

Palinha do espetáculo de quarta passada - dia 14/10 - tema Novela


ATUAR NÃO
de Renata Mizrahi
tema: novela (clube da cena)

Um casal de atores. Eles estão juntinhos. Ela tenta encontrar a melhor hora para começar uma convesa
Lu: Rob, a gente tá precisando conversar sério.
Rob: Isso. Continua.
Lu: Continua o quê?
Rob: Você tá indo muito bem.
Lu: É mesmo?
Rob: Vai. Continua.
Lu: Então, Rob, eu acho melhor a gente parar por aqui.
Rob: Assim você vai arrasar.
Lu: Arrasar?
Rob: Genial, continua.
Lu: Rob, Rob, você tá ouvindo o que eu tô falando?
Rob: Esse é o tom. Esse é o tom.
Lu: Que tom, Rob? Do que você tá falando?
Rob: Meu amor, você vai arrasar.
Lu: Arrasar o quê, meu Deus?
Rob: Você é a melhor atriz que eu conheço.
Lu: Ah! Me escuta, por favor. Eu quero terminar com você. Eu não tô atuando. Você acha que eu não tô falando sério? EU TÔ FALANDO SÉRIO!
(silêncio)
Rob: É sério?
(silêncio)
Lu: Ah, brincadeira! Não!! É serio.
Rob: É sério ou não é serio?
Lu: É serio. É serio, é que foi no timing, eu não podia perder o timing.
Rob (exagerado): Não se separa de mim, não se separa de mim. E os nossos filhos, a nossa casa? Minha mãe que te adora?
Lu: Filhos, casa, da onde você tirou isso?
Rob: Gostou, né? Gostou. Vou gravar essa cena amanhã. Tá muito bom, né? Sinto que o meu personagem vai crescer muito. Depois que for ar, vai chover convites para comercial, você vai ver!
Lu: Não, Rob. Vamos parar com isso. Será que a gente não consegue não atuar pelo menos uma vez na nossa relação?
(silêncio.)
Rob: Essa pausa foi bem dramática.
Lu: É. Foi.
Rob: Se fosse ensaiado não ia ficar tão bom, né?
Lu: É.
Rob: Se soubesse que ia ficar tão bom, tinha até filmado pra gente colocar no you tube.
Lu: Vamos tentar retomar, Rob. Vamos tentar retomar.
Rob: Por que você quer tanto falar desse assunto? Você sabe do sentimento que eu tenho por você.
Lu: Rob pára de atuar, eu tô falando sério.
Rob: Mas eu não atuei, eu falei sério.
Lu (debochando): Tá, falou. E sabia que eu consegui o papel de estrela da próxima novela do Gilberto Braga?
Rob: Eu disse que você ia conseguir.
Lu: Rob, eu tô brincando.
Rob: Tá brincando por quê? Você tem mania de falar tudo brincando.
Lu: É você, Rob, é você que nunca fala sério.
Rob: Mas eu tô falando sério.
Lu: Caramba, Rob, fala sério.
Rob: O que você quer, Lu? Quer terminar é isso?
Lu: É Rob, eu quero terminar.
Rob: Então! Eu tô dizendo para gente não terminar, para gente tentar...
Lu: Rob, esse é o texto da sua próxima cena.
Rob: Finalmente eu consegui decorar.
(ela chora)
Rob: Não chora.
Lu: A gente não consegue ter um relacionamento de verdade.
Rob: Calma, amor, eu te amo de verdade.
(ela pára de chorar subitamente)
Lu: Consegui! Consegui!
Rob: O quê?
Lu: Consegui, Rob, consegui a técnica da lágrima. Viu como saiu lágrima de mim? Eu entendi a técnica, eu entendi! (Ela o abraça)
Rob: Então não vamos mais terminar.
(ela o afasta)
Lu: Não, Rob, não confunde as coisas.
Rob: Mas quem tá me confundido agora é você.
Lu: A gente tem que terminar. Desse jeito é impossível.
Rob: Não é impossível. Por que é impossível?
Lu: Rob, quando a gente tá na cama, eu nunca sei se quando você me diz aquelas coisas, é de verdade ou não.
Rob: É você que tá colocando coisas onde não tem.
Lu: É? Então diz que me ama de verdade. Sem atuar.
Rob: Eu te amo de verdade.
Lu: Tá vendo? Você não consegue.
Rob: Mas eu falei de verdade!
Lu: Mas eu não acredito mais em você. Vamos parar por aqui. Vamos acabar de vez com isso. Eu sabia que não ia dar certo namorar ator. Ainda mais que trabalha comigo na novela!
Rob: Deixa pelo o menos eu te abraçar.
Lu: De verdade?
Rob: De verdade.
(ele se abraçam)
Rob: E agora o que a gente faz?
Lu: Seria perfeito se a gente começasse a dançar como naquele filme “O último tango em Paris.”
(eles começam a dançar)
Rob: Tá vendo? Você também não consegue.
Lu: Isso não é vida, Rob.
Rob: Por que não? Por que não?
Lu: Eu admito, eu também tô presa nesse vício, mas eu quero dar um basta nisso.
Rob: O que podemos fazer?
(continuam dançando)
Lu: Rob, vamos nos proibir de atuar um com o outro. É a única coisa que podemos fazer.
Rob: Tudo bem. Eu não atuo mais com você. Nem você comigo.
Lu: Isso. Não podemos deixar que a nossa profissão seja mais forte que as nossas vidas, meu amor.
Rob: Você tem toda a razão.
Lu: Só assim poderemos realmente ser felizes e nos amar de verdade. Naturalmente.
Rob: Fala de novo, de novo.
Lu: O quê?
Rob: Repete o que acabou de falar, vai, por favor.
Lu: Mas a gente acabou de combinar!
Rob: Imagine que a câmara tá naquela direção. Repete o texto pra aquela direção, ok?
Lu: Rob, eu não acredito...
Rob: Por favor, please!
(ela faz na direção que ele pediu)
Lu: Assim poderemos realmente ser felizes e nos amar de verdade. Naturalmente.
Rob: Meu amor, você é tão boa atriz...
Lu: Você acha mesmo?
Rob: Sempre achei.
Lu: Não, não, não, não! Chega, chega! É tão insuportável.A gente não consegue, chega! Acabou. Adeus, Rob. Não dá! Adeus! (ela sai correndo. Ele fica)
Rob: Ó minha amada, não me deixa assim na escuridão, já que é a sua luz que alimenta minha alma. Como ficarei agora sem você, perdido num mar de desilusões? Meu corpo é como o fogo e você água que o apaga. Volte para mim, ó brisa serena, lua alva que me guia na noite sem fim. Sou eu, seu amor clamando desesperado. Não me abandones assim.
(ele percebe o que acabou de falar)
Rob: Caramba. Me superei. Mandei muito. Uau. Essa nem eu esperava. Vou mostrar pro autor. Quem sabe ele aumenta o meu papel e eu passe a ser o protagonista.
(Ele começa repetir o que acabou de fazer, pensando em várias formas de mostrar ao autor, animado com a possibilidade de seu personagem crescer. Esquece que foi deixado.)

FIM


Vídeo da Cena
 


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PLIM PLIM 
De Ivan Fernandes


(batidas de Moliére. Entra Romeu)

R – Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? (entra Julieta) Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que és mais formosa do que ela.

(ouvimos um plim plim)

R - Pô Julieta, tá o maior sol! Vamos pegar uma praia? (tira a camisa, revelando uma barriga-tanquinho, de plástico ou papelão, colada sobre a barriga do ator)

J - Ih, qual é, Romeu? Tu é do núcleo pobre da novela! Nunca que os meus pais vão deixar a nossa relação acontecer.

R - Mas se a gente der ibope, eu garanto que eles deixam. É só o público torcer pela gente. Afinal, eu sou o galã e você é a...

J - Olha...

R -...Galoa. Mas você tá com muita roupa pro horário, Juju; assim não dá ibope.

J - Você acha? Exagerei?

R - Você não vê a novela da concorrência? Se passa numa praia. O que é que se usa numa praia?

J - Ah, é por isso que passaram nossa cena pra luz do dia? Mas isso não faz sentido. Você não entra aqui escondido pelas trevas da noite? Como é que ninguém te viu, então, com esse baita sol?

R - Não faz pergunta difícil. O importante é que a gente vai à praia. Praia dá ibope.

J - Dá ibope pra você que só precisa tirar a camisa. Mas você acha que alguma mulher acorda com esse cabelo? Calcula a hora que eu tenho que chegar na sala de maquiagem.

(batidas de Moliére)

J – Ai de mim!

R – Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante!

J – Romeu, Romeu! Meu inimigo é apenas o teu nome. Mas o que é um Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob outro nome teria o mesmo perfume.

(plim plim)

R - Pô, mas tu fala muito, garota. Bora se beijar logo.

J - Você acha que eu quero compromisso com pobre? Eu visto de Prada pra cima, meu amor. Sente as jóias. Vai bancar? Acha que eu vou topar ser garçonete? Balconista? Operadora de telemarketing? Olha essa mansão. Consegue ver onde ela termina? Pra eu sair da casa do papai só pra ir pra uma igual.

R - Pô, mas tu é muito exigente. E cadê o amor?

J - Amor é o caralho. Quero vida de princesa.

R - Pô, assim pegou pesado. Ficou forte. Pra esse horário não vai passar esse diálogo não.

J - É fácil. A gente põe um funk. (entra uma base funk. Canta) Amor é o caralho / quero vida de princesa (dançam funk até o chão, etc. depois de um tempo, julieta sinaliza para o fim da música ) Pronto. Agora virou cultura popular.

(batidas de Moliére)

R – Senhora, juro pela santa lua que acairela de prata as belas frondes de todas essas árvores frutíferas...

J – Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, pra que não pareça que teu amor, também, é assim mutável.

R – Pelo quê devo jurar?

(Plim plim)

J - Jure pelo novo cartão de crédito do banco Rosemberg! (tira do vestido e mostra) Só ele dá 60 dias pra pagar. Com ele, você pode me dar uma vida de princesa, amor.

R - Puxa, mas será que um cara pobre como eu poderá ter um cartão de crédito do banco Rosemberg?

J - Mas é claro! O cartão de crédito do banco Rosemberg é aberto a todos os tipos de deficientes. Adquira já o seu!  (joga o cartão para ele)

(batidas de Moliére)

VOZ DAS COXIAS – Julieta!

J – Romeu querido, só mais 3 palavrinhas, e boa noite. Se esse amoroso pendor for honesto, amanhã cedo me envie uma palavra pela pessoa que eu te mandar, dizendo quando e onde pretende realizar o casamento, que a teus pés depositarei minha ventura, para seguir-te pelo mundo todo como senhor e esposo.

(Plim plim)

R - Mas casamento é só no último capítulo!

J - Não, idiota. No último capítulo a gente morre.

R - O quê??

J – Você não leu o script não?

R – Mas eles não podem nos matar! Nós somos o casal de maior apelo! Quero falar com meu agente agora! (pega um celular e liga) Alô, Pontes! Que história é essa? (ouve) Ah... (ouve) Ah... (ouve) Então tá. (desliga. para Julieta) Viu? Nós vamos gravar um final alternativo passando a lua de mel em São Lourenço.

J –  São Lourenço?! Que coisa mais ultrapassada! Eu quero Miami.

R – Miami não cabe no meu bolso, nem. E as pesquisas mostram que o público quer ver você no núcleo pobre.

J – Ah, não. Dançar funk foi a minha última concessão.

(batidas de Moliére)  

VOZ NAS COXIAS – Julieta!

J – A que horas devo mandar alguém para falar-te?

R – Às nove horas.

J – Sem falta. Só parece que até lá são vinte anos. Esqueci-me do que tinha a dizer.

R – Deixe que eu fique parado aqui, até que te recordes.

J – Então eu continuaria esquecendo, só pra que ficasses aí parado, me lembrando de como adoro tua companhia.

R – E eu ficaria, pra que esquecesses sempre...

(plim plim)

J – Eles ficam esticando muito a história, dá nisso. A gente não tem mais nada pra dizer. Tremenda barriga!

R – Quê isso, gata! Barriga aqui só a minha! (estufa)

J – Como é que a gente encerra o bloco? Já tá quase na hora do comercial.

R – Fácil. Chega de papo. Põe aquele teu biquininho e desce.

J – Mas o meu pai tá chamando!


R – Ele vai ter que se render à força do ibope.

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