quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Noel Rosa como inspiração!



Mais uma noite do Clube da Cena Unplugged. Dessa vez a inspiração partiu do compositor Noel Rosa.

Abaixo uma palhinha dessa noite:


Eu Não Sei Dançar de Ivan Fernandes - da música O Orvalho Vem Caindo. Com Alex Nader e Mariana Costa Pinto. Direção: Breno Sanches


Linda Pequena de Regina Antonini - da música Linda Pequena. Com Renato Albuquerque e Priscila Assum. Direção Luis Carlos Nem



O Misterioso Caso do vaso Chinês de Diego Molina - da música Último Desejo. Com Cláudio Amado e Renata Tobelem. Direção: Cacau Berredo



Terra de bamba de carla faour da música Feitiço da Vila com Flávia espírito santo e Alexandre Barros. Direção: Paulo Mathias Junior


Faça seu Pedido de Cesar Amorim - da música Conversa de Botequim. Com Luis Lobianco e Rita Fisher. Direção Susanna Kruger


Samba do Adeus de Cristina fagundes - da música Fita Amarela. Com Zé Guilherme Guimarães e Bia Guedes. Direção: Fernando Melvin



E como em toda noite, o público escolheu as suas cenas favoritas.

Em primeiro lugar foi escolhida a cena Samba do Adeus, de Cristina Fagundes. Clique aqui para vê-la no youtube.

Em segundo lugar, ficou a cena Eu não sei dançar, de Ivan Fernandes. Clique aqui para vê-la no youtube.

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Abaixo, confira na íntegra os textos das cenas escolhidas.

SAMBA DO ADEUS de Cristina Fagundes
Música Fita Amarela – Noel Rosa
Homem sentado confortavelmente numa cadeira. Mulher espalha flores pela sala, clima de festa.
HOMEM: Desce mais uma gelada ô Isaurinha!
MULHER: Mais outra Nestor?
HOMEM: Ué, hoje é o grande dia pretinha! E o caldinho de feijão, já tá pronto?
MULHER: Tá no fogo. Tú tá com uma fome hien homem!
HOMEM: è fome de saudade. E a rapaziada? Já ta aí?
MULHER: Tão tudo aí fora, Juarez, Opala, Zé do Repique, Mendoim torrado, tão lá,  tudo encachaçado.
HOMEM: Assim é que é bom. Senta aqui Pretinha. Eu quero te pedir uma coisa.
MULHER: Fala.
HOMEM: Eu quero que você receba bem a Celma, tá bem?
MULHER: Ah, não vem não, Nestor, que na minha casa aquela cachorra não bota os pés. Tá me ouvindo? Ah não gente, que isso?!
HOMEM: Me escuta Isaura.  Calma, eita!  Escuta, eu to falando sério. A partir de hoje eu quero essa casa aberta para Celma e pras crianças também tá me ouvindo?
MULHER:...
HOMEM: Eles são o meu sangue, não pode ser assim Pretinha.  Pra que tanto rancor nesse coração? Olha, a Celma vem aqui hoje. Ela tem esse direito. Tá comigo pra lá de 20 anos, pretinha.
 MULHER: De sem vergonha que ela é. Arregaçada, filha de uma porca gorda!
HOMEM: Isaura, mulher de verdade pra mim só tem você, tu sabe disso.  Mas é que eu tenho minhas obrigações com a Celma, não posso deixar ela por aí sem assistência, compreende? E tem as crianças também. 
MULHER: Aquele bando de erê!
HOMEM: Olha aqui, Pretinha, eu quero que você me prometa que vai tratar as crianças bem. Hein? Num vai ficar dando cascudo nelas.
MULHER: Eu nunca fiz isso Nestor, isso é conversa da Celma.
HOMEM: Acaba com essa confusão. Faz isso por mim, tá bem? To te pedindo.
MULHER: Se você quer tanto... Mas da sala aquela vaca holandesa não passa.
HOMEM: Obrigado Pretinha.
MULHER: Aqueles tamanco dela vai arranhar o chão tudo, já to vendo, parece até uns casco de vaca.
HOMEM: Olha minha pretinha, tem outra coisa.
MULHER: Ihhh.. que que é?
HOMEM: Pode ser que venha alguma dona aí perguntar por mim esses dias.
MULHER: Perguntar o  quê? Que dona é essa agora Nestor?
HOMEM: é uma história complicada, mas você recebe ela tá bem? E escuta o que ela tem pra te dizer.  (muda de assunto) Tem uma branquinha aí? (cachaça)
MULHER: Credo! Como você bebe Nestor.
HOMEM: Ué! Hoje é dia de festa!  Agora, chega aqui pertinho. (ela se aproxima – ele dá um beliscão nela) Tu tá gostosa hein Isaura. Potranca! Égua! Chega aqui. Olha só, eu não quero tu aí solta aí pelos sambas, rebolando essa buzanfa, num tem cabimento, então...  eu pensei que o melhor mesmo vai ser você se juntar com o Juarez.
MULHER: Que papo é esse Nestor?
HOMEM: Você vai morar com o Juarez, Isaura, vai ser melhor assim.
MULHER: Quê?
HOMEM: Vai fazer as malas e vai pra casa dele, hoje mesmo, quando acabar o samba. È o mais certo. O Juarez é farrista mas sabe dar valor a uma mulher.
MULHER: Nestor, o Juarez é seu melhor amigo.
HOMEM: Por isso mesmo ué, eu já sei como ele é. Sei os defeitos, sei as mentiras.  Então vai ser  com o Juarez.
MULHER: Você num tá bem do juízo não.
HOMEM: Nunca estive tão bem.
MULHER: Deve ser essa sua doença aí.
HOMEM: Não quero esse seu coração vazio Isaura, faz até mal. Quero ter ver florida quando eu olhar lá de cima. Você de cara fechada  nem fica bem. Agora chama o Juarez.
ELA SAI.
ENTRA JUAREZ.
JUAREZ: E aí parceiro? Como é que tá essa força?
HOMEM: Chegou meu dia né?
JUAREZ: que papo é esse Nestor?
HOMEM: quem vai morrer sabe. Pressente.
JUAREZ: Que isso comprade. Para de falar assim.
HOMEM: A gente fica assim meio sobrenatural Juarez. Quando tá perto de morrer. Bagulho estranho. Não dá nem pra explicar. Mas aí. Te chamei por que quero acertar uns lances contigo.
JUAREZ: Fala.
HOMEM: A Isaura é uma mulher e tanto, companheira toda vida. E o lance é o seguinte. Eu não quero que ela fique só, compreende? Num quero a Isaura na mão de malandro, por aí.
JUAREZ: Claro.
HOMEM: A Isaura não é mulher pra isso. Então eu preciso que você cuide da Isaura pra mim.
JUAREZ: Claro. Eu cuido sim.
HOMEM: É um pedido de amigo. Tu vai se casar com ela, tá me entendendo?
 JUAREZ: ...?
HOMEM: Você faz isso por mim, não faz?
JUAREZ: Mas...
HOMEM: Tu num disse que ia cuidar dela?
JUAREZ: Pô Nestor, assim você me quebra.
HOMEM: A gente é parceiro ou não é?
JUAREZ: Claro que é. A gente é parceiro. Mas pó Nestor, eu não sou um cara que queira assim... se casar... compreende? Não tava no meu planejamento esse lance aí de casamento.
HOMEM: A Isaura é uma boa mulher. E ela gosta de ti.
JUAREZ: Gosta como amiga.
HOMEM: Mas isso muda, a convivência traz o amor.
JUAREZ: Olha, com todo o respeito, eu num to querendo desfazer da comadre não, mas é que pô, você não me leva a mal não, a gente é amigo desde moleque, mas aí, meu irmão, tá muito estranho esse seu pedido.
HOMEM: É meu último pedido.
JUAREZ: Mas a Isaura é muito braba Nestor.
HOMEM: Eu só te pedindo isso porque tu é meu amigo.
JUAREZ: (hesita ainda, constrangido). Parece uma onça.
HOMEM: E tem uma coisa, a Isaura faz uma rabada com agrião... tu tem fraco por rabada Juarez que eu sei.
JUAREZ: (ficando interessdo) È... isso é...
HOMEM: (chama ele pra mais perto para segredo) Chega aqui, ó, na minha gaveta da mesa de cabeceira tem uma caixa com uns sambas aí, umas paradas que eu fiz. Umas composições. Tem coisa boa lá meu irmão.  Pode ficar pra você. Tu fica com os sambas mas casa com a Isaura.
JUAREZ: Pô Obrigado Nestor. Sendo assim eu vou aceitar sim. Se é o que você quer. È uma honra.
HOMEM: (FELIZ) Sabia que tu num ia me deixar na mão, meu irmão. (muda assunto) Vem cá: trouxe a fita?
JUAREZ: A tal da fita amarela? Cada uma... olha aqui (mostra pra ele).
HOMEM: Agora me diz uma coisa: tu lembra daquele samba que a gente foi na rua do ouvidor?
JUAREZ: Que samba?
HOMEM: Aquele primeiro samba, o primeiro de todos, o primeiro que a gente foi na vida.
JUAREZ: Caramba, tu tá falando do samba do Barnabé?
HOMEM: Isso mesmo.
JUAREZ: Pô, a gente tinha o quê? Uns 10 anos?
HOMEM: Nem isso.  Mas tu lembra que lá pelas tantas chegou uma mulata lá, porra era uma mulata dessas de parar o trânsito. Tipo exportação.   
JUAREZ: Podes crer to ligado sim.  A rapaziada atravessou o samba e tudo. 
HOMEM: A mulher era sensacional.  Qual era o nome dela mesmo?
JUAREZ: Peraí... (lembra) Luci... era Luci alguma coisa... Lucimar, é isso. Ela era a filha do Joao da Vila.
HOMEM: Lucimar da Vila. Isso mesmo. Um mulherão. Anota aí o nome dela.
JUAREZ: O quê?
HOMEM: Anota aí na fita pô: Lucimar da Vila.
JUAREZ: Assim?   
HOMEM: Isso, anota aí, que se tiver vida após a morte eu quero ter sorte. Sorte com as mulheres e essa mulata aí vai me dar sorte. Ela vai ser meu pé de coelho. Agora amarra aqui, três nós. 
JUAREZ: (amarrando) Só tu mermo. (tempo) Eu vou sentir sua falta parceiro.
HOMEM: Eu também.  Mas eu to contente, quer saber? Eu vivi bem e só vou cedo assim é porque já gastei tudo que tinha pra gastar. Se liga numa coisa Juarez: a vida não é só extensão não, ela também é profundidade, morô? Eu já vivi muito mais que muito velhinho por aí, é ou não é?
JUAREZ: Ah, isso é.
HOMEM: Juarez. (chama para segredo e pega 2 envelopes) ò, entrega isso aqui pra Lilica. E esse aqui pra Bebel. Mas não deixa a Isaura ver não hein?  Mulher não entende essas coisas de muita mulher.  Sabe como é? Cabeça de mulher é muito doida. (tempo) Compadre, (tempo) toma umas por mim tá bem? (bebida) Eu vou sentir falta disso.  (muda o tom) Agora chama a Isaura.
JUAREZ: Isaura!
ISAURA: (vem rápido, lágrimas nos olhos)
HOMEM: Pretinha.
ISAURA: Oi.
HOMEM: Chegou a hora. To pronto. (olha para ela, paralisada de medo, chegou a hora) Dá cá meu beijo. (se beijam, é a despedida).
ISAURA: (terna) Por que é que tu me chama de pretinha se eu sou loira?
HOMEM: Ah, porque eu gosto. Pra mim você vai ser sempre a minha pretinha.  HOMEM: Olha, se você sentir minha falta, manda colocar água no feijão e bota um prato a mais na mesa que eu vou saber que é pra mim, tá bem?  Você tá chorando pretinha? Não chora não.  Hoje eu  não quero choro nem vela. Hoje é só felicidade, que Gente existe é pra ser feliz, ta me entendendo?  Agora vai, chama a rapaziada que eu já to pronto. Vai! E solta o samba, que hoje é dia de festa!  (eles saem para chamar - Ele se acomoda, diz)
HOMEM: Hoje... é dia de festa...
(sorri, e morre, satisfeito, enquanto entram os amigos e um grupo de samba de roda que toca: Fita amarela – o velório é uma festa). Fim.

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Música: O Orvalho vem caindo

EU NÃO SEI DANÇAR
De Ivan Fernandes

Estela se arrumando pra sair. Valdir no computador de samba-canção.

E - Eu já tô quase pronta, Valdir. (vê) Você ainda tá assim?

V - Qual é a surpresa, Estela? Você sabe muito bem que eu não vou.

E - Custa você me fazer a vontade pelo menos uma vez?

V - Eu tenho que terminar esta pilha de relatórios. Além do mais eu não sei sambar. Toda vez que eu vou ao samba pensam que eu sou gringo. O que eu vou fazer lá? Olhar você dançar?

E - Acompanhar a sua mulher, que adora samba e não vive sem samba. 

V - Eu te proíbo de ir? Eu fico te regulando?

E - Eu sou a única que vai sempre sem o marido.

V - Tem mulheres que dariam a vida pra estar no seu lugar. Aproveita.

E – É? E tem homens que dariam a vida pra estar no seu lugar. Vou pensar se eu vou aproveitar.

V - Tá me ameaçando?

E - Ttô indo pro samba, Valdir. Fica aí com os teus relatórios e pensa em quem tem mais a perder. Fui!

V - Ô Estela, volta aqui! Que negócio é esse de perder? Estela!

(tarde demais. Estela já saiu. Ele volta pro computador. passagem de tempo. uma pilha de relatórios se formou.)

V - pô, mas cadê a Estela? A essa hora da madrugada? Ela nunca demorou tanto! Toda vez que tem samba é esse stress.  (pega o tel, liga. nada.) Fora de área?

(fantasma de Estela)
E - Eu sou a única que vai sempre sem marido.

V - Será? Será que ela...?

(fantasma de Estela)

E - Tem homens que dariam a vida pra estar no seu lugar.

V - Quer saber? Eu não vou entrar nessa pilha não. Eu confio na Estela e ela nunca me deu motivo de preocupação.  (abre uma latinha. senta-se no computador.) Vou aproveitar essa solidão também. Vou tomar minha gelada, baixar todos os gols do vasco, todas as fotos da playboy e ouvir meu heavy metal nas alturas. (bota Iron Maiden. Dança desajeitadamente na sala, fazendo “air guitar” e batendo cabeça. ) Isso é que é diversão, Estela! Eu nem me lembro da última vez que me diverti tanto!

(a música serve como passagem de tempo. Várias latinhas se acumulam pela mesa do computador. Valdir passa da euforia à paranóia e dessa ao desespero. Tenta ligar várias vezes. Entorna várias latinhas. Conversa com a foto da Mulher Melancia no computador.)   

V - Cadê essa mulher? Eu preciso passar por isso? Preciso, Mulher Melancia? Só porque eu não sei dançar? É crime? Tanta gente aí bate na mulher, trai, tranca a mulher em casa. Eu não faço nada disso, Melancia. Eu trato ela bem. Eu dou presente. Meu único erro é não gostar de samba. Nem de pagode, nem de forró, nem de axé! Aliás, me desculpe, Melancia, mas funk eu também acho uma merda. E daí? Ela também não gosta de Iron Maiden! Como pode alguém em sã consciência não gostar de Iron Maiden? E nem por isso eu deixo de gostar dela! Por que ela não pode gostar de mim? (Vai até a varanda e grita)

V - Estelaaaaaaaaaaaaa! Estelaaaaaaaaaaa!
  
voz em off (vizinho) – Vai dormir, porra!

V - Quer saber, Melancia? Eu vou atrás dela! 

(música de transição. Valdir sai de casa e dá voltas pelo palco, procurando)

- Caramba! Onde é que eu tô? Nenhum sinal de samba! E que lugar sinistro. Eu não me lembro de já ter passado por aqui. E eu moro em vila Isabel desde garoto.  (o palco começa a se encher de fumaça)  E que neblina é essa? Desisto. Vou voltar. (sem que ele perceba, um vulto de chapéu e terno branco aparece atrás dele). Ué... eu passei por essa encruzilhada? Não acredito que eu tô perdido. Maldito samba!

 (trovão)

N - Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz.

V - Porra, que susto você me deu. Você tá vindo do samba? Tô procurando minha mulher, a Estela.

N - Tem um cigarro, camarada? ( Valdir acende um cigarro e passa para ele) É, eu já vi essa Estela. Bonita cabrocha. Tá sempre sozinha no samba. (canta)
Se teu amor te deixar
Tu não podes te queixar
Vai sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

V - Peraí? Você tá dando razão pra ela? Meu amigo, por acaso você é casado?

N - A mulher é um achado
Que nos perde e nos atrasa
Não há malandro casado
Pois malandro não se casa

V – Agora é tarde. Se eu tivesse encontrado você antes...

N - Meu amigo,
Antes de descer ao fundo
Pergunte ao escafandro
Se o mar é mais profundo
Que as idéias do malandro

V - Mas eu não quero ser malandro. Eu só queria que ela me entendesse.

N - Quem precisa entender é você. (vai até a encruzilhada, onde há uma garrafa de cerveja. Bebe um pouco e oferece a valdir. Sentam no meio fio.)
N - Eu tenho fama de filósofo amador, mas uma cabrocha precisa sempre de um malandro. Há quanto tempo você não dá uma boa cantada na sua mulher?

V - Ah, que papo furado... a gente já tá junto há muito tempo, essas coisas mudam com o tempo, vai por mim.

N - E é porque essas coisas mudam que as cabrochas passam... sempre em busca do próximo malandro...

V - Mas então qual é a saída?

N - A saída, camarada, é mudar a sua conduta. Você ama sua mulher? Vai à luta! Tem que se adaptar, mudar, sair do comum. Quando você deixa de surpreender uma mulher, começa a morrer pra ela. Como vocês dizem aí no rock, pedra que rola não cria limo.

V - Mas eu não sei sambar... não adianta, eu não levo jeito.

N - Não tem a ver com saber ou não saber. Tem a ver com a forma como você olha pra ela. O samba é um estado de espírito, Valdir. Mantenha o samba vivo no coração da sua cabrocha.

V - Ei! Como é que você sabe meu nome? A gente nem se apresentou!

N - Você fala demais e ouve de menos, garoto. Ih, olha só: o orvalho vem caindo. Hora de cantar pra subir.

V – Caralho! Você é... quem eu tô pensando? (se benze) O Flores? Não, o Rosa? Como é que é o nome? Peraí! (Noel já saiu) Só me resta uma conclusão: preciso parar de beber.

(aparece Estela, voltando do samba)

E - Valdir? O que você tá fazendo aqui?

V - É que seu telefone não pegava e...

Fantasma de Noel:
N - Lembre-se, Valdir: Quando você deixa de surpreender uma mulher, começa a morrer pra ela.

V - Eu vim pra dançar com você.

E – Você? E quando foi que você aprendeu?

V - Não tem a ver com saber ou não saber. Tem a ver com a forma como eu olho pra você.

E - Além do mais, o samba já fechou.

V  - Pois eu quero dançar com você aqui, na rua, à luz da lua.

E - Que foi que deu em você, Valdir?

V - Tá assustada?

E - Tô... surpresa.

V - Surpresa é bom?

E - Surpresa é bom...

(ele se aproxima)

V - Eu quero dançar com você como se amanhã não existisse. (pega-a)

E - Mas... mas não tem música aqui...

V - Claro que tem. Tá tocando a nossa música. Não tá ouvindo? Deixa que eu guio você. (puxa ela. dançam juntinhos, como se tocasse uma  música lenta.) E agora? tá ouvindo?

E - Agora tô. (dançam um pouqinho)

V - Eu já disse que eu te amo hoje?

E - Há tanto tempo que você não diz...

V - Então vou dizer pelo resto da noite.

E - Tá amanhecendo. O orvalho vem caindo.

V - Deixa cair.

(beijam-se)




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