segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Terceira noite do Clube da Cena Redes Sociais

E a terceira semana do Clube da Cena Redes Sociais foi assim:


  1. COM OU SEM?, de César Amorim  – Post Dou para Qualquer homem que saiba usar a Crase. Com Cristina Fagundes e Alex Nader  – Direção Fernando Melvin 



  1. DONA NADIR, de Cristina Fagundes – Post Se alguém faz um Mal a mim, desejo fervorosamente que se apaixone perdidamente
          Com Ana Paula Novellino, Bia Guedes e Jorge Neves  – Direção Andy Gercker 



  1. A TRAIÇÃO, de Ivan Fernandes  – Post Eu gosto mais qd ela fuma, gosto mais qnd ela bebe, gosto mais qndo ela vem toda nua, gosto mais de dela sem censura.
              Com Zé Guilherme Guimarães e Mariana Consoli – Direção Bruno Bacelar



  1. MILAGRES NÃO EXISTEM, de Bruno Bacelar  – Post Alguém quer ser meu guru alternativo bem louco?
Com Marcelo Lima e Mariana Costa Pinto  – Direção Leo Castro




  1. COLÓQUIO SOBRE A TIMIDEZ, de Diego Molina  – Post Quando falo com Meninas demasiado bonitas fico até gago.
              Com Marcello Gonçalves e Marcella Leal  – Direção Carmen Frenzel




  1. PARTO PRA CIMA, de Paula Rocha – Post Esther a caminho... No hospital.
Com Rita Fischer, João Velho e Bruno Bacelar  – Direção Vini Messias

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Nossos Músicos:



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E as cenas mais votadas pelo público foram:

Primeiro Lugar: Dona nadir


Dona Nadir - de Cristina Fagundes. 

Um rapaz de 20 anos, uma mulher e uma idosa sentados à mesa.  Bebem.  A idosa bebe suco de canudinho. Faz barulho. A mulher a observa. Tempo. 
MULHER  –  Mas há quanto tempo vocês estão... estão se relacionando Dona Nadir?
Silencio.
MULHER – Dona Nadir? 
Nadir sugando canudinho.
MULHER –  Dona Nadir, há quanto tempo a senhora e o Junior estão namorando?
Nada.
JUNIOR – Mamãe.  Você tem que falar alto.
MULHER – (alto) Dona Nadir, a senhora tá namorando com o meu filho há quanto tempo?
IDOSA –  Invento o quê? 
JUNIOR – ah, perái, deve tá desligado.  (liga aparelho de surdez de Nadir).  Pronto. Acho que agora foi. 
MULHER –  (alto) Eu to querendo saber, há quanto tempo a senhora está namorando com ele.  Há quanto tempo??
IDOSA – Não precisa gritar. Já ouvi.
MULHER – Desculpa.
IDOSA – Namorando?
MULHER – Bom, ele me falou que vocês estavam namorando.  Era uma brincadeira Júnior?
IDOSA – Namorando, 3 meses.  Que antes a gente só tava ficando, né Junior?  
MULHER – Você tava... tava ficando com essa senhora, Júnior?  
JUNIOR – Tava mamãe.  Mas isso foi antes deu me apaixonar.  Agora é namoro mesmo.  
MULHER –  (tentando ser compreensiva) Sei. Namoro. Ah tá. Desculpa, é que eu fui pega meio de surpresa.  Escuta, meu filho, mas você não tava namorando aquela menina da academia?
JUNIOR –  Tava. Mas não tinha nada a ver não mãe.
MULHER –  mas era uma menina tão bonita. Acabou?
JUNIOR – Acabou mãe.
MULHER – Ela parecia uma indiazinha. Uma graça a menina. Qual era mesmo o nome dela? 
IDOSA – Flavinha.
MULHER – Ah, a senhora conhece?
IDOSA – é a minha neta. A Flavinha.
MULHER – Sua neta?
JUNIOR – É mamãe.  Eu conheci a Dona Nadir no aniversário de 17 anos da Flavinha. Na confeitaria Colombo. 
IDOSA –  Copacabana.  Uma beleza aquela vista... 
MULHER – Junior você tá namorando a avó da Flavinha?
IDOSA – Mas aquela festa foi um estouro! Não foi? 
JUNIOR – Então mamãe.  Não é só um namoro. Eu to apaixonado.  A gente vai morar junto mãe. 
MULHER (pra ele) Me dá um cópo d´água. (bebe) A gente quem?
JUNIOR – A gente vai se casar mamãe. 
MULHER – Quem?
JUNIOR – Eu e a dona Nadir. 
IDOSA – A gente tem muita pele.
MULHER – Muita o quê?
IDOSA – Muita química, eu e o Júnior. Não é Júnior?
JUNIOR – É gatinha.  
IDOSA – Uma brasa esse garoto. 
MULHER – ...
IDOSA – Aí eu quis te conhecer antes. 
MULHER – (rápida) Antes de quê? De morrer? Ai.  Desculpa.  Brincadeira.   Mas é que a senhora já tem uma certa idade né?  Aliás, desculpa eu perguntar mas quantos anos a senhora tem?
IDOSA – 85. E vc?
MULHER – Eu?
IDOSA – é.
MULHER – Eu tenho 62. Por quê?
IDOSA – Só?
MULHER – como assim só?
IDOSA – Você tem que se cuidar.  Você tá... tá mal.  (pra junior) Né não?
MULHER – Do que que ela tá falando? 
JUNIOR – Mamãe.  Eu e a Dona Nadir viemos aqui porque nós vamos precisar da sua ajuda. 
MULHER – Meu filho, por que que você tá fazendo isso comigo?
JUNIOR – Isso o quê mamãe?
MULHER – O pessoal da sua academia sabe desse... desse namoro de vocês?
JUNIOR – sabe.  A dona Nadir é da galera.  Ela treina lá com a gente. 
IDOSA – Depois do meu jogging. 
MULHER – Você treina o quê?
IDOSA – Jiu jitsu. 
JUNIOR – Dona Nadir é faixa roxa. 
IDOSA -  Você devia praticar também, tá tão fraquinha. 
MULHER -  Sei.... E o que o pessoal do jiu jitsu tá achando desse namoro de vocês?
JUNIOR – Mamãe esse é um assunto meio chato.
MULHER – Ué, chato por quê? 
IDOSA – O Júnior brigou com o Marcão.  
JUNIOR – Não era para falar amor. 
IDOSA –  Por minha causa. 
MULHER – Eu imagino.  
JUNIOR –  Ele deu em cima da Dona Nadir.
IDOSA –  Foi. Ele me apertou no tatame. 
MULHER – Ele o quê? 
IDOSA –  É que uso um collant muito justo, sabe? 
JUNIOR – Já falei pra você não usar mais esse collant. Jiu jitsu se treina é de kimono gatinha. De kimono.
IDOSA – Ele implica com o meu collant, esse menino. Que coisa! 
MULHER –  Collant?  Escuta, a senhora não acha que você e um Júnior são um pouco... um pouco diferentes? 
IDOSA – Você fala assim em relação a ele não gostar do Roberto Carlos? 
JUNIOR – Mamãe, a gente vai ter um filho.
MULHER –   Quê? Como assim?
JUNIOR – Ter um filho mãe.  A gente vai formar a nossa própria família não é gatinha? 
IDOSA – É, broto.  
MULHER –  (tempo)  Desculpa, mas a senhora pretende ter filhos como Dona Nadir? Como?
JUNIOR – A gente vai fazer inseminação artificial.
MULHER – Nela?
IDOSA – Mas aí já pensou se vêm gêmeos?  Daí eu achei melhor conhecer a senhora.
MULHER –  Você.  Me chama de você.
IDOSA –  Que eu preciso saber se você vai dá conta, né? 
MULHER – Dá conta de quê? 
IDOSA – De cuidar das crianças ué.  Se  vierem duas.  Que criança é um rojão.  Imagina duas de uma vez? 
JUNIOR – A gente vai querer deixar as crianças com você de vez em quando, mamãe. A dona Nadir é muito ocupada. 
IDOSA – Eu não quero atrasar a minha vida profissional, sabe? 
JUNIOR – A dona Nadir precisa ter certeza de que vai poder contar com a senhora mãe.  
IDOSA  -  Não sei não, Júnior.  To achando ela já meio passada pra ser avó.  
MULHER – Eu ouvi.  
IDOSA – Então. Eu to achando melhor a gente deixar as crianças com a minha mãe. 
MULHER – Você ainda tem mãe?
JUNIOR  – A mãe da Dona Nadir é engenheira de computação.  Ela mora lá no vale do Silício.  
MULHER –  Ela é o quê?     
JUNIOR -   Ela desenvolve novos programas pra Apple. 
IDOSA - E eu to me formando ano que vem.  Cirurgiã Oftalmo.  Eu quero operar catarata.  Que tá cheio de menina aí de 70 e já cheia de catarata.  Vou ganhar uma soma. 
JUNIOR – A gente vai precisar da sua ajuda pra cuidar das crianças.   
MULHER –  Ai, eu não to bem.   (senta) 
IDOSA – Olha Júnior, não sei não.... Ela é muito desmilinguida, olha aí. 
JUNIOR – Mas meu amor...   
IDOSA –   Pra ser avó tem que ter energia, sabe?  Acho melhor a gente adiar um pouco esse nosso projeto. Pelo menos até eu me formar. 
JUNIOR – Mas Dona Nadir...
IDOSA – A gente tem que ser responsável Júnior.  Pra ter filho é preciso toda uma estrutura por trás.  Eu não acho que a sua mãe vai dar conta.
MULHER – Água meu filho. Me dá água! Anda! 
IDOSA –   Olha aí, num falei?  Bom, eu já vou broto, que tá na hora do meu cassino.
JUNIOR – Mas Dona Na/
IDOSA -  Depois a gente conversa.   (pra mulher) Melhoras, viu? A senhora devia fazer um boxe, um karatê.  Toma um leite.  (pra junior) Já vou. (beija-o) Gostoso! (sai)  
JUNIOR – (dá copo) Poxa, mamãe. 
Fim 


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Segundo lugar: Com ou sem?


Com ou sem? - de César Amorim

NO RESTAURANTE...
AMANDA (ao telefone) – Tou esperando ele, amiga. Adorei a sugestão do lugar. Nenhuma mulher hétero à vista. Perfeito. Das últimas vezes só me dei mal. Tou na secura há meses. Dessa vez, vai. Beijo. 
GARÇON – Com licença. A senhora já quer fazer o seu pedido?
AMANDA – Não, querido. Estou esperando uma pessoa. Pessoa que digo é um homem, tá? Pra você não pensar que falei pessoa só pra não dizer que é outra pessoa do mesmo sexo, afinal aqui é um bar gay.  Marquei aqui porque sei que não terei concorrência. Ele é hetero e tal.  Aprendi isso com uma amiga lésbica. É um encontro, sabe? Nosso primeiro.  
GARÇON – Que bom. Vou deixar o cardápio com a senhora e assim que seu companheiro chegar eu volto. Fique à vontade.
AMANDA - Pode deixar, vou ficar à vontade. Com crase e tudo. 
GARÇON SAI. HUGO, UM HOMEM BONITO, ENTRA.
HUGO – Amanda?
AMANDA – Hugo! Que maravilha!
HUGO – Achei que fosse chegar antes que você.
AMANDA – É que vim fazer umas compras e tava aqui perto e resolvi ficar e tal. Veja bem, não tou ansiosa, de maneira alguma. Mas, parabéns, você foi pontualíssimo. Adorei.
HUGO – Eu “naisci” pontual.
AMANDA – Oi? O que você disse?
HUGO – Que “naisci” pontual. É de “naiscimento”.
AMANDA – Ah, tá! Uma piada. Tá imitando alguém que fala assim. 
HUGO – Assim como?
AMANDA – Deixa pra lá. Entendi. Sério. Foi engraçado. 
HUGO – Não conhecia esse “restorante”. É novo?
AMANDA – Esse o quê?
HUGO – “Restorante”. Esse lugar aqui.
AMANDA – Não, não é novo. Também não conhecia. Foi uma amiga quem indicou. Me diz uma coisa: você é o Hugo mesmo? Aquele que conversava comigo no Skype e tal?
HUGO – Ué? Tá me “instranhano”. Num tá vendo não? Igualzinho que nem na foto lá. Que nem na cam.
AMANDA – Pela foto e pela cam é você sim. É que não conversamos com áudio, né? Você só escrevia. E escrevia tão bem. 
HUGO – É verdade. Você “inté” que me “ilugiou”.
AMANDA – Você tá meio diferente pessoalmente. Falando estranho... É brincadeira, né?
HUGO – Não, eu falo assim mesmo. Num gostou da minha voz? 
AMANDA – Não. Você tem um timbre bonito. É que lá você falava tanta coisa legal. Tou só estranhando. Pensei que você ia me falar aquelas coisas lindas que você escrevia.
HUGO – Ah, aquilo tudo é “control C”, “control V”. 
AMANDA – Oi?
HUGO – Copia e cola. É tudo do Google. Num sei falar aquelas coisas bonitas não. 
AMANDA – Quer dizer que você me enganou?
HUGO – Não! Tudo o que eu falei lá era o que eu queria falar pra você, mas não ia ficar tão bonito com minhas “palavra”, entende? 
AMANDA – Que decepção, meu Deus. Mais uma.
HUGO – O que foi que fiz, gata?
AMANDA – Nada. Aí é que está. Você não fez nada. E isso é tudo. Você é todo errado. 
HUGO SE LEVANTA.
HUGO – Foi mal. Vou nessa.
AMANDA – Espera. Você é um gato. Que desperdício. Faz o seguinte: me diz uma coisa, só uma e posso perdoar tudo o que você falou até agora. 
HUGO – Manda.
AMANDA – Basta responder isso e eu perdoo tudo e a gente sai direto daqui pra um motel. Topa?
HUGO – Gata, tá brincando? Só tou aqui pra te levar pro motel. E olha que a grana tá curta. 
AMANDA – Eu pago tudo. Se você acertar, pago tudo. Me diz. Na frase “eu vou à praia” tem ou não tem crase?
HUGO – “Crasse”? Olha, depende da praia, né? Se for em Ramos, por exemplo, não tem “crasse” nenhuma. Agora, se for no Leblon já é outra história. Lá é “crasse” alta, né?
AMANDA – Crase! C-R-A-S-E! Não falei classe! Por favor, levante-se dessa mesa e vá embora. Você é uma fraude!
ENTRA O GARÇON.
GARÇON – Já querem fazer o pedido?
AMANDA – Eu quero! Esse senhor não! Ele já está de saída. 
HUGO – Você é maluca, gata! Maluquinha! Vai se tratar! Uma pena. Te gostei de verdade, sabia?
AMANDA – Vai à merda! Com crase e tudo!
HUGO SAI.
GARÇON  (constrangido) – Quando precisar de mim...
AMANDA – Eu preciso. Desculpe. Ele definitivamente era a pessoa errada. Deixa eu olhar o cardápio... Nossa. Tudo tão bem escrito. Raro ver um cardápio assim. Sem nenhum erro de português. Dê os parabéns ao dono do restaurante por mim. 
GARÇON – Quem agradece sou eu, senhora. Eu mesmo escrevi o cardápio. Já fui professor de português.
AMANDA – Não brinca! Você?
GARÇON – Sim. Trabalhava em Minas, ganhava uma miséria, daí vim pro Rio, fiz um curso no Senac de garçon e tou aqui agora. Ainda faço tradução e tou escrevendo um livro.
AMANDA – Olha, me deu até um calor, sabia?
GARÇON – Oi?
AMANDA – Senta um pouquinho comigo.
GARÇON – Não devo fazer isso...
AMANDA – Ah, o restaurante tá praticamente vazio. Só um minutinho. Queria te pedir uma coisa.
GARÇON SENTA.
AMANDA – Você tem papel e lápis, né? Então, queria que você escrevesse uma coisinha pra mim. 
GARÇON – Sim, senhora.
AMANDA – “Eu vou à praia”.  
GARÇON – Eu vou à praia?
AMANDA – Isso. Escreve. E escreve também “eu vou a Roma”.
GARÇON – Ok. Prontinho.
AMANDA – Deixa ver. Certíssimo. Por que você vai à praia com crase e a Roma sem?
GARÇON – Porque o verbo “ir” exige a preposição “a”e a palavra “praia” exige o artigo “a”. Na junção das duas, ocorre a crase. Já na segunda frase, a palavra “Roma” não exige artigo, então o “a” é só preposição, não tem crase. Entendeu?
AMANDA – Eu tive um micro orgasmo agora. 
GARÇON - Perdão?
AMANDA - Você é casado?
GARÇON – Não. 
AMANDA – Delícia. Tá carente?
GARÇON – Um pouco.
AMANDA – Eu também. Rola alguma coisa comigo?
GARÇON – Desculpe. Comigo só rôla.
AMANDA – O quê?
GARÇON – Rôla. Pau. Cacete. Pênis. Entendeu? Sou gay, mona.
AMANDA – Quer saber? Foda-se a crase. Foda-se o português. Tou precisando de um homem, no sentido macho da palavra. Com licença.
AMANDA FICA DE PÉ.
AMANDA – Hugo!! Se você ficar caladinho, a gente transa!! Eu me dou a você. Sem crase!!
E SAI CORRENDO.

FIM



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