Mais uma semana do Clube da Cena Unplugged. Uma noite completamente inspirada nas composições de Rita Lee.
Abaixo uma pequena palhinha das cenas dessa noite - sexta, 5/08!
QUEM ELE PENSA QUE É, de Regiana Antonini – música Esse tal de Roque Enrow
com Bia Guedes e Mariana Costa Pinto
direção de Paulo Mathias Junior
EROS UMA VEZ de Ivan Fernandes – música Cor de Rosa Choque
com Rita Fischer e Zé Guilherme Guimarães
direção Cacau Berredo
DESCULPE O AUÊ, de Cristina Fagundes – música Desculpe o Auê
com Renata Tobelem e Luis Lobianco
direção Miguel Thiré
MULHER BRASILEIRA de Renata Mizrahi – música Pagú
com Priscila Assum e João Rodrigo Ostrower
direção Susanna Krugger
VAMPIRO MUTANTE de Carla Faour – música Doce Vampiro
com Flávia Espírito Santo e Cláudio Amado
direção Breno Sanches
TE PEGUEI de Diego Molina – música Flagra
com Alex Nader e Renato Albuquerque
direção Fernando Melvin
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E as cenas escolhidas pelo público como as favoritas foram:
Quem ele pensa que é, de Regiana Antonini e Eros uma vez, de Ivan Fernandes.
Clique aqui para ver a cena Quem ele pensa que é no youtube.
E clique aqui para ver a cena Eros uma vez no youtube.
Abaixo, os textos na íntegra para vocês acompanharem.
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EROS UMA VEZ
De Ivan Fernandes
(Eros e Psiquê em sua noite de amor. Estão nos momentos imediatamente seguintes ao êxtase; no momento “cigarrinho”, jogados na cama, arfando, com um sorriso aberto.)
P - Eros?
E - Oi, coração?
P - Você me ama?
E - Claro que sim.
P - Tem certeza?
E - Tenho.
P – Mas tem certeza como?
E - Sei lá. Tendo, ué.
P - E se eu fosse outra? E se eu fosse Afrodite?
E - Mas Afrodite é minha mãe!
P - E por isso você acha que ela é melhor que eu?
E - Não! Quem disse isso?
P - Você!
E - Eu? Não! Quando?
P - Disse sim, você acabou de dizer que acha ela melhor do que eu.
E - Impossível! Eu acho você a melhor de todas!
P - De todas? De todas as mulheres da Grécia? Como é que você pode saber disso?
E - Eu sou Eros, Psiquê, esqueceu? Eu conheço todas!
P - Então você acha que eu sou a melhor?
E - Acho.
P - Tá vendo? Você acha, não tem certeza.
E - Caralho.
P - E se você nunca tivesse me encontrado?
E - Como assim?
P- Você ia estar dizendo essas mesmas coisas pra outra. Como você é cara de pau, hein?
E - Quer saber, não vou falar mais nada. Depois da nossa noite de amor mitológica você me vem com DR?
P - Eu não quero DR. Só quero saber o que você sente. Isso é pedir demais?
E - O que eu sinto? Você acha que eu iria fazer tudo que fiz por você, brigar com todos os deuses, resgatar você da morte, se não sentisse nada?
P - Mas por que você fez isso?
E - Porque eu amo você!
P- Quem disse?
E – Eu!
P - Como você sabe? O que diz isso pra você?
E - Meu coração.
P - Ele diz “É isso aí, Eros, essa é a mulher da sua vida”?
E - É isso que ele diz.
P - E você acredita em tudo que ele diz?
E - Nem sempre. Mas agora sim.
P - E o que ele tá dizendo agora?
E - Que essa é uma conversa idiota.
P - (levanta, puta) Tá vendo? Por que é assim sempre que eu tento conversar sério com você?
E - Que é que tá pegando, Psiquê?
P - Eu quero terminar, Eros! Não posso ficar com um cara que não me compreende. (vai catando suas coisas)
E - Mas você atravessou tantos sacrifícios pra estar aqui! E agora que nós finalmente estamos juntos, você quer ir embora?
P - A culpa é sua! Você não me dá escolha!
E - Mas eu não fiz nada!
P - Justamente! Você tá me vendo ir embora e não faz nada pra impedir!
(sai, chorando. Ele vai atrás dela)
E - Psiquê! Peraí! Vamos conversar...
P - Você tem ignorado todas as minhas necessidades emocionais. Eu não aguento mais!
E - Desculpa benzinho, eu não sabia.
P - Eu só quero estar com alguém que me ame de verdade. É pedir muito isso?
E - Mas eu te amo de verdade.
P - Mas você não demonstra! Sei lá, parece que tudo eu preciso falar pra você entender. Se você me amasse mesmo, me entenderia sem eu precisar falar, sem eu precisar pedir, porque amor é isso, amor é sintonia, entende?
E - Entendo. Sintonia. Eu prometo que eu vou mudar, benzinho.
P - Jura?
E - Juro.
P – Jura mesmo?
E – Juro mesmo.
P – Então vamos acabar com essa discussão?
E - Vamos. (pausa)
P - Como é que se acaba com a discussão, Eros? Será que até isso eu vou precisar falar?
E – Psique, cala a boca e me beija.
P - Ai! Meu amor! Meu amor!
(beijam-se. Música. Transição de luz. Estão novamente no momento cigarrinho.)
P - Então amor. Você me ama?
E - Oi?
P - As coisas ainda não tão muito claras pra mim. Tem certeza que me ama? (Eros está olhando sem acreditar) Mas tem certeza como?
E - Quer saber? Cansei! Fui! Vou procurar a Helena de Tróia que é menos complicada! (sai)
P - O quê? Já vai! Eu sabia! Usou e agora joga fora! E aquela conversa toda de que me amava? Você não passa de um canalha igual todos os outros! Vai, vai voando por aí conquistar outra desprevenida! (se joga no chão, chorando, no melhor clima “atrás da porta”) Ninguém entende as mulheres! Ninguém! (pega um telefone) Alô, Medeia? Amiga, você não sabe o que o Eros fez... o quê? O Jasão te largou? Que canalha! Ai, amiga, eles são todos assim... Vem pra cá, vamos chorar juntas, botar um disco do Chico na vitrola... Ah, hoje não é dia do Chico? É Rita Lee? Rock’n’roll? Vingança? Grande idéia! Mas você vai fazer isso mesmo com o Jasão, Medeia? Como você é má! Adorei! Vou pensar em alguma coisa parecida! Ai, amiga, foi ótimo conversar com você. (desliga) Isso merece até uma celebração! (pega uma garrafa de champanhe cor de rosa) Por isso não provoque, Eros... por que de hoje em diante, mulher alguma vai oferecer aos homens o presente do amor, sem o turbilhão da vingança. Eu, Psiquê, inauguro para todo o sempre a Guerra dos Sexos! (estoura a rolha da garrafa) Um brinde! E música!
(música: Por isso não provoque / É cor de rosa choque)
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QUEM ELE PENSA QUE É? - de Regiana Antonini
( inspirada na música “ESSE TAL DE ROQUE ENROW” – Rita Lee)
EUVIRA (MÃE) E CAROL (FILHA) SENTADAS EM DUAS POLTRONAS DE UMA SALA DE TERAPIA. FALAM COMO SE ESTIVESSEM EM FRENTE A UM TERAPEUTA.
EUVIRA – Então, doutor, Minha filha Caroline...
CAROL – Carol, mãe! Só Carol, please!
EUVIRA – Agora veja bem a situação de uma mãe: a gente passa nove meses esperando uma criatura sair de dentro da gente, prepara quarto, bercinho, enxoval, quebra o pau com o marido, com a sogra, por conta do nome que a gente quer dar pra criança. Então depois de muito debate, consegue-se a aceitação de todos: Caroline! Um nome lindo, nobre! Nome de princesa! Aí, o tempo passa e essa criatura ingrata cresce e vira “Carol”! Carol não é nome, é sigla: Companhia de adolescentes rebeldes organicamente loucas!
CAROL – Ai, mãe! Vai começar!
EUVIRA – Sim, vai começar sim! Estamos aqui pra isso! Pra começar uma terapia, uma constelação familiar! Sim porque dialogar com você tá difícil pacas!
CAROL – “Pacas”? Hellô! De que planeta você veio?
EUVIRA – Não foge do assunto, não, menina! Eu disse que tá muito difícil conversar com você!
CAROL - Claro, você não me entende! Não me escuta! Não leva a sério meus problemas! É sem noção total!
EUVIRA – É que você só fala num idioma à parte: o carolêz! (IMITA) “Mãe, aí demorô: tô indo pra uma parada tipo raive, com a galera da “capú”, antes vamo bater um rango vegê. Fica tranks que a coisa é irada. Tô indo com o Roque, formô?” Não, não formou, não formou uma frase! E tem mais: agora, doutor, ela só fala desse tal de “Roque Enrow”!
CAROL – É só Roque, mãe!
EUVIRA – Minha filha, só existem 2 possibilidades para um Roque, ou ele é Santeiro, ou é Enrow! O primeiro não se aplica a ele, porque santo ele não é, nem nunca será, portanto sobrou o “Enrow” que vem num pacote escrito: “sexo, drogas e roque enrow”!
CAROL – Ai, cara, você é muito doida mãe!
EUVIRA – Eu? Imagina! Eu procuro estar por dentro, sabe, Doutor,
dessa nova geração! Faço de tudo, juro! Mas minha filha não me leva a sério, doutor! É cheia de mistério! Fala em código quando tá no telefone! Ela dança o dia inteiro e só estuda pra passar! E já fuma com essa idade, Doutor! Ela não pensa no futuro! Ela nem vem mais prá casa, Doutor! Só fica enfurnada na casa desse tal de Roque Enrow!
CAROL – É só Roque, cara! Que saco!
EUVIRA – E o pior não é isso não! Ela não teve a pachorra de levar esse rapaz lá em casa! De me apresentar pra ele! Então quando ela fala desse tal de Roque Enrow, eu penso: quem é ele? Uma mosca, um mistério? Como será a cara desse rapaz?
CAROL – Claro, seu eu levar o Roque lá em casa, você vai encher o pobre coitado de perguntas! Ele vai ficar boladérrimo! Mas meu pai conhece ele, tá legal?
EUVIRA – Tá vendo doutor? O pai dela conhece ele! Deve ter fumado muita maconha com ele, sim porque o pai da Maria Caroline é maconheiro e dos bons! Fuma um baseado de duas em duas horas, parece até remédio homeopático!
CAROL – Mãe, meu pai é que tá certo! Você fala pelos cotovelos! Parece até que engoliu uma arara!
EUVIRA – Tá vendo doutor? É assim que ela retribui o amor e o carinho que sempre dei a ela! Aliás, podemos fazer a cena? Esse troço de constelação familiar não é assim? Tem a ceninha baseada na gente, aí a gente assiste, debate e depois chega a uma determinada conclusão?
ENTRAM 2 MULHERES. UMA VESTIDA IGUAL A MÃE, COM UM CRACHÁ ESCRITO “MÃE” – VAMOS CHAMÁ-LA DE EUVIRA 2. E OUTRA COMO FILHA, TAMBÉM COM UM CRACHÁ ESCRITO “FILHA” – VAMOS CHAMÁ-LA DE CAROL 2.
EUVIRA – Ah, tá! As mocinhas já estão aqui! Ela sou eu? Impressionante como ela se parece comigo...
ATRIZ MÃE – Vocês responderam a uma série de perguntas...
ATRIZ FILHA – A partir disso, criamos uma cena, que poderia com certeza fazer parte do cotidiano de vocês...
ATRIZ MÃE – Pedimos que vocês assistam a cena para depois debaterem a mesma com o doutor...
EUVIRA – Ai, que maravilha!
CAROL – Ai que saco!
EUVIRA - Podem dar o terceiro sinal!
CAROL 2 DEITA-SE NUMA CAMA E EUVIRA 2 ENTRA CHAMANDO POR ELA.
EUVIRA 2– Maria Carolina (VÊ A MENINA DORMINDO) Dormindo?
CAROL 2 – Tô com sono...
EUVIRA 2 – “Sono”? Uma menina de 14 anos de idade, uma “DE LIMA E SILVA” não pode ter sono no meio da tarde!
CAROL 2 – Mas, mamãe, eu estou de férias!
EUVIRA 2 – Tá é chapada, isso sim! Não se esqueça que hoje é o dia do teste pra você entrar pro Colégio Santo Inácio! Sua vida vai mudar! (EUVIRA PEGA UMA ROUPA E JOGA EM CAROL). Toma: veste isso.
CAROL 2 – Mas isso é muito cafona! (VESTE)
EUVIRA – (INTERROMPE A CENA) Viu, doutor? Ela odeia meus vestidos!
CAROL – Cala boca mãe! Olha o mico!
EUVIRA – Que mico? Eu, hein! É que é bom esclarecer pro doutor que aquela roupa não era cafona, era uma roupa de grife, clássica, só isso! Desculpa aí!
EUVIRA 2 – (VOLTA P/CENA) E depois, você está lind... (T) Tá medonho! Tira! Também, seu corpinho não tá ajudando... quantos abdominais você fez hoje?
CAROL 2 – (FALA BAIXO) Nenhum....
EUVIRA 2 – Não escutei! Projete sua voz para o núcleo sonoro do quarto!
CAROL 2 – (MAIS ALTO) – Eu não fiz nenhum...
EUVIRA 2 – É por isso que você está assim, acima do peso: gorda!
EUVIRA (INTERROMPENDO NOVAMENTE A CENA) – Com licença! Eu preciso deixar claro doutor, que sempre fui muito sincera com a minha filha! Sim porque o mundo de hoje é um mundo cão, não é? Não tem espaço pra obesidade! Minha filha estava enorme nessa época! Emagreceu 1 kilo e oitocentos gramas na marra! Hoje tá linda! Um biscuit! Pode continuar! Desculpa aí!
CAROL 2 (VOLTA P/CENA) – Mamãe, eu já tô magra o suficiente...
EUVIRA 2 – “Nunca se está suficientemente magra, nem suficientemente rica”, entendeu? Você precisa fazer ginástica! Correr! Nadar! Comer mato, fazer fotossíntese! E obviamente passar no teste para entrar pro Colégio Santo Inácio! Conviver com pessoas educadas, de boa família, com objetivo na vida!
CAROL 2 – Ah, não mãe! Eu não quero entrar pra esse colégio, não quero fazer teste nenhum! Tô de férias e vou ficar de bobeira....
EUVIRA 2 – Quem fica de bobeira, de bobeira permanece! Veste essa! (JOGA UM TAIÊR NELA)
CAROL 2– (VESTE DO LADO CONTRÁRIO) – Mamãe, eu não sei vestir esse treco aqui! Tá certo assim?
EUVIRA 2 – Não! Nem o blaiser, nem essa sua cara de muxoxo verde. Bota um sorrizinho nessa sua carinha de nabo, porque uma adolescente candidata a uma vaga nesse colégio tem obrigação de ser simpática! (CAROL DÁ UM SORRISO AMARELO) Vamos aos sapatos! (ESCOLHE E JOGA NELA) – Esse!
CAROL 2 – Mas esse salto é maior que eu!
EUVIRA2 – Sim, você é uma tampa! Uma anã! Puxou a família do seu pai, porque eu, na sua idade era alta e sabia muito bem o que eu queria! Ser rica! Milionária!
CAROL2 – Então, você casou com meu pai por dinheiro? Oh... Você nunca amou papai... Eu sinto isso...
EUVIRA 2 – E eu sinto muito! Ah, toma cuidado, porque você pode ter herdado por parte dele uma certa inclinação ao vício! Sim, porque a preguiça a gente sabe que você herdou!
CAROL 2 – E o que será que eu herdei da senhora?
EUVIRA 2 – Nada. No futuro, quiçá, os meus sapatos. (PEGA BACIA C/ GELO) Vamos acordar!! Você precisa estar atenta durante a provinha! Enfia sua cara aqui!
CAROL 2 – Aí? Mas, tá cheio de gelo... eu tô com frio!
EUVIRA 2 – E eu com pressa! Anda menina! (PEGA A CABEÇA DELA E ENFIA) Um dia, você vai me agradecer!
EUVIRA (GRITA INTERROMPENDO) Parei! Não, não! Não foi bem assim! Minha filha, Caroline, enfiou a cara na bacia porque entendeu que era o melhor pra ela! Do jeito que vocês fizeram, parece até que eu sou uma mãe louca e cruel!
CAROL – Mas é exatamente isso que você é: uma mãe louca e má! Você não tem sentimentos nem por mim nem por ninguém! Você nunca me entendeu nem vai conseguir me entender, porque você só pensa em você! Pra mim, já deu! (SAI)
EUVIRA – Caroline! Caroline! Ca... (T) Viu doutor? O jeito que essa menina falou comigo? Sabe o que é isso? Má influência! E tudo culpa de quem? Desse tal de Roque Enrow! Mas eu vou dar um jeito nisso! Afinal, quem ele pensa que é?
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