domingo, 23 de novembro de 2014

Sexta noite do Clube da Cena Redes Sociais

E a sexta semana do Clube da Cena Redes Sociais foi assim:



BEM VIVIDO, de Paula Rocha  – Post “Se for falar mal de mim, me chama. Sei coisas terríveis a meu respeito". Com Ana Csauwen e Maíra Kesten  – direção Ana Paula Lopes



DOS ALTOS E BAIXOS DA VIDA,  de Cristina Fagundes   – Post “Meu filho, não espere um coringa. Vai jogando com as cartas que aparecem”. Com Marcelo Dias e Cecilia Hoeltz – direção Breno Sanches




UM ÔNIBUS CHAMADO DESTINO, de Audemir Leuzinger – Post “O amor é uma força que transforma o destino” . Com Renato Albuquerque, Bia Guedes e Marcelo Cavalcanti  – direção Alexandre Bordallo  



O REI DOS CORAÇÕES SOLITÁRIOS, de Ivan Fernandes  – Post “Sou aquele vinho caro que você não sabe degustar porque só está acostumado com pinga barata”.  Com Kakau Berredo e Karen Liberman – direção Lincoln Vargas        



INSTANTES, de César Amorim  – Post “Como é que a gente faz pra viver de verdade?” Com José Auro Travassos e Flávia Espírito Santo  – direção Cadú Favero   




DEBATE, de Leandro Muniz  – Post com Imagem mostrando pessoa que poderia ajudar mas não ajuda a outra. Com Bruno Bruno Bacelar e Priscila Assum  – direção João Rodrigo Ostrower

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E as duas cenas mais votadas da noite foram:

Primeiro Lugar: O Rei dos Corações Solitários, de Ivan Fernandes


Segundo Lugar: Debate, de Leandro Muniz



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A seguir os textos das duas cenas mais votadas.

O REI DOS CORAÇÕES SOLITÁRIOS
De Ivan Fernandes

Música.
Jefferson – Radio Noturna, o último farol da madrugada.  Vem aí o programa mais sensível do rádio brasileiro, com apresentação do Rei dos Corações Solitários, JEFFERSON CARLOS!!
Entra vinheta e o locutor agora canta em falsete: 
J - “Je-ffer-son- Car-los!!”
Locutor volta a falar com sua voz normal.
J - Boa noite, eu sou Jefferson Carlos, o seu ombro amigo da madrugada. Tá na fossa? Tá carente? Liga pra cá. Vamos conversar. Jefferson Carlos entende o que se passa em seu coração. Eu sou o apoio quando ninguém mais te suporta, o ouvido compreensivo quando ninguém mais te escuta. Liga pra cá. Pede uma música. Uma música que te fez sorrir um dia, pode te fazer sorrir de novo.
Sobem os primeiros acordes de “Are you lonesome tonight?”, de Elvis Presley.
(toca o telefone)
J -Mas parece que já temos uma chamada, uma primeira alma solitária.  
ROSE - Boa noite, Jefferson Carlos!
J – Mas você de novo, Rose! Eu não te pedi pra dar um tempo?  Você tá ocupando o espaço de algum ouvinte novo. 
R - Ninguém ouve esse programa, você só coloca essas velharias pra tocar. Depois reclama. Você tem que tocar Ivete, Anitta, já te disse mil vezes.
J - E o dono da rádio disse duas mil. Vocês não entendem que eu sou como um pajé. Eu sou um médico de almas. E remédio não tem gosto bom. O que eu toco aqui é pra salvar vidas. 
R – Então, Jefferson, você precisa salvar a minha vida.
J – Mas toda noite! Todo fora que você leva, liga pra cá.
 R – Mas eu preciso desabafar! Mais uma vez fui iludida por um canalha! 
J -- (suspira) Haverá outro alguém nessa madrugada sem fim, outro alguém nesse vasto mundo, que ainda precise de mim? Ô produção, me encaminha outra chamada, por favor!
R - Que produção? Vai dizer que esse seu programa tem produção?
J - Não temos, é verdade. Aliás, se você tiver algum contato pra indicar...
R – Sabe que eu tenho? Conheci um cara que trabalhava com produção e... não, deixa pra lá. Esse também era canalha. Por que é que todo homem é canalha, Jefferson? Não tem um que preste! 
J – Rose, não aguento mais essa ladainha! Quer parar de se fazer de vitima? Você tem que entender o verdadeiro motivo pelo qual você não dá certo com os homens! 
R – Mas eu descobri, Jefferson. O verdadeiro motivo é que eu sou um vinho caro, que os homens não sabem degustar, porque tão acostumados com pinga barata. Os homens não tão preparados pra uma mulher assim independente, madura, resolvida.
J – Mas quem disse que você é vinho caro?
R - Como assim? Eu me acho um vinho caríssimo!
J - E eu me acho o Jo soares! Mas eu, com todo meu talento, to conversando aqui com você nessa rádio escrota, enquanto aquele gordo apresenta um talk show pro Brasil inteiro. A gente acha que é vinho caro, mas não passa de pinga barata, meu bem. A verdade sobre nós está fora de nós. Você quer saber a verdade sobre você, do ponto de vista de um homem? Quer?
R – Quero!
J – Você tá sozinha porque é chata.
R – Jefferson! 
J - Você é chata. Desculpa. Alguém precisa te dizer. Seria melhor uma amiga, mas normalmente amiga de mulher chata também é chata, então não percebe. Rose, homem não tem esse negócio de mulher perfeita. Aceitamos todo tipo de mulher. Independente, moderna, conservadora, evangélica, burra, pobre, feia, cafona, acima do peso, sem depilação, com celulite, velha. Menos a chata. A chatice é a única coisa que o homem não consegue lidar. Esse aviso é um serviço de utilidade pública. Você tá sozinha porque é chata.
R – Eu tô sozinha porque homem tá em falta no mercado!
J - Como tá em falta? Em todo lugar tem homem disponível.  Pode não ser o nosso melhor. Temos muitas áreas pra cobrir. Mas algum representante nosso terá. Até no vagão das mulheres do metrô, temos gente trabalhando a situação. Agora mesmo, alguém do seu tipo deve estar ouvindo o programa. Qual é o seu tipo?  
R – Ah, nada demais. Inteligente. Que fuja do óbvio e esteja sempre me surpreendendo. Antenado, que me atualize do que vale a pena. Bem sucedido profssionalmente. Não precisa ser rico, mas tem que viver com conforto, com viagens, plano de saúde, parto na perinatal, escola particular pras crianças, essas coisas. Que saiba martelar, furar, abrir pote, cozinhar, faxinar e passar roupa. Que seja fodão em tudo, seguro em tudo, sempre. E muito bom de cama, que me coma durante horas seguidas todas as noites. Ciumento sem ser machista. Que saiba quando eu quero que ele me prenda, e quando eu quero que ele me deixe solta. Que entenda sempre tudo que eu quero sem eu precisar falar. Que segure todas as minhas barras. Corpo em forma, sem barriga. Que não beba, não fume, tenha uma alimentação saudável, de preferencia vegetariano. E fiel até em pensamento.
J – Se tiver algum homem com todas essas características, entre em contato com a produção que até eu vou querer! Mas o que você oferece em troca, Rose?
R – Como assim?
J – Vamos sair do vinho e falar de carro, que homem gosta mais. Uma Ferrari exige um investimento muito grande, mas não dá nenhum problema na manutenção. A chatice na manutenção é o único defeito do carro que faz o homem perder a vontade de dirigir. Você reclama de tudo? Vive de mau humor? Nunca tá satisfeita? Implica com as manias dele, implica com os amigos dele, tenta acabar com o futebol pós-expediente da quarta-feira? 
R – O futebol é a desculpa dos canalhas.  Sei bem como são essas peladas.
J – Rose, se os homens são canalhas, é por uma questão de sobrevivência. 
R – Você tá é defendendo a classe. 
J – Vocês só valorizam os canalhas. Só os canalhas se dão bem. Sabe quem é o homem sincero e apaixonado? Aquele gordinho tímido que senta na última mesa do escritório e perde o ar quando você passa. 
R – O Weverton??
J - Esse gosta de você. Mas você valoriza esse? 
R – Não! Ele não tem os pré-requisitos.
J - Claro que não! Você quer o chefe, o macho alfa, que todas as outras meninas querem. Só que esse é o canalha. E quanto mais ele descarta vocês, mais vocês correm atrás dele. De tanto assistir os canalhas se darem bem, o romântico acaba aprendendo que mulher só respeita o canalha, só se apaixona pelo canalha, só chora pelo canalha. E aí, ou ele se joga do viaduto, ou aprende a ser canalha pra sobreviver.  
R – Não é qualquer tipo de canalha! O cara pode ser canalha com todas as outras mulheres, mas eu tenho que ser a mulher que transformou ele. 
J -  Transformar? Criar um novo homem? Você não viu Frankestein? O Frankestein foge do cativeiro no final. E você termina sozinha, com suas bolsas caras, com suas amigas descoladas, reclamando da morte da bezerra, destilando veneno contra os homens porque nenhum tem o grau de perfeição exigido na manutenção do seu vinho caro. Tá sozinha porque é chata!
R – Nunca mais eu vou ouvir o seu programa! 
J - Não é o fim do mundo, Rose. É só aprender a relaxar, se divertir, divertir o seu homem. E parar de encher o saco. Cai na real. Ok, Rose? A Rose desligou, a linha liberou, liga pra cá, vocÊ também! Eu sei que tem mais alguém aí ouvindo. Agora uma musiquinha pra machucar os corações!
(musica final)

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Debate, de Leandro Muniz


Debate político televisivo. Em cada ponta do palco, um púlpito com um candidato. No centro, mais pro fundo, o púlpito do Apresentador. A cena começa do meio. Quando a luz acende, Ele já está falando.


Ele - ….propostas candidatas,  eu quero propostas! É isso que o país quer ouvir. O seu partido afundou o Brasil, os seus aliados já não sabem o que fazer pra administrar tamanha falta de gestão, a senhora está sendo leviana, candidata, leviana!

Apresentador - Tempo esgotado.  Vamos prosseguir agora com a pergunta…

Ela - Bom, eu quero direito de resposta…

Apresentador - Não, candidata, essa já era a tréplica…

Ela – Desculpe, ele me ofendeu, eu exijo ter mais tempo…

Apresentador - A produção vai avaliar…(ouve o ponto eletrônico).  Bom, infelizmente avaliamos que não há necessidade de direito de resposta. Vamos prosseguir, agora com a pergunta do tema sorteado…. (sorteia numa urna) Astrologia. Candidata é a sua vez.


Ela - Candidato, aproveito o tema pra ratificar que o senhor foi extremamente agressivo na pergunta anterior. Postura típica de um homem com signo escorpião, ascendente gêmeos e mercúrio em Aquário. Que mapa tumultuado, candidato… O senhor não tem astral pra ser presidente. Com tanto ar nesse mapa astrológico e tão pouca água candidato, como o senhor vai aprimorar os projetos sociais que nós fizemos, nesse momento de trânsito em Áries do país?

Ele – Candidata, nós vamos aprimorar os projetos sociais porque temos vontade política e afinidades com o signo do Brasil.  Todos sabemos que o Brasil é virginiano, candidata, mas tem ascendente Aquário! Signo que rege o futuro, o alternativo , a revolução... Por isso estou preparado para ser o candidato da mudança. O candidato que vai diminuir a inflação nos meses de trânsitos dolorosos como são os de Saturno, quando se opõe a sua posição natal.

Ela – Candidato, o senhor só fala em aquário. O seu partido fala mais do signo ascendente do que do signo solar! Ordem e progresso, candidato! Ordem: signo de virgem, progresso: signo de aquário.  Vamos falar mais de Virgem, que é realmente o signo do Brasil. Que rege organização, método, sindicatos e a agricultura. Eu como virginiana sou a cara desse país que prima pelo trabalho, o senhor não. Escorpião não é um mau signo candidato, sei reconhecer qualidades. Péssimo mesmo é o seu mapa astrológico inteiro e a constelação do seu partido.

Ele – Candidata, a senhora mais uma vez mostra desconhecimento sobre o Brasil. O meio do céu, candidata, considerado pelos especialistas como uma espécie de quarto signo, o meio do céu do Brasil é Escorpião! O Brasil sempre procurou por governantes escorpianos, independência ou morte! Independência:  signo de aquário, morte ou uma transformação que se inicia: signo de escorpião, candidata! Meu signo!

Apresentador: Tempo esgotado. Vamos a mais um tema . (sorteia) E o tema agora é  Friedrich Nietzsche. Candidato, sua vez. 

Ele -  Candidata, descreva um pouco a visão de Nietzsche sobre o niilismo.

Ela – Ótima pergunta, candidato. No que se refere ao niilismo, essa doutrina filosófica que indica um pessimismo extremo perante qualquer realidade, para Nietzsche o niilismo pressupõe a morte da divindade cristã e seus princípios. O homem se despede dos valores morais. E dos valores morais o senhor já se despediu faz tempo, né candidato? Essa pergunta tem tudo a ver com seu partido.  No niilismo ativo tudo fica no vazio, ou seja suas propostas e o absurdo ganha espaço,  como seus governos.

Ele – A senhora insiste em baixar o nível, candidata…. O niilismo político tem como fundamento a destruição de todas as forças políticas para um futuro melhor! Esqueça os partidos! Falemos do niilismo passivo, de Schopenhauer, em que para o ser humano nada faz sentido e a vida é uma batalha sofrida!

Ela – Candidato, o homem é mais forte sabendo que o mundo não tem sentido. O senhor prefere privatizar mentes...

Apresentador – Ok, tempo esgotado. O tema agora (sorteia) é fisiculturismo.

Ela – Candidato, numa final de culturismo categoria clássica masculina, quais seriam seus principais movimentos?

Ele – (faz movimentos) Esse. Esse. Esse aqui. E esse outro.

Ela – Eu faria esses. (Ela faz movimentos). Esse emendando nesse, nesse, e depois esse.

Apresentador- Tempo esgotado. (sorteia) Futebol.

Ele – Candidata, explique a regra de impedimento.

Ela – O atleta atrás do último marcador do time adversário na hora do passe está impedido. Passe de lateral pode.

Apresentador –Ok, agora (sorteia) Cocaína.

Ela – Candidato, o senhor é usuário de cocaína?

Ele – Sou.

Apresentador – Próximo(sorteia) Integrantes dos Menudos.

Ela – Roy, Ray, Rick, Charlie e Robi.

Apresentador – (sorteia) Saúde.

Ele –Passo.

Ela – Passo.

Apresentador – (sorteia) Poetas brasileiros.

Ele – Candidata, cite Leminski.

Ela – “Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem,
que faço parte dessa gente, que pensa que a rua é a parte principal da cidade”. 

Apresentador – (sorteia) Amor Líquido.

Ela – Candidato, fale um pouco sobre o conceito de amor líquido de Zigmunt Bauman.

Ela – Candidata, adoro esse polonês. Porque ele analisa as relações amorosas da modernidade líquida.  Vivemos tempos líquidos, onde os relacionamentos escorrem das nossas mãos, nada é feito para durar. Há dificuldade de comunicação afetiva. Seja por medo ou insegurança. 

Ela – (corta) E foi isso que aconteceu com a gente, candidato?

Apresentador-  É a vez dele… 

Ela –Agora eu quero saber. Foi isso que aconteceu entre nós? O exemplo do vaso de cristal, que na primeira queda, quebra? 

Ele – Candidata, os seres humanos tem relacionamentos instáveis e na modernidade líquida o romantismo está fora de moda! O amor de verdade foi banalizado, diminuído…

Ela – Ah então foi por isso que  você não retornou minhas ligações… Eu achei que com a gente, candidato, ia ser diferente! Não sou um produto, que o senhor vê um defeito e troca por uma versão atualizada! Uma noite descompromissada não é fazer amor, candidato!

Ele – Não foi uma noite descompromissada! E sim, existe uma grande afinidade entre nós, o que é raro, candidata!  (se aproxima)

Ela – Você disse que não devemos dar peixes ao povo e sim ensinar a pescar. Mas e quando nós tiramos deles até o mar? O senhor fingiu estender a mão para eu não me afogar mas tinha o tempo todo um bote salva vidas e não usou. O senhor quis matar esse amor. 

Ele - Calma, meu bem, também não é assim (tenta abraçá-la). 

Ela – (chorosa) Tira as mãos de mim. O senhor mudou muito, candidato! 

Ele – Anjo… Me lembro de nós dois juntos, sentados na cama,  felizes discordando… E você dizia: há duas coisas essenciais pra felicidade, segurança e liberdade…

Ela - Segurança sem liberdade é escravidão. 

Ele – E eu dizia: liberdade sem segurança é caos.

Ela - Quero ser amparada e amada, candidato…

Ele -  Ou seja.. sempre quando ganhamos algo, perdemos algo.

Ela – Prefiro perder as eleições…

Ele – Eu também, candidata…

Apresentador - Tempo esgotado, considerações finais…

Ele - Não, o tema agora é amizade, amor, cumplicidade…

Ela -  Afinidades, tesão, liberdade…

Ele - 35 maneiras de enlouquecer um homem na cama…

Ela - Vem me fazer oposição…

Ele -Vou te dar uma delação premiada bem gostosa. 

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