quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Noite do Chico Buarque

Mais uma noite estonteante do Clube da Cena Unplugged. Dessa vez as canções de Chico Buarque foram o ponto de partida para as cenas.

Abaixo, nossa palhinha dessa noite! (fotos: Bárbara Campos)

Babado Forte de Regiana Antonini - da música Você vai me seguir 
Com Mariana Santos, Thais Lopes e Renato Albuquerque. 
Direção: Leandro Goulart





Invicta de Cristina Fagundes - da música Querido Diário 
Com Zé Auro Travassos, Jorge Neves e Cláudia Sardinha. 
Direção: Lincoln Vargas






A Fila Anda de Carla Faour - da música Geni 
Com Ana Paula Novellino e participações. 
Direção: Alexandre Bordallo





Descontrução de Leandro Muniz - da música Construção 
Com Pia Manfroni e Marcelo Dias. 
Direção: Luiz Otavio Talu





Os Livros não são tão pesados de Renata Mizrahi - da música Trocando em Miúdos 
Com cacau Berredo e Flavia ESpírito Santo. 
Direção: Wendell Bendelack





Uma Linda Noite que se Encerra de Diego Molina - da música Folhetim 
Com Marino Rocha e Mariana Consoli. 
Direção: Diego Molina.







E o nosso querido músico: Aldo Medeiros.






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E as cenas que foram parar no youtube após votação do público foram:


Babado Forte, de Regiana Antonini (clique aqui e assista)


Invicta, de Cristina Fagundes (clique aqui e assista)


E confiram os textos na íntegra!


INVICTA – de Cristina Fagundes
Da música Querido Diário 

Senhor e jovem sentados numa mesa de jantar, clima de cerimônia.
ARNALDO – Gostou da comida?
AFONSINHO – Muito boa seu Arnaldo.
ARNALDO – E da minha filha?
AFONSINHO – oi?
ARNALDO – Gosta da minha filha?
AFONSINHO – Mas é claro, gosto muito.
ARNALDO – Mas provou?
AFONSINHO – Não. Que idéia.
ARNALDO – Então como pode saber se gosta ou não?
AFONSINHO –Seu Arnaldo, a Alicinha foi minha primeira e única namorada até hoje.
ARNALDO – Mas não sente curiosidade?
AFONSINHO – Sinto mas...
ARNALDO – Não sente vontade de saber como ela é?
AFONSINHO – Ora, seu Arnaldo, tudo tem seu tempo.
ARNALDO – Vai esperar então até o casamento?
AFONSINHO – Foi o que combinamos. (desconfortável) Ela não vem?
ARNALDO -  Daqui a pouco.  Oito anos de namoro e minha filha continua invicta.
Silêncio.
ARNALDO – Intocada. (tempinho) Mas nenhuma brincadeira entre vocês? Nada?
AFONSINHO – Nada Seu Arnaldo.
ARNALDO – Nesse tempo todo, oito anos? Você deve ter tentando não?
AFONSINHO – Eu respeito muito a sua filha.
ARNALDO – Mas é natural, você é jovem e deve ter vontade. É natural. Pode me dizer.
AFONSINHO – Nunca toquei um dedo na Alicinha.
ARNALDO – Mas por quê?
AFONSINHO – Ela me pediu para esperar.
ARNALDO: Esperar?
AFONSINHO: É esperar.  Você sabe, ela só quer depois do casamento.
ARNALDO: (quer) O quê?
AFONSINHO: Ah, Seu Arnaldo, você sabe.
ARNALDO -  Hum... (tempinho) Mas você não acha estranho?
AFONSINHO – O quê?
ARNALDO – Tanto pudor?  Tanto recato da minha filha?
AFONSINHO – Não.
ARNALDO –Hoje em dia o sujeito é apresentado para a moça e no minuto seguinte já está na cama com ela.  È o fim do pudor, meu filho. Mesmo assim, você e a minha filha nunca... oito anos e até hoje nunca. Não é esquisito? Afinal, vocês já são noivos.  Já são noivos!
AFONSINHO – Eu sei mas é que nós combinamos que/
ARNALDO – Alicinha é moça, tá na flor da idade.
AFONSINHO – Mas...
ARNALDO - Vocês já deviam ter cruzado o sinal, não acha?
AFONSINHO – O quê?
ARNALDO – Já deveriam estar fazendo coisas escondidos.
AFONSINHO – ...
ARNALDO –  Tá se agarrando pelos cantos, você sabe, fazendo uma sacanagem. Vocês fazem isso?
AFONSINHO – ...  
ARNALDO – Responde? Vocês fazem isso? Aposto que você nunca viu minha filha nua, viu?
AFONSINHO –  ...
ARANALDO – Fala pra mim, você já viu a minha filha nua? Viu?
AFONSINHO – Não.
ARNALDO – Fala mais alto! Viu ou não viu a minha filha pelada?
AFONSINHO – Não!
ARNALDO – Nua em pêlo?
AFONSINHO – Não vi! Juro que não vi! Ela não deixa!
ARNALDO – O quê?
AFONSINHO – A Alicinha não deixa!
ARNALDO – Não deixa? Mas não deixa por que? Fala!
AFONSINHO – Ela tem vergonha.
ARNALDO – Vergonha de quê?
AFONSINHO – Ora, vergonha.
ARNALDO – Mentira!
AFONSINHO – Juro por deus! Tem vergonha sim! Ela morre de vergonha.
ARNALDO – (solta o genro)  Vergonha? Meu deus ,minha filhinha, tão linda, tão jovem e com vergonha, coitada.  Na flor da idade e com vergonha.  Depois ainda dizem que deus é justo.
AFONSINHO – Seu Arnaldo, mas qual o problema da Alicinha ter vergonha?
ARNALDO - Afonsinho senta. Eu vou te contar um negócio. Você já é noivo e precisa saber.Mas senta.  A minha filha, bem a minha filha não é como as outras mulheres.
AFONSINHO – Eu sei.
ARNALDO - Escuta, a Licinha é diferente, Afonsinho,  ela não é como as outras. A minha filha... bem... a minha filha não tem orifício. Veja só! Não tem orifício! Não pode amar! Você tá me entendendo?
AFONSINHO – (débil, tentando absorver) O quê?
ARNALDO –  Você ama uma mulher sem orifício meu filho. Sem orifício. Quase uma santa! È por isso que até hoje nada. Compreendeu?
AFONSINHO – Mas o que...
ARNALDO – Cala a boca e escuta. Eu já pedi a Deus, já chorei, já rezei e nada, nada.  Minha filha é igual a uma boneca, não tem orifício.  Não pode copular entende? Qualquer lavadeira pode mas a minha filha não, minha filha não pode copular! Alicinha tá condenada a ser a mais pura das mulheres, a mais pura!
AFONSINHO – Do que que você tá falando?
ARNALDO – (em seu transe, transtornado) Ah, mas isso pode ser muito bom, você não acha? Ela nunca vai te trair Afonsinho! Nunca! Escuta! A mulher sem orifício não trai jamais! Veja só que vantagem, casar com uma mulher sem orifício! 
AFONSINHO – Mas que loucura é essa?
ARNALDO – Eu provo. Eu provo!! Alicinha vem cá! Vem minha filha!
(ela entra na sala, com uma camisola, música, algo meio soturno)
ARNALDO – Mostra pra ele minha filha. Mostra!
AFONSINHO – Alicinha. Seu pai tá... (ela se vira em algum ângulo que só ele veja a vagina dela, levanta a camisola e mostra a vagina de boneca)
Mas que...  (panico) Que isso? Que horror!!
ARNALDO  - Eu sabia. (pra filha) Não falei? Ele vai embora. Não te quer mais minha filha. Viu só? Ele só queria o teu orifício. O orifício! Uma mulher sem orifício não tem mais valor!  Não presta! Mas espera! Vem cá seu covarde! (O PAI PEGA ELE por trás e IMOBILIZA-O) – Vem aqui se despede ao menos da tua noiva.
AFONSINHO – (culpado e em choque ainda) Alicinha, eu... eu sinto muito... eu...
LICINHA – Tudo bem, Afonsinho. Tudo bem. Eu te entendo. Eu no seu lugar também não ia querer me casar com uma mulher assim, sem orifício, aleijada.  A menos, é claro... que eu também fosse assim, né? Defeituoso.  O amor precisa de igualdade para existir.   Então, você me perdoa Afonsinho, me perdoa, viu meu anjo, mas o que eu vou fazer agora vai ser pro nosso bem. (vai abrindo a braguilha dele). Afonsinho, agora nada mais vai nos separar. Nada!  (levanta um facão. Black out - ela vai cortar o membro dele). Música sobe, luz cai, grito de Afonsinho no escuro.
TREVAS.

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                                BABADO FORTE
(inspirado na música “Você vai me Seguir” de Chico Buarque)
                               REGIANA ANTONINI

FUMAÇA. MUSICA DE SUSPENSE. NINA ANDA POR UMA RUA. ALGUÉM ATRÁS DELA. ELA PÁRA E A PESSOA – QUE ESTÁ ENCAPUZADA PÁRA TAMBÉM. NINA ANDA, A PESSOA ANDA. NINA ANDA RÁPIDO E A PESSOA FAZ A MESMA COISA. NINA PÁRA E SE VIRA PARA A PESSOA QUE A SEGUE.

NINA – Quem é você?

A PESSOA RETIRA O CAPUZ. É VÂNIA.

NINA – Você?

VANIA – Eu mesma!

NINA – O que você quer? Por quê está mês seguindo?

VANIA - Eu vou te seguir aonde quer que você vá!

NINA – Ai, meu Deus! (QUEBRA) Que saco, hein!

MÚSICA TEMA. A CENA SE DESFAZ. A MÚICA MIXA NUMA OUTRA, DE TAMBOR DE TERREIRO DE MACUMBA. NINA ESTÁ AGORA EM FRENTE À UMA MESA DE UM PAI DE SANTO: PAI TONHÃO ABRE CAMINHO.

NINA – Então, Pai Tonhão Abre Caminho, o que o senhor tá vendo?

PAI TONHÃO – É, minha fia, teus caminho tão fechado! Tão trancado! A coisa tá danada! Olha, vou te dizer uma coisa para ti: tem muita pedra no teu caminho. Oxxeee!  Esse homi que tu quer tá enfeitiçado por outra!

NINA – Eu sabia! Tinha certeza!

PAI TONHÃO – Tá vendo esse caramujinho aqui?

NINA – Tô!

PAI TONHÃO – É a outra!

NINA – Filha da puta!

PAI TONHÃO – Ela fez trabalho dos bão, pro teu homi ficar na mão dela! (FECHA OS OLHOS E FICA MEIO TONTO) Opa! (FALA PRO NADA) Quê que é? Eita! É o quê? Jura? É isso mesmo?
Vou dizer! (P/NINA) Essa mulher é perigosa! Costurou o teu nome mais o nome do teu homi na boca de uma cascavel venenosa!

NINA – Cruzes!

PAI TONHÃO – Matou a cobra e enterrou a bicha num canteiro de cemitério!

NINA – Ai, meu Deus! Eu tô até passando mal!

PAI (ESCUTANDO VOZ) É o quê? É o quê? Tá dando interferência! Fale mais alto! Sei... sei... anham... sei... formou! (PARA NINA) É o que eu digo minha fia: o diabo faz as panela, mas num sabe fazer as tampa! Eu com a ajuda dos meus guia, vou desfazer esse trabalho que fizero pra tu!

NINA – Jura? Deus lhe abençoe!

PAI – Deus vai ter que abençoar é tu! Porque praga de mulher traída é foda! Esse homi traiu a mulé dele com tu, num foi?

NINA – Foi... mas... na verdade, ele já tava se separando dela...

PAI – Tava? E alguém disse isso pra ela? Minha fia, homi é tudo igual! Quando quer transar com outra, e é cumprumitido, a cantada é a merma: “tô me separando”! Mentira!

NINA – Mas eu amo ele, pai Tonhão!

PAI –  Tu quer ele pra tu, né?

NINA – Quero! Quero ele só pra mim!

PAI (ESCUTA VOZ) – É o quê? Eita! Como é que é? Amanhã? Tá certo. Num tem volta! Entendi! (FALA PRA NINA) A entidade disse que a gente desfaz o trabalho da outra e despois no mermo dia faz outro trabalho pra tu, pra trazer a pessoa amada em três dia! Mas ó: o babado é forte!

NINA – Adoro um babado forte! Ai, meu pai! Esse homem vai ser meu!

PAI – Mas, ó: não tem volta! Vamo ter que fazer tudo muito direitinho! Tome (ENTREGA LISTA DE COMPRAS PARA ELA) Tu tem que comprar tudo isso aí! Mas tu confere direito! E volta aqui amanhã!

MÚSICA TAMBOR. VOLTA PARA A CENA NA RUA ENTRE NINA E VÂNIA.

NINA – Eu não tenho culpa do Chico ter te abandonado!

VANIA – É claro que tem! Você é uma destruidora de lares!

NINA – Não, não! Conheci o Chico na sala de espera de um laboratório. Ele ia fazer um exame de sangue e eu estava esperando o resultado de uma radiografia! A gente se olhou e... sei lá... eu senti uma... “coisa” dentro de mim... um fogo subindo!

VANIA – Você é muito vagabunda mesmo!

NINA – Não sou não! Isso nunca tinha me acontecido antes. Sou uma mulher muito séria, tá entendendo? Quando eu vi, já tava no banheiro transando com ele! Nem sabia o nome dele! Coisa de outra vida! Tenho certeza!

VANIA – Eu também! Você deve ter sido uma vagabunda de quinta na outra vida! E aí, tá se aperfeiçoando cada vez mais agora, nessa sua vidinha cafajeste!

NINA – Olha quem fala! Você é tão filha da puta quanto eu! Você costurou meu nome junto com o dele na boca de uma cascavel! Eu sei de tudo! E vou contar tudo pra ele!

VANIA – Vai?

MUSICA TAMBOR. NINA COMO SE ESTIVESSE NUMA PRAIA, JUNTO COM PAI TONHÃO. UM BARQUINHO DAQUELES DE OFERENDA, COM 2 BONECAS TIPO BARBIE: 1 VESTIDA DE NOIVA E OUTRA VESTIDA DE NOIVO. FLORES, FRUTAS, GARRAFA DE CACHAÇA.

PAI – Tu tem certeza que tu quer isso, né mia fia?

NINA – Tenho, lógico!

PAI – Tô  perguntando, porque a gente tem que ter muito cuidado com aquilo que a gente pede nas nossas prece, pois pode ser concedido!

NINA – Eu sei o que eu quero Pai Tonhão: eu quero esse homem pra mim! O Chico é o amor da minha vida!

PAI – Então vamo dar prosseguimento aos nosso trabalho! Empurra o barquinho pro mar e diz: “Você vai me seguir aonde quer que eu vá...”

NINA - “Você vai me seguir aonde quer que eu vá...”

PAI - Você vai me servir, você vai se curvar...

NINA -  Você vai me servir, você vai se curvar...

PAI - Você vai me sorrir... você vai me adorar...

NINA - Você vai me sorrir... você vai me adorar...

ELES REPETEM O PEDIDO E SUAS VOZES SE MISTURAM AO SOM DE UM TAMBOR. VOLTA PRA CENA DE RUA ENTRE VÂNIA E NINA.

VANIA – Quer saber: o Chico é péssimo de cama!

NINA – Eu não acho!

VANIA – Eu também não achava, mas comecei a achar... Aliás, o meu forte nunca foi homem! Sempre gostei de mulher!

NINA – Bem que eu sempre te achei um pouco estranha... mas aí o Chico me contou que você é lutadora de Boxe...

VANIA – Eu bato bem!

NINA – Oi?

VANIA – Quebro a pessoa! Parto ela ao meio!

NINA – Imagino... Ai, meu pai! Era só o que me faltava...

VANIA – Fica tranqüila... eu não vou bater em você! Não quero fazer nada contra você! Pelo contrário... eu quero é.... te conhecer melhor...

NINA – Como... como assim... hein?

VANIA – Sei lá! Só sei que de uns dois dias pra cá, eu não paro de pensar em você! Comecei a te seguir... a te adorar...

NINA – Pára! Eu, hein! Quê isso, gente? Olha só Vânia: eu preciso resolver um babado! Um babado forte! Segura a cena!

MUSICA TAMBOR. NINA E PAI DE SANTO NA MESA JOGANDO.

NINA – Alguma coisa deu errado Pai Tonhão! Você falou que ia trazer o Chico de volta pra mim em 3 dias! Só que quem apareceu e grudou em mim foi a mulher dele! A boxeadora! A que fez o trabalho com a cascavel, lembra? A tal Vânia! Quer dizer, Vanhão!

PAI – Ê, ê! Será que o trabalho voltou pra ela? Ê, ê! Eu tô vendo aqui... Seus caminho se abriram! Só que tu pegou um desvio de rota! Viche Maria: tem uma pedrona no seu caminho! Eita Vanhão da porra! Tá vendo esse caramujo grande aqui? É ela!

NINA – Filha da puta!

PAI – É mia fia, a coisa num tem volta não!

NINA – Como assim? Manda essa Vanhão embora! Cadê o Chico?

PAI – (ESCUTA VOZ) – É o quê? Eita! Não acredito! Será? Arre égua! A entidade tá perguntando se tu conferiu o material antes de fazer os trabalho.

NINA – Conferi. Levei o barquinho, sete rosas brancas, uma cachaça... ai meu Deus, será que a entidade não gostou da marca da cachaça?

PAI – Não, santo que é santo toma todas! E os boneco, os noivo?

NINA – Ué, tavam lá. Robei 2 Barbie da minha sobrinha. Vesti uma de noiva e outra de noivo!

PAI – Puta merda!

NINA – Oi?

PAI – Tu fez tudo errado minha fia! Duas boneca Barbie se casando? Tá aí a Vanhão! Foi tu que pediu!

NINA – Mas é que eu não achei o Bem!

PAI – Que Bem?

NINA – Bem, o namorado da Barbie! Aí, pus outra no lugar dele! (SE TOCA) Ai, meu Deus!

PAI – Tu entendeu a merda que tu fez?

NINA – O pior foi pedir pra ela me seguir, me seduzir, me possuir...

PAI – Te infernizar! Éeee ela vai te infernizar! Agora agüenta!

CENA VOLTA PARA A RUA ENTRE VANIA E NINA.

NINA – Olha só... aconteceu um pequeno ruído na comunicação...

VANIA – Eu quero você!

NINA – Eu... eu... eu sei que você me quer... mas...olha só... isso que você tá sentindo não é real!

VANIA – Tá me chamando de mentirosa, gata?

NINA – Não! De jeito nenhum! A culpa é minha! É que eu fiz uma bobagem... zinha! Coisa boba mesmo! Eu fiz um trabalhinho na macumba... coisinha muito simples... eu fiz esse trabalhinho pra ter o Chico de volta na minha vida...

VANIA – Impossível! O Chico tá morto! Eu matei o Chico!

NINA – Você o quê?

VANIA – Matei ele! Simples! Agarrei o pescoço dele e pá! Quebrei! Tudo isso pra ficar com você!

NINA – Você é louca!

VANIA – Louca por você menina! Menina, me... nina, Nina!

NINA – Ai, meu Deus! E agora?

VANIA – Agora, eu vou ser toda sua! E você toda minha! Agora, eu vou te seguir aonde quer que você vá! Você vai me agredir, mas vai se acostumar... você vai me adorar... Você vai me sorrir, você vai se enfeitar! Você vai me cobrir e me ninar. Me... nina! Me... nina! Nina!

VAI PRA CIMA DELA, A COBRE COM A CAPA E A LEVA. SAEM DE CENA. MUSICA NA PARTE FINAL “ME NINAR ME NINA, NINA”.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Noel Rosa como inspiração!



Mais uma noite do Clube da Cena Unplugged. Dessa vez a inspiração partiu do compositor Noel Rosa.

Abaixo uma palhinha dessa noite:


Eu Não Sei Dançar de Ivan Fernandes - da música O Orvalho Vem Caindo. Com Alex Nader e Mariana Costa Pinto. Direção: Breno Sanches


Linda Pequena de Regina Antonini - da música Linda Pequena. Com Renato Albuquerque e Priscila Assum. Direção Luis Carlos Nem



O Misterioso Caso do vaso Chinês de Diego Molina - da música Último Desejo. Com Cláudio Amado e Renata Tobelem. Direção: Cacau Berredo



Terra de bamba de carla faour da música Feitiço da Vila com Flávia espírito santo e Alexandre Barros. Direção: Paulo Mathias Junior


Faça seu Pedido de Cesar Amorim - da música Conversa de Botequim. Com Luis Lobianco e Rita Fisher. Direção Susanna Kruger


Samba do Adeus de Cristina fagundes - da música Fita Amarela. Com Zé Guilherme Guimarães e Bia Guedes. Direção: Fernando Melvin



E como em toda noite, o público escolheu as suas cenas favoritas.

Em primeiro lugar foi escolhida a cena Samba do Adeus, de Cristina Fagundes. Clique aqui para vê-la no youtube.

Em segundo lugar, ficou a cena Eu não sei dançar, de Ivan Fernandes. Clique aqui para vê-la no youtube.

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Abaixo, confira na íntegra os textos das cenas escolhidas.

SAMBA DO ADEUS de Cristina Fagundes
Música Fita Amarela – Noel Rosa
Homem sentado confortavelmente numa cadeira. Mulher espalha flores pela sala, clima de festa.
HOMEM: Desce mais uma gelada ô Isaurinha!
MULHER: Mais outra Nestor?
HOMEM: Ué, hoje é o grande dia pretinha! E o caldinho de feijão, já tá pronto?
MULHER: Tá no fogo. Tú tá com uma fome hien homem!
HOMEM: è fome de saudade. E a rapaziada? Já ta aí?
MULHER: Tão tudo aí fora, Juarez, Opala, Zé do Repique, Mendoim torrado, tão lá,  tudo encachaçado.
HOMEM: Assim é que é bom. Senta aqui Pretinha. Eu quero te pedir uma coisa.
MULHER: Fala.
HOMEM: Eu quero que você receba bem a Celma, tá bem?
MULHER: Ah, não vem não, Nestor, que na minha casa aquela cachorra não bota os pés. Tá me ouvindo? Ah não gente, que isso?!
HOMEM: Me escuta Isaura.  Calma, eita!  Escuta, eu to falando sério. A partir de hoje eu quero essa casa aberta para Celma e pras crianças também tá me ouvindo?
MULHER:...
HOMEM: Eles são o meu sangue, não pode ser assim Pretinha.  Pra que tanto rancor nesse coração? Olha, a Celma vem aqui hoje. Ela tem esse direito. Tá comigo pra lá de 20 anos, pretinha.
 MULHER: De sem vergonha que ela é. Arregaçada, filha de uma porca gorda!
HOMEM: Isaura, mulher de verdade pra mim só tem você, tu sabe disso.  Mas é que eu tenho minhas obrigações com a Celma, não posso deixar ela por aí sem assistência, compreende? E tem as crianças também. 
MULHER: Aquele bando de erê!
HOMEM: Olha aqui, Pretinha, eu quero que você me prometa que vai tratar as crianças bem. Hein? Num vai ficar dando cascudo nelas.
MULHER: Eu nunca fiz isso Nestor, isso é conversa da Celma.
HOMEM: Acaba com essa confusão. Faz isso por mim, tá bem? To te pedindo.
MULHER: Se você quer tanto... Mas da sala aquela vaca holandesa não passa.
HOMEM: Obrigado Pretinha.
MULHER: Aqueles tamanco dela vai arranhar o chão tudo, já to vendo, parece até uns casco de vaca.
HOMEM: Olha minha pretinha, tem outra coisa.
MULHER: Ihhh.. que que é?
HOMEM: Pode ser que venha alguma dona aí perguntar por mim esses dias.
MULHER: Perguntar o  quê? Que dona é essa agora Nestor?
HOMEM: é uma história complicada, mas você recebe ela tá bem? E escuta o que ela tem pra te dizer.  (muda de assunto) Tem uma branquinha aí? (cachaça)
MULHER: Credo! Como você bebe Nestor.
HOMEM: Ué! Hoje é dia de festa!  Agora, chega aqui pertinho. (ela se aproxima – ele dá um beliscão nela) Tu tá gostosa hein Isaura. Potranca! Égua! Chega aqui. Olha só, eu não quero tu aí solta aí pelos sambas, rebolando essa buzanfa, num tem cabimento, então...  eu pensei que o melhor mesmo vai ser você se juntar com o Juarez.
MULHER: Que papo é esse Nestor?
HOMEM: Você vai morar com o Juarez, Isaura, vai ser melhor assim.
MULHER: Quê?
HOMEM: Vai fazer as malas e vai pra casa dele, hoje mesmo, quando acabar o samba. È o mais certo. O Juarez é farrista mas sabe dar valor a uma mulher.
MULHER: Nestor, o Juarez é seu melhor amigo.
HOMEM: Por isso mesmo ué, eu já sei como ele é. Sei os defeitos, sei as mentiras.  Então vai ser  com o Juarez.
MULHER: Você num tá bem do juízo não.
HOMEM: Nunca estive tão bem.
MULHER: Deve ser essa sua doença aí.
HOMEM: Não quero esse seu coração vazio Isaura, faz até mal. Quero ter ver florida quando eu olhar lá de cima. Você de cara fechada  nem fica bem. Agora chama o Juarez.
ELA SAI.
ENTRA JUAREZ.
JUAREZ: E aí parceiro? Como é que tá essa força?
HOMEM: Chegou meu dia né?
JUAREZ: que papo é esse Nestor?
HOMEM: quem vai morrer sabe. Pressente.
JUAREZ: Que isso comprade. Para de falar assim.
HOMEM: A gente fica assim meio sobrenatural Juarez. Quando tá perto de morrer. Bagulho estranho. Não dá nem pra explicar. Mas aí. Te chamei por que quero acertar uns lances contigo.
JUAREZ: Fala.
HOMEM: A Isaura é uma mulher e tanto, companheira toda vida. E o lance é o seguinte. Eu não quero que ela fique só, compreende? Num quero a Isaura na mão de malandro, por aí.
JUAREZ: Claro.
HOMEM: A Isaura não é mulher pra isso. Então eu preciso que você cuide da Isaura pra mim.
JUAREZ: Claro. Eu cuido sim.
HOMEM: É um pedido de amigo. Tu vai se casar com ela, tá me entendendo?
 JUAREZ: ...?
HOMEM: Você faz isso por mim, não faz?
JUAREZ: Mas...
HOMEM: Tu num disse que ia cuidar dela?
JUAREZ: Pô Nestor, assim você me quebra.
HOMEM: A gente é parceiro ou não é?
JUAREZ: Claro que é. A gente é parceiro. Mas pó Nestor, eu não sou um cara que queira assim... se casar... compreende? Não tava no meu planejamento esse lance aí de casamento.
HOMEM: A Isaura é uma boa mulher. E ela gosta de ti.
JUAREZ: Gosta como amiga.
HOMEM: Mas isso muda, a convivência traz o amor.
JUAREZ: Olha, com todo o respeito, eu num to querendo desfazer da comadre não, mas é que pô, você não me leva a mal não, a gente é amigo desde moleque, mas aí, meu irmão, tá muito estranho esse seu pedido.
HOMEM: É meu último pedido.
JUAREZ: Mas a Isaura é muito braba Nestor.
HOMEM: Eu só te pedindo isso porque tu é meu amigo.
JUAREZ: (hesita ainda, constrangido). Parece uma onça.
HOMEM: E tem uma coisa, a Isaura faz uma rabada com agrião... tu tem fraco por rabada Juarez que eu sei.
JUAREZ: (ficando interessdo) È... isso é...
HOMEM: (chama ele pra mais perto para segredo) Chega aqui, ó, na minha gaveta da mesa de cabeceira tem uma caixa com uns sambas aí, umas paradas que eu fiz. Umas composições. Tem coisa boa lá meu irmão.  Pode ficar pra você. Tu fica com os sambas mas casa com a Isaura.
JUAREZ: Pô Obrigado Nestor. Sendo assim eu vou aceitar sim. Se é o que você quer. È uma honra.
HOMEM: (FELIZ) Sabia que tu num ia me deixar na mão, meu irmão. (muda assunto) Vem cá: trouxe a fita?
JUAREZ: A tal da fita amarela? Cada uma... olha aqui (mostra pra ele).
HOMEM: Agora me diz uma coisa: tu lembra daquele samba que a gente foi na rua do ouvidor?
JUAREZ: Que samba?
HOMEM: Aquele primeiro samba, o primeiro de todos, o primeiro que a gente foi na vida.
JUAREZ: Caramba, tu tá falando do samba do Barnabé?
HOMEM: Isso mesmo.
JUAREZ: Pô, a gente tinha o quê? Uns 10 anos?
HOMEM: Nem isso.  Mas tu lembra que lá pelas tantas chegou uma mulata lá, porra era uma mulata dessas de parar o trânsito. Tipo exportação.   
JUAREZ: Podes crer to ligado sim.  A rapaziada atravessou o samba e tudo. 
HOMEM: A mulher era sensacional.  Qual era o nome dela mesmo?
JUAREZ: Peraí... (lembra) Luci... era Luci alguma coisa... Lucimar, é isso. Ela era a filha do Joao da Vila.
HOMEM: Lucimar da Vila. Isso mesmo. Um mulherão. Anota aí o nome dela.
JUAREZ: O quê?
HOMEM: Anota aí na fita pô: Lucimar da Vila.
JUAREZ: Assim?   
HOMEM: Isso, anota aí, que se tiver vida após a morte eu quero ter sorte. Sorte com as mulheres e essa mulata aí vai me dar sorte. Ela vai ser meu pé de coelho. Agora amarra aqui, três nós. 
JUAREZ: (amarrando) Só tu mermo. (tempo) Eu vou sentir sua falta parceiro.
HOMEM: Eu também.  Mas eu to contente, quer saber? Eu vivi bem e só vou cedo assim é porque já gastei tudo que tinha pra gastar. Se liga numa coisa Juarez: a vida não é só extensão não, ela também é profundidade, morô? Eu já vivi muito mais que muito velhinho por aí, é ou não é?
JUAREZ: Ah, isso é.
HOMEM: Juarez. (chama para segredo e pega 2 envelopes) ò, entrega isso aqui pra Lilica. E esse aqui pra Bebel. Mas não deixa a Isaura ver não hein?  Mulher não entende essas coisas de muita mulher.  Sabe como é? Cabeça de mulher é muito doida. (tempo) Compadre, (tempo) toma umas por mim tá bem? (bebida) Eu vou sentir falta disso.  (muda o tom) Agora chama a Isaura.
JUAREZ: Isaura!
ISAURA: (vem rápido, lágrimas nos olhos)
HOMEM: Pretinha.
ISAURA: Oi.
HOMEM: Chegou a hora. To pronto. (olha para ela, paralisada de medo, chegou a hora) Dá cá meu beijo. (se beijam, é a despedida).
ISAURA: (terna) Por que é que tu me chama de pretinha se eu sou loira?
HOMEM: Ah, porque eu gosto. Pra mim você vai ser sempre a minha pretinha.  HOMEM: Olha, se você sentir minha falta, manda colocar água no feijão e bota um prato a mais na mesa que eu vou saber que é pra mim, tá bem?  Você tá chorando pretinha? Não chora não.  Hoje eu  não quero choro nem vela. Hoje é só felicidade, que Gente existe é pra ser feliz, ta me entendendo?  Agora vai, chama a rapaziada que eu já to pronto. Vai! E solta o samba, que hoje é dia de festa!  (eles saem para chamar - Ele se acomoda, diz)
HOMEM: Hoje... é dia de festa...
(sorri, e morre, satisfeito, enquanto entram os amigos e um grupo de samba de roda que toca: Fita amarela – o velório é uma festa). Fim.

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Música: O Orvalho vem caindo

EU NÃO SEI DANÇAR
De Ivan Fernandes

Estela se arrumando pra sair. Valdir no computador de samba-canção.

E - Eu já tô quase pronta, Valdir. (vê) Você ainda tá assim?

V - Qual é a surpresa, Estela? Você sabe muito bem que eu não vou.

E - Custa você me fazer a vontade pelo menos uma vez?

V - Eu tenho que terminar esta pilha de relatórios. Além do mais eu não sei sambar. Toda vez que eu vou ao samba pensam que eu sou gringo. O que eu vou fazer lá? Olhar você dançar?

E - Acompanhar a sua mulher, que adora samba e não vive sem samba. 

V - Eu te proíbo de ir? Eu fico te regulando?

E - Eu sou a única que vai sempre sem o marido.

V - Tem mulheres que dariam a vida pra estar no seu lugar. Aproveita.

E – É? E tem homens que dariam a vida pra estar no seu lugar. Vou pensar se eu vou aproveitar.

V - Tá me ameaçando?

E - Ttô indo pro samba, Valdir. Fica aí com os teus relatórios e pensa em quem tem mais a perder. Fui!

V - Ô Estela, volta aqui! Que negócio é esse de perder? Estela!

(tarde demais. Estela já saiu. Ele volta pro computador. passagem de tempo. uma pilha de relatórios se formou.)

V - pô, mas cadê a Estela? A essa hora da madrugada? Ela nunca demorou tanto! Toda vez que tem samba é esse stress.  (pega o tel, liga. nada.) Fora de área?

(fantasma de Estela)
E - Eu sou a única que vai sempre sem marido.

V - Será? Será que ela...?

(fantasma de Estela)

E - Tem homens que dariam a vida pra estar no seu lugar.

V - Quer saber? Eu não vou entrar nessa pilha não. Eu confio na Estela e ela nunca me deu motivo de preocupação.  (abre uma latinha. senta-se no computador.) Vou aproveitar essa solidão também. Vou tomar minha gelada, baixar todos os gols do vasco, todas as fotos da playboy e ouvir meu heavy metal nas alturas. (bota Iron Maiden. Dança desajeitadamente na sala, fazendo “air guitar” e batendo cabeça. ) Isso é que é diversão, Estela! Eu nem me lembro da última vez que me diverti tanto!

(a música serve como passagem de tempo. Várias latinhas se acumulam pela mesa do computador. Valdir passa da euforia à paranóia e dessa ao desespero. Tenta ligar várias vezes. Entorna várias latinhas. Conversa com a foto da Mulher Melancia no computador.)   

V - Cadê essa mulher? Eu preciso passar por isso? Preciso, Mulher Melancia? Só porque eu não sei dançar? É crime? Tanta gente aí bate na mulher, trai, tranca a mulher em casa. Eu não faço nada disso, Melancia. Eu trato ela bem. Eu dou presente. Meu único erro é não gostar de samba. Nem de pagode, nem de forró, nem de axé! Aliás, me desculpe, Melancia, mas funk eu também acho uma merda. E daí? Ela também não gosta de Iron Maiden! Como pode alguém em sã consciência não gostar de Iron Maiden? E nem por isso eu deixo de gostar dela! Por que ela não pode gostar de mim? (Vai até a varanda e grita)

V - Estelaaaaaaaaaaaaa! Estelaaaaaaaaaaa!
  
voz em off (vizinho) – Vai dormir, porra!

V - Quer saber, Melancia? Eu vou atrás dela! 

(música de transição. Valdir sai de casa e dá voltas pelo palco, procurando)

- Caramba! Onde é que eu tô? Nenhum sinal de samba! E que lugar sinistro. Eu não me lembro de já ter passado por aqui. E eu moro em vila Isabel desde garoto.  (o palco começa a se encher de fumaça)  E que neblina é essa? Desisto. Vou voltar. (sem que ele perceba, um vulto de chapéu e terno branco aparece atrás dele). Ué... eu passei por essa encruzilhada? Não acredito que eu tô perdido. Maldito samba!

 (trovão)

N - Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz.

V - Porra, que susto você me deu. Você tá vindo do samba? Tô procurando minha mulher, a Estela.

N - Tem um cigarro, camarada? ( Valdir acende um cigarro e passa para ele) É, eu já vi essa Estela. Bonita cabrocha. Tá sempre sozinha no samba. (canta)
Se teu amor te deixar
Tu não podes te queixar
Vai sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

V - Peraí? Você tá dando razão pra ela? Meu amigo, por acaso você é casado?

N - A mulher é um achado
Que nos perde e nos atrasa
Não há malandro casado
Pois malandro não se casa

V – Agora é tarde. Se eu tivesse encontrado você antes...

N - Meu amigo,
Antes de descer ao fundo
Pergunte ao escafandro
Se o mar é mais profundo
Que as idéias do malandro

V - Mas eu não quero ser malandro. Eu só queria que ela me entendesse.

N - Quem precisa entender é você. (vai até a encruzilhada, onde há uma garrafa de cerveja. Bebe um pouco e oferece a valdir. Sentam no meio fio.)
N - Eu tenho fama de filósofo amador, mas uma cabrocha precisa sempre de um malandro. Há quanto tempo você não dá uma boa cantada na sua mulher?

V - Ah, que papo furado... a gente já tá junto há muito tempo, essas coisas mudam com o tempo, vai por mim.

N - E é porque essas coisas mudam que as cabrochas passam... sempre em busca do próximo malandro...

V - Mas então qual é a saída?

N - A saída, camarada, é mudar a sua conduta. Você ama sua mulher? Vai à luta! Tem que se adaptar, mudar, sair do comum. Quando você deixa de surpreender uma mulher, começa a morrer pra ela. Como vocês dizem aí no rock, pedra que rola não cria limo.

V - Mas eu não sei sambar... não adianta, eu não levo jeito.

N - Não tem a ver com saber ou não saber. Tem a ver com a forma como você olha pra ela. O samba é um estado de espírito, Valdir. Mantenha o samba vivo no coração da sua cabrocha.

V - Ei! Como é que você sabe meu nome? A gente nem se apresentou!

N - Você fala demais e ouve de menos, garoto. Ih, olha só: o orvalho vem caindo. Hora de cantar pra subir.

V – Caralho! Você é... quem eu tô pensando? (se benze) O Flores? Não, o Rosa? Como é que é o nome? Peraí! (Noel já saiu) Só me resta uma conclusão: preciso parar de beber.

(aparece Estela, voltando do samba)

E - Valdir? O que você tá fazendo aqui?

V - É que seu telefone não pegava e...

Fantasma de Noel:
N - Lembre-se, Valdir: Quando você deixa de surpreender uma mulher, começa a morrer pra ela.

V - Eu vim pra dançar com você.

E – Você? E quando foi que você aprendeu?

V - Não tem a ver com saber ou não saber. Tem a ver com a forma como eu olho pra você.

E - Além do mais, o samba já fechou.

V  - Pois eu quero dançar com você aqui, na rua, à luz da lua.

E - Que foi que deu em você, Valdir?

V - Tá assustada?

E - Tô... surpresa.

V - Surpresa é bom?

E - Surpresa é bom...

(ele se aproxima)

V - Eu quero dançar com você como se amanhã não existisse. (pega-a)

E - Mas... mas não tem música aqui...

V - Claro que tem. Tá tocando a nossa música. Não tá ouvindo? Deixa que eu guio você. (puxa ela. dançam juntinhos, como se tocasse uma  música lenta.) E agora? tá ouvindo?

E - Agora tô. (dançam um pouqinho)

V - Eu já disse que eu te amo hoje?

E - Há tanto tempo que você não diz...

V - Então vou dizer pelo resto da noite.

E - Tá amanhecendo. O orvalho vem caindo.

V - Deixa cair.

(beijam-se)




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A noite do Cazuza

Mais uma noite do Clube da Cena Unplugged. Dessa vez o compositor que serviu de inspiração foi Cazuza.

Abaixo uma palhinha dessa noite "exagerada" (todas as fotos de Bárbara Campos).

A PRIMEIRA VEZ QUE EU DISSE EU TE AMO, de Renata Mizrahi
música TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA
com Mariana Santos e Marcelo Dias
direção Luis Otávio Talu




 

ESTAÇÃO CENTRAL de Ivan Fernandes – música UM TREM PRAS ESTRELAS
com Cristina Fagundes e Zé Auro Travassos – direção Alexandre Bordallo



 
SUPEROVER de Cristina Fagundes – música EXAGERADO
com Marcelo Lima e Maíra Kesten – direção Cico Caseira


AQUELE GAROTO QUE IA MUDAR O MUNDO de Carla Faour – música IDEOLOGIA
com Bia Guedes e Luis Lobianco – direção Renato Livera


 


O QUE DIZER de César Amorim – música POR QUE QUE A GENTE É ASSIM?
com Mariana Consoli e José Alessandro – direção Wendell Bendelack


 


EU PRECISO DIZER QUE TE AMO de Regiana Antonini – música EU PRECISO DIZER QUE TE AMO
com Alexandre Barros e Thaís Lopes – direção Lincoln Vargas



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E o público elegeu como as cenas mais legais da noite, Aquele garoto que ia mudar o mundo e O que dizer.

Clique aqui para ver no youtube Aquele garoto que ia mudar o mundo.

Clique aqui para ver O que dizer.

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Agora pra vocês, os textos na íntegra dessas suas cenas:

O QUE DIZER?
(Inspirado na música “Por que a gente é assim?”)
De César Amorim.
SOM DE BOATE. WANDERLÉA TENTA FALAR COM ZUZA, UM GAY MUITO CHAPADO, QUE DANÇA LOUCAMENTE. ELE BEBE UÍSQUE; ELA, COCA-COLA.
Importante: os trechos de fala retirados das músicas não precisam ser cantados, melhor que sejam ditos como falas.
WANDERLÉA – Vem cá, Zuza! Por favor, me diz. Você pode me ajudar?
ZUZA – Mulher, deixa ver se entendi tua história. Você ia casar, mas o melhor amigo do teu namorado se declarou pra você na hora do casamento e você não casou. Sua cachorra morreu... ai, meus pêsames, eu a-m-a-v-a a Sarah Jéssica... Então, a coitadinha morreu e, na hora do enterro dela, um homem aparece do nada e diz que te ama loucamente. Você, muito prudentemente, mata ele.
WANDERLÉA – Ele me atacou. Legítima defesa!
ZUZA – Não me interrompa, se não vou ter que começar tudo de novo, que nem os meninos de Olinda. Então, voltando, você matou o seu admirador e a única testemunha do assassinato foi o homem que te vendeu as flores pro enterro da Sarah Jéssica. Tá tudo certo até aqui?
WANDERLÉA – Certíssimo.
ZUZA – E, claro, como nada na sua vida é simples, esse florista era um vampiro, que nasceu há dez mil anos atrás, e que também te perseguia porque você é a amada eterna dele. Ou seja, você tá exalando sexo.
WANDERLÉA – Você acredita em mim, não acredita?
ZUZA – Minha linda, vou te falar com pureza d’alma. Nesse exato momento, eu tou igual a Amy Winehouse minutos antes do passamento, ou seja, com alucinógenos até a alma. E, ainda assim, é difícil acreditar nessa tua história. Depois eu é que sou exagerado, né?
WANDERLÉA – Mas é a pura verdade, amigo. Me dá uma luz. O que é que eu faço?
ZUZA – Wandeca, minha rainha fofa, só tenho um conselho pra te dar: se joga. Aproveita essa vibe, tá entendendo? Tua vida sempre foi um saco, certinha pra caralho, toda regradinha. Tu nunca fumou umzinho, que eu tou sabendo, nunca nem bebeu álcool, então dá uma guinada, mulher.
WANDERLÉA – Do que é que você tá falando, Zuza? Eu matei um homem!
ZUZA – Cara, isso é demais! A tua vida girou 360 graus.
WANDERLÉA – 180.
ZUZA – Ai, que saco, você sempre limitada. O que é que custa girar 360? Não se limita. Agora é o momento de você aproveitar essa onda e cair pra dentro, sacou? Cair matando.
WANDERLÉA – Que cair matando o quê! Eu tou fudida, Zuza!
ZUZA – E isso é lindo! Cara, pensa, tu vai mudar. Não, tu já tá mudada. Tá com uma cara de maluca que é uma delícia de se ver. Se eu não te conhecesse bem ia te perguntar quem é o teu fornecedor. Isso que tá acontecendo contigo é o universo te dizendo pra partir pra outra, pra mudar a rota, pra deixar de caretisse e se entregar.
WANDERLÉA – Me entregar? Ai, não, eu não quero ser presa.
ZUZA – Porra, não é pra se entregar pra polícia, caralho. Se entrega a essa sensação nova. A essa adrenalina, a essa incerteza do amanhã. Vive o agora, tá me entendendo? E vai fugindo até te pegarem. Corre pelo mundo, voa, mergulha, faz alguma coisa de radical. Pensa assim, que tu tem uma doença terminal e que tem que aproveitar cada minuto de vida que te resta. Tou até arrepiado, gente. Vai ser lindo demais. Vai te dar um barato que tu não tem noção.
WANDERLÉA – Eu não tenho estrutura, Zuza.
ZUZA – Tem estrutura sim! Que papo é esse? Pensa comigo: tu já é uma assassina mesmo. Já fudeu com a vida de um coitado maluco que te amava. Já deixou o otário do Erasmo no altar. Se depois de tudo isso não tiver estrutura, trata de ter. Aproveita essa novidade na tua vida e muda ela. Tu já vai fazer 30 anos, mulher. Tá na hora de dar uma pirada.
WANDERLÉA – Não, tá na hora de me casar.
ZUZA – Deixa de ser chata, porra! Casar é o caralho, caceta! Que mania é essa de casar? E, quer saber, acho muito difícil. Nem sei como a anta do Erasmo te quis.
WANDERLÉA – O quê?
ZUZA – Amiga, você precisa ser forte. Eu preciso te dizer umas verdades. Vai doer? Ah, vai, mas pensa que faz parte do teu processo evolutivo. Seguinte: ninguém te gosta, Wandeca. Você só atrai gente maluca. E, perdão, amiga, mas, tirando teus admiradores esquisitos, todo mundo fala barbaridades de você.
WANDERLÉA – Todo mundo? Quem é todo mundo?
ZUZA – Pessoas que te conheceram e que te acharam o supra sumo da chatisse na terra.
WANDERLÉA – Gente, mas eu sempre sou tão fofa com todo mundo... e gosto tanto de tanta gente...
ZUZA – Mas tu fala demais, mulher. E é muito monotemática. Só fala em casamento, no homem perfeito, em casar antes dos 30... Ou seja, você é um porre! Se tu saísse do teu corpo um pouquinho, se perdesse o controle um tantinho que fosse, e se observasse de fora, tu ia ter uma noção do real significado da palavra “insuportável”.
WANDERLÉA – Nossa... eu tou tendo agora o real significado da palavra “depressão”. Zuza, eu tenho amigos e eles gostam de mim.
ZUZA – Amigos virtuais! E, pelo que você me contou, a maioria deles nem existem de verdade, foram fabricados pelo psicopata que você matou.
WANDERLÉA – Mas eu tenho você...
ZUZA – Sim, meu amor, você me tem. Mas sabe por quê? Por que eu te conheço desde criança. E te amo verdadeiramente. E vou te ser sincero, se te conhecesse hoje, ia pensar duas vezes se me aproximava de você.
WANDERLÉA – O que é que você tá bebendo aí? O soro da verdade?
ZUZA – Não, o soro da amizade. Ui, ficou piegas isso. Mas é isso mesmo. E olha pra você. Quase trinta anos e tomando coca-cola! Tu nunca tomou um porre na vida, mulher. E ainda é atriz. Como assim? E ainda dá aulas de teatro. Como assim? Fico imaginando que tipo de atores você tá produzindo. Ator certinho, meu bem, só o Tony Ramos. Essa vida é louca, é breve, deixa que ela te leve. Perde o controle e curte um pouco.
WANDERLÉA PENSA UM POUCO, DEPOIS ARRANCA O COPO DE UÍSQUE DAS MÃOS DE ZUZA E BEBE TUDO DE UMA VEZ.
WANDERLÉA – Tá olhando o quê?
ZUZA – Mais uma dose?
WANDERLÉA – É claro que eu tou a fim.
SOBE A MÚSICA. ZUZA PEGA UMA GARRAFA DE UÍSQUE E ELES COMEÇAM A BEBER E A DANÇAR MUITO. PASSAGEM DE TEMPO.
ZUZA – Aí eu falei no palanque da passeata gay: Brasil, mostra a tua cara!
SOBE MÚSICA. PASSAGEM DE TEMPO. ESTÃO MAIS BÊBADOS.
ZUZA – Eu queria ouvir de um homem assim: Você é o amor da minha vida. Daqui até a eternidade.
WANDERLÉA – Eu ouvi.
ZUZA – De vampiro não vale.
SOBE MÚSICA. PASSAGEM DE TEMPO. MAIS BÊBADOS AINDA.
ZUZA – Sabe o que você tem que fazer, Wandeca? Declarar guerra a quem finge te amar.
WANDERLÉA – Eu já comecei. Já matei um.
ZUZA – Ai, como você tá bandida!
ELES GARGALHAM. PASSAGEM DE TEMPO. MUITO MAIS BÊBADOS.
ENTRA RITA, UMA MULHER COM CABELO VERMELHO, MUITO CHAPADA TAMBÉM, QUE NÃO FALA COISA COM COISA.
ZUZA – Olha a Rita ali! Rita!! O que é que você tá fazendo aqui?
RITA – Eu arrombei a festa, meu bem. (Para Wanderléa): Chega mais. Chega mais.
WANDERLÉA SE APROXIMA.
RITA – Tu soube que suspenderam os jardins da babilônia?
WANDERLÉA – Oi?
RITA – Quem pode, pode. Deixa os acomodados que se incomodem.
ZUZA – Cara, tu tá muito linda. Maior luz.
RITA – Baila comigo?
WANDERLÉA – Eu?
ZUZA – Vai, boba. Se joga.
RITA – Eu conheço essa cara, esse jeito, essa cara de louca... Gata borralheira, você é princesa...
WANDERLÉA – E a princesa aqui procura um príncipe, não outra princesa, tá? Dá licença.
RITA – O sexo frágil não foge à luta.
WANDERLÉA – Zuza, sossega essa mulher.
RITA – Vem cá, meu bem, me descola um carinho. Eu só sossego com beijinho.
WANDERLÉA – Zuza! Ela tá me cantando!
ZUZA – A Rita é assim, vai morrer cantando.
RITA – Ok, já entendi. Desculpe o auê. Eu não queria magoar você.
RITA SAI.
WANDERLÉA – Ela tá muito...
ZUZA – Feliz. Essa é a vida que eu quis. Era tudo o que eu queria.
WANDERLÉA – E eu queria tanta coisa. Queria que essa noite nunca tivesse fim. Ai, Zuza, não tou legal. Por favor, fica comigo e não desgruda de mim. E me diz... por que é que a gente é assim?
SOBE UMA MÚSICA BEM DANÇANTE. ELES SE ABRAÇAM E DANÇAM COLADOS, COMO SE FOSSE UMA MÚSICA LENTA.
FIM.


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MÚSICA: IDEOLOGIA  - carla faour
CENA: AQUELE GAROTO QUE IA MUDAR O MUNDO.

CENA 1 – SALA DA CASA. INT. DIA

MENINO BRINCA ENQUANTO A MÃE FALA AO TELEFONE.
PAULINHO - O Super Homem vai acabar com os bandidos! Pow! Pow! Pow!
MÃE - Estou tremendo até agora, Ricardo. Precisa ver a confusão que tá aqui na rua. Polícia, sirene... tão dizendo que ele estava encapuzado. Coisa de profissional, mesmo.
PAULINHO - Eu tenho super poderes!
MÃE - O Paulinho tá bem. Agitado, mas bem.
PAULINHO - Não tenho super poderes, mãe? Mãe! Manhê!
MÃE - Nessas horas é importante a figura do pai, pra dar segurança. Que horas você vai passar pra pegar ele?
PAULINHO - Manhê, eu tenho super poderes?
MÃE - Tem, Paulinho. Tem sim.
PAULINHO - Oba! Eu tenho super poderes!
MÃE - Não vem? Como assim, Ricardo? De novo? Não acredito!
PAULINHO - Super visão de raio x! Super força! Vou matar todos os meus inimigos! Arrancar a cabeça de todos eles! Estourar os miolos!
PAULINHO SOBE NOS MÓVEIS FAZENDO BARULHO DE TIRO.
PAULINHO – POW! POW!
MÃE - Desce daí! Não, Ricardo, estou falando com seu filho. Vem cá, onde você tá, hem? Que barulheira é essa? Ocupado? Sei! Sei muito bem qual é a sua ocupação. (p/ Paulinho) Já disse pra você descer! Você vai se machucar, menino! Eu não acredito que, justo hoje, você não vem buscar ele! É o fim da picada!
PAULINHO - Mãe, se eu me machucar o Super Homem vem me salvar?
MÃE - Se você se machucar a sua “super mãe” vai te levar pro hospital. Porque o seu pai... Ué, qual o problema? Eu estou mentindo, Ricardo? Ele só tem a mãe mesmo, por que o pai... Sabe há quanto tempo você não vê o Paulinho?
PAULINHO - Quem é mais forte, mãe? Meu pai ou o Super Homem?
MÃE - Com certeza o Super Homem. (p/ Ricardo) É por isso que ele está com problemas na escola. É a falta da figura paterna. Eu o quê? Estou colocando o seu filho contra você? Ah, me poupe! Ricardo, eu não quero discutir isso na frente do. Paulinho, vai pro seu quarto, vai meu filho.
PAULINHO - Mas por quê?
MÃE - Por que eu quero!
PAULINHO - Mas eu...
MÃE – Eu estou mandando. Vai estudar. Já fez o seu dever de casa? Vai fazer o dever de casa. (P/ Paulinho)
PAULINHO – Pôxa, mãe.
MÃE - Agora! (p/ Ricardo)
PAULINHO - Aposto que o Super Homem nunca estudou.
MÃE - Aposto que você não vem pegar seu filho porque tá aí na farra, não é Ricardo? Na galinhagem...
MÃE CONTINUA CONVERSANDO COM PAI AO TELEFONE. PAULINHO VAI PARA O QUARTO FALANDO.
PAULINHO - Vou matar todos os impostores! Todos! Um por um! Tchum! Tchum! Vou arrancar os olhos deles. De todos os ladrões e malfeitores!
MÃE - Você pensa que ele não percebe o que tá acontecendo. Como “o quê”? Tudo! Ele sabe que você não dá menor bola pra ele... 
CENA 2 – QUARTO DE PAULINHO. INT. DIA.
PAULINHO ENTRA NO QUARTO E DÁ DE CARA COM UM HOMEM ENCAPUZADO, VESTIDO COM A ROUPA DO SUPER HOMEM. O HOMEM ESTÁ NERVOSO, ELE SEGURA UMA ARMA. AO SEU LADO, UM SACO COM OBJETOS ROUBADOS. O HOMEM ESTÁ DE TOCAIA, OLHANDO PELA JANELA, TENTANDO VER OQUE ESTÁ ACONTECENDO NA RUA.
PAULINHO – (LEVA UM SUSTO) Super homem?!
SUPER HOMEM - Shuuu! Cala a boca!
PAULINHO - Não acredito! O que você está fazendo aqui? Caraca, o Super Homem no meu quarto!
SUPER HOMEM - Se você der um pio, eu acabo contigo.
PAULINHO - Comigo? O que foi que eu fiz?
SUPER HOMEM – Nasceu!
PAULINHO - Ah, já sei! Já sei o que você tá fazendo aqui. Você veio prender os bandidos! Uhuu! (PAULINHO PROCURA ENTRE SEUS BRINQUEDOS UMA ARMA)
SUPER HOMEM – O que você está fazendo? O que é isso?
PAULINHO – Tô procurando a minha  arma. O meu revólver. Eu vou te ajudar a prender os ladrões.
SUPER HOMEM FICA NERVOSO E APONTA A ARMA DE VERDADE PRA ELE.
SUPER HOMEM – Larga isso! Quer dar uma de engraçadinho comigo, é? Se você fizer alguma coisa eu atiro, pivete.
PAULINHO – Calma, Super Homem eu só quero ajudar. Nós estamos do mesmo lado. Do lado dos fracos e oprimidos!
SUPER HOMEM – Me passa essa arma. Já disse, a arma! (SUPER HOMEM PEGA E VÊ QUE É UMA ARMA DE BRINQUEDO JOGA EM CIMA DA CAMA).
PAULINHO – Foi meu pai que me deu.
SUPER HOMEM - Cala a boca! Tem bebida aqui?
PAULINHO - Serve o toddynho da minha merenda?
SUPER HOMEM VAI ATÉ A JANELA PRA TENTAR VER ALGUMA COISA.
SUPER HOMEM –  Droga, eu tenho que arrumar um jeito de sair. Você viu se a policia ainda tá rondando?
PAULINHO – Não vi, não. Mas se você quiser eu chamo a polícia. Quer?
SUPER HOMEM – Não! Tá maluco?
PAULINHO – Bem que eu estava achando estranho. O Super Homem nunca precisou da ajuda dos tiras. Você resolve tudo sozinho, não é Super?
SUPER HOMEM – É... é isso mesmo.
SUPER HOMEM OLHA PELA JANELA NOVAMENTE. O GAROTO SE APROXIMA DO SACO. DE ONDE TIRA CELULAR, MÁQUINA FOTOGRÁFICA.
PAULINHO - Que saco é esse? Você trouxe presente pra mim?
SUPER HOMEM - Caralho! Não mexe nisso!
PAULINHO - Você fala palavrão, Super homem? Minha mãe diz que é feio falar palavrão.
SUPER HOMEM - Tira a mão daí! Tu quer morrer?
PAULINHO - Ninguém morre ao lado do Super homem!
SUPER HOMEM – Que mala...
PAULINHO - Você acha que nós estamos correndo perigo de vida?
SUPER HOMEM - Você está.
PAULINHO - Eu? (T) Manhê!
SUPER HOMEM - Shuuuu! Porra, moleque!
A MÃE GRITA DA SALA
MÃE - Que foi, Paulinho?
PAULINHO - O Super Homem tá falando palavrão.
SUPER HOMEM – Shuuuu!
MÃE - Paulinho, me dá uma folga, tá bom? Seu pai me estressou de um modo que eu estou toda tremendo por dentro.
SUPER – Agora você vai ficar de bico calado. Estamos entendidos?
PAULINHO - Vem cá. Vou te mostrar uma coisa. Promete que não conta pra ninguém?
PAULINHO MOSTRA GARRAFAS DE CACHAÇA ESCONDIDAS DEBAIXO DA CAMA OU NUMA CAIXA.
SUPER HOMEM -  Porra, tava escondendo o jogo, garoto?
PAULINHO – É tudo do meu pai. Ele me pediu pra guardar segredo.  Mas pra você eu posso contar, né? Afinal, você é o Super Homem.
SUPER HOMEM ABRE A GARRAFA E BEBE A CACHAÇA.
PAULINHO - Você bebe que nem o meu pai.
SUPER HOMEM - Teu pai deve ser gente boa.
PAULINHO - Minha mãe não acha!
SUPER HOMEM – Liga não, mulher é tudo igual.
BARULHO DE SIRENE.
SUPER HOMEM – Merda! Vem cá, garoto.
PAULINHO - O que você vai fazer?
SUPER HOMEM – Nós... nós vamos dar uma volta.
PAULINHO – Volta? Nós dois? Que maneiro! Eu vou voar? Caramba! Eu vou voar com o Super homem. Nós vamos prender os bandidos? Quando eu contar ninguém vai acreditar. Cadê a sua máquina?
SUPER HOMEM -  Que máquina?
PAULINHO – A máquina de tirar foto que tá dentro do saco. Eu quero uma foto com você. Eu e o Super Homem.
SIRENE DE POLÍCIA SE APROXIMA. SUPER HOMEM SE AGITA.
SUPER HOMEM – Foto a gente deixa pra depois, mas voar... Voar eu prometo que você vai.
PAULINHO – Que maneiro...
SUPER HOMEM PEGA O GAROTO, COLOCA A ARMA NA CABEÇA DELE E  SAI GRITANDO.
SUPER HOMEM - Se fizerem alguma coisa eu atiro no moleque! Não tô de brincadeira, não! Mando ele pro espaço! Tão me entendendo? Pro espaço!
SUPER HOMEM – (BAIXINHO P/ PAULINHO) Eu não disse, que a gente ia voar, garoto?
PAULINHO – Super Homem, quando eu crescer quero ser igual a você.
FIM.