domingo, 30 de novembro de 2014

Sétima noite do Clube da Cena Redes Sociais

E esta foram as cenas da sétima noite do Clube da Cena Redes Sociais.



BONITINHO MAS ORDINÁRIO – Post “Se alguém precisa de religião para ser bom...”. Com Zé Auro Travassos e  Marcelo Lima – direção Carmen Frenzel




AMIGAS, de Rodrigo Nogueira  – Post “Mãe solteira com marido.”Com Cristina Fagundes e Marcella Leal – direção Andy Gercker.





TEM CURA?, de César Amorim  – Post “Falo Sozinho. Pior: falo como se tivesse alguém do meu lado.”. Com Bruno Bacelar e Cacau Berredo – direção Leo Castro.





   LEMBRA?, de Cristina Fagundes   – Post “Eu trabalhando e neguinho achando que to de fervo. Sinceramente”.Com Mariana Consoli, Ana Paula Novellino e Marcelo Gonçalves – direção Vini Messias.



NÃO PASSARÃO, de Ivan Fernandes  – Post “Eu apoio vizinhos que transam.” Com Mariana Costa Pinto e Alex Nader  – direção Fernando Melvin.

        

ENTERRASCO, de Bruno Bacelar  – Post “Enterro de suspeitos de assalto termina em confronto com a polícia.” Com Zé Guilherme Guimarães, Bia Guedes  – direção Ana Paula Lopes.

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Nossos músicos queridos: Maria Thalita de Paula e Aldo Medeiros 




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E as cenas mais votas pelo público foram:

Primeiro LugarENTERRASCO, de Bruno Bacelar  – Post “Enterro de suspeitos de assalto termina em confronto com a polícia.”. Com Zé Guilherme Guimarães, Bia Guedes. Participação Marta Laureano  – direção Ana Paula Lopes.


Segundo Lugar AMIGAS, de Rodrigo Nogueira  – Post “Mãe solteira com marido.”
Com Cristina Fagundes e Marcella Leal – direção Andy Gercker



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Textos das cenas escolhidas

ENTERRASCO

De Bruno Bacelar

Locução – Deu entrada no IML um dos traficantes mais procurados da cidade: 

Mário Cláudio da Silva, mais conhecido como: O Sombra! Ele foi alvejado 

em uma troca de tiros entre bandidos e policiais. A família pede pressa na 

autópsia, pois o meliante em questão se dizia muito religioso, veja você! 

E que havia deixado diversas instruções para o seu sepultamento. (Novas 

informações a qualquer momento) 

(Cozinha pobre. Senhora corre de um lado para o outro em preparativos 

culinários. Um homem de aparência rústica a observa apreensivo).

Cara – Calma minha tia! A senhora tá muito agitada...

Mãe – Em primeiro lugar rapaz, eu não sou sua tia! Não sou irmã da tua mãe, 

não sou irmã do teu pai... Outra coisa: nem sei se você era amigo do meu filho, 

mesmo. Nunca te vi mais gordo, nunca vi meu filho andando contigo... Aí você 

me aparece de repente dando essa notícia... (lembra morte) Ai meu filho! Meu 

filho não merecia isso! Ai meu Deus! (chora desesperada)

Cara – Olha só, tremenda falta de consideração hein? Vim aqui na boa porque 

era parceiro do Sombra...

Mãe – Mário Cláudio! Meu filho se chamava Mário Cláudio...

Cara – Então, era parceiro do... desse aí, e não quis que a senhora soubesse 

das coisas pela boca dos outros, ou pela TV... Vim aqui de coração... E a 

senhora nunca me viu com Sombra...

Mãe – Mário Cláudio...

Cara – a senhora nunca me viu com ele porque já tinha uma porrada de tempo 

que ele num vinha pra essas bandas nem visitava a senhora...

Mãe – Meu filho viajava a trabalho, num tinha tempo... Mas me mandava carta, 

e nos últimos anos me mandava torpedo pelo celular... Ai meu filho! Meu filho 

não merecia isso! Ai meu Deus! (chora)

Cara – E esse negócio que a senhora falou aí de me ver mais gordo, a senhora 

não me leve a mal, mas é sacanagem da senhora, até porque já tem mais de 

ano que emagreci: tô malhando e tô sarado. Aqui ó! (pega a mão dela e passa 

na barriga “tanquinho” dele)

Mãe – Mas o que é isso? Eu hein! Você tá é me atrapalhando, sabe? Meu filho 

Mário Cláudio sempre me disse que quando morresse queria festa no enterro 

dele, e com churrasco completo! Eu já preparei tudo! Mesmo sem dinheiro, 

já fiz o arroz, a maionese, o molho à campanha, as vizinhas vão me ajudar 

com uma bacia de salpicão e uns salgadinhos, e o seu Raul aí da quitanda me 

deixou penduras as bebidas. Agora o principal num consegui: a carne! 

Cara – Aí fodeu!

Mãe – Aqui não se fala palavrão rapaz! Entendeu? Num gosto de palavrão, 

nem de pornografia! Entendeu? Pouca vergonha... Ai meu filho! Meu filho não 

merecia isso! Ai meu Deus! (chora)

Cara – Ô tia... quer dizer... dona Sombra, desculpa... Ô mãe do... falecido, vou 

ver o que posso resolver! Vazei! (sai)

Vizinha – (entrando) Ô abençoada, como tá esse coraçãozinho?

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Vizinha – Olha abençoada! Já acendi a churrasqueira. Cadê a carne?

Mãe – Tô providenciando...

Viz – Melhor num demorar viu abençoada! O povo já tá de prato na mão... 

Senão vai parecer aquele pagode: “Fui no pagode na casa do Gago, e o rango 

demorou a sair...” (gargalha estridente. Sem graça.) Vou lá ver o movimento... 

(saindo, volta) Ah, tem pra base de umas cinco donas aí na porta se dizendo 

esposa do finado... Como é que faz, abençoada?

Mãe – Meu filho era viúvo, vizinha! Você sabe disso! Ai meu filho! Meu filho 

não merecia isso! Ai meu Deus! 

Viz – Mas tem uma aqui que se diz a “de fé”, e elas já estão criando tumulto.

Mãe – Fala para elas sossegarem, senão ponho todo mundo pra correr!

(vizinha vai até porta da cozinha e grita o recado da mãe para elas. Vizinha faz 

sinal positivo c dedo p mãe e sai.).

Cara – Dona Sombra (mãe olha com ódio) a boa notícia é que o corpo já tá 

chegando pro velório começar...

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Cara – E a má notícia é que nada de carne! Fui aqui no açougueiro, desenrolei 

a situação, dei até tiro no pé dele, mas ele ficou dizendo que não tinha carne... 

Vê se pode!

Mãe – Ai, coitado do seu Guilherme...

Vizinha – Abençoada! Confusão armada! Chegou aí uma dona Carmem mãe 

de santo do finado e começou botar um monte de comida aí na sala! Tem mais 

comida que aqui na sua cozinha: pipoca, farofa, cachaça... Mas aí aparece 

uma tal de pastora Cecília que diz que finado tinha se entregue pra Jesus e 

sentou e bíblia na macumbeira... Por sua vez a macumbeira sentou a vasilha 

de farofa na pastora... Enfim: porrada estancando...

Mãe – Olha o palavrão!

Cara – Porrada não é palavrão...

Mãe – É sim senhor! É sim senhor! Palavrão e pornografia ao mesmo tempo...

Viz – Olha abençoada, e o povo tá com fome, hein! Comeram as macumbas da 

dona Carmem, mas eles querem mais! Vão invadir aqui já-já! Cadê a carne?

Mãe – O que eu vou fazer?

Voz de fora – O corpo chegou!!!!!

Mãe - Ai meu filho! Meu filho não merecia isso! Ai meu Deus! 

Cara – Espera aí dona Sombra! Eu vou dar um jeito nisso... (sai e vizinha atrás)

(Mãe apreensiva ouve som de grito do Cara, tiros, gritos. Silêncio. Ela 

estranha. Ele volta com avental de açougueiro todo sujo de sangue).

Mãe – Mas o que é isso, rapaz?

Cara – Resolvido o problema! Carne na brasa, pagode comendo, cerveja 

rolando! Tudo sob controle!

Mãe – Mas onde você arrumou carne? (pensa) Você matou o açougueiro, 

menino?

Cara – Que é isso dona... Num matei ninguém não... No caso já estava morto!

Mãe – Já estava morto? (pensa. Entende.) Ai meu filho! Meu filho não merecia 

isso! Ai meu Deus! (chora desesperada)

Cara – Calma dona! Ele já tá morto mesmo. Não tinha outro jeito! Senão era 

esse povo que ia matar a senhora... Questão de sobrevivência... Além do mais, 

só retirei as carnes nobres! Pelo vidro do caixão nem se nota...

Mãe – Criei esse menino com tanta luta! Sozinha... Fiquei viúva muito nova!

Cara – Muito nova, é?

Mãe – Só me dediquei para ele e para a casa...

Cara – Que dureza...

Mãe – Nunca mais casei...

Cara – Nunca é? 

Mãe – Nunca mais...

Cara – Bom dona, lá fora tá todo mundo matando a fome. E a senhora? Quer 

comer (se insinua)

Mãe – (brava) Olha aqui rapaz... (pensa bem) Quer saber, também sou filha de 

Deus, mereço comer um filet mignon de vez em quando! (sai se agarrando com 

rapaz)

FIM

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Amigas, de Rodrigo Nogueira

Uma mulher sentada sozinha numa mesa de restaurante. Um carrinho de bebê do 

lado. Duas cadeiras vazias à mesa (fazendo um triângulo). Dois copos de bebida 

sobre a mesa. Um outra mulher passa.

AMIGA: Amiga?

MULHER: Amiga!

AMIGA: Quanto tempo, amiga!

MULHER: Demais, amiga!

AMIGA: Nossa, amiga!

MULHER: Né, amiga?

AMIGA: Demais, amiga!

MULHER: Muito, amiga!

Ela aponta pro carrinho de bebê.

AMIGA: Amiga, você, amiga?

MULHER: Eu, amiga!

AMIGA: Amiga!

MULHER: Amiga!

AMIGA: Deixa eu te abraçar, amiga.

MULHER: Por favor, amiga.

AMIGA: Parabéns, amiga.

MULHER: Obrigado, amiga.

AMIGA: Ai, amiga.

MULHER: Você não quer sentar, amiga?

AMIGA: Claro, amiga.

MULHER: Que bom amiga.

AMIGA: Amiga.

MULHER: Amiga.

AMIGA: Amiga, amiga.

MULHER: Amiga, amiga.

AMIGA: Amiga, amiga, amiga.

MULHER: Chega, ninguém mais aguenta ouvir a gente falar amiga.

AMIGA: Ta bom.

A amiga se senta. Na cadeira diante dela. Ainda temos uma cadeira vazia no 

vértice. Virada pra plateia, talvez. As duas de lado.

AMIGA: Mas me fala dessa coisa mais linda do mundo. Tá com quanto tempo?

MULHER: Dois aninhos

AMIGA: Dois aninhos!

MULHER: Pois é, menina.

AMIGA: E o Fortes?

MULHER: Tá muito feliz.

AMIGA: Eu imagino.

MULHER: Mas a gente se separou.

AMIGA: Mentira?

MULHER: Ai, tudo bem. Separação hoje em dia é normal. Filho de casal feliz sofre 

bullying na escola, minha filha. A coisa inverteu. 

AMIGA: É mesmo, né?

MULHER: Total.

AMIGA: Mas quando é que você e o Fortes se...

MULHER: Se o quê?

AMIGA: Quando é que vocês se...

MULHER: Se conheceram? Se olharam? Se esbarraram de propósito na fila 

do banco? Se pediram desculpas? Se perguntaram as horas? Se falaram sobre 

o tempo? Se conversaram mais um pouco? Se convidaram pra almoçar? Se 

almoçaram? Se riram bebendo vinho? Se beijaram? Se apaixonaram? Se 

convidaram pra ir ao cinema, jantar à luz de velas e voltar pra casa juntos? Se 

tiraram a roupa e transaram loucamente pela primeira vez? Se acordaram no dia 

seguinte e transaram de novo? E de novo? E de novo? E de novo? Se namoraram? 

Se divertiram passando um domingo em paquetá? Se curtiram pagando de ricos 

durante um fim de semana em Buenos Aires mesmo tendo comprado passagem 

na promoção e dividido o hotel em dez vezes? Se decidiram por morar juntos? 

Se casaram? Se ficaram em casa no fim de semana vendo televisão juntinhos? Se 

ficaram em casa no fim de semana seguinte vendo televisão não tão juntinhos? Se 

engravidaram? Se pararam de transar? Se começaram a mal se falar? Se tiveram 

um filho? Se tiveram um filho e mesmo assim aquele filho da puta não mudou 

uma vírgula na atitude babaca, escrota e inacreditável pra um homem de 40 

anos? Ou se separaram?

AMIGA: A última opção.

MULHER: Faz dois meses.

AMIGA: Entendi.

MULHER: Mas eu tô ótima.

AMIGA: Eu tô vendo.

MULHER: E feliz.

AMIGA: Não que eu queira polemizar o assunto, mas qual exatamente foi a 

atitude dele que te levou à separação?

MULHER: Ele me colocou numa categoria de estado civil mais inaceitável e todas.

AMIGA: Qual?

MULHER: A de mãe solteira com marido.

AMIGA: Oi?

MULHER: Existem várias. É só observar. Elas viajam sozinhas. Frequentam os 

parquinhos sozinhas. Estão pelas festinhas correndo atrás dos filhos e trocando 

fraldas so-zi-nhas! No teatrinho infantil o pai nunca deu as caras. À creche, 

ele nunca foi! O consultório do pediatra e a Estônia pra ele são praticamente o 

mesmo lugar. Então, eu resolvi me separar.

AMIGA: Poxa. Que barra, né?

MULHER: Como eu disse, é normal. Seria pior, claro, se eu estivesse sozinha.

AMIGA: Mas você não tá?

MULHER: Não, menina! Essa é a melhor parte. Eu voltei com o Prestes!

AMIGA: O Prestes?????

MULHER: Eu sei que você e ele nunca se deram bem.

AMIGA: O Prestes????

MULHER: Tinham lá suas diferenças, ele falava mal de você. Você falava mal dele.

AMIGA: O Prestes???

MULHER: Na verdade eu nunca entendi porque é que o meu marido e a minha 

melhor amiga se odiavam tanto. Acho que foi por isso que a gente se afastou.

AMIGA: O Prestes???

MULHER: É isso. Quer você queria quer não, eu voltei com o Prestes.

AMIGA: Mas o Prestes morreu! Há cinco anos!

MULHER: Eu sei, meu amor. Mas o Fortes era tão ausente que mesmo morto, o 

Prestes consegue ser mais presente do que ele. Nós estamos muito felizes, né 

amor?

Ela olha pra cadeira vazia.

AMIGA: Com quem você tá falando?

MULHER: Com o Prestes!

AMIGA: Ele tá aqui?

MULHER: Claro! Você acha que depois do Fortes eu vou sair pra um jantar 

sozinha que seja? O Prestes me acompanha a todos os lugares. Não me deixa 

sozinha nunca! (Pausa. Ela olha pra cima ou fixamente, não para a cadeira) Que é 

amor? (Ri). Claro que não, né? Essa hora eu sei que você me deixa sozinha. (para 

a amiga) Mas todas as outras ele tá lá comigo. Até no banho. Que foi, amor? (P) 

Ai, Prestes. Seu safadinho! Não fala assim que eu fico sem jeito.

AMIGA: Você ouve ele?

MULHER: Ouvir não é bem a palavra. Mas a gente se comunica.

AMIGA: Se comunica como?

MULHER: Eu fiz um curso maravilhoso de mesa branca.

AMIGA: Mesa branca?

MULHER: Espiritismo aplicado. Tem lá toda parte bonitinha “nosso lar”, mas o 

foco mesmo é na manifestação do espírito.

AMIGA: Na manifestação.

MULHER: Quando baixa o santo. No caso, o Prestes.

AMIGA: O Prestes... baixa?

MULHER: É, não o tempo todo, né? A gente se relaciona de duas formas. A 

primeira é na presença.

AMIGA: Claro a presença.

MULHER: Tipo agora. Eu não vejo ele, mas eu sinto a presença dele. E não ouço 

ele, mas eu sinto o que ele diz. Eu não sei que ele foi embora, mas eu...

AMIGA: Você sente a ausência dele.

MULHER: Isso. (P) O que é, amor? 

AMIGA: Ele tá falando com você agora?

MULHER: SHhhhhhhhh, (P) Agora não amor!

AMIGA: O quê? O que é que ele quer?

MULHER: Nem te conto!

AMIGA: Meu deus.

MULHER: É o casamento perfeito, depois da minha experiência com o Fortes. 

Porque aos olhos do mundo, eu continuo viajando sozinha, frequentando parque 

sozinha, correndo atrás da minha filha na festinha infantil sozinha, trocando 

fralda sozinha, indo ao teatrinho e ao pediatra sozinha. Fisicamente também. O 

Prestes não tem mais o corpo físico pra me ajudar, né? Esse já tá a sete palmos 

da terra no Caju e não tá no melhor dos estados. (RI). Mas, pra mim, eu continuo 

fazendo todas essas coisas só que com o Prestes. (P) O quê? Para, Prestes, eu já 

disse que não!

AMIGA: O que é que ele tá falando?

MULHER: Ele quer a segunda parte da coisa?

AMIGA: Segunda parte?

MULHER: Então. Como eu te disse, a nossa relação se baseia em duas formas da 

mesa branca. Uma é a presença. Ele tá querendo a outra.

AMIGA: Que outra?

MULHER: A incorporação?

AMIGA: O quê?

MULHER: Quando baixa o santo.

AMIGA: Ai, meu pai.

MULHER: E quando o Fortes baixa, minha filha, ele vem muito Fortes.

AMIGA: Você tá falando de/

MULHER: Do que mais eu estaria falando? Eu não vou ficar casada com um morto 

que me dá apoio e apor se não tiver piroca.

AMIGA: Que isso?

MULHER: Desculpa, fui muito vulgar. Mas você sabe que sexo é extremamente 

importante numa relação.

AMIGA: Você e ele fazem...

MULHER: Várias, muitas, diversas vezes ao dia. Como ele não precisa de corpo 

físico, o homem é insaciável.

AMIGA: Eu não tô acreditando nisso!

MULHER: Eu sei que a história é um pouquinho estranha...

AMIGA: Você voltou com o Prestes depois de morto.

MULHER: E que vocês nunca se deram bem.

AMIGA: Meu Deus!

MULHER: Mas desapega!

AMIGA: O Prestes!

MULHER: Perdoa!

AMIGA: O Prestes!

MULHER: Entende que eu e ele somos felizes!

Nisso, o Prestes baixa na mulher. Encenação aqui. Quando termina, a amiga o 

examina calmamente.

AMIGA: Prestes.

A mulher faz o Prestes.

MULHER: Maria Luiza.

AMIGA: É você mesmo??

MULHER: Maria Luiza!

AMIGA: Prestes!

MULHER: Maria Luiza!

Ele pega na mão da amiga. Eles começam a se abraçar e se pegar lentamente.

MULHER: Que saudade de você!

AMIGA: Para! Eu nunca vou te perdoar por ter morrido sem largar essa 

vagabunda.

MULHER: Eu ia, Maria Luiza. O acidente aconteceu quando eu tava indo pra casa 

pedir a separação.

AMIGA: Meu Deus, como eu sofri!

MULHER: Eu também! Eu estava contando os dias até ela encontrar com você. 

AMIGA: Eu tô sentindo você de novo.

MULHER: Eu também, Maria Luiza.

AMIGA: Que loucura.

MULHER: Foi ela que me trouxe do além, mas é com você que eu quero ficar.

As duas se beijam. 

AMIGA: Ai, Prestes. Que loucura.

MULHER: Vamos embora daqui. 

AMIGA: Mas como?

MULHER: Eu não sei. Mas eu quero ficar com você. Eu quero ficar com você o 

tempo todo.

Prestes sai do corpo da mulher. A amiga enelvada.

MULHER: Nossa! Tive que tirar o Prestes à força. Prestes, aqui não é lugar. Em 

casa a gente fica incorporado o tempo que você quiser. Safado.

AMIGA: Você não lembra o que aconteceu.

MULHER: Não. Eu sou médium inconsciente.

AMIGA: Sei. 

MULHER: Bom, eu amei te encontra, mas eu preciso ir. Já tá ficando tarde eu 

quero botar a menina pra dormir.

AMIGA: Eu posso ir com você!

MULHER: O quê?

AMIGA: Sabe o quê que é? A gente ficou tanto tempo afastada que eu acho que a 

gente devia retomar a nossa amizade.

MULHER: Você acha?

AMIGA: Total. Botar a conversa em dia, ajudar uma a outra e passar mais tempo 

juntas. Muito mais tempo.

MULHER: Nossa! Que lindo.

AMIGA: Inclusive, se você quiser, eu vou agora com você pra casa e ajudo você 

a botar a sua filha pra dormir. De repente eu até durmo por lá. O que você diz, 

amiga?

MULHER: Nossa, amiga. Você é realmente uma grande amiga.

AMIGA: Imagina, amiga.

MULHER: Obrigado, amiga.

AMIGA: De nada amiga. Amiga, amiga.


As duas saem de cena de mãos dadas.




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